quinta-feira, 1 de junho de 2017

A advogada Luísa!





Vou estar alguns dias afastada deste blogue. Não vou de férias, ainda. Vou em serviço da Associação. Pratico voluntariado e faço estas ausências de vez em quando.

Segunda, 22 de Agosto de 2005

É o nosso dia de encontro. Penso que não sei como este dia irá decorrer. Tudo é uma incógnita depois da conversa do fisco. Estou na cadeira de baloiço à espera de um telefonema. Já deixei de ter vida própria. Tudo depende da vontade do Pedro. Ele, agora, comanda a minha vida, a minha vontade, os meus princípios, as minhas carências, as minhas finanças... Sinto uma revolta imensurável. Desde quando alguém me condiciona? Nem o meu marido fez, faz e, talvez, fará isso. Enfim, estou nas mãos dele. Já nada posso fazer. Quero e não consigo deixá-lo. Precisa de mim mais que nunca e não lhe posso voltar as costas nestas circunstâncias...
O telefone faz o seu trim, trim, trim... com um impulso espontâneo levanto-me de um salto e corro para a sala.
Atendo angustiada e com ansiedade.

09h10m31s

- Estou sim ,faz favor?
- Podes vir ter comigo?
- A coisa está assim tão má?
- Má é favor. Está tudo péssimo. Ela nem se preocupa. Nem pediu ajuda à mãe e diz que me desenmerde. ( Tal como disse ).
- Mas não és só tu. E a tua irmã e o teu cunhado? Eles fazem parte da sociedade, não?
- Aí é que está a merda toda. Eles são meus empregados.
- O quê? Mas não tinhas dito assim! Disseste-me que eram sócios...
- Pois, mas não. Já fui falar com a advogada do serviço e não está assim... Até nisso o meu cunhado me enganou.
- E tu assinas sem leres as coisas? Tu tão cuidadoso e inteligente? Nem acredito.
- Mas foi assim. Pensei que entre família as coisas eram sérias. E eu que gostava do meu cunhado como...
- Um irmão. ( cortei eu porque já sabia a lengalenga )
- Não gozes. Estou na merda e tu no gozo.
- Não estou no gozo... Estou pasma, surpreendida com um homem que diz que foi mais esperto que a psicóloga que lhe fez o exame para a refer e deixa-se enganar assim. Nem parece teu, Pedro.
- Enfim. Até o mais esperto cai na merda: Eu. E nem quero pensar nisso. Nunca ninguém me enganou...
- E queres falar disso? Pessoalmente?
- Sim. Contar a conversa com a advogada Luísa.
- A que horas vou? Estás a trabalhar?
- Agora tenho que trabalhar para ver se arranjo o dinheiro.  Senão, vou preso...
- Então a hora do almoço é pouco tempo?
- Não. Vem, vamos almoçar e depois fico contigo até às duas. O meu amigo segura as pontas.
- No sítio do costume?
- Sim. Beijokinhas e nem sei o que faria sem ti. Amo-te e ponto.
- Final. Lá estarei. Beijinhos.
- Inté!

Fico com o auscultador na mão a repensar a conversa. Se calhar é mesmo verdade.
Vejo que já estou vestida e pronta. É só tirar o carro vermelho da garagem.

E lá vou eu apanhar o comboio das 10h e 30m.
Já no comboio sinto uma tristeza incalculável. Se não for por fases, não tenho como o ajudar. Não tenho 12.500€ de uma vez só.
Mas lá vou eu com um pouco de esperança.

Chego mais cedo e dou uma volta pelo Centro. Vejo várias coisas que gosto, mas não compro nada. Nem sei se tenho mesmo que pagar por fases, só assim...

Perto das 12h estou no nosso sítio. Ele desce as escadas de cabeça baixa. Parece que tem um peso de cem kg nas costas. Olho para ele e tenho uma comiseração tão grande que tenho vontade de gritar. Apanho-me a ele, beijo-o e digo baixinho: - Tudo vai dar certo. Eu estou contigo. Não desesperes...
Olha-me nos olhos com muita tristeza e encolhe os ombros.

O almoço decorre num silêncio sepulcral. Não come muito e eu também não...

