segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Haverá uma próxima?



A nossa felicidade está naquilo que acreditamos. Eis por que é tão efémera. Acreditei que a minha vida com o Pedro tinha pernas para andar. Mas não tinha. Era a questão que os € que tinha levado de mim, ainda estavam fresquinhos e, ele, tinha que fazer render o peixe até haver uma maquia maior. Porém, não houve. E eu comecei a ter rótulos postos e arranjados por ele.
Aqui as coisas ainda eram cor-de-rosa.

Quinta, 14 de Julho de 2005

Como sempre, acordamos cedo. Tomamos o banho matinal e descemos para tomar o pequeno-almoço. A sala é toda nossa. Chamo a atenção para esse facto. Na época alta não haver pessoas ali alojadas. Ele não comenta. Eu volto à carga. Não havia outro lugar melhor, Pedro? pergunto eu com a melhor das intenções. Mas ele manda-me calar e diz que na próxima, marco eu. ( Será que haverá uma próxima? Penso eu para os meus botões. )
Voltamos ao quarto para arrumarmos  as malas. Ele amuado. Eu não mostro que vejo isso. Vou tagarelando alegremente.
Descemos para fazer o chek out. Ele desvia-se para ir meter as malas no carro. Logo sou eu que tenho que pagar. A menina da receção fica a olhar para mim com um ar de surpresa. Eu noto e acrescento:- Pagar eu ou ele  dá a mesma coisa. A menina responde: Mas o Senhor é que fez a reserva...
Deixo-me rir e pago a quantia que a menina pede. Despeço-me e junto-me a ele que está no parqueamento da residencial.
Saímos e vamos até ao grande hotel que está na ponta norte da residencial. Lamento não ter ido para ali. Mas não digo nada. Ficou mais barato e a estadia foi boa. Alvitro que devemos almoçar no restaurante do hotel. Ele responde que tem que estar em casa cedo.
Iniciamos o nosso regresso para casa.
A conversa não é muita porque ele coloca o CD do grupo de cantares de Alvito. Bate no volante para fazer o ritmo e cantarola.
Já na minha casa, ele retira o troile, despede-se e encaminha-se para o seu mercedes  que ficou na rua paralela à minha. Encaminho-me para a minha casa e fico a pensar que não foi assim tão mau.
Almoço e do Pedro não sei mais nada.
Fico irritada, mas não demonstro ao meu marido que me recebe com muito amor, carinho e saudade.
A consciência fica pesada como tantas vezes...


domingo, 29 de janeiro de 2017

Os traumas de crinaça.





Sempre que voltamos ao passado e revivemos aqueles momentos que já esquecemos, sentimo-nos como se estivéssemos fora desse quadro repugnante. Foi o que aconteceu, hoje, quanto abri o meu diário.
Esta postagem poderia ter muitos títulos, mas escolho este. Não sei porquê, mas está implícito no texto.

Quarta, 12 de Julho de 2005

Acordo cedo. Olho e o Fernando Pedro já se esgueirada da cama. Está a olhar para mim com um sorriso maroto. - Adoro ver-te dormir. Estás linda. Essa camisa cheia de flores e tão fresca, fica-te bem.
Pergunto se está bem e ele responde que sim. Diz que já resolveu o problema da filha. Mas vai fazê-la sofrer até começar o ano escolar. Não quero saber como é. Tenho tanto receio da sua mente!!! Mas ele continua a dizer que vai fazer com que a filha pense que caminhará todo o tempo para Lisboa até finalizar o ano que chumbara. Eu acho uma tirania, mas ele diz que ela tem que aprender para estudar mais. Ele é o pai e eu não riposto.
Tomamos banho muito animados.
Descemos ao rés-do-chão para tomarmos o pequeno-almoço.
Penso que a sala deve estar cheia, mas a minha surpresa é grande. Ninguém a não sermos nós. Silêncio profundo. Nem ele nem eu falamos.
Saímos para a rua e entramos no carro. Ele sobe a rua. A retunda é logo ali, já que a residencial é a primeira  casa da rua. Na retunda está a GNR que o manda parar. Fico aflita. O carro é do meu marido. O guarda aproxima-se e pergunta se ele não viu o sinal. Qual sinal, Senhor guarda? Isto é uma retunda... Diz o Pedro com uma ingenuidade que parece ser genuína. O guarda aponta para uma placa que está em frente à residencial. É proibido subir a rua. Eu estou cheia de medo. O Pedro nem por isso. Está confiante e diz que chegou já de noite e não viu o sinal. Pede desculpa e diz que não volta a acontecer. O guarda bate a pala e manda-nos seguir. É aí que eu penso, pela primeira vez, que ele tem um pacto com o diabo.
Mas não articulo palavra.
De repente, dá-me uma vontade de falar nos traumas da minha infância. Ainda hoje me pergunto por que o fiz. Não tinha razão para isso. Eles estavam adormecidos em mim.
Mas falo, falo, falo. No fim sinto-me arrependida, mas o mal está feito. Espero a reação dele.
O Pedro entra na floresta densa e caminhamos ao acaso enquanto ele me ouve. No final, pára o carro, apanha as minhas mãos e diz para eu não ter medo porque ele está comigo. Nunca me irá deixar, acrescenta. Diz o quanto me ama, me quer e me deseja.

