quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Já acredito!

Terça, 5 de Abril de 2005

Na véspera tinha ido ao Dr. Piment*** e ele deu-me logo uma injecção para acalmar o meu estado de espírito. Estava toda confusa e os neurónios não funcionavam. Confundia tudo. O dia com a noite; o meu nome com o nome da minha filha; a minha morada daqui com a morada de Vila*****ra e de A********** e por aí adiante. Nada do que eu dizia, batia certo. Não me tinha em pé e o pouco que conseguia andar era em ziguezague. 
Estive deitada numa maca durante duas horas para que o médico me pudesse fazer uma consulta. Isto foi-me contado pelo meu marido depois quando eu já estava a melhorar. Daí que haja uma falha nas horas dos telefonemas do Pedro. Não me recordo e não as consegui transcrever para o meu diário.
A Glorinha voltou a estar comigo. Mas enquanto o meu marido a foi buscar, o Pedro telefonou-me. Foi com grande sacrifício que atendi. Não tinha força no braço para apanhar o auscultador e muito menos paciência para ouvir quem quer que fosse. Já nem me recordava dele. Foi com grande esforço que lhe reconheci a voz.

- Estou sim?
- Ainda estás doente? ( Fiquei calada. Não sabia quem estava do outro lado.)
- Estás aí? Sou eu.
- Sim. A Glorinha deve estar a chegar.
- Ontem foi ela que atendeu.
- Esteve todo o dia comigo, mas eu pouco me recordo.
- Já foste ao médico?
- Já.
- E o que disse ele?
- Estou com uma depressão acentuada.
- Deu-te medicação?
- Deu. Desculpa, mas não estou muito bem.
- Posso telefonar hoje? Preciso muito de ti.
- A Glorinha está comigo até o meu marido vir.
- As melhoras. Beijinhos de mel. E vê lá se te curas que eu preciso de ti.
- Obrigada. Já disseste isso. Beijinhos.

Depois de desligar, pensei que não lhe tinha perguntado se já acreditava que eu estava doente. Mas já tinha passado. Então olhei para o telemóvel e enviei uma mensagem a dizer isso mesmo. A resposta vinha seca e lacónica: - Já acredito.
Eram, precisamente, 08h20m17s. Mais nada e mais nada disse nesse dia. O registo do telemóvel ficou para eu poder tirar a mensagem e saber o que me dizia. 

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