sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Estou na linha de Sintra!

Quarta, 13 de Abril de 2005

Já não sabia o que queria. A minha vida tinha dado um volta de 180 graus. Quando acordava e via a madrugada a entrar pelas frinchas da janela, já não conciliava o sono. Era um sonho que eu não queria ter. O homem com quem saíra e tinha uma relação, tornou-se num sapo e não naquele príncipe que eu idealizara.
O dia vinha de mansinho beijar a minha cama. Mas eu não queria os seus beijos. Abominava-os. Pois eles traziam de volta o que eu não queria viver.
Voltava tudo de novo. Mais um dia, mais uma desventura, mais uma desilusão.
As horas voavam e com elas chegava aquele telefonema que eu não queria atender. Mas com receio de algo pior, acabava por me embrenhar em mais uma aventura.

08h25m10s

- Estou sim, faz favor?
- Agora ficas às escuras. 
- Porquê? Vai faltar a luz?
- Não. Mas é porque não conheces o número.
- Pois, este não conheço. Telefonas de um número qualquer...
- Estou na linha de Sintra. Perto de casa. Estás bem? Sempre vais para Porto Covo no fim de semana?
- Vou. O meu marido já marcou o apartamento.
- Vê se não ficas no nosso apartamento. Eu não quero que partilhes as nossas recordações com ele.
- Não sei. O meu marido é que marcou.
- Amanhã queres vir ter comigo? Estou em Entrecampos e podíamos ir ao L******. Quero-te ter nos meus braços antes que te vás embora.
- Hum ! Tão romântico!?
- Eu sou sempre assim para a mulher que amo. E eu amo-te. Tu sabes.
- Será que sei?
- Sabes. E faço-te feliz. Quero-me casar contigo.
- Vais ficar por aí?
- Mudas de converseta. Vou passar aqui o dia todo.
- E eu vou fazer análises.
- Já tinhas dito. Por isso é que telefonei cedo. Beijokinhas dadas com paixão, amor, ternura e muito carinho.
- Beijinhos e bom dia de trabalho. 

17h11m12s

< Amor já não dá para falar contigo. Vai ao msn. Beijokinhas doces. >

Fui ao msn e falámos. Marcámos encontro para o dia seguinte, já que eu, na sexta, iria passar o fim de semana a Porto Covo. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Estás bem disposta?

Terça, 12 de Abril de 2005

Não consegui dormir de noite. Na minha cabeça martelavam as palavras perniciosas do Pedro. Volteava na cama à espera que o sono chegasse de mansinho e me fizesse esquecer o dia anterior. Mas não aconteceu e levantei-me com os olhos do dia que clareavam o quarto pelas frinchas da janela.
Meu marido revelou que eu tinha que voltar ao médico. Nem dormia nem deixava que ele dormisse. Não respondi. Ele tinha razão, mas eu estava num dilema tão grande que não conseguia refazer uma boa noite de sono.
Tomei banho enquanto ele se vestia. Perguntou-me se eu ia a algum lado. Era estranho estar-me a levantar tão cedo sem ter a minha mãe em casa. Redargui que não ia a lado nenhum, mas que não fazia sentido continuar na cama uma vez que não dormia. Tinha coisas a fazer que me ocupariam o dia.
Deixei a água cair no meu corpo para me sentir viva. Precisava de sentir que eu era eu e que o que tinha acontecido, não passara de um mero pesadelo.
Quando já estava na sala a escrever no meu diário, o telefone tocou. Foi com lentidão que me levantei. Não tinha pressa. Já sabia quem estava do outro lado da linha.

09h10m11s

- Estou sim, faz favor?
- Sabes onde estou? 
- O telefone ainda não tem TV.
- Estou em Entrecampos. O meu colega está de férias e eu vim fazer o trabalho dele.
- Pois. Ontem tinhas dito que ele estava de férias.
- O trabalho é a dobrar. Estás mais bem disposta?
- Porquê? Pareço que quero vomitar? 
- Não é isso, mas ontem foste-te embora assim de repente...
- Eram horas do comboio e como te tinha dito, tinha que vir cedo para casa.
- Já tenho o carro na oficina. Ainda não sei o orçamento.
- Tu é que sabes...
- Não. Sabemos os dois. Eu conto-te tudo. Tu não?
- Também te conto tudo e ando com um problema muito grande, como sabes.
- Ele foi cedo para casa?
- Não. Já chegou bem tarde. Eu estava a dormir. ( Era mentira, mas tinha que fazer com que parecesse credível. )
- Mas não sabes que tipo de jogo?
- Não faço ideia e nem percebo de jogo.
- Já contei ao meu amigo. Ele vai tomar medidas.
- Ok! Talvez o apanhem.
- Era bom para nós passar um tempo no chelindró ( tema que ele utilizou para prisão. ) Assim ficavas senhora da conta e ele não lhe podia tocar... Riu-se com gargalhadas.
- Sabes? Amanhã vai trabalhar para MonT****. Não podes vir.
- Então tinha pedido ao chefe que ia a uma consulta!?
- Terás que dizer que te mudaram a consulta.
- E na quinta podes vir ter comigo?
- Talvez. 
- Eu continuo aqui em Entrecampos. Vamos ao L****. Queres? Eu adorava.
- Sim, eu também.
- Agora vou trabalhar. Tenho os homens à espera. Beijinhos com paixão, amor, doçura, ternura...
- Ena! Tanta coisa.
- É para veres que te amo muito.
. Beijinhos doces.
- Não sei se posso telefonar hoje!
- Envia mensagem.
- Até logo.

Quando desliguei, senti um alívio nunca antes experimentado. Isso dizia que estava sem falar com ele todo o dia. Agora era preciso desligar. Fui ao Centro e à escola para estar com as minhas colegas.
Perto das 17h recebi a seguinte mensagem:

< Amor meu coração voa para junto do teu. AMO-TE e recordo nossos momentos lindos. Bjs Kentes. >

Terminou assim mais um dia de expectativa. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O gravador!