Voltamos para São Pedro e vamos almoçar num restaurante no meio da rua que dá para a praia. Ficamos ali até perto das quinze horas.
Saímos e damos uma volta por São Pedro sem entrar na praia.
Está calor e ele alvitra regressarmos à residencial. Eu aceito sem mais delongas. Afinal ele é que manda.
No quarto está muito fresco. Ele despe-se e pede para eu fazer o mesmo. Não preciso de dizer mais nada. É isso mesmo que estão a pensar.
Vamos tomar banho. Vestimo-nos e saímos para a rua. São 18h.
Andamos pela beira do mar, num caminho feito de madeira que nos leva à outra ponta da praia.
Tira-me muitas fotos nesse passadiço. Eu estou muito alegre.
Vamos jantar ao restaurante junto da praia. Dali vemos o pôr do sol.  Digo que gosto muito de, andar  descalça, na praia molhada e sem ninguém a olhar para mim.
Encaminhamo-nos para lá.
Tiro os sapatos e ando descalça ao longo da praia. Parece que ganho o meu primeiro brinquedo de criança. Ora ando pela areia molhada ora pela seca Ele acompanha-me muito feliz e de mãos dadas comigo. Já é escuro e retiramo-nos.
Os meus pés estão cheios de areia. Tento retirá-la, mas não consigo. O Pedro coloca o cigarro no canto da boca e começa a retirar, com muita calma, as areias todas. Nesta altura ainda fuma. Eu pergunto onde aprendeu a fazer isso. Ele responde que teve crianças e tinha que lhes tirar a areia quando vinham da praia. Eu rio muito e nem dou pelas poucas pessoas que passam por nós e olham admirados e surpresos.
Regressamos à residencial. Tomamos banho e brincamos, animadamente, durante o mesmo.
Vestimos os pijamas, dizemos adeus aos nossos cônjuges e ficamos a ver televisão.
Termina, assim, mais um dia em São Pedro de Moel. 



sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Problema com a filha!





As Sextas-feiras são muito difíceis para mim. É dia de aulas na UTI. O dia está preenchido Chego a casa esgotada. Contudo, irei ver se arranjo um bocadinho para escrever neste blog.

Terça-12, de Julho de 2005

Estou muito entusiasmada com a ida para São Pedro de Moel.

Pelas 09h da manhã estou na porta da minha casa de mala feita e um sorriso brilhante.
Vejo o Fernando Pedro vir na minha direção. Vem, ou parece, muito feliz.
O carro dele fica na rua paralela à minha. Traz o troile e eu pego na minha mala.
Mas antes deixo uma mensagem ao meu marido a dizer que vou estar uns dias fora para me restabelecer.
Entrego as chaves do meu carro ao Pedro. Arrumamos a bagagem e entramos muito felizes.
Conversamos animadamente e  traçamos as coordenadas para os três dias que ali vamos ficar.
Tudo parece um sonho até que se ouve o telemóvel do Pedro tocar freneticamente.
Diz que é a filha mais nova. Atende e a conversa começa a ficar muito azeda. Pára o carro na berma da estrada.
Sigo a conversa em silêncio, mas registo tudo na minha mente.
Então é o seguinte:
A Clá**** fez 16 anos em Maio, dia 5. Está a  matricular-se  para ficar na mesma escola. Ela chumbou o ano e, como já tem 16 anos não pode, segundo a lei, ficar ali.
O Pedro reclama que está com um volante nas mãos e que não pode resolver nada. Mas fica muito nervoso. Eu penso que as minhas miniférias estão em risco. 
Coloca o carro a trabalhar e fazemo-nos à estrada. Fica mudo e calado. Pouco fala ou nada. Alvitro que será melhor voltarmos para trás, mas ele diz que não o pode fazer porque disse que ia fazer uma Ação de Formação. Fico com receio daquilo que poderá acontecer nos próximos dias.
Chegamos a São Pedro de Moel e vamos diretamente para a pensão que o Pedro tinha arranjado na net.
Vejo que é a Pensão " São Pedro ". Muito linda. Hoje já não existe. Tudo a vermelho escuro com móveis do século passado. Fazemos o chek in. O Pedro dera o seu nome quando fez a reserva. Somos conduzidos ao quarto que tem o mesmo estilo. Fico fã. As malas são levadas por uma rapariguinha franzina. Tenho pena dela e dou-lhe uma gorjeta de cinco €. Penso, automaticamente, que era impensável dar mil escudos de gorjeta há uns anos  atrás. Mas não me arrependo. Ela merece...


Fomos almoçar. O Pedro muito calado e pouco come. Está introspecto. Voltamos para a residencial e passamos ali a tarde. Ele deita-se na cama e fixa os olhos no teto. Tento meter conversa, mas nada. Não dá saída. A hora do jantar chega e vamos comer umas sandes ao parque que fica ao cimo da rua. Nada de conversação. Tento animar, mas não dá resultado. Há um momento que me pede para me calar. Ele precisa de pensar como resolver o caso da filha.
Tomamos banho. Cada um per si. Vamos para a cama e resolvemos dormir.
Eu sinto que tudo vai correr mal...



quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A ida ao médico!





Hoje sinto-me envergonhada pelo que fiz. Nunca me tinha envolvido com um homem. Eu que queria ser freira... Eu que estive para entrar  no Convento de Santa Clara, Coimbra. Eu que fora sempre recatada, caí numa armadilha destas. Saltei a cerca como me recordava o Fernando Pedro Cachaço a cada  momento.

Foi um momento de fraqueza. E quem não os tem? Deve-se pensar dez vezes, como dizia o meu tio padre, antes de tomar uma atitude quer seja de palavras ou de qualquer outra.