Já no nosso refúgio ele começa a tecer o seu rosário. Olho-o nos olhos e ouço-o com muita atenção.
De repente diz aquilo que vem dizendo desde o momento em que imaginou a dívida do fisco: ( Vou, se não pagar, para as Mónicas. )
- Mas quem diz isso?
- Isso, o quê?
- Que vais para as Mónicas?
- O meu amigo da judite e agora a advogada.
- A advogada diz isso? Que vais para as Mónicas?
- Sim. Porquê?
- Estranho vir isso de uma advogada.
- Então, eles lá sabem. Eles é que estudam as leis e sabem. Vou de certeza, disse a advogada sem papas na língua.
- Se ela o diz, eu não sou advogada para contradizer. ( Mas fiquei a pensar. Então uma advogada não sabe que as Mónicas já não são prisão e muito menos para homens? )
- Ficaste assim, porquê?
- Por nada. Fiquei inquieta. E pagar por fazes? Perguntaste?
- Perguntei.
- E...
- Nada a fazer. Eles querem o dinheiro todo.
- Tenho muita pena, mas não tenho disponível esse dinheiro todo.
- Não me ajudas?
- Pedro é muito difícil para mim.
- Mas disseste que me ajudavas!
- Certo! Mas se fosse por fases.
- Então vou mesmo para as Mónicas...
- Mas porquê as Mónicas?
- Ué!? Não é uma prisão? A advogada diz isso.
- Pronto!!!! Não digo mais nada.
- Vais pensar no assunto?
- Quando tens que pagar.
- Não sei. A advogada vai saber.
- A advogada Luísa?
- Sim. É ela que vai tratar do assunto. Não tenho dinheiro para outro e ela é da empresa.
- Então assim que souberes mais alguma coisa, vai dizendo. Mas às Mónicas não te vou ver, de certeza.
- Espero que não. Se me ajudares eu nem sei que te faço.
- Não fazes nada. Ou por outra, vais partir para outra vida melhor.
- A teu lado, escreve o que te digo.
- O vento leva a conversa e nunca mais será ouvida. Pedro, põe os pés na terra.
- Serás sempre a minha rainha salvadora.
- ( Em resposta dou uma gargalhada bem sonora. )

De mãos dadas, vamos para o Centro. Ele vai para o emprego e eu subo até à plataforma superior.
Até me esqueço das compras. E venho a pensar que tudo é uma aldrabice pegada.
Não há Mónicas, não há dívida nenhuma.

Chego a casa e vou fazer o jantar...

21h54m56s

< Vou ver se durmo. Já nem sei o que é dormir. Dorme bem e AJUDA-ME. Bjs loucos de eterno amor. >

Também desejo as boas noites e não volto a preocupar-me...


quarta-feira, 31 de maio de 2017

Gente na rua dele!



Domingo, 21 de Agosto de 2005


Neste dia volto a ter motivos de muita angústia. Parece que as coisas com o Fernando Pedro Cachaço se estão a descontrolar.


Acordo cedo. Deixo-me ficar na cama porque o alvor ainda não dá o seu sinal. Escuto o pintassilgo que fez ninho na árvore que tenho frente ao meu quarto. O seu trinar traz-me uma paz de alma que não sinto já a algum tempo. Fecho os olhos e saboreio o momento. Que quietude, que encanto, que deslumbramento...Lavo a alma e os pensamentos negativos dos últimos dias. Fico letárgica com o trinar que sai do bico de tão maravilhoso ser. A Mãe Natureza tem estes fenómenos que servem para nos deliciar e afastar qualquer sintoma de pesar.
O tempo passa qual seta que se desloca para o seu alvo.
Abro os olhos de mansinho e fico pasma. Já é dia. A minha alcova está iluminada e o meu marido não está a meu lado. Levanto-me de um salto e a energia desaparece do meu corpo débil por causa dos acontecimentos. Caio de joelhos no chão. Levanto os olhos e peço protecção divina. Não sei contabilizar o tempo que fico prostrada. Apenas sei que umas mãos maravilhosas, carinhosas, meigas, afáveis me envolvem e me puxam para cima. Não sei que dizer. Deixo-me envolver naquele abraço inesquecível que me enche de positividade e vigor. Choro copiosamente e sinto que as lágrimas queimam as minhas faces  sem cor. Nada dizemos. Nada fazemos. O meu espírito ganha a vitalidade de uma corsa. Não sei se quero desfazer aquele abraço de ternura. Mas tenho o dever de olhar nos olhos do meu marido e dizer " OBRIGADA ". Leva-me para a casa de banho e ajuda-me com aquela doçura que lhe é tão peculiar. A água corre pelo meu corpo qual cavalo na lezíria. Faz-me rejuvenescer. A alegria volta ao meu olhar esfumado e começo uma vida nova, penso eu.
Tudo se altera, tudo rejuvenesce. Limpo-me com a certeza que o dia vai correr bem.

Tomamos o pequeno-almoço numa tagarelice sem par. A magia volta como nos velhos tempos. Não faz menção ao acontecido anteriormente. Olha-me com ternura e envolve-me nesse olhar que só ele tem o saber sabido de o fazer.

10h12m45s

Primeira mensagem que me deixa sem folgo.

