terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Não acreditou!

Segunda, 4 de Abril de 2005

Eu continuava doente. Meu marido não podia ficar comigo. Estava a dar um curso e não tinha ninguém que o substituísse. Então, levantou-se mais cedo e, depois de ter tomado as precauções necessárias, foi buscar a Glorinha para ficar comigo.
Neste interim, o Pedro telefonou. Não sei as horas porque estava mesmo mal e não olhei o relógio. 

- Estou sim? ( Não fiz a minha apresentação habitual. Nem me apetecia falar. )
- Ena, hoje recebes-me assim?
- Desculpa, mas estou muito doente. 
- A sério? Nem se nota. Ou não queres falar? É que eu preciso muito de ti.
- Meu marido foi buscar a Glorinha para ficar comigo.
- Ele não pode?
- Não. Está a dar um curso e não tem quem o substitua.
- Que coisa mais bem montada...
- Não acreditas?
- Para ser sincero, não.
- Fica com aquilo que quiseres, mas eu estou doente e vou desligar porque não sou capaz de falar mais.
- Até parece... Quem te ouvir e não te conhecer, até acredita...
- Desculpa, Pedro, mas vou desligar.
- Ok. Fica bem. E vai contar isso a outro. Beijos.
- Beijos. 

Estava exausta por ter falado. Sentia a cama a rodopiar e o chão tremia fazendo-me entrar num buraco como se fosse engolida por um tubarão.
Meu marido ainda subiu  para ver como eu estava e para se despedir. A Glorinha sentou-se na cama e ali ficou. Não dei por se ter passado mais nada. Sei que bebi um sumo e não consegui comer.
Ouvi o telefone fixo várias vezes, mas eu não conseguia atender. Sentia-me noutra galáxia. Era como se tivesse entrado num sonho e não conseguisse sair dele. Era um mundo que eu não conseguia descortinar. Não conhecia nada por onde passava e era tudo tão desconcertante que me deixava enlouquecer assoberbada por coisas tão diferentes daquelas a que estava habituada que me deixei levar por esse mundo de fantasia que eu imaginei. Soube depois que alguém telefonou e a Glorinha perguntava quem era, mas não obtinha resposta. Quanto ao meu marido telefonou várias vezes para saber como me encontrava. Apareceu mais cedo e levou-me ao Dr. Piment***. Ele foi a minha tábua de salvação.
Quanto ao Pedro, ficou calado depois de ouvir a Glorinha a atender.
Recordo que andei por atalhos desconhecidos e desconexos sem saber se caminhava para bom porto. 



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