Segunda, 11 de Abril de 2005

Não foi um dia fácil. Foi num lugar igual à foto que eu e o Pedro nos sentámos naquele dia para experimentar o gravador que tinha comprado. Ideia do Pedro para apanhar o meu marido em flagrante. Mas até chegar a esse momento, eu tenho que relatar o que se passou anteriormente.

Como já vinha sendo hábito, os nossos encontros eram à porta do Centro que dá acesso ao Continente. Foi aí que eu esperei por ele com o coração a transbordar de uma ansiedade nunca antes experienciada por mim.
Por volta das 12h ele desceu as escadas e lá vinha todo gingão e com uma confiança que me deu volta ao estômago. Senti vontade de correr e desaparecer por entre as pessoas que se iam aglomerando na entrada para um almoço merecido. Mas fiquei petrificada qual asno que não quer andar por que está a comer a sua cenoura preferida.
Ele, sem sombra de dúvida, vinha alegre e com uma vivacidade que eu não lhe conhecia.
Cumprimentámo-nos com um beijo que não foi sentido por mim. Também não o foi por ele, mas eu achava que o sentiria pelo prazer  de ser homem, indubitavelmente, sabujo.
Pegou na minha mão e arrastou-me, literalmente, para dentro do Centro. Eu era um espectro que seguia a sua sombra sem haver sol. Subimos as escadas rolantes. Ele falava, mas eu não o ouvia. Pensava na maneira de me livrar da pedincha do dinheiro. Era primordial para mim que ele acreditasse e me deixasse em paz.
Já na área dos restaurantes, fomos pôr-nos na fila para levar uma malga de sopa. Ele disse que não queria um almoço prolongado porque tinha imenso para falar comigo. Eu levei sopa e ele uma taça de salada de fruta. Pouco comi ou nada. Ele dava-me papaia porque sabia que eu gostava imenso.
Depois seguimos para o nosso refúgio " o jardim ", lugar onde pouca gente andava àquela hora. 
Então pediu para que eu falasse primeiro. Senti um rubor no rosto e pensei que a minha máscara iria cair a qualquer momento. 
Falei que o meu marido andava num esquema de jogo. O papel que eu assinara, quando estive doente, fora para levantar dinheiro para pagar a dívida do jogo. Também descobrira que o meu marido tinha negócios ilícitos com a minha cunhada, mas que me tinham faltado pormenores por que eles falavam em código. Era a minha mentira planeada há vários dias. Não ousava olhar para ele com receio que não acreditasse. Porém, disse-me que ambos estávamos com problemas, mas que se nos uníssemos, seria possível sair deste pesadelo. Foi um alívio para mim pensar que ele tinha acreditado na minha mentira tão credível e bem moldada para a altura. Então, começou a falar que tinha um amigo que era da judite ( Nome vulgarizado para Polícia Judiciária ). Eu arregalei os olhos e perguntei, na minha santa ignorância, o que era a "judite". Explicou-me e disse que iria alertar o amigo para averiguar se havia jogo ilegal em A*********. Depois falou, com muita segurança, que era melhor eu comprar um gravador pequeno para ter no bolso e gravar as conversas entre a minha cunhada e o meu marido. Ambos iríamos descodificar logo que eu tivesse apanhado algo. Aqui fiquei um pouco amedrontada. Não se passava nada entre o meu marido e a minha cunhada. Também nunca iriam pegar o meu marido porque ele não jogava. 
Pegou na minha mão e levou-me à Worten. Vimos vários e a escolha caiu num muito pequeno e que cabia num bolso sem ser descoberto e passar despercebido. Comprei-o e fomos para fora do Centro. Sentámo-nos num local igual à foto que postei. Não deitava água e estava um sol convidativo para a converseta, como ele lhe chamou. 
Foi ele que ligou o gravador e o pôs a funcionar. Depois deu-me um beijo muito repenicado que ficou gravado. Ainda tenho essa gravação. Fui dar com ela quando fui para ouvir outra gravação que fiz de uma conversa que tive com ele e que me disse que tinha entrado na minha conta bancária para ver os movimentos registados pelo meu marido. É crime, mas não usei quando fiz queixa. Talvez ainda me sirva para alguma coisa.
Aqui começou a falar da situação em que se encontrava. Estava decidido em mandar arranjar o carro e depois logo se via. Disse-me que eu tinha dinheiro no BES. Fiquei suspensa no ar com esta revelação. Como é que ele sabia disto? Como sabia que eu, ainda, tinha dinheiro? Falou que perguntou e que um amigo o tinha ajudado. " Tens dinheiro e não me venhas com tangas. " Foi o que me respondeu. 
Não havia saída para mim. Mas redargui que nada me levava a crer que lho pudesse emprestar. "Isso é o que vamos ver", respondeu com um ar de vencedor.
Perdi as minhas forças e pensei que ia desmaiar, mas lá me recompus. Levantei-me, abruptamente,  e disse que estava na hora de ir apanhar o comboio.
No regresso chorei todo o caminho.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Desesperado!

Domingo, 10 de Abril de 2005

Hoje postei uma foto diferente. Talvez a menina Florbela a conheça. Bom, mas hoje não venho falar dela. Que dê o ar da sua graça quando lhe apetecer. Mesmo que seja com outro nome... Estou aberta para novas conversações e novos horizontes e, até, a novas mulheres que tenham uma mescla de dor que o Fernando Pedro causou.

Neste dia, fui com o meu marido, almoçar a casa da minha sogra. Lá não tínhamos rede. Por essa razão só obtive as mensagens do Pedro quando regressei a casa. De facto estava zangado. Não pela conversa do dia anterior, mas por eu não responder.

11h20m15s

< Acabei de me levantar. Penso e não sei que fazer. Ajuda-me. Bjs só nossos. >

15h09m10s

< Mas que se passa? Liga a merda do telemóvel. >

16h23m19s

< já não à paxorra ( pachorra, mas ele dava erros  que se fartava ). Estou farto. Qd quiseres aviza. >

20h03m29s

< Podias ter dito. Desculpa. Estou na merda e não sei o q faço. Vai ao msn. Bjs >

Não fui ao msn. Avisei porquê e ele entendeu. Disse-lhe que se acalmasse que na Segunda falávamos. Eu também tinha uma coisa para lhe contar que tinha descoberto. (Mais uma maneira que eu achei para não lhe dar dinheiro. Porém, infrutífera. )

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Falou na ajuda!