Segunda, 11 de Julho de 2005

É um dia muito quente. Pela manhã, faço todas as minhas atividades habituais. Tomo o comboio para o Oriente, onde o Fernando Pedro me espera com um sorriso rasgado. Ele é tão amoroso que ninguém dirá que é uma farsa. Todas as suas, palavras, gestos e sentimentos são, simplesmente, uma desilusão num futuro próximo.
Quando nos encontramos, os beijos e as carícias multiplicam-se.
Chegamos a acordo. Não almoçamos no Vasco da Gama. Vamos, já, para a Avenida da Igreja, onde se situa o consultório do médico.
Eu penso que vamos de metro, mas Pedro leva-me para o parque de estacionamento. Então vejo o seu Mercedes que, penso eu, tivera um acidente. Nada que aparentasse isso. Falo e ele diz que foi muito bem arranjado graças ao dinheiro que lhe emprestei. Fala que me irá pagar até ao último cêntimo. Isso nunca aconteceu até hoje.
Almoçamos no mesmo restaurante já nosso conhecido.
O carro é arrumado debaixo de um arbusto que raspa o tejadilho. Eu fico consternada e friso isso. Ele diz que não arranhou nada depois de ir ver.
A minha consulta era exclusivamente por causa do estado da minha mãe. Não que eu tivesse problemas de psiquiatria. Fiquei depois quando ele começou a arranjar problemas. Mas valeu para ele se servir quando fiz queixa dele por maus tratos físicos quando disse a Dulcineia M**** o que ele era. Um dia coloco as fotos das nódoas negras com que fiquei. Além disto arranjou provas falsas que me colocou num estado crítico em relação à queixa. Conseguiu enganar o Sargento Ga******.Retirei a queixa e fiquei com rótulos, pouco abonatórios, à minha pessoa. Hoje tenho pena de não ter continuado e desmascara-lo em pleno tribunal.

Retomando a minha narrativa, sou a acrescentar:
Depois do almoço vamos para o consultório do médico.
As consultas estão atrasadas. Pedro vem para fora fumar o seu cigarrinho. ( Fumou até Setembro, altura em que foi operado ao nariz. ) 
Eu sigo-o e ficamos ali trocando beijinhos entre uma fumaça e outra.
O médico chega e eu sou chamada. A consulta demora quase uma hora. O Pedro espera pacientemente, pelo menos parece. Mostro ao Pedro o atestado onde se lê que não estou em condições de tratar da minha mãe. Este atestado será apresentado na próxima reunião com as minhas irmãs. Ele sabe disto, mas distorce a seu favor, mais tarde.
Sinto-me feliz por ele ser tão compreensivo. Penso eu de que...
O relógio marca a hora da despedida. Leva-me ao metro de Alvalade. Despedimo-nos com muitos beijinhos e fica combinado o encontro no dia seguinte para irmos para S. Pedro de Moel.
Já não trocamos nada neste dia.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Com que direito?





Não sei onde foi tirada esta foto. Tu, Pedro, deves saber. Ela foi tirada do teu perfil. É no Norte, creio.

Domingo, 10 de Julho de 2005
 
Nem sempre somos inteligentes. Por vezes, somos pategos e deixamos que o outro leve a melhor para seu belo prazer. Nós apenas ficamos passivos a ver o outro levar a nossa vida a uma decadência há muito anunciada.
Quando damos conta e abrimos os olhos, as coisas já estão desintegradas e estão na outra parte que teve o discernimento adequado. Aí choramos a queda de um império que custou tanto a construir. Mas já está! Nada podemos fazer para que a ação se reverta a nosso favor.
É assim que o Pedro trabalha. Cuidado gente com este homem. Eu seria muito feliz se pudesse avisar todas as mulheres, do perigo que estão correndo, ao se embrenharem na teia tão bem tecida por ele. Mas eu própria caí. Foi tão difícil encarar a realidade!!!

Apenas não fiz a coisa que ele sempre mais me pediu:- Deixar o meu marido.
Eu sabia que a nossa relação não tinha bases para se tornar numa relação séria. Eu não confiava nele. E além do mais, amei, amo e amarei muito sempre o meu marido. Este, sim, que me ama, perdoa, compreende, acarinha, ouve e me ajuda em todos os momentos quer sejam bons ou maus. Cada dia o amo mais.

Neste dia, 10 de julho de 2005, estou eu muito bem a dormir quando o telemóvel dá sinal de mensagem. Acordo sobressaltada a pensar que o meu marido está ali ao meu lado. Não está. Recordo que me disse na noite anterior, antes de dormir, que ia dar uma voltinha de bicicleta. Sorrio. Apanho o telemóvel e leio, sofregamente, o que a mensagem contém:

09h56m12s

< Bom dia meu amor único. Já está acordada? Posso falar? Quero mesmo falar contigo preciso de, falar. Bjs doces de mel. >

Leio e releio o que está escrito. Não compreendo o que ele quer e fico assustada. Envio a dizer que pode falar porque estou só.

Atendo o telemóvel com receio do que pode vir de lá.