< Bom dia amor mio tenho gente a espreitar na minha rua gente, desconhecida e que ninguém viu por aqui. Estou c/ medo. Bjs doces. >

A magia terminou e os bons momentos também. Levanto-me da mesa e vou para a sala onde lhe respondo inquisidoramente.

10h18m34s

< Não sei até o meu carro viram, as minhas filhas foram, espreitar e ver se sabem mais. Dps digo. Bjs de AMOR ETERNO. >

Meu Deus como foi isto acontecer? Será verdade? Fico sem saber o que pensar. Espero pacientemente por mais informações. Ouço os passos do meu marido e deito-me no sofá. Ele mostra o seu ar preocupado. Pergunta, alarmado, se estou bem. Faço movimento com o braço e nem respondo. Corre a buscar o medidor da tensão e espera pelo diagnóstico: 15.7/9.2 com 75 de pulsações. Toma a iniciativa e quer levar-me ao hospital. Não quero, não posso. Estou dependente das informações do Pedro. E se o levam? E se é verdade? Bebo água com açúcar e o meu marido deixa-me a repousar. Baixo o som do telemóvel e deixo-o na vibração.


11h23m18s

< Continuam por aqui é hoje que me levam. nada se faz apenas esperamos. Bjs de AMOR ARDENTE. >

Pergunto se o prazo de pagar já terminou. Se a casa está no nome dele, se o carro vale muito...

11h38m23s

< A casa está no meu nome e no dela o prazo, não terminou e o carro vale algum. Beijokas e ñ te preocupes. >

Então não há razão para alarmismos. Peço que descanse e que na Segunda falamos melhor.
Eu também descanso e fico aliviada. Levanto-me do sofá e encaminho-me para o meu marido que está a fazer jardinagem no que resta de um jardim...
Mede-me a tensão e já desceu: 12.5/7.1, pulsações 65.

Vamos almoçar a Salvaterra. Estou mais calma e falamos da próxima Sexta-Feira...

18h01m58s

< Td calmo foram embora... Bjs só nossos. >

Fico tranquila e descontraio. Afinal que teria sido? Nem ponho hipóteses...

21h18m43s

< Estou no MSN. Vens? Bjs >

Não posso porque tenho uma colega em casa e o marido. Só responde:

21h28m12s

< dorme bem eu fico por aqui. Bjs de AMOR ETERNO... Inté >

Leio mais tarde quando já estou no quarto. Ficou zangado, mas  não tenho culpa. Também tenho vida própria...

terça-feira, 30 de maio de 2017

Um sonho mau!





Não receies! Não vou colocar aqui a tua gata e a cadela.

Sei que querem ler mais sobre a nossa história, Pedro. E isso vejo nos mails que recebo quando não publico nada. Porém, não posso escrever todos os dias. Tenho uma vida muito preenchida. Ora a dar consultas de psico, ora a dar aulas, ora no voluntariado, ora a ser avó, ora a ser mãe...Enfim, uma infinidade de coisas.

Sábado, 20 de Agosto de 2005

É Sábado. Dia do meu marido estar em casa. Acordo sobressaltada. Sonho que o Fernando Pedro Cachaço está preso. Grito de aflição. Meu marido fica em pânico sem saber o que tenho. Sento-me na cama e continuo a gritar. Meu marido dá-me água com açúcar. Os olhos saem das órbitas e digo " Foi preso, foi preso...
- Mas quem? Porquê? Quando foi preso?- Pergunta o meu marido.
É quando me dou conta do que disse. Estou em êxtase e fico com receio sem saber se mencionei o nome. Deixo de gritar e refiro que foi um sonho mau.
- E nesse sonho mau, quem foi preso?
- O meu cunhado João- É o que me vem à cabeça nesse momento e fico tranquila porque não mencionei nomes. O meu maior receio.
- Com as coisas que ele faz, não me admiro que um dia o seja.-Responde o meu marido mais aliviado e eu também o fico.
Deito-me para trás e começo a chorar.
Meu marido tenta acalmar-me e quer ir fazer um chá de verbena. Retenho-lhe as mãos nas minhas e beijo-as. " Como o meu marido é tão bom - penso eu. Não lhe sei dar valor. Ele não merece isto "
Ficamos ali encostados um ao outro e eu reflito no que ando a fazer. Tenho que terminar com tudo...

Já não adormecemos e levantamo-nos. Tomamos o pequeno-almoço e a magia volta.

09h45m27s

< Sinto-me mal não dormi nada e nem tenho vontade de falar estou, no lidl a fazer compras ela anda bem eu penso como pode um, dia posso deixar de ter esta liberdade enfim, coisas da vida. Bjs de AMOR ARDENTE. >

Fico imparcial. Pelo que me disseram das finanças, eu estou séptica.
Respondo para se acalmar e viver a vida. Não acrescento muita coisa. Não vale a pena...