Sábado, 9 de Abril de 2005

Uma foto do Ex-Feira Nova, agora Pingo Doce. Era aqui que o Fernando Pedro fazia as compras no Sábado, não esquecendo o Lidl. Parece que a filha mais velha do Pedro trabalha aqui, segundo me disse a tal Florbela Pereira. A tal que me disse que pertencia ao movimento de defesa das mulheres maltratadas e ultrajadas pelos homens como o Pedro. Que é feito de si, menina Florbela? Teve medo do quê? O Fernando Pedro soube quem era? Ou assim que eu lhe disse que se fosse com o caso para a frente que tinha essas mulheres todas que me contou a apoiarem-na? Bem qualquer coisa foi. Pois por último até já enviava mails com protecção. Eu não sou o Pedro e não sei como se vê o IP de um computador.
Assim como o Fernando CM também desapareceu. Tinhas receio do quê, Fernando Pedro? Eu não te faço mal como tu me fizeste. Eu só escrevo o que, realmente, se passou. Tu, pelo contrário, só dizias e escrevias mentiras.

Neste dia recordou-me que fazia 14 dias que tinha tido o acidente e que andava muito baralhado. Tinha sido no dia de Páscoa, mas isso passou-me ao lado. Há outra coisa que me tem feito mal. Não percebo como foi trabalhar na Sexta-Feira Santa. Telefonou-me e tudo, mas ele era um autêntico mentiroso. Agora que falo nisso, na altura, fiquei intrigada. Porém, dei graças a Deus por meu marido ter ido trabalhar para casa da minha sogra, mas não lhe fiz nenhum reparo. Ele apenas apareceu e eu atendi.Eu já sabia com quem estava a lidar, mas o certo é que tenho registado no meu diário isso. Com este biltre, todo o cuidado é pouco. Bem me disse a menina Florbela " Talvez não o conheça tão bem como eu o conheço" . Ela é que tem razão. Há coisas que vou redescobrindo agora que faço uma retrospectiva do que se passou e daquilo que tenho registado desde essa altura. Entretanto, eu descobrira o que ele me queria e tinha engendrado uma maneira de me safar. Só que cai e cai de vez.

10h43m21s

< Meu Amor ando no Feira Nova. É aqui que fica o meu dinheiro. Amanhã faz 15 dias que tive o acidente. Ando baralhado. Só tu me podes safar. Bjs só nossos. >

14h45m12s

< Meu Amor vai ao msn para falarmos um cadinho. Bjs >

Não fui. Não queria falar com ele. Não queria saber como eu é que o safava. Eu já imaginava o que ele me queria, mas eu também já tinha uma desculpa e pareceu-me credível.

18h21m18s

< Tenho estado há tua espera. Aparece sff. >

Eram quase horas do meu marido chegar, mas fui num pulinho e disse que não podia ficar muito tempo. Então falou-me que ia mandar arranjar o carro na oficina onde trabalhava o  namorado da filha mais velha. Perguntou se eu achava bem. Eu respondi que não tinha nada a ver com o caso e ele é que sabia se tinha dinheiro para o mandar arranjar. Disse-me que logo se via e se eu o ajudava, caso precisasse. Respondi que tinha dado dinheiro à minha filha e não sabia o que tinha no BES. Depois disse que andava desconfiada que o meu marido andava metido num esquema de jogo com oficiais conhecidos dele. ( Foi a maneira que arranjei para não lhe dar dinheiro. ) Neste dia já não me enviou mais nada. Pensei que tinha ficado zangado.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Contas bancárias!

Sexta, 8 de Abril de 2005

E afinal estava pronta para outra. Já me encontrava bem. A maleita tinha passado e estava com uma vontade louca de estar com o Pedro. Tinha muito receio. Não sabia o que ele me iria dizer a respeito de eu ser " a sua estabilidade". Já calculava, mas não queria aceitar. Porém, pensei em algo que bem poderia ser verídico e muito constrangedor para mim. A minha defesa estava lançada, mas não resultou, de todo. Neste dia voltou à carga, mas não disse o que queria.
Como sempre, o telefone começou a tocar quando eu me encaminhava para a salle de bain. Ia tomar o meu duche matinal. Recuei e atendi. Eram 09h12m01s.

- Estou sim, por favor?
- Bom dia minha amada.
- Bom dia. Mas que grande entrada...
- Amo-te. Tu sabes disso. E tu também me amas?
- Sim, muito. Porquê?
- A pontos de fazeres o que te pedisse?
- Como assim? O que me queres pedir? Já andas há uns dias nisto. Desembucha..
- Ainda não sei, mas farias qualquer coisa para me ajudares?
- Qualquer coisa, não sei, mas ajudava se me fosse possível. 
- Só queria saber.
- Andas muito enigmático nestes últimos dias. Não gosto disso. Já pareces o meu marido. Ontem pediu-me que assinasse um papel para enviar para a minha filha. ( Lancei o isco. Mordeu, mas não resultou. ) Parece que enquanto estive doente, ela precisou de dinheiro e eu não estava em condições. Foi ele a tratar disso.
- Mas têm contas conjuntas?
- Temos. Qualquer casal tem. Tu não?
- Tenho, mas quem trata de tudo, sou eu. E não tens outra conta? Sozinha?
- Tenho uma no BES, mas tenho pouco dinheiro. É um mealheiro que faço. Porquê? ( Logo no segundo a seguir, senti-me estúpida. Por um lado estava a dizer que o meu marido me tinha pedido que assinasse um papel e no outro estava a dizer que tinha uma conta só minha. Foi mesmo estupidez, mas já estava. )
- Nada... Era só para saber...Como me compraste a prenda de anos...
- Hum! Isso não me soa bem. Que queres, ao certo? A prenda foi da conta do BES.
- Nada. Olha, se já estás melhor, queres vir almoçar comigo hoje?
- Hoje, não, mas Segunda pode ser?
- Então vamos estar juntos. Vens ter ao Centro, como de costume?
- Pode  ser. 
- O dia até me vai correr melhor. Estás bem e vamos estar juntos. Já tenho saudades tuas. Tantas que nem fazes ideia!
- Se forem como as minhas, faço ideia, sim senhor.
- Logo posso telefonar? A tua empregada está aí?
- Sai às cinco da tarde.
- Então, até logo. Beijinhos nesses lábios vermelhinhos. Hum! Tão bom... Até me estou a...
- Vá não digas asneiras. Ainda sou pequenina.
- Vê-se. Tão pequena que anda a sair com um gajo qualquer...
- Não sejas ordinário. Não gosto quando tu tocas na ferida que tenho por fazer isso.
- Pronto, minha linda, já cá não está quem falou.
- Porquê? Foi-se embora?
- Vai agora. Beijokinhas doces.
- Beijinhos