- Pedro o que se passa?
- Bom dia para ti também.
- Bom dia, Pedro. Fiquei assustada...
- Eu é que devia estar assustado. O que se passou ontem?
- Como assim?
- Ontem estivestes com ele, onde? Foram passear?
- Claro que estive. Ele está cá em casa, logo não o posso mandar sair.
- Fala a verdade. É que eu venho a descobrir...
- O quê? Andas a espiar a minha vida? Com que direito?
- És minha e não dele. Eu é que tenho o direito de estar contigo.
- Não, Pedro. Eu não sou de ninguém. Nem tua nem dele. Apenas me casei com ele e foi o homem que escolhi para estar a meu lado. Não questiono quando tu não podes falar no telemóvel nem no MSN. Não tens esse direito.
- Tenho sim. Amo-te mais que ele e não te esqueças que vamos na nossa lua de mel na Terça-feira.
- Pois! Mas com ele é que eu vivo.
- Vá, diz lá... Onde foram?
- A lado nenhum. Estivemos em casa.
- Se começas a mentir não é bom...
- E tu não me mentes?
- Mas só para te proteger.
- Foi por isso que me protegeste quando lhe deste o telemóvel a ela com uma mensagem minha.
- Foi um descuido.
-Vá lá não te zangues. Amanhã estamos o dia juntos.
- Estou com saudades. Vou dar-te muitos beijinhos. Vais ao MSN?
- Não sei, Pedro. Tudo depende.
- Eu espero por ti. Vá! Não te enerves. Por te amar é que sou assim.
- Mas não tens que ser. Nem te deves meter na minha vida. Eu também não me meto na tua...
- Bem, tenho que ir. Hoje sou eu a fazer o almoço.
- Ok! Bom almoço. Beijinhos molhados.
- Até logo, meu grande amor. Beijokinhas doces. Hummm, tão bom!

Fico estupefacta sentada na cama. Com que direito? Com que direito?

Tomo banho e desço. Tomo um pequeno-almoço fraco. São horas de começar a fazer o almoço.

Meu marido chega contente. Fez cem Km. Diz que cheira bem e vai tomar banho. O dia decorre normalmente.

14h54m39s

< Amor já almoçámos. A mãe dela e o padrasto hoje foram mais cedo. Qd poderes vai, ao MSN. Bjs doces. >

Fiquei triste. Ele não me tinha dito nada. Mas não tem o direito de dizer seja o que for. Eu também não tenho. Ponto.

À noite falamos no MSN. Combinamos o nosso encontro no dia seguinte pois irei ao médico.


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Imaturo!

 
 


A vida tem destas coisas. Um dia está-se bem e no outro nem estamos mais cá. Isto para mencionar o meu afastamento de alguns dias. A minha cunhada teve um acidente e tem estado muito mal. Nós, eu e o meu marido, temos estado no hospital para seguirmos de perto a evolução dos exames e demais procedimentos a que ela esteve sujeita. Hoje já está fora de perigo, segundo os médicos. Vamos ter fé neles e em Deus, a quem pertencem todas as coisas.




Pelo que eu sei de ti, Fernando Pedro, foste sempre imaturo. Desde criança que cultivaste esse defeito. Alguns chamam-lhe qualidade, mas eu não. Quando é no princípio, mostras uma acessibilidade que não tem limites. Dás-te por inteiro na relação ou finges dar-te.  Mas quando as coisas começam a correr mal, afastas-te sem dó nem piedade. Foges do que plantaste e do sentimento que geraste na outra pessoa. Enfim, és um crápula.
Eu tendo inculcar, nas mulheres, o quanto tu és um biltre da maior estirpe. Mas elas são como tordos a caírem aos teus pés. Tu semeias o mal por onde vais passando. Um dia ir-te-ás arrepender.

Sábado, 09 de Julho de 2005

O sol espreita pelas frinchas da janela. No quarto começam a aparecer os primeiros raios de sol. São límpidos e quentes. Anunciam um lindo e maravilhoso dia. Eu cogito o quão agradável irá ser. Na véspera, ficou decidido que iríamos a Santa Cruz.
Levanto-me e desço em silêncio para não acordar o meu marido. Anda cansado e espera o dia 15 para o início das férias. Será na próxima Sexta-feira.
Já no rés-do-chão, sento-me a apanhar o ar fresco que vem de uma brisa suave e leve.
Fico ali emprenhada nos meus pensamentos mais recônditos. O Pedro faz parte deles. Admiro-o pela sua sagacidade. Na noite anterior dissera-me que tinha dito em casa que ia fazer uma Ação de formação. Só não me disse o local que tinha dito à mulher. Mas não era preciso. Eu sabia para onde iríamos e isso bastava-me.
Assusto-me com a presença do meu marido que olha para mim com uma felicidade de quem está muito apaixonado. Fico aflita sem saber se ele leu os meus pensamentos. Interrogo-o com o olhar, mas ele apenas diz "bom dia, meu amor".
Sinto remorsos cá dentro do que ando a tramar nas suas costas.
A conversa flui e vamos tomar o pequeno-almoço. Conversa para cá, conversa para lá e falamos na nossa ida para o Inatel. Iria ser na próxima Segunda. Falamos dos preparativos da última hora.
Acabada esta conversação, vamo-nos arranjar para ir para a praia.
Saímos pelas 08h15m12s
Reparo que o caminho não é o de Santa Cruz e pergunto para onde vamos. Meu marido responde que me vai fazer uma surpresa.
Vamos conversando coisas banais e nem dou pelo caminho.
Estamos em São Martinho do Porto. Fico alegre. Eu gosto muito.
Vamos tomar um gelado e ver qual o restaurante que mais nos agrada. O meu telemóvel deu sinal de mensagem a chegar, mas não vejo.
Já na praia, o meu marido vai tomar banho naquela quietude da baía. Eu aproveito para ver a mensagem. Só pode ser do Pedro.

10h27m45s

< Bom dia Amor mio. Onde estás? Sozinha? Posso telefonar? Beijokinhas doces. >

Respondo que não e que estou com o meu marido.