Saio com o meu marido. Vamos almoçar à prensa e dar uma volta por Pragança. Lanchamos aqui e ficamos na serra de Montejunto.

18h35m32s

< Onde andas? Não dizes nada? Que se passa? Sabes que estou a sofrer e nem me ajudas a passar o tempo ela, está a trabalhar a Cla***** está com as amigas e a Ve**** Mó***** com o namorado. Queres vir ao MSN? beijokas que só te dou a ti. >

< Não estou em casa e não posso falar. >

18h40m15s

< O quê? andas a passear? Bonito. É assim que me amas? >

< Amo-te e tu sabes isso, mas, também, tenho marido... >

18h55m29s

< Pois pois engana-me que eu deixo. >

< Estás a duvidar de mim? Nunca te menti. Será que és sincero comigo? Eu sou contigo e estou preocupada. >

19h01m56s

< Não te zangues mas eu tenho ciúmes dele e ponto. Beijokas loucas de muito AMOR. >

22h09m08s

< Estou deitado na cama da Ve**** Mo**** ela não vem dormir a casa dorme, bem e ajuda-me. Beijos só nossos. > 

A minha resposta é animadora e muito amorosa.

O meu dia termina assim...



quinta-feira, 25 de maio de 2017

A Dúvida!!!!



Hoje arrependo-me do tempo em que me entreguei a um ser sem escrúpulos, insensível, pantomineiro, ambicioso, ingrato, fedífrago e caluniador. Além de outros adjetivos que lhe ficam tão bem...

Quem andou com ele, se apaixonou, o amou e lhe deu aquilo que ele não merecia, merece e merecerá, sabe do que estou falando. E, acreditem, ninguém o conhece melhor que eu. Nem a mulher que vive com ele há três décadas, mais coisa menos coisa. Não o conhece, não... Senão, não estaria com ele há muitos anos. Ele mostra-lhe a santidade e fidelidade que nunca teve.


Sexta, 19 de Agosto de 2005

É  dia de me ir encontrar com o Pedro. Ou talvez era. Não sei o que me espera hoje. Depois do que descobri, não sei como o olhar, não sei que lhe dizer, não sei se voltarei a acreditar nele...
Estou muito ansiosa e espero pacientemente ouvir o telefone.

09h01m34s

- Estou sim, quem fala?
- ( Silêncio ) Hum! Mudaste o disco?
- Como assim!? Não compreendo. Está tudo bem? Que falaste com o Senhor das finanças?
- Ena! Tanta pergunta e nem sei por onde começar...
- Começa pelo princípio.
- Ih! e qual é o princípio? Estás sempre enigmática...
- Será que sou eu? Que queres dizer com " mudaste o disco " ?
- Hoje atendeste de outra maneira... Estavas à espera de outra pessoa?
- Que pergunta tão estapafúrdia. Sabes que só falo contigo. Estou ansiosa e nem sei como atendi. Acho que é sempre da mesma maneira... Sei lá! Estou eu para aqui preocupada e tu com coisas sem importância.
- Para mim tem muita importância. Só quero que sejas minha.
- Estás a fugir às minhas questões? Sabes que sou tua para minha desgraça ou felicidade...
- Não és feliz comigo? Eu sou só teu... Eu amo-te mais que tudo...
( Corto bruscamente ) - Ouve. Eu só quero saber como correu a conversa de ontem. Se calhar não deveria estar tão preocupada... Que achas?
- Desculpa. Eu sei que te preocupas. Eu também me preocupo muito e nem sei que volta dar a este assunto tão delicado. Lá em casa nem há clima. Não falo à minha irmã e ao meu cunhado... Isto acabou com uma relação tão boa com eles. Eu até dizia que o meu cunhado era meu irmão.
- E era? ( Ainda hoje não sei se tem irmã e cunhado. Só sei que a dívida não se fez. ) Será que eram assim tão chegados? Confiavas nele? As aparências, iludem.
- Pois!!! ( silêncio )
- Ainda estás aí?
- Estou. O meu chefe vem aí.
- E não me contas nada.
- Nem posso. Pelo telefone, não...
- Queres que eu vá ter aí? Nem que seja só para almoçarmos.
- Não pode ser. Tenho trabalho na Casa Branca e Arraiolos.
( Estúpida de mim... Passava ali quase todos os meses, uma vez pelo menos e nem dera que a linha já tinha sido desativada. Ou estava em processo disso... )
- E fico sem saber nada? Vai ser fim-de-semana.
- Beijokinhas e logo falamos.
" Desliga e nem me despeço " :- Mal educado, digo enquanto pouso o auscultador.

Eu já não estou nem aí... Porém poderia ser verdade. Já nem sei em quem acreditar...