Passei o dia a pensar no que tinha dito. Se calhar não resultaria, mas a tentativa tinha sido boa.
Pelas 17h21m13s o telefone começou a tocar. Só poderia ser ele. Fui atender.

- Estou sim, faz favor?
- A tua voz enlouquece-me. És tão meiga que fico todo arrepiado.
- E lá vens tu com os teus arrepios. Não sei se me convences.
- Claro que convenço. É verdade. Olha, é  pena não poderes passar com a tua mão para veres.
- Ver ou sentir? É uma grande diferença...
- Lá vem a Senhora Professora a fazer-me sentir mal.
- Não digas isso. Não me faças sentir mal a mim, também.
- Então não és Professora!? Serás sempre. Isso ninguém to tira.
- Sim. Estás bem disposto. Deve-se a alguma coisa?
- Não. Ou talvez sim. Tu estás melhor e isso tem muito que se lhe diga.
- Pois, tem. Estou melhor. Estou outra.
- Podes ir ao msn?
- Não. O meu marido vai achar estranho.
- Bem, vou embora. Vais pensar em mim?
- Claro que sim.
- Nem tenho vontade de chegar a casa.
- Mas ela não está a trabalhar?
- Está, mas vem pra casa, né?
- Pois. E ainda bem. Ficavas viúvo. 
- Quem me dera!!!
- Não digas isso. Ela é a mãe das tuas filhas.
- Da Raq****. Já trazia a outra.
- Mas és pai. Não lhe deste o teu nome?
- Dei e gosto muito dela. Foi por ela que eu fiquei com a Z****.
- Tudo tem um princípio.
- Mas agora vamos ter o fim da nossa converseta. Vou embora fazer o jantar.
- Beijinhos e até amanhã. 
- Beijinhos minha doce Cet******. Fica bem...

Neste dia já não nos comunicámos. Mas eu fiquei a pensar na conversa das contas bancárias.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

És a minha estabilidade!

Quinta, 7 de Abril de 2005

Uma foto do coreto de Alvito. Esta foto foi muito bem concebida. Ao fundo vê-se a pousada que fica inserida no Castelo da vila. Tem esmerado serviço. Adorei quando lá estive. Foi na ocasião da feira de Agosto. Não fui lá por ser a terra do Pedro, mas porque quis uma estadia para repousar de um período nefasto da minha vida. Enfim, o mau tempo no canal já passou e hoje respiro de alívio por me ter visto longe deste sociopata e bipolar.
Escrevo, de facto, para muitas mulheres terem acesso e verem quem é quem para não se deixarem manipular por ele.

Seguindo a minha linha e sequência dos factos, aqui me encontro para relatar mais um dia de sobressalto. Um dia em que tive que repensar a minha vida e saber como sair de uma situação que apenas ficou adiada até Maio.
Já me encontrava melhor. A Glorinha só vinha da parte da tarde e eu já me levantava e fazia pouco mais que nada, mas dava para me sentir  útil e positiva.
Ainda estava deitada quando o telefone começou a tocar. Senti um aperto no coração e saltei de susto sem saber o que o Pedro ia dizer neste dia. Era como se do outro lado do fio estivesse o papão. Senti-me qual criança sem amparo e conforto. Atendi com a angústia estampada no meu rosto. Era o cadafalso que eu não queria percorrer. Foram dias de desespero e reflexão. Porém, tinha que cair no conto do vigário.
Olhei o relógio e marcava 08h19m43s. Já estava no meu melhor. Já me preocupava com estes pormenores. 

- Estou sim, faz favor?
- Bem, hoje já gosto de te ouvir...
- Porquê? Não gostavas?
- Da forma como estavas, não. Estava muitooo preocupado contigo. Nem conseguia dormir.
- A sério? Estiveste mesmo preocupado? É que no princípio, não.
- As desculpas não se pedem, evitam-se, mas tenho que te pedir desculpas. Eu estava desesperado e depois faltaste-me tu.
- Temos que falar a sério sobre esse "desespero". Anda-me a atrofiar o não saber o que queres ao certo.
- Quando é que podes vir almoçar comigo?
- Assim que tiver forças suficientes. Acredita que vou ter contigo e quero saber tudo tim-tim por tim-tim".
- E eu vou falar " tim-tim por tim-tim " para esclarecer as coisas. Preciso de ti.
- Isso já eu entendi, mas não sei para quê.
- O importante é que melhores. Isso é bom.
- De facto. Ninguém fica doente porque quer, não?
- Pois! A tua carga é muito grande. A tua mãe onde está?
- Na minha irmã, em Sintra. E vai ficar lá por alguns meses. Entre ela e a da terra, vão ter que ficar com ela até o médico dizer que eu posso.
- Sabes, ando estafado. Ontem fiz o jantar. Ela está a trabalhar de noite e as miúdas não fazem nada.
- Não? Porquê?
- Não sabem. Ela nunca as ensinou. Olha uma via desenhos animados e a mais velha estava no mensager.
- Mas isso é um absurdo! Uma tem quase 16 anos e a outra fez 25. Isso não cabe na cabeça de ninguém. Eu ensinei a minha filha a cozinhar e a limpar a casa. Hoje já não fico preocupada com isso. Ela sabe e quando vou à Alemanha, já faz pratos típicos alemães.
- Isso faz quem tem juízo. a Z**** não tem e não faz uso dele. Fiz carne com migas.
- Um prato alentejano.
- Um dia cozinho só para nós quando nos casarmos.
- Vá, não descambes. Isso é uma utopia. Nunca vai acontecer.
- Não digas " NUNCA ". Um dia estamos a casar. Agora quero mais que nunca casar contigo.
- Mais que nunca? Mas porquê?
- Preciso de ti e só tu me podes dar estabilidade.
- Não, Pedro. Eu não quero casar contigo e não vamos falar mais sobre isso.
- Fico triste, mas não desisto. Não sou homem que desiste sem ter alcançado o que quer.
- Hoje não trabalhas?
- Estás a despachar-me?
- Não. Só quero descansar mais um bocadinho. Pode ser?
- Ok! Eu vou para a linha de Sintra. Já não volto aqui. Se puder, ainda te telefono.
- Bom trabalho. Beijinhos doces de mel.
- Beijinhos onde e como quiseres. Ficava bem deitado contigo. Hum! Que bom...Fica bem.


