quinta-feira, 1 de junho de 2017

A advogada Luísa!





Vou estar alguns dias afastada deste blogue. Não vou de férias, ainda. Vou em serviço da Associação. Pratico voluntariado e faço estas ausências de vez em quando.

Segunda, 22 de Agosto de 2005

É o nosso dia de encontro. Penso que não sei como este dia irá decorrer. Tudo é uma incógnita depois da conversa do fisco. Estou na cadeira de baloiço à espera de um telefonema. Já deixei de ter vida própria. Tudo depende da vontade do Pedro. Ele, agora, comanda a minha vida, a minha vontade, os meus princípios, as minhas carências, as minhas finanças... Sinto uma revolta imensurável. Desde quando alguém me condiciona? Nem o meu marido fez, faz e, talvez, fará isso. Enfim, estou nas mãos dele. Já nada posso fazer. Quero e não consigo deixá-lo. Precisa de mim mais que nunca e não lhe posso voltar as costas nestas circunstâncias...
O telefone faz o seu trim, trim, trim... com um impulso espontâneo levanto-me de um salto e corro para a sala.
Atendo angustiada e com ansiedade.

09h10m31s

- Estou sim ,faz favor?
- Podes vir ter comigo?
- A coisa está assim tão má?
- Má é favor. Está tudo péssimo. Ela nem se preocupa. Nem pediu ajuda à mãe e diz que me desenmerde. ( Tal como disse ).
- Mas não és só tu. E a tua irmã e o teu cunhado? Eles fazem parte da sociedade, não?
- Aí é que está a merda toda. Eles são meus empregados.
- O quê? Mas não tinhas dito assim! Disseste-me que eram sócios...
- Pois, mas não. Já fui falar com a advogada do serviço e não está assim... Até nisso o meu cunhado me enganou.
- E tu assinas sem leres as coisas? Tu tão cuidadoso e inteligente? Nem acredito.
- Mas foi assim. Pensei que entre família as coisas eram sérias. E eu que gostava do meu cunhado como...
- Um irmão. ( cortei eu porque já sabia a lengalenga )
- Não gozes. Estou na merda e tu no gozo.
- Não estou no gozo... Estou pasma, surpreendida com um homem que diz que foi mais esperto que a psicóloga que lhe fez o exame para a refer e deixa-se enganar assim. Nem parece teu, Pedro.
- Enfim. Até o mais esperto cai na merda: Eu. E nem quero pensar nisso. Nunca ninguém me enganou...
- E queres falar disso? Pessoalmente?
- Sim. Contar a conversa com a advogada Luísa.
- A que horas vou? Estás a trabalhar?
- Agora tenho que trabalhar para ver se arranjo o dinheiro.  Senão, vou preso...
- Então a hora do almoço é pouco tempo?
- Não. Vem, vamos almoçar e depois fico contigo até às duas. O meu amigo segura as pontas.
- No sítio do costume?
- Sim. Beijokinhas e nem sei o que faria sem ti. Amo-te e ponto.
- Final. Lá estarei. Beijinhos.
- Inté!

Fico com o auscultador na mão a repensar a conversa. Se calhar é mesmo verdade.
Vejo que já estou vestida e pronta. É só tirar o carro vermelho da garagem.

E lá vou eu apanhar o comboio das 10h e 30m.
Já no comboio sinto uma tristeza incalculável. Se não for por fases, não tenho como o ajudar. Não tenho 12.500€ de uma vez só.
Mas lá vou eu com um pouco de esperança.

Chego mais cedo e dou uma volta pelo Centro. Vejo várias coisas que gosto, mas não compro nada. Nem sei se tenho mesmo que pagar por fases, só assim...

Perto das 12h estou no nosso sítio. Ele desce as escadas de cabeça baixa. Parece que tem um peso de cem kg nas costas. Olho para ele e tenho uma comiseração tão grande que tenho vontade de gritar. Apanho-me a ele, beijo-o e digo baixinho: - Tudo vai dar certo. Eu estou contigo. Não desesperes...
Olha-me nos olhos com muita tristeza e encolhe os ombros.

O almoço decorre num silêncio sepulcral. Não come muito e eu também não...

Já no nosso refúgio ele começa a tecer o seu rosário. Olho-o nos olhos e ouço-o com muita atenção.
De repente diz aquilo que vem dizendo desde o momento em que imaginou a dívida do fisco: ( Vou, se não pagar, para as Mónicas. )
- Mas quem diz isso?
- Isso, o quê?
- Que vais para as Mónicas?
- O meu amigo da judite e agora a advogada.
- A advogada diz isso? Que vais para as Mónicas?
- Sim. Porquê?
- Estranho vir isso de uma advogada.
- Então, eles lá sabem. Eles é que estudam as leis e sabem. Vou de certeza, disse a advogada sem papas na língua.
- Se ela o diz, eu não sou advogada para contradizer. ( Mas fiquei a pensar. Então uma advogada não sabe que as Mónicas já não são prisão e muito menos para homens? )
- Ficaste assim, porquê?
- Por nada. Fiquei inquieta. E pagar por fazes? Perguntaste?
- Perguntei.
- E...
- Nada a fazer. Eles querem o dinheiro todo.
- Tenho muita pena, mas não tenho disponível esse dinheiro todo.
- Não me ajudas?
- Pedro é muito difícil para mim.
- Mas disseste que me ajudavas!
- Certo! Mas se fosse por fases.
- Então vou mesmo para as Mónicas...
- Mas porquê as Mónicas?
- Ué!? Não é uma prisão? A advogada diz isso.
- Pronto!!!! Não digo mais nada.
- Vais pensar no assunto?
- Quando tens que pagar.
- Não sei. A advogada vai saber.
- A advogada Luísa?
- Sim. É ela que vai tratar do assunto. Não tenho dinheiro para outro e ela é da empresa.
- Então assim que souberes mais alguma coisa, vai dizendo. Mas às Mónicas não te vou ver, de certeza.
- Espero que não. Se me ajudares eu nem sei que te faço.
- Não fazes nada. Ou por outra, vais partir para outra vida melhor.
- A teu lado, escreve o que te digo.
- O vento leva a conversa e nunca mais será ouvida. Pedro, põe os pés na terra.
- Serás sempre a minha rainha salvadora.
- ( Em resposta dou uma gargalhada bem sonora. )

De mãos dadas, vamos para o Centro. Ele vai para o emprego e eu subo até à plataforma superior.
Até me esqueço das compras. E venho a pensar que tudo é uma aldrabice pegada.
Não há Mónicas, não há dívida nenhuma.

Chego a casa e vou fazer o jantar...

21h54m56s

< Vou ver se durmo. Já nem sei o que é dormir. Dorme bem e AJUDA-ME. Bjs loucos de eterno amor. >

Também desejo as boas noites e não volto a preocupar-me...


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