É dia de vir a Glorinha. Vou passar a tarde a conversar com ela, penso eu.

12h34m09s

< Nem temos onde almoçar. Estamos no meio do nada. Já almoçastes? Bjs que só te dou a ti. >

A minha mensagem é longa e muito sentida. Digo que, por solidariedade, não vou almoçar.

12h56m18s

< Não sejas parva. Almoça. Vamos para Arraiolos. Bjs doces para a tua sobremesa. >

E vou almoçar. Entretanto, a Glorinha já tinha chegado.
Passo a tarde atrás dela e ouço novas orações que vou assentando no meu caderninho.

18h23m46s

< Já estou em casa. Não vou ao MSN. Vou buscar a mãe Laura para falar com ela. Bjs de AMOR ETERNO. >

E eu preocupada. Mas não fico feliz. Eu sei que ele está a fugir ao assunto, mas porquê?
Eu sei a resposta, mas tenho receio de a assumir até ouvi-lo falar, abertamente, o que se passou com o senhor das finanças.

22h19m18s

< Já fui levar a mãe Laura. Tudo na mesma. Dorme bem. Eu não sei o que fazer... Bjs só nossos com muito AMOR. >

A dúvida paira no ar e é com ela que me vou deitar...



Um dia de mentiras!





Hoje, ao ler o meu diário, fico biursa. Como me pude envolver tanto com uma pessoa sem carácter?

Quinta, 18 de Agosto de 2005

Como na noite tudo se faz recordar, eu recordo uma série de coisas. Ouço-o dizer que vai para as Mónicas... " Mónicas ". Este nome não me é desconhecido. E escavo no mais longínquo do meu ser de onde conheço este nome. Até que se faz luz. As Mónicas já não são prisão. Foi até 1989. A última mulher que lá esteve, foi a Banqueira do Povo, Dona Branca. Eu estudei o Convento. Foi lá que fiz o meu estágio de psicologia.
Foi fundado em 1586 e era um recato de freiras e monges. Por ali passaram jesuítas. Depois foi destruído pelo terramoto de 1755. Mais tarde foi reconstruido, 1834, e passou a ser um Convento de freiras. Em 1916 passou a ser uma casa de correção primeiro para rapazes e mais tarde para raparigas. Em 1917 fez-se a prisão para mulheres e só mulheres. Tudo o que lá entrava eram mulheres, incluindo as carcereiras.
Eu fui para lá estagiar, mas antes tive que estudar a história da então prisão das Mónicas. Como é que o Fernando Pedro poderia ir para lá se não pagasse ao fisco? A prisão já não existia, pelo menos, há uma década.
Fiquei a magicar naquilo e adormeci com este pensamento.

Acordo com os primeiros raios do alvor. Meu marido já não está na cama. Passa para se despedir e dizer que é cedo. Pergunta-me se dormi bem de noite e eu digo que sim:- Lá se foi a magia do pequeno-almoço- diz o meu marido seguido de uma gargalhada.
Também me rio, mas não com a mesma vontade que o meu marido.

08h45m51s

- Estou sim, por favor?
- Que lindo começo de dia. Adoro ouvir a tua voz.
- Dizes isso tanta vez que eu, um dia, acredito.
- É verdade e tu sabes que sim. Quando é que tu começas a acreditar naquilo que digo!?
- Como estão as coisas? Já falaram mais alguma coisa sobre o assunto?
- Já não há mais nada para falar. É ter que pagar senão vou fazer uma visitinha às Mónicas.
- E não sabes o modo de pagar?
- Não tive tempo.
- Quem te disse que vais para as Mónicas?
- O meu amigo da Judite.
- A sério? Ele sabe? - Pergunto eu perplexa. Eu sei da história das Mónicas, mas nada digo. Estico a corda....
- Tem que saber. Ele é que me tem dito muita coisa..
- Mas isso já está assim?
- Assim como?
- Na " Judite " como tu dizes...
- Só sabe ele, mas tem que me ajudar para não me apanharem de surpresa.
- Mas quem?
- Mas quem, o quê?
- Quem te vai apanhar de surpresa? Não entendo. Isso não é com as finanças?
- É. Mas quando chegar a conta e eu não pagar, levam-me.
- Para as Mónicas?
- Certo!
- Por que não ficas na de Sintra? Moras no concelho...
- Não, porque tem a ver com as finanças.
- Não percebo. Ultrapassa os meus conhecimentos. Sou leiga.
- Não és nada. Até deste a ideia de se pagar por parcelas.
- Penso eu, de que... Nunca me vi nessas andanças.
- Não viste? Então quando foi do teu marido, não foi assim?
- Não. Não teve nada a ver com as finanças...
- Pois! Era com os bancos, não era?
- Claro que sim... ( Sinceramente que já nem me recordava do episódio. )
- Hoje tenho trabalho na ponte 25 de Abril.
- E quando vais perguntar?
- À tarde vou tirar umas horas e vou às finanças de Sintra.
- Mau! Então as finanças de Sintra, não são do teu concelho?
- São. Mas são só intermediárias.
- Ok! Sou leiga...
- Vá, acalma-te. Amanhã já te sei dizer qualquer coisa.
- E vê se vais para as Mónicas ou Sintra. Beijinho e não te debruces da ponte. Tens contas com o fisco.
- Olha, era da maneira que não pagava. Vou pensar nisso.
- Não sejas maluco.
- Sempre fui e sou. Sou maluco por ti. Amo-te e tu sabes disso...
- Talvez!!!
- Beijinhos. Inté!
- Já não telefonas hoje?
- Não sei. Talvez não.