 A minha cabeça começou a imaginar e a pensar uma forma de não cair nas malhas do Pedro. Era primordial arranjar um plano que fosse viável para a situação. E arranjei. Só que cai e sem pensar, depois, no mês de Maio.
Como já não pôde entrar em contacto comigo, enviou-me a seguinte mensagem no PC. 

18h32m19s

< Meu amor de ontem de hoje e de amanhã já não pode ( deveria escrever-se "pude" e não pode ) falar contigo. O trabalho durou até agora. Tenho saudades de estar contigo. Amo-te muito e nem sei viver sem ti. És para mim a minha Shakti a princesa que faz, parte dos meus sonhos e da minha vida. Sempre serás minha porque eu não te quero perder. Estaremos sempre juntos, e nada nos separará. És a minha estabilidade em todos os aspectos. Contigo sei o que é ser feliz. Até te conhecer eu não sabia o que era viver. Amo-te meu Amorzinho. Hoje vai ao msn para falarmos um cadinho. Beijo-te com loucura amor e ternura. Adoro-te sabias? Se tu quizeres ( deveria escrever-se " quiseres" ) seremos sempre felizes. Eu quero... >

Não fui ao msn. Enviei uma  mensagem, via telemóvel, a dizer que não podia ir e recebi uma de volta.

21h11m10s

< Espero que estejas acordada. Dorme bem. Boa noite. Amo-te mais que tudo. Sinto a tua falta. Beijokas doces. >

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Começo da minha desgraça!

Quarta, 6 de Abril de 2005

Estive nesta capela já depois de ter acabado com o Pedro. É linda! Recomendo uma visita. Há muito para ver nesta linda vila alentejana onde nasceu o Fernando Pedro Cacha** Marques.
E já agora pergunto onde anda a menina Florbela Pereira (anocas****@gmail.com) que nunca mais deu mostra da sua graça. Bem sei que o nome é fictício, mas não deixa de ser um nome muito bonito. Não tenho culpa que também tenha sido vítima do Pedro. Foram e estão sendo muitas as mulheres que ele ultrajou, roubou e abandonou quando já não tinham mais dinheiro para sustentarem os seus luxos como um dia disse o Manuel Lisboa numa contenda com o Pedro na google +. Este Manuel Lisboa até disse que tinha feito sexo com a ****** do Pedro e com a sua amante mais temporal, a nossa Maria Arm****** Mar****** que, por sinal, é advogada e a quem ele chama NIA. Realmente é muito bonita, divorciada e com uma boa conta bancária, segundo eu penso, porque senão já não andaria com ela. Sei que se encontram em Coimbra e, muitas vezes, o leva para Braga, Viana do Castelo e outras paragens. Mas não estou aqui para falar da vida das outras mulheres. Não me afectam em nada. E nada tenho contra elas. Apenas tenho uma comiseração tremenda por caírem nas mentiras que ele canta em seu proveito, fazendo cair as mais incautas, assim como eu.

E cá venho eu a falar de mais um dia em que tive o Pedro agarrado a mim para comprar um carro novo ou ter dinheiro para  os seus luxos. Eu, sinceramente, não dava por nada, mas tive um lampejo de luz que me fez andar por outros caminhos.
Já me encontrava melhor. A Glorinha só já veio pela tarde.
Estava a tomar uma medicação muito forte, mas lá tive que atender o telefone fixo que não deixava de tocar. A hora não a sei especificar, mas recordo cada palavra dita como se fosse hoje. Acho que despertei com este telefonema e que vivi uma ansiedade maior que a depressão.

- Estou sim?
- Então não estás melhor? Preciso muito de ti.
- Estou melhor, obrigada. Diz lá porque "precisas de mim". É que não paras de dizer isso!
- Como sabes tive o acidente e o carro está na merda. Eu não tenho dinheiro.
- Sim. E...
- Preciso da tua ajuda.
- Como assim?!
- Não tenho dinheiro.
- E estás a pedir-me?
- Sei lá! É mais um desabafo. Não ligues.
- Fico assustada. É muito?
- Deixa lá. Não penses nisso, agora. Põe-te boa e depois falamos. Já te levantas?
- Já, mas a medicação faz-me muito sono. Só que agora fiquei com um aperto no coração.
- Porquê? Faço-te teres apertos no coração?
- Não sei. Deixa para lá...
- Sabes que te amo muito?
- Mais ou menos.
- Mais ou menos? Então não tenho dado provas disso? Ainda tens dúvidas?
- Não.
- Um "não" muito forçado.
- Não foi nada. E não tenho dúvidas nenhumas.
- Logo já podes ir ao msn?
- Não. O meu marido ia notar e eu não quero. Talvez amanhã.
- E hoje posso telefonar?
- A Glorinha só se vai embora quando o meu marido chegar.
- Então... Hoje já não te oiço. Nem calculas como tenho andado por saber que estás doente... Acredita que é verdade. Nem tenho dormido.
- Começa a dormir porque eu já estou melhor.
- Bem, vou-te deixar descansar. Beijinhos doces, meigos, loucos. Hum! Que  saudades! Como me enroscava bem agora aí contigo.
- Não divagues e trabalha. Beijinhos doces.
- Beijinhos meu amor de ontem, de hoje e de amanhã. Fica bem.