Fica zangado e não responde.

O dia passa rápido.
Regressamos a casa felizes e contentes.

21h39m50s

< Dorme bem. Beijokinhas molhadas. >

Fico apreensiva com esta atitude, mas não comento.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A vida cobra o que fazemos aos outros!

Neste fim de noite venho recordar mais um dia de vivência com o Pedro.


 O que diz Joana de Ângelis, é verdade. Se pensas que não vais pagar o que tens feito a todas as mulheres, enganas-te. A vida dá o retorno daquilo que fazemos aos outros. Espera que um dia  vais receber a tua parte. Todos colhemos o que semeamos. Quem semeia ventos, colhe tempestades.

Não é agradável relembrar tudo o que passei com este execrável.
É, portanto, um alerta para as mulheres não se envolverem com homens desta laia.
Já fiz o diagnóstico de pessoas desta estirpe.

Sexta, 08 de Junho de 2005

É um dia escaldante. Levanto-me cedo para apreciar o fresco da manhã.
Estou na minha cozinha e recordo o dia em que o Pedro aqui almoçou.
Já era Outono. O frio já se fazia sentir.
Olho e vejo-o sentado no lugar reservado ao meu marido. Está de olhos esbugalhados e receoso. Foi a única vez que o vi neste estado. Depois cria arrogância, vaidade, petulância, superioridade e um sem fim de adjetivos que lhe assentam lindamente.

Estou parada no tempo. Parece que estou no dia 13 de Outubro de 2004. Como o tempo passa, penso eu.
Estou descontrolada com os acontecimentos que vieram depois deste dia. Fecho os olhos e não quero ver. Levanto-me, silenciosamente, e venho para a sala. Isto não poderia ter acontecido. Agora ele tem-me na mão. É tarde para voltar atrás.
Já não sei se quero ir com ele para São Pedro de Muel. Sinto medo e cheiro-o no meu corpo.
O telefone toca e eu levo uma eternidade para ir atender. Sinto o corpo pesado, exalando o meu medo.

- Estou sim, faz favor?
- Bom dia amor mio. Estou com saudades tuas e quando ouço essa voz maravilhosa, tenho arrepios na espinha.
- Bom dia Pedro. És sempre assim tão romântico ou isso só sai pela boca?
- Sou assim para o meu amor que és tu. Nunca fui assim com ela. Já não nos suportamos. É só por causa das minhas filhas. Principalmente da Cláu******.
- A outra não é tua.
- Mas é o mesmo que seja. Quando comecei a ficar com ela, a V**** M***** ainda era bebé. Era linda. E, como te disse, apaixonei-me primeiro pela bebé e só depois decidi ficar com as duas.
- Tens um bom coração. És sempre assim?
- Não. Quando me enganam, sou um leão.
- Leão do Sporting, não é?
- Isso também. Mudemos de conversa. Já estive a ver a Residencial. Tem bons quartos e é sossegada.
- Isso é bom. E quando partimos?
- Dia 11 entro de férias, mas digo a ela que vou trabalhar para fora. Vamos Segunda. Ainda falamos melhor para acertar os detalhes.
- Hum, hum... Não pode ser. Tenho consulta para renovar o atestado de médico. Senão cai-me tudo em cima.
- Mas precisas mesmo?
- Já tenho a consulta marcada. É às 16h em Lisboa.
- O teu marido vai contigo?
- Não. Vou sozinha.
- O médico conhece o teu marido?
- Não. Tenho ido sempre sozinha.
- Eu posso-te acompanhar? Passo por teu marido.
- Não. O meu marido, é o meu marido. Tu és tu.
- Ainda não metestes na cabeça que vamos casar? Eu sou solteiro.
- E eu sou casada. Tu nunca virás a ficar comigo... Um dia partes e eu sou esquecida.
- És mesmo negativa e não acreditas em nada do que digo.
- Acredito até certo ponto. O resto é utopia.
- Então posso ir contigo?
- Tu é que sabes. Se já disseste que vais trabalhar para fora logo na Segunda, como vais emendar as coisas?
- Não te preocupes. Eu cá me arranjo.
- Tens  uma imaginação fértil, lá isso tens...
- Logo posso telefonar?
- Não. Está cá a Glorinha.
- Vai ao MSN para combinarmos  as coisas.
-Ok!
 - E não faltes. Temos muito que conversar  e acertar agulhas.
- Isso de " acertar agulhas " faz-se nos comboios.
- Agora é tudo automático. Beijinhos molhados. Porta-te bem.
- Eu sempre me porto bem. E tu?
- Não sejas parva. Até logo.
- Até logo e beijinhos.

Quando desligo, fico a magicar em tudo o que se falou. Ele tem imaginação que me mete medo. Um medo de morte.
Olho o relógio  e são 09h45m10s

O dia decorre normalmente. Continuo a fazer a minha vida. À tarde vou ao Intermarché.
Quando chego a casa a Glorinha fala que tinham telefonado, mas não tinham falado. Diz-me para ter cuidado por causa dos roubos. Eu digo que não tenho receio, mas calculo que fosse o Pedro. Deixo-me rir. Foi para me expiar, penso.

18h09m08s

< Amor telefonei. Estavas em casa? Quem foi que atendeu? Beijokinhas molhadas. >

Respondo que tinha ido ao Intermarché e quem atendeu foi a Glorinha. Conto a conversa que ela me fez.

