segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O Dia dos meus anos!



A foto foi tirada numa fajã, nos Açores. Acho que é a Fajã do Olviedo...

Quinta, 16 de Junho de 2005

Era o dia dos meus anos. Acordei cedo. Meu marido deu-me os parabéns. Disse-me que tinha um presente para mim que eu nunca mais esqueceria. Mas não frisou o que era.
Fiquei a magicar o que seria o presente do Pedro. Tinha referenciado que era algo que eu gostaria muito... Mas, vindo dele, não fazia mesmo ideia de nada. Pelas 09h da manhã estava na estação dos comboios. Estava impaciente. Tinha receio do que iria encontrar. Ele fazia com que, a mais incrédula, acreditasse nas suas mentiras e falsidades com a maior ingenuidade. Eu era uma balança. Ora pendia para o recear, ora amava-o muito. Nada fazia sentido na minha vida.
Estava ainda na estação, quando recebi uma mensagem dele a dizer que sabia onde eu me encontrava. Olhei em redor. Ele gostava de me fazer surpresas. Aparecia nesta ou naquela estação e sentava-se ao meu lado. Eu ficava dividida. Pensava que ele gostava mesmo de mim. Mas gostou tanto de mim como de todas as mulheres com quem se relacionou. Porém não o vi. Uns homens trabalhavam na estação e eu fiquei pensativa. Não respondi. Entrei para o comboio e sentei-me num lugar vazio. Ninguém se sentou ao pé de mim. Ainda mais intrigada fiquei.
Fui, como combinado, até à estação de Alcântara. Lá estava ele. Imponente e majestoso a acenar-me.
Desci e fui recebida por uma efusão descontrolada de beijos e carinhos. Sussurrava, ao meu ouvido, palavras de sonho. Aquelas palavras que uma mulher carente gosta de ouvir. Já tinha desaparecido o meu receio. Reinava entre nós uma acalmia que nunca tinha sentido antes. Lá me foi dizendo que, uns colegas que estavam a trabalhar na estação, me tinham visto e tinham comunicado com ele. <É para veres o quanto eu te amo. Não tenho medo de dizer a toda a gente que és a minha amada e, se possível, mulher, se o desejares tanto como eu. >
Para onde ele estava a caminhar? Eu e ele sabíamos que isso não era verdade. E principalmente ele que não fazia ideia porra nenhuma de casar comigo, mas sim ludibriar-me. Nada acrescentei. Era o dia dos meus anos. Não queria discutir, mas curtir um dia maravilhoso.
O Mercedes dele estava estacionado a curta distância. Abriu a porta e eu entrei como se aquilo fosse muito estranho para mim.
Percorri ruas e avenidas que eu não conhecia. Quando dei por mim, estava num local que nem imaginava que existia. Perguntei a medo... Ele disse que eram as Docas. Não sabia como eram. Fiquei extasiada a olhar. Muitos restaurantes dum lado e de outro. Olhei os preços e fiquei de queixo caído. Disse-me para escolher um. Como eu sabia que era eu a pagar, respondi que ainda era cedo e que me levasse a ver as Docas que eu não conhecia. Foi a primeira e a última vez que ali estive.
Começámos a andar em direção ao Tejo. Eu não imaginava o que iria ver nem como lhe chamavam.
O Pedro Cachaço Marques encostou-se ao pilar que continha uma estrutura da ponte. Eu olhei para cima e ele disse-me:
-Vês a ponte lá em cima? A isto chama-se a "cueca da ponte". Já podes dizer que estiveste aqui.
Entretanto ia-me dando beijos muito calorosos. Eu estava nervosa.
E assim chegou a hora do almoço.
Resolvi que não almoçávamos ali. Fomos, então, para um restaurante onde iam trabalhadores por ser excessivo barato. Era em Alcântara. Possivelmente já seu conhecido.
O almoço foi peixe frito com arroz e uma salada sem pepino porque eu não gostava.
Saímos e fomos até Entrecampos. Antes de sairmos do carro, ele deu-me um envelope com um cartão onde se podia ler:

<Para a mulher que eu amo mais, adoro e quero que se case comigo. Estarás sempre no meu coração. Espero que eu também esteja no teu. Parabéns meu AMOR, minha VIDA, meu Sonho. Que este seja o de muitos anos passado juntos.
Do teu, sempre teu- Pedro Marques.

Fiquei tão vaidosa que não soube dizer mais nada. Do porta luvas do carro tirou uma echarpe muito linda em tons amarelos e vermelhos e uns brincos da mesma cor. Disse que eram banhados a ouro. Mas vim a saber que não. O marido de uma colega minha disse que não havia banho nenhum. Eu fiquei emocionada. Abracei-o e dei-lhe muitos beijinhos.
A despedida foi dolorosa. Naquele dia tinha tocado o meu coração. Já não pensei que ele queria o meu dinheiro. Isso era passado.

Já no comboio recebi a seguinte mensagem:

17h23m18s

Meu amor foi um dia lindo. Vamos ter mais assim quando nos casarmos. Beijoquinhas loucas. >

Vim triste para casa. Mas era o melhor a fazer. O dia já tinha terminado com as maravilhas do amor.
Todavia, eu não imaginei o que me esperava em casa. Meu marido deu-me uma placa onde se lia:

< Amei-te no passado, amo-te no presente e se o futuro deixar amar-te-ei eternamente. >

Para mim foi a prova mais linda de amor que o meu marido me deu. Marejaram-se-me os olhos e reconheci que estava no caminho errado. Afinal eu amava o meu marido.
Fomos jantar fora e levou-me a um restaurante chique. Comparei os dois. A balança pendia para o lado do meu marido.