Quando pousei o auscultador, o meu coração começou a bater tão depressa que pensei que ia saltar da caixa torácica. Tive um lampejo de luz e pensei que se ele me pedisse muito dinheiro que eu iria arranjar uma desculpa qualquer. Fiquei acordada e a remoer no assunto. Tremia de medo e de vergonha. Não sabia como reagir à conversa que tinha acabado de ter com o Pedro e, também, não sabia o que ele me iria pedir. Aqui começou a minha descida no degrau da desgraça.



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Já acredito!

Terça, 5 de Abril de 2005

Na véspera tinha ido ao Dr. Piment*** e ele deu-me logo uma injecção para acalmar o meu estado de espírito. Estava toda confusa e os neurónios não funcionavam. Confundia tudo. O dia com a noite; o meu nome com o nome da minha filha; a minha morada daqui com a morada de Vila*****ra e de A********** e por aí adiante. Nada do que eu dizia, batia certo. Não me tinha em pé e o pouco que conseguia andar era em ziguezague. 
Estive deitada numa maca durante duas horas para que o médico me pudesse fazer uma consulta. Isto foi-me contado pelo meu marido depois quando eu já estava a melhorar. Daí que haja uma falha nas horas dos telefonemas do Pedro. Não me recordo e não as consegui transcrever para o meu diário.
A Glorinha voltou a estar comigo. Mas enquanto o meu marido a foi buscar, o Pedro telefonou-me. Foi com grande sacrifício que atendi. Não tinha força no braço para apanhar o auscultador e muito menos paciência para ouvir quem quer que fosse. Já nem me recordava dele. Foi com grande esforço que lhe reconheci a voz.

- Estou sim?
- Ainda estás doente? ( Fiquei calada. Não sabia quem estava do outro lado.)
- Estás aí? Sou eu.
- Sim. A Glorinha deve estar a chegar.
- Ontem foi ela que atendeu.
- Esteve todo o dia comigo, mas eu pouco me recordo.
- Já foste ao médico?
- Já.
- E o que disse ele?
- Estou com uma depressão acentuada.
- Deu-te medicação?
- Deu. Desculpa, mas não estou muito bem.
- Posso telefonar hoje? Preciso muito de ti.
- A Glorinha está comigo até o meu marido vir.
- As melhoras. Beijinhos de mel. E vê lá se te curas que eu preciso de ti.
- Obrigada. Já disseste isso. Beijinhos.

Depois de desligar, pensei que não lhe tinha perguntado se já acreditava que eu estava doente. Mas já tinha passado. Então olhei para o telemóvel e enviei uma mensagem a dizer isso mesmo. A resposta vinha seca e lacónica: - Já acredito.
Eram, precisamente, 08h20m17s. Mais nada e mais nada disse nesse dia. O registo do telemóvel ficou para eu poder tirar a mensagem e saber o que me dizia. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Não acreditou!

Segunda, 4 de Abril de 2005

Eu continuava doente. Meu marido não podia ficar comigo. Estava a dar um curso e não tinha ninguém que o substituísse. Então, levantou-se mais cedo e, depois de ter tomado as precauções necessárias, foi buscar a Glorinha para ficar comigo.
Neste interim, o Pedro telefonou. Não sei as horas porque estava mesmo mal e não olhei o relógio. 

- Estou sim? ( Não fiz a minha apresentação habitual. Nem me apetecia falar. )
- Ena, hoje recebes-me assim?
- Desculpa, mas estou muito doente. 
- A sério? Nem se nota. Ou não queres falar? É que eu preciso muito de ti.
- Meu marido foi buscar a Glorinha para ficar comigo.
- Ele não pode?
- Não. Está a dar um curso e não tem quem o substitua.
- Que coisa mais bem montada...
- Não acreditas?
- Para ser sincero, não.
- Fica com aquilo que quiseres, mas eu estou doente e vou desligar porque não sou capaz de falar mais.
- Até parece... Quem te ouvir e não te conhecer, até acredita...
- Desculpa, Pedro, mas vou desligar.
- Ok. Fica bem. E vai contar isso a outro. Beijos.
- Beijos. 

Estava exausta por ter falado. Sentia a cama a rodopiar e o chão tremia fazendo-me entrar num buraco como se fosse engolida por um tubarão.
Meu marido ainda subiu  para ver como eu estava e para se despedir. A Glorinha sentou-se na cama e ali ficou. Não dei por se ter passado mais nada. Sei que bebi um sumo e não consegui comer.
Ouvi o telefone fixo várias vezes, mas eu não conseguia atender. Sentia-me noutra galáxia. Era como se tivesse entrado num sonho e não conseguisse sair dele. Era um mundo que eu não conseguia descortinar. Não conhecia nada por onde passava e era tudo tão desconcertante que me deixava enlouquecer assoberbada por coisas tão diferentes daquelas a que estava habituada que me deixei levar por esse mundo de fantasia que eu imaginei. Soube depois que alguém telefonou e a Glorinha perguntava quem era, mas não obtinha resposta. Quanto ao meu marido telefonou várias vezes para saber como me encontrava. Apareceu mais cedo e levou-me ao Dr. Piment***. Ele foi a minha tábua de salvação.
Quanto ao Pedro, ficou calado depois de ouvir a Glorinha a atender.
Recordo que andei por atalhos desconhecidos e desconexos sem saber se caminhava para bom porto. 