< Hihihi... Eu já a roubei e a ti tb até logo no MSN. Bjs e fica bem. >

À noite falamos no MSN. Confirma que já disse  em casa que na Segunda ainda vai trabalhar.
O meu marido pergunta o que estou a fazer no computador. Eu respondo que faço pesquisas...



quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Almoço no Centro Comercial!

Na verdade não ganhámos ao Chaves. Mas somos do Sporting com muito amor. Eu sou. E tu Fernando Pedro Cachaço Marques? Não fazes postagens sobre o clube de eleição, mas não dás ponto sem nó.

Agora andas numa de publicidade. Deves ganhar por isso. Não fazes nada sem teres lucro.
Mas há alguém que ficou muito entusiasmada com as lareiras. Até comentou o seguinte:- Nossa...será k me vão oferecer uma lareira???????
Pode esperar sentada. Se fosse o contrário, acreditava, mas assim, nem pensar...
Que terá ela que te dar para lhe ofereceres a lareira? Muito dinheiro, certamente...

Quinta, 07 de Julho de 2005

Mais um dia que descrevo da minha vida com o Pedro.


É Quinta-feira. Um dia de muito calor. Tenho o ar condicionado ligado e só ouço esse barulho. O bulício da rua não chega aos meus ouvidos. Estou entorpecida pelo calor. Já estou acordada há muito tempo. Olho o relógio e ainda é muito cedo. Da rua vem um raiar de amanhecimento. Já não é escuro. Fico virada para a janela a apreciar aquele lindo amanhecer. Não sei o que me espera, mas o dia promete. 
Estou embrenhada nestes momentos de serenidade quando o relógio começa a tocar freneticamente. É hora do meu marido se levantar. Ele espreguiça-se e fica admirado de eu estar acordada. Pergunta se dormi mal. Eu respondo que sim.  " Não é de admirar. Tu dormes sempre mal..."
Senta-se na cama e dá-me um beijinho de bom dia. Recomenda-me mais repouso, como se isso fosse possível.
Fico ali, aturdida, sem  reação.
O tempo passa e o meu marido vem para se despedir. Finjo dormir. Ele sai pé ante pé para não me acordar. A consciência fica pesada.
Não dou pelo tempo passar. Tenho uma propensão para me abstrair do que me rodei.
O telefone toca. O relógio marca:


08h25m59s


- Estou sim, por favor?
- É sempre com esse atender que eu fico feliz. Bom dia amor mio. Dormiu bem?
- Bom dia, Pedro. Nem por isso. Dormi mal. O calor é muito.
- Tamos no tempo dele, amor. Tens o ar condicionado ligado?
- Agora não, mas esteve ligado quase toda a noite.
- Eu também não dormi. Pensei na nossa lua de mel. E tu pensastes?
- Não. Tu é que tratas de tudo...
- Pensei em São Pedro de Muel. O que te parece?
- Parece-me bem. Tem uma praia linda.
- Já andei à procura na net. Depois envio detalhes. Lembra do nosso dia de ontem? Foi tão bom!
- Sim, foi muito bom. Recomenda-se.
- A nossa lua de mel vai ser melhor que isso. Vou-te fazer passar que nem uma princesa.
- Espero que sim.
- Hoje podes vir almoçar comigo? Mas só almoçar. Já tenho trabalho para a tarde. Vou para a Casa Branca.
- Olha, no Alentejo!
- Sim. No nosso Alentejo. Vens?
- Estou tentada! Vou. Estou lá ao meio-dia.
- Alegras o meu coração. Na entrada onde nos conhecemos.
- Está bem...
- Vem aí o chefe. Beijokinhas.
- Beijinhos doces...


Eu a dizer as últimas palavras e já ele tinha desligado.
Corro a tomar banho. Porém antes, pus a cama a arejar.
Visto-me com algum cuidado. Já estou mais elegante. As visitas ao Centro de Estética têm-me feito bem.
Às onze horas apanho o comboio.
Na hora marcada estou no ponto do costume.
Ele aparece e apanha-me pelo braço. Dá-me muitos beijinhos e carinhos.
Comemos no " Comida a peso ". Ele à frente com o tabuleiro na mão e eu com o meu. Escolhe carne, legumes, arroz e salada.
- Eu levo só uma combinação de saladas.
Caminha para a mesa do canto. Já é a nossa mesa. Espera enquanto eu pago a nossa conta.
A nossa conversa é circunstancial. Nada de relevante.
A hora da despedida chega e ele vai embora.
Eu vou ver um filme.


Na hora determinada, apanho o comboio e venho para casa. Quando chego a Alv**** o meu marido entra no comboio.
Beija-me e senta-se a meu lado. Mostro o bilhete do cinema e digo que gostei imenso.


Depois, depois as coisas do costume.
Só venho a receber notícias do Pedro já tarde.


21h43m12s


< Amor estou a chegar a casa cansado, e com fome. Dorme bem Bjs doces e molhados. >


O meu dia acaba aqui.


-

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Redondamente enganada!

A imagem ilustra aquilo que espero hoje do Sporting.
Tu, Fernando Pedro, também deves estar a torcer por isso.

Quarta, 06 de Julho de 2005

Estou diante do meu diário. Olho a página que assiná-la  o dia de hoje, dia 06 de Julho de 2005. É uma Quarta-feira.
As Quartas são passadas na minha casa, como vem sendo hábito há longo tempo.