Quando desliguei o telefone, fiquei a pensar, ainda, mais naquilo. Então o amigo que está na Judiciária não sabe que as Mónicas já não são prisão?
Hum! Cheira-me a esturro. Está a aldrabar-me. Só pode. Mas desta não me engana.

Durante a manhã já não penso mais no assunto. É pura mentira e quer o meu dinheiro. Mas eu vou descobrir...

15h22m19s

< Estou aqui em Sintra. Vamos ver como corre a coisa. Beijokinhas e AMO-TE MUITO. >

Quem me dera poder saber. Mas ocorre-me uma coisa. Telefonar para as finanças de Sintra e saber se ele lá está. Telefono. Atende-me uma Senhora. Eu peço que veja se Fernando Pedro Cachaço Marques, morador em Abrunheira, na rua tal, nº qualquer coisa se está ou esteve. É o meu marido e preciso falar com ele sobre o problema que lá o levou.
A Senhora vê no computador e diz que esse senhor não tem qualquer problema com as finanças, mas diz-me para esperar. Então ouço a Senhora a chamar por ele  e a perguntar aos colegas se está com algum deles para tratar de um assunto. Não está com ninguém. Peço desculpa à Senhora e digo que, se calhar, ele ainda não chegou.

Envio mensagem a perguntar se já falou...

15h32m54s

< Estou a falar. já te digo...>

Mas que aldrabão me saiu. É aqui que eu penso no acidente que nunca houve. No dinheiro que me pediu e nas pantominas que me contou...
Fico triste comigo própria por acreditar, piamente, nele.

17h23m56s

< Saí agora. Vão ver como se pode fazer, mas tem que vir a resposta de Lisboa. Beijokinhas doces, loucas, gulosas. AMO-TE. >

Nem ligo. É como se não fosse ele. Já estou desiludida.

Janto e nem sequer tenho a tal preocupação. O meu marido repara que estou bem disposta e faladora. Alvitro que foi impressão dele.

21h09m13s

< Estou no MSN. Inté... Bjs. >

A mensagem que envio é fria e digo que não posso.

21h15m19s

< Dorme bem e o teu marido que te deixe o computador para nós falarmos. Um dia vai ser assim. AMO-TE ETERNAMENTE. Bjs loucos. >

Desligo o telemóvel e esqueço tudo...

terça-feira, 23 de maio de 2017

Pedir para pagar por fases!



A minha vida é uma dobadoura. Com o Fernando Pedro nunca sei quando me chama ou me afasta.

Quarta, 17 de Agosto de 2005

Mais uma noite que não durmo. Penso e repenso a minha vida e a possibilidade de ajudar o Pedro na sua difícil situação.
Por muito que abra os meus horizontes, não vejo saída e fico horrorizada sem saber o que lhe pode acontecer.
Como não quero acordar o meu marido com o meu voltear na cama, levanto-me e venho para a sala. Aqui revejo cada momento maravilhoso que passei com o Pedro. Cada carícia, cada beijo, cada olhar apaixonado, cada jura de amor dita com o mais puro dos sentimento...
Choro muito. As minhas faces já me doem de tanto limpar as lágrimas que teimam em correr. Penso, que as lágrimas entristecidas que caem dos meus olhos fazem um lago à minha volta. Não quero pensar o pior dos cenários, mas penso.
Irrito-me e levanto-me.
Dirijo-me ao jardim e fico, na cadeira a baloiçar e a estudar o caso minuciosamente.
O dia começa a clarear e nada vislumbro para lá da teia escura que envolve o caso que me tira o sono.
Encosto a cabeça e fico naquele letargo. Nem cá nem lá. Já não sei que pensar ou fazer. Esgoto todas as hipóteses que me pareciam plausíveis.