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Comprar um Mercedes novo

Domingo, 3 de Abril de 2005

Estive no Algarve, em Vilamoura, a passar estes dias. Foi toda a família e chegámos ontem.
Hoje ainda não me apetecia escrever fosse o que fosse. Já tinha esquecido que estive ligada ao Pedro. As minhas netas fazem-me renascer das cinzas e ser uma outra pessoa. Mas quando chego a casa e mexo no pc, as memórias voltam e o desejo de continuar a escrever desabrocha em mim e eis que aqui me encontro para mais uma avalanche de acontecimentos da altura. Tudo o que escrevo se resume ao que escrevi na altura no meu diário e que tenho tudo compilado para não esquecer pitada.

Este Domingo foi muito atribulado. A Glorinha não pode vir para me ajudar a cuidar da minha mãe. O meu marido foi incansável. O médico da véspera tinha deixado claro que eu precisava de muito repouso e as minhas irmãs não queriam cuidar da minha mãe.
Meu marido encheu-se de coragem e telefonou para a minha irmã mais nova para dizer o que se estava a passar e disse que ia levar-lhe a minha mãe para ela cuidar dela até eu melhorar ou ia metê-la na Clínica Sampaio.
A minha irmã veio a minha casa para ver se era verdade e viu-me prostrada e sem brilho nos olhos. Não tinha acreditado no meu marido.
Consciente do meu estado de saúde, lá levou a minha mãe, mas disse que era até eu melhorar. A minha mãe já dava muito trabalho e tinha que ser repartido. Eu nem me apercebi disso. E este Domingo ficou marcado por uma mensagem do Pedro, via pc que dizia o seguinte:

14h23m10s

< Boa tarde: Ainda estás doente ou estás a passar-me a perna? Agora preciso muito de ti. O Meu carro já não vai ser arranjado. Pensei em ir a Alemanha comprar um Mercedes novo e enviá-lo por um camião TIR. Tu vais comigo e passamos lá o resto da semana. Conheces bem a Alemanha por ires visitar a tua filha e podes arranjar um hotel onde ficarmos. Também me desenrascas na língua. Pensa nisso e responde. Fico à tua espera. Bjs só nossos onde e como quiseres. >

Não foi neste dia que vi a mensagem e não lhe respondi. Eu estava mesmo muito doente. Pôs o telemóvel no privado e telefonou. Para surpresa dele, atendeu o meu marido. Depois disse que era engano e que queria ligar para a farmácia. O meu marido respondeu que não havia farmácia nenhuma, mas que precisava de uma visto a esposa estar tão doente. Ele acreditou, enfim, que eu estava muito doente e deixou de me contactar nesse dia.
O Pedro foi muito inconstante com o arranjo do carro e arranjou artimanhas de toda a espécie para dar o golpe do baú.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Estive doente!

Sábado, 2 de Abril de 2004

Estava muito doente e nem forças tinha para cuidar da minha mãe. O meu marido ficou para me ajudar e não foi para casa da minha sogra. A Glorinha veio mais cedo  para ajudar com a minha mãe. Não era o seu dia, mas fez-me esse favor.
Os problemas do Pedro faziam parte da minha vida. Eu estava esgotada e sem vontade de continuar a viver.
Assim que pude, enviei uma mensagem ao Pedro a dizer que eu estava doente e que o meu marido estava em casa.
Mas mesmo assim, ele não me ouviu e tive que desligar o telemóvel.
O meu marido já se estava a passar com o toque de mensagem a chegar.

10h23m15s

< Amor mio estás melhor. Estou no Feira nova. Bjs doces. >

12h45m19s

< Estás melhor? Ele está aí? Vai ao msn às 3h. Bjs. adoro-te sabia? >

14h09m02s

< A minha mãe já come sozinha. Está melhor. Logo vou levá-la a casa dela. Bjs >

15h10m15s

< Então não vens? Estou à tua espera. Pq é que as mensagens não saiem? >

16h20m43s

Estou-me a passar. O que se passa. Nem as mensag vão. >

18h10m14s

< Qd quizeres diz qq coisa. >

Eram 19h quando me levantei para ajudar com a minha mãe. A Glorinha já tinha saído e o meu marido não sabia como cuidar da minha mãe.
Mas antes liguei o telemóvel e as mensagens caíram todas. Respondi que estivera todo o dia na cama e que não estava bem. Não voltasse a enviar mais nada. Mas não me ouviu e enviou outra quando eu estava na sala a dar o jantar à minha mãe. O meu marido também jantava e começou logo a falar e a dizer o que havia de tão importante para me estarem a enviar mensagem. Nem respondi, mas fiquei receosa não fosse ele espreitar. Então o Pedro dizia o seguinte:

19h18m01s

< Que tens? Dá para falar um cadinho? Bjs só nossos. >

Acabei de cuidar da minha mãe e subi para me deitar. Nem jantei. Estava mesmo muito doente. Disse ao Pedro que estava muito doente e que ia desligar o telemóvel. E assim fiz.
O meu marido chamou o médico da noite para me consultar.
Neste dia já não recebi nada mais do Pedro.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Não tenho dinheiro!

Sexta, 1 de Abril de 2005

Mais um dia, mais um passo para o caminho do abismo que se encontrava à frente do meu nariz e eu não queria olhar. Não posso contabilizar as vezes que senti vontade, desejo, aquele gostinho de terminar tudo e viver a minha vida pacata, mas uniforme. Era um desejo intrínseco que me animava e ao mesmo tempo me impedia de concretizar. 
Mas não acabava e, cada dia que passava, se tornava intransponível. Ficava furibunda comigo por não conseguir virar as costas a tempo para não me estatelar lá no fundão desse abismo que me horrorizava e fascinava com toda a sua malícia.
O Fernando Pedro continuava a não saber o que queria com o carro. Ora se lamentava e dizia que não tinha dinheiro para o arranjo, ora dizia que seguia em frente.
Nesta manhã, e como já era hábito, levantei-me muito cedo e fiquei já pronta para enfrentar mais um dia de martírio e descontentamento. Sabia o que queria, mas nada fazia para alcançar esse desejo de ficar sozinha na imensidão dos meus dias velados na solidão.
E foi assim com este estado de espírito que recebi a primeira mensagem do Pedro, via telemóvel.

