quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Linha de Sintra!

Segunda, 4 de Julho de 2005


As Segundas-Feiras são nossas. Combinamos sempre no dia, a hora e o local. Nesta, porém, o Fernando Pedro giza outra coisa. É o homem dos enigmas, das mentiras, das artimanhas e dos esquemas.
Estou já levantada e de banho dado. Espero que ele me ligue e me diga para eu ir ter com ele. Todavia, o telefonema não chega e em vez dele vem uma mensagem breve e muito esclarecedora:

< Bom dia Amor. Não podes vir ter comigo vou para a linha de sintra, beijokas que só tu sabes dar. >

Olho o relógio que marca 09h32m19s

Sinto-me triste. Sei que não devo, mas estou. Penso que é o trabalho que o impede de vir ter comigo. Mudo de roupa e fico sentada na cama a olhar o vazio.
Não é o trabalho. Venho a saber mais tarde, quando conheço na net, uma das conquistas na altura.

Desço à sala e começo a fazer o meu crochê... Estou tão envolvida nas malhas e laçadas que tenho que dar que não me apercebo do tempo. Ouço a porta a abrir-se e fico assustada. Quem será?. Olho o relógio da sala e marca 01h43m59s.
Olho para a porta da sala. Não me mexo e fico abismada por ver o meu marido.

- Que se passa?
- Morreu a mão do major e fomos dispensados para irmos ao funeral.
- Hum! Dia Santo hein!
- É uma seca. Gosto mais de trabalhar.
- Já almoçaste?
- Comi na estação com o Oliveira e o Pinho. Venho só vestir-me para ir.
- Ok! Eu almoço sozinha.
- Ainda não almoçaste? A esta hora? És sempre a mesma coisa...
- Não, não sou. Estou a fazer crochê e não posso sair sem isto ficar certo.
- Faz como quiseres. Eu vou tomar banho e mudar de roupa. O Oliveira e o Pinho vão comigo e deixam aqui os carros.
- Está bem...

É uma surpresa para mim. E se é dia do Pedro vir a casa? Meto as mãos no coração que bate a um ritmo acelerado.
Entro na cozinha e bebo um copo de água. Penso que assim o
meu marido irá ter sempre confiança em mim.
Coloco o prato na mesa enquanto o bife é aquecido.
Sento-me e como sem apetite. O Pedro não diz nada desde manhã. Fico preocupada, mas não mostro isso quando o meu marido vem de camisa branca e uma gravata preta. Rio a bandeiras despregadas. O meu marido não gosta de gravata. Ele fica exaltado comigo, dá-me um beijo e sai.
Ainda fico a rir um bocado. São estas coisas que fazem os dias diferentes- penso eu.

Nada do Pedro. Nem uma mensagem para apaziguar o meu coração. Fico triste, mas volto à sala para continuar o meu trabalho. Não é dia de vir a Glorinha. Estou mais só do que nunca.

O tempo passa lento quando esperamos por algo que não chega.

No relógio são 17h41m23s. Olho o telemóvel à espera que este dê algum sinal. Mas nada. Coloco o crochê de lado e ponho-me a magicar nem sei o quê. Desiludida e triste... As lágrimas assomam nos meus olhos, mas eis que ouço um tique. Levanto o telemóvel e vejo uma mensagem. Pareço um rato a correr  para o queijo. Leio sofregamente.

< Amor mio estou em casa estafado. Amanhã falamos, Bjs kentes. >

E fico sem fôlego. Nada a comentar. Ele é um sacana, penso.





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