Levanto-me logo que o meu marido sai, fecha a porta e põe o carro a trabalhar. Ouço com atenção se o carro arranca e corro para arejar a cama.
Dirijo-me para a casa de banho. Tomo banho com entusiasmo e alegria. "O Pedro vem passar o dia comigo" Penso eu. Irá ser um dia tão bom como os anteriores.
Ponho lençóis lavados a cheirar a rosmaninho. Faço a cama com decoro. Olho em redor para me certificar que tudo está no seu lugar e arrumadinho.
O relógio indica a hora que devo caminhar para a estação.
Faço a última visita ao espelho e gosto daquilo que vejo. Os meus olhos irradiam felicidade.
A caminho da estação penso que tenho o homem mais charmoso do mundo. Hoje, analisando este ponto, vejo que estava, redondamente, enganada.
Chego antes da chegada do comboio. Fico ansiosa sem saber como ele vem. Tem que vir espantoso, radiante, feliz, alegre, majestoso, seguro de si... Ele tem sempre estes atributos. Invejo-o. Eu sou apagada, triste, melancólica e tímida.
Ah, mas com ele, sinto-me segura. Então quando estou nos seus braços, não tenho palavras para descrever a sensação. E tenho a certeza que é a mesma sensação sentida por todas as mulheres que andam ou já andaram com ele. Como pode ser tão sínico? São assim os sociopatas.
Estou eu nas minhas cogitações quando ouço o silvo do comboio a entrar na estação. O meu coração dispara numa catadupa que nem eu sei medir. Mas espero e, olho as escadas, com o coração a saltar pela boca. Nisto vejo-o naquela imponência que é seu apanágio. Saio e espero em pé à porta do carro. Chega ligeiro e feliz. Vem já a rir. Abraça-me com força. Beija-me como se não me visse há uma eternidade. Diz que o meu cheiro, a banho, lhe faz sentir a vontade de me possuir. Alego que tenha contensão e espere até chegarmos a casa. Pelo caminho, as suas mãos, percorrem as minhas pernas e mais. Eu vou a conduzir, alerto-o. Fala coisas de amor, carinho e deixa-me tímida.

Já em, casa as escadas são subidas com alarido.
No quarto, não sei descrever o que se passa. Não há palavras. As coisas apenas fluem.
Não sei que tempo passa. Sei, apenas, que olho o relógio e já é tarde. Levantamo-nos  e corremos a tomar banho. Ali ele tenta, novamente, que eu seja feliz.

Vamos almoçar e, como sempre, ele vai à frente. Eu sei porquê! É que, quem vai atrás, paga a conta.

Já em casa a conversa cai na possibilidade de eu deixar o meu marido. Eu rio e vejo que é tudo uma utopia. Nem ele me quer nem eu o quero. Falamos na nossa lua de mel. Ele fica de verificar onde devemos ir e qual o dia da partida. Ele toma sempre a dianteira das coisas.

As coisas fluem o seu ritmo. Chega a hora da partida. Fazêmo-la em casa. São beijos e carinhos que nunca mais acabam. Mas temos que ir para a estação.
Aí damos os nossos últimos beijos.
Vejo-o subir as escadas com a mesma aparência com que o vi chegar pela manhã.
Fico triste. É imensurável o que sinto da separação.
Retorno a casa e espero pelo meu marido.

21h03m43s

< Amor vai ao MSN quero falar contigo antes de ir dormir. Beijokas doces. >

Respondo que não posso.

21h10m12s

< Boa noite dorme bem e sonha comigo. Beijokinhas molhadas. >
 

domingo, 15 de janeiro de 2017

As voltas da vida!

É a vida que nos dá as voltas ou somos nós que damos as voltas à vida?
Creio que somos nós que damos as voltas à vida.

A minha vida não  seria tão complicada se eu não lhe tivesse trocado as voltas.

Terça, 05 de Julho de 2005

Estou na cama numa letargia tremenda. Sinto-me só. A angústia toma conta de mim. Não sei o que é certo e errado. Não consigo discernir o que faço e se o faço com consciência.
Não falo, não penso, não ouço...
Deambulo por entre as trevas da vida e não tenho saída para lá do túnel da escuridão.
Estou neste estado de espírito, quando algo de estranho entra no meu consciente.
Ouço o telefone a tocar. Não sei se estou na minha casa, na minha cama... É estranho o que sinto. Estendo, languidamente, o meu braço que apanha, com a mão, o auscultador do telefone. Pergunto com uma voz rouca:

- Estou sim, faz favor?
- Ainda estás a dormir? Com essa voz...
- Não estava bem a dormir, mas quase.
- É bom ouvir-te. Já tinha saudades tuas. Não quero perder-te nunca. És parte de mim...
- Hum! Hoje estás muito romântico. É para compensar o dia de ontem?
- Passou-se alguma coisa ontem que eu deva saber?
- Não me digas que já te esqueceste como me trataste ontem.
- Como foi? Tratei-te mal? O que se passou que eu não sei?
- Já não te recordas? Só duas mensagens muito curtas e fiquei todo o dia sem saber de ti.
- Hum! Teve saudades minhas? Que bom! Vá lá, não sejas assim... Tive tanto trabalho que nem tive tempo para comer. Tens que ver que ainda estou a trabalhar. Não sou como certas pessoas...
- Tu tens sempre razão. Desculpa...
- As desculpas não se pedem, evitam-se. Tanta converseta para nada. Vou-te fazer um convite. Queres vir almoçar comigo? Estou em Entrecampos.
- Mas não tinhas dito que, amanhã, vinhas tu ter comigo? É Quarta-feira!
- Pois! Já me tinha esquecido que amanhã é Quarta. Vê lá que nem sei às quantas ando... É o trabalho ou és tu que me põe assim?
- Deve ser o trabalho. Eu não tenho esse poder.
- Tens pois! Eu sou doido por ti e tu sabes isso. Não venhas agora com tretas.
- Para ti são tretas?
- Não desconverses. Posso telefonar logo?
- Não. Tenho cá a Glorinha.
- Dá-lhe dinheiro para ir comprar rebuçados. Era assim que faziam aos gaiatos antigamente.
- Tens sempre uma maneira airosa de dizer as coisas.
- Vou trabalhar. Tenho que fazer alguma coisa ao homenzinho. Os homens estão à minha espera. Vais ao MSN?
- Não sei. Tudo depende.
- Vá, vai lá para falarmos um cadinho. Vamos falar da nossa lua-de-mel.
- Mas não vais entrar de férias?
- E depois! Eu digo que vou trabalhar para fora como digo sempre.
- Está bem. Tu é que sabes. Vou ver se posso ir ao MSN.
- Então até logo. Beijinhos daqueles que só tu sabes dar. Hummm! Tão bom. Amanhã damos muitos desses.
- Até logo e beijinhos...