Há um barulho enorme que me chama à realidade. Olho estupefacta e vejo a silhueta do meu marido. Fico atónita. O meu Half começa a latir de contente por ver o dono. Eu nem comento.
O meu marido não reage. Beija-me e faz-me umas carícias:- Vai deitar-te. Tens cara de quem não pregou olho. Mas... mas que é isso? Tens a cara toda vermelha e parece que vai rebentar!!! Queres ir ao hospital?
- Não. Não me sinto doente. Apenas não dormi. Vou tomar o pequeno-almoço e um duche. Depois logo se vê como fico.
Levanto-me sem mais palavreado. Nem sequer sei o que posso relatar se houver algum interrogatório.

Nunca tomo o pequeno-almoço com o meu marido quando está a trabalhar. Sabe-me tão bem que menciono isso e ele ri a bandeiras despregadas: -Tens que ter mais insónias para que o insólito  deixe de existir...
Rio muito e afasto, por momentos, as minhas preocupações.

O meu marido sai e eu volto para a cadeira. O relógio marca 07h45m56s.-Será que vai telefonar? Como teria corrido a conversa em família? Que ficou resolvido? Perguntas sem respostas, por enquanto.

08h10m48s

- Estou sim, por favor?
- Hoje não tens voz de quem acordou agora. Que se passa?
- Pergunta sem resposta. Ou talvez até tenha. A tua preocupação é a minha. Estou confusa, medrosa e sem raciocínio.
- E não dormiste ou acordaste cedo?
- A primeira opção. Como foi a reunião da família ontem à noite?
- Ah! É isso?
- E não é suficiente? Ou resolveram o assunto?
( Estúpida de mim que não me apercebi que já não se recordava da conversa... )
Estás a brincar comigo? Ou sou eu a estúpida?
- Não. Nada disso. Só não quero que te preocupes. O assunto ficou sem solução. Ninguém tem dinheiro.
- E a Zé? A mãe dela?! Não dizes que o padrasto é da marinha!!! Talvez pedindo à mãe te possa ajudar.
- Não posso falar pelo telefone. Queres vir ter comigo? Assim ficávamos juntos e falava-se no assunto.
- Estás a trabalhar?
- Só de manhã. Tiro a tarde para estar contigo.
- De acordo... Beijinho e vou já...
- Não precisas vir a correr. Eu saio ao meio-dia.
- Ok! Vou no comboio das 11..
- Beijokinhas de mel e gulosas que te dou mais logo.
- Eu também. Até logo. Beijinhos
- Inté!
( Era a maneira que se despedia de mim " inté ". Mais tarde era " fica bem " mas já não andava comigo.

Como preciso de comprar umas linhas para acabar a toalha que estou a fazer, levanto-me e saio.

Antes do meio-dia estou no sítio do costume. Olho para as escadas e vejo-o com o porte de sempre. Não mostra preocupação como nos dias anteriores. Fico de queixo caído. Afinal o que se passa?
Enquanto me beija efusivamente, eu pergunto num sussurro: - Não estás preocupado?
- Não posso mostrar preocupação. Ninguém deve perceber.
- Então eu também não mostro...


Enquanto almoçamos, falamos de tudo menos do que tanto me aflige. E a ele, penso eu.
Vamos para o mesmo jardim de sempre. Está lá muito fresco e podemos estar sossegados porque quase ninguém passa por ali .


Então começa a falar e conta como foi a reunião. Uns aos gritos, os outros a dizer que não têm nada com o assunto e todos a dizer que não há dinheiro.
Depois sai-se com esta: - Se não pagar, vou preso. Vais-me ver à cadeia?
- Credo! Que pensamento!
- É o mais seguro dos pensamentos. É para lá que vou.
- Não vais nada. Ainda se arranja o dinheiro.
- Tu?
- Sei lá... Talvez!
- É por isso que gosto tanto de ti. Fazes tudo para me salvares...
- Se fosse o contrário, tu não fazias?
- Claro, meu amor. Não te queria ver presa.
- Vamos ver. Não deitar foguetes antes do tempo. Vou pensar como...
- Olha que se eu não pagar, vou para as Mónicas!
Não vais nada. Eu não deixo. Podes pagar por partes?
- Não sei. Vou perguntar...
- Para mim, era mais fácil.
- Eu pergunto e depois digo-te. Mas não sei... Amanhã ainda não sei. Tenho que pedir umas horas para ir saber isso.
- Estica bem. Junto não tenho hipótese.
- Mau! E se não deixarem?
- Não sei. A sério que não sei.
- Lá vou eu para as Mónicas...
- Não agoures. Pergunta. Quem não pede, não ouve Deus.
- Já agora que querias ir para freira, pede lá ao teu senhor...
- Não gozes!
- Não. Estou só a brincar.
- Brincadeira de mau gosto. Até parece que não te preocupas.
- Não digas isso nem a brincar. Esta noite nem dormi.
- Até parece! Tens uma cara toda desenxovalhada. Já olhaste bem para mim?
- Porquê? Devia?
- Tens estado sempre a gozar-me. Se calhar nem me preocupo mais e tu que te desenrasques.
- Ajuda-me, por favor...
- Vamos ver. Pede para ser em prestações. É muito dinheiro para te dar todo duma vez...
- Ok! Você manda... Não tens um comboio para apanhares?
- Tenho. Que horas são?
- Horas do comboio.
- Vamos depressa. Não o posso perder.