10h18m19s

< Bom dia Amor. Fui saber o preço do arranjo. É caro e não tenho dinheiro. Vou pensar o que posso fazer. Bjs só nossos. >

Não me ocorreu que ele estava a deitar a escada ao meu dinheiro ou que me estava a preparar para mo levar. Não queria levar com os problemas dele e não queria fazer parte da sua vida de insignificância. Pensei que não o compreendia. Ainda na véspera de dera um perfume que não era barato e que eu usava. "Je t´adore", era o nome do perfume. Mudam-se os tempos e com eles a nossa vontade. Hoje uso o "Escada". Muito mais suave e com um cheiro que perdura mesmo depois de nós sairmos. Meu marido adora esse perfume e diz que nunca está sozinho porque, com o cheiro do perfume, ficou a minha presença. 
Ora se estava com falta de dinheiro para quê gastá-lo com algo que me tinha dado no Natal?
De facto não o percebia e nem fazia o menor esforço para o compreender.

17h20m32s

< Amor mio estive a pensar algo melhor. Podes ir ao msn? Bjs de sonho. >

Eu tinha receio dos pensamentos que vinham da sua cabeça. Fiquei a tremer só de pensar o que poderia ser. Mas com a minha mãe eu não podia ir ao msn e respondi que não ia.
Ficou aborrecido comigo e já não me disse mais nada. Eu também já nada disse. Estava doente e com a cabeça a latejar.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Encontro numa estação de comboio!

Quinta, 31 de Março de 2005

Esta foto retrata uma das muitas viagens que o Pedro faz para ir ter com a sua amante mais temporal.
Hoje venho falar do encontro que ambos tivemos numa estação de comboios. 
Levantei-me e arrumei-me com a sensação que ia ter um dia maravilhoso. Ou um bocado, mais propriamente dito. Arranjei a minha mãe para sair e quando o meu marido saiu para o emprego, eu já estava pronta. Disse ao meu marido que ia ao dentista. A esquelética estava apertada e já me doíam as gengivas. De facto, à tarde, tinha uma consulta marcada.
Pelas 11h da manhã arranquei com a minha mãe a meu lado. Neste dia a Glorinha só vinha da parte da tarde porque tinha uma consulta pela manhã. Para mim, até me deu muito jeito. Não tive que dar explicações. Também não precisava de as dar, mas eu era muito exigente comigo própria.
Quando cheguei à estação, o Pedro já lá estava à minha espera. Saí do carro e fui ter com ele. Deixei a minha mãe de costas para nós, mas de maneira a poder vê-la.
O Pedro abraçou-me e beijou-me muito. Disse  que era filho da pouca sorte e que a ele tudo lhe acontecia de mau. Falou-me que o carro já não ia para a sucata. Naquela manhã tinha estado com um mecânico que o namorado da filha mais velha lhe arranjara. Este fazia-lhe o arranjo por bom preço. Era fazer o orçamento e dava-lho à tarde. Também as peças seriam mais baratas e acessíveis. Ele estava mais confiante e até sorria. 
O telemóvel do Pedro tocou e verificou que era a filha mais nova que tinha ficado com a avó.. Não sabia o que ela lhe queria e mostrou um ar preocupado. Bem, pelo menos, pareceu-me. Costumava perceber o que ele falava com as filhas, mas desta vez não consegui perceber nada senão as respostas que ele lhe dava. Na altura tudo me pareceu normal, mas depois, já em casa, juntei dois mais dois e vi que algo estava errado.
Era sobre o almoço a dar à avó. A resposta do Pedro foi a seguinte: - Filha não tem que saber. Sentas-te por trás da avó.Puxas a avó para cima para o teu colo, como o pai faz, e depois é só dar-lhe o comer. Não tires a avó da cama. E não mexas muito nela.
Do outro lado uma algaraviada qualquer que não percebi. Era imperceptível. Era como se houvesse alguém em grande galhofada do outro lado. Aquilo pareceu-me muito estranho, mas não comentei e nem sabia como argumentar. Ele mantinha-se com uma seriedade tanta que tudo parecia real. Disse mais uma ou duas coisas sobre ir para casa e desligou.
A nossa conversa sobre o acidente continuou e fiquei a saber que o fulano do acidente era já velho e que não estava muito bem na condução, mas que, segundo a polícia, o Pedro tinha sido dado como culpado.
O tempo passou rapidamente e a hora do comboio, chegou. Eram 12h12m quando o Pedro correu para a plataforma para apanhar o comboio. Eu fiquei a vê-lo sumir e a pensar no telefonema que me pareceu muito estranho. Mas eu não sabia o porquê.
Já em casa e depois de dar o almoço à minha mãe, se fez luz na minha mente. Ora eu não seria capaz de dar o almoço à minha mãe se ela estivesse de costas para mim e tentei fazê-lo para me certificar que estava certa. Logo vi que algo estava mal. A minha mãe de costas para mim nunca poderia estar. Eu não acertaria na boca dela porque não a via. Logo esta teoria do Pedro estava errada. E era mentira ou a Claud***** Raq****** nunca lhe daria o almoço. Era, certamente, um telefonema para me fazer crer que ele tinha dito mesmo aquele acidente. Mas para quê? Com que finalidade? Bem, isso iria descobrir mais tarde com ajuda da Lic***.
À tarde fui ao dentista para alargar a esquelética. A Glorinha ficou com a minha mãe.
Pelas 18h23m19s recebi esta mensagem do Pedro, via telemóvel:

< Amor mio foi bom. Já tenho saudades. Logo vai ao msn. Bjs loucos. >

Respondi que não podia ir porque a minha mãe estava muito agitada e precisava que eu estivesse com ela constantemente.
Pelas 20h45m24s recebi esta mensagem, via telemóvel:

< Amor mio não te enerves. Tem calma e pensa no nosso momento de hoje. te amo sabia? Bjs só nossos. >