quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Estás bem disposta?

Terça, 12 de Abril de 2005

Não consegui dormir de noite. Na minha cabeça martelavam as palavras perniciosas do Pedro. Volteava na cama à espera que o sono chegasse de mansinho e me fizesse esquecer o dia anterior. Mas não aconteceu e levantei-me com os olhos do dia que clareavam o quarto pelas frinchas da janela.
Meu marido revelou que eu tinha que voltar ao médico. Nem dormia nem deixava que ele dormisse. Não respondi. Ele tinha razão, mas eu estava num dilema tão grande que não conseguia refazer uma boa noite de sono.
Tomei banho enquanto ele se vestia. Perguntou-me se eu ia a algum lado. Era estranho estar-me a levantar tão cedo sem ter a minha mãe em casa. Redargui que não ia a lado nenhum, mas que não fazia sentido continuar na cama uma vez que não dormia. Tinha coisas a fazer que me ocupariam o dia.
Deixei a água cair no meu corpo para me sentir viva. Precisava de sentir que eu era eu e que o que tinha acontecido, não passara de um mero pesadelo.
Quando já estava na sala a escrever no meu diário, o telefone tocou. Foi com lentidão que me levantei. Não tinha pressa. Já sabia quem estava do outro lado da linha.

09h10m11s

- Estou sim, faz favor?
- Sabes onde estou? 
- O telefone ainda não tem TV.
- Estou em Entrecampos. O meu colega está de férias e eu vim fazer o trabalho dele.
- Pois. Ontem tinhas dito que ele estava de férias.
- O trabalho é a dobrar. Estás mais bem disposta?
- Porquê? Pareço que quero vomitar? 
- Não é isso, mas ontem foste-te embora assim de repente...
- Eram horas do comboio e como te tinha dito, tinha que vir cedo para casa.
- Já tenho o carro na oficina. Ainda não sei o orçamento.
- Tu é que sabes...
- Não. Sabemos os dois. Eu conto-te tudo. Tu não?
- Também te conto tudo e ando com um problema muito grande, como sabes.
- Ele foi cedo para casa?
- Não. Já chegou bem tarde. Eu estava a dormir. ( Era mentira, mas tinha que fazer com que parecesse credível. )
- Mas não sabes que tipo de jogo?
- Não faço ideia e nem percebo de jogo.
- Já contei ao meu amigo. Ele vai tomar medidas.
- Ok! Talvez o apanhem.
- Era bom para nós passar um tempo no chelindró ( tema que ele utilizou para prisão. ) Assim ficavas senhora da conta e ele não lhe podia tocar... Riu-se com gargalhadas.
- Sabes? Amanhã vai trabalhar para MonT****. Não podes vir.
- Então tinha pedido ao chefe que ia a uma consulta!?
- Terás que dizer que te mudaram a consulta.
- E na quinta podes vir ter comigo?
- Talvez. 
- Eu continuo aqui em Entrecampos. Vamos ao L****. Queres? Eu adorava.
- Sim, eu também.
- Agora vou trabalhar. Tenho os homens à espera. Beijinhos com paixão, amor, doçura, ternura...
- Ena! Tanta coisa.
- É para veres que te amo muito.
. Beijinhos doces.
- Não sei se posso telefonar hoje!
- Envia mensagem.
- Até logo.

Quando desliguei, senti um alívio nunca antes experimentado. Isso dizia que estava sem falar com ele todo o dia. Agora era preciso desligar. Fui ao Centro e à escola para estar com as minhas colegas.
Perto das 17h recebi a seguinte mensagem:

< Amor meu coração voa para junto do teu. AMO-TE e recordo nossos momentos lindos. Bjs Kentes. >

Terminou assim mais um dia de expectativa. 

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