Corremos a toda a brisa. Já o comboio estava na estação.
Despedimo-nos como de costume e eu vim para casa com o dobro da preocupação...

 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Encontro sem ser marcado!



Este Jardim é muito bonito. Aqui estive com o Fernando Pedro Cachaço Marques no dia 16 de Agosto de 2005
Não foi agradável, mas também não foi triste.

Terça, 16 de Agosto de 2005

O dia amanhece quente. Eu estou na cama com os braços atrás da cabeça, as pernas estendidas e os pés pendidos para os lados. Não sinto nada. Não penso. Não quero voltar à realidade. Os meus pensamentos e hipóteses estão esgotados. Sinto-me fraca e sem energia para me mexer. Olho ao redor e penso no que posso fazer para vender algo que não dê nas vistas e valha o dinheiro que faz falta ao Pedro. Não vejo nada que eu possa vender sem que o meu marido venha a saber. Tudo parece um pesadelo e eu quero sair deste torpor em que me encontro.
De repente o telemóvel dá um toque. Não me mexo. Acho que é muito cedo, ainda, e que aquela mensagem não me interessa.
Fico nesta prostração e nem sei contar o tempo.
A campainha toca e eu saio da letargia em que me encontro. Levanto-me e visto o robe. Abro a janela e é o carteiro. Fico perplexa. O dia já vai alto.
Falo com o Sr. Gabriel e tenho que descer para assinar uma carta para o meu marido. Ele fica admirado e pergunta-me se estou doente. Respondo que não me encontro bem. - Pois! Nunca a tinha visto de robe. E a esta hora é de calcular...
Assino, apanho o correio e despeço-me. Porém, antes de ir embora, deseja-me as melhoras... Olho com um olhar triste, agradeço. Não tenho " melhoras " para o problema que me aflige neste momento, penso eu.
É quando me dou conta que são 10h12m34s.
Regresso a casa como se fosse um relâmpago e subo para ver a mensagem.

09h29m10s

< Amor mio paixão eterna estou em V.F. queres vir ter comigo? Bejokinhas e inté...

Num ápice, respondo e digo que já estou a sair. Pergunto onde me dirijo.

10h23m45s

< Pensei que não quisesses vir que estava chateada comigo por causa do dia dontem. Estou na estação. Bjs de AMOR ETERNO. >

Tomo um duche rápido e ponho-me a caminho de V. F.

Quando chego à estação, o Pedro está à porta. Espera-me.
Fico admirada de ele estar ali. Responde que veio em trabalho, mas um colega foi buscar material porque não havia.
Beija-me muito e pergunta se não tenho medo que me reconheçam. Respondo que não. Estou preocupada com ele e passo, à queima roupa, para a conversa do dia anterior.
É evasivo. Apenas comenta que teve uma conversa muito séria com a irmã e o cunhado. Não quer falar no assunto.
Comento que estou preocupada e já vi as minhas hipóteses. Contudo não comento que não tenho saída. Os olhos dele brilham de alegria e leva-me para o jardim.
Falamos de tudo menos do sucedido. É tão amoroso que até me dói o coração por saber que está em tão alto risco e, mesmo assim, é atencioso comigo.
Vamos almoçar ao " Comboio ". Pede peixe e diz ter saudade de quando fez a tropa na marinha ali mesmo no quartel da marinha. Até lhe chamavam " os marinheiros de água doce " . Nunca tinha ouvido a expressão. Rio-me e ele conta coisas dessa altura.

Peço a conta e pago.
Saímos e vamos para o jardim, novamente. De repente recebe uma chamada. Desvia-se para eu não ouvir o conteúdo. Não desconfio de nada. Estou cega por ele e acredito piamente em tudo o que me diz.
- Vem aí o meu colega. É bom que não nos veja juntos. Hoje já não dizemos mais nada. Vou ter uma reunião com toda a família.

Beija-me muito e afasta-se apressadamente. Olho para todo o lado e não o vejo. Evaporou-se
completamente.
Fico sentada do banco a examinar cada gesto seu e sua conversa . Fico confusa. Ainda mais que ontem. Levanto-me e venho para casa.
O meu marido já tinha chegado. Digo que fui a V.F. Não minto e descontraio....