Foi assim que nos despedimos. Eu sabia que não fazia parte da vida dele, mas enganava-me a mim própria. Era uma maneira de fugir ao sofrimento. O relógio marca 09h20n12s.

Levanto-me e tomo banho. Faço as mesmíssimas coisas de todos os dias. É meu apanágio ter tudo limpinho e arrumado.
O tempo passa a correr.


12h56m20s


< Só agora vou almoçar. És servida? Beijokas grandes. >


Respondo que já tinha almoçado e desejo-lhe bom almoço.


A tarde decorre normalmente. A Glorinha aparece sempre à mesma hora e sai já depois do tempo.


18h12m01s


< Vou sair. Vou pa casa tomar banho e descansar. Até logo no MSN. Beijokas doces. >




Na hora de sempre eu estou no MSN. Falamos de muita coisa, do dia seguinte e da tal lua-de-mel. Combinamos as coisas para  termos um dia aprazível.

 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Linha de Sintra!

Segunda, 4 de Julho de 2005


As Segundas-Feiras são nossas. Combinamos sempre no dia, a hora e o local. Nesta, porém, o Fernando Pedro giza outra coisa. É o homem dos enigmas, das mentiras, das artimanhas e dos esquemas.
Estou já levantada e de banho dado. Espero que ele me ligue e me diga para eu ir ter com ele. Todavia, o telefonema não chega e em vez dele vem uma mensagem breve e muito esclarecedora:

< Bom dia Amor. Não podes vir ter comigo vou para a linha de sintra, beijokas que só tu sabes dar. >

Olho o relógio que marca 09h32m19s

Sinto-me triste. Sei que não devo, mas estou. Penso que é o trabalho que o impede de vir ter comigo. Mudo de roupa e fico sentada na cama a olhar o vazio.
Não é o trabalho. Venho a saber mais tarde, quando conheço na net, uma das conquistas na altura.

Desço à sala e começo a fazer o meu crochê... Estou tão envolvida nas malhas e laçadas que tenho que dar que não me apercebo do tempo. Ouço a porta a abrir-se e fico assustada. Quem será?. Olho o relógio da sala e marca 01h43m59s.
Olho para a porta da sala. Não me mexo e fico abismada por ver o meu marido.

- Que se passa?
- Morreu a mão do major e fomos dispensados para irmos ao funeral.
- Hum! Dia Santo hein!
- É uma seca. Gosto mais de trabalhar.
- Já almoçaste?
- Comi na estação com o Oliveira e o Pinho. Venho só vestir-me para ir.
- Ok! Eu almoço sozinha.
- Ainda não almoçaste? A esta hora? És sempre a mesma coisa...
- Não, não sou. Estou a fazer crochê e não posso sair sem isto ficar certo.
- Faz como quiseres. Eu vou tomar banho e mudar de roupa. O Oliveira e o Pinho vão comigo e deixam aqui os carros.
- Está bem...

É uma surpresa para mim. E se é dia do Pedro vir a casa? Meto as mãos no coração que bate a um ritmo acelerado.
Entro na cozinha e bebo um copo de água. Penso que assim o
meu marido irá ter sempre confiança em mim.
Coloco o prato na mesa enquanto o bife é aquecido.
Sento-me e como sem apetite. O Pedro não diz nada desde manhã. Fico preocupada, mas não mostro isso quando o meu marido vem de camisa branca e uma gravata preta. Rio a bandeiras despregadas. O meu marido não gosta de gravata. Ele fica exaltado comigo, dá-me um beijo e sai.
Ainda fico a rir um bocado. São estas coisas que fazem os dias diferentes- penso eu.

Nada do Pedro. Nem uma mensagem para apaziguar o meu coração. Fico triste, mas volto à sala para continuar o meu trabalho. Não é dia de vir a Glorinha. Estou mais só do que nunca.

O tempo passa lento quando esperamos por algo que não chega.

No relógio são 17h41m23s. Olho o telemóvel à espera que este dê algum sinal. Mas nada. Coloco o crochê de lado e ponho-me a magicar nem sei o quê. Desiludida e triste... As lágrimas assomam nos meus olhos, mas eis que ouço um tique. Levanto o telemóvel e vejo uma mensagem. Pareço um rato a correr  para o queijo. Leio sofregamente.

< Amor mio estou em casa estafado. Amanhã falamos, Bjs kentes. >

E fico sem fôlego. Nada a comentar. Ele é um sacana, penso.