terça-feira, 2 de junho de 2015

Meu irmão

 
Terça, 26 de Outubro de 2004
 
Mais uma conversa tida com o Pedro quando falávamos ao telefone. São conversas registadas no meu diário e que me servem hoje para escrever aqui.
 
08h45m00s
 
- Estou sim, faz favor?
- Bom dia, Amor. Dormiu bem?
- Sim. E tu?
- Eu não e estou muito nervoso.
- Pode-se saber porquê?
- Podes. Tenho que falar com alguém que me compreenda. Lá em casa não posso falar nisto.
- Então fala que eu ouço. É sobre o quê?
- É sobre o meu irmão.
- Aquele que te vendeu a casa?
- Não. É aquele que morreu de acidente.
- Áh! Não sabia.
- Pois. Nunca falámos nisto. Eu era solteiro e estava em casa com a minha mãe quando bateram à porta. Eu logo me lembrei que era sobre o meu irmão. Ele tinha saído de moto.
- Então tinhas outro irmão!?
- Sim e dava-me muito bem com ele. Quando abri a porta, perguntei logo se era sobre o meu irmão. Nem queria acreditar no que me diziam. Não sei como tive coragem para dizer à minha mãe. Ele tinha morrido de acidente.
- Que pena! E sonhaste com ele?
- Não, mas veio-me ao pensamento e não consegui dormir. Estou nervoso.
- Queres que eu vá ter contigo para te sentires mais aliviado?
- Se tu pudesses vir, eu agradecia-te. Nem sou capaz de trabalhar.
- Então eu vou almoçar contigo.
- Obrigado. Eu sabia que tu me compreendias.
- Num caso assim, toda agente compreende.
- Então vens ter comigo?
- Se te ajudar, eu vou.
- Vens no comboio das 11 horas?
- Sim, Amor. Estarei para te ajudar no que puder.
- A tua presença já ajuda e tenho com quem desabafar.
- Então até já, meu Amor.
- Obrigado, meu Amor.
- Não tens que agradecer. Faço-o por que quero.
- Beijinhos e até já. Faz boa viagem.
- Obrigada, Amor. Beijinhos.
 
Fui ter com o Pedro ao Centro Vasco da Gama. Esperei por ele no local habitual. Apareceu muito pálido e muito nervoso. Almoçámos na casa das sopas e ele comeu muito pouco. Falámos muito e contou-me todos os pormenores da morte do irmão. Passei a tarde com ele a passear no parque junto ao rio.
Quando o deixei, já estava mais descontraído. Ficou combinado ele vir no dia seguinte ter comigo. Despedimo-nos com muitos beijinhos e ele colocou a mão dele na janela do comboio quando a porta se fechou. Eu coloquei a minha e vim satisfeita por o ter ajudado.

Sem comentários: