sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Uma converseta!

Quarta, 23 de Fevereiro de 2005

Ontem, por lapso, escrevi esta data. Hoje corrijo. Ontem já não me deu para o fazer. Apenas justificar.

É a estação dos comboios em Entrecampos. Era aqui que eu descia do comboio e esperava tempo sem fim pelo Pedro. 
Era Quarta, o nosso dia, como o Pedro gostava de dizer.
Logo, pela manhã, eu recebi uma mensagem das minhas colegas a desmarcar. Uma delas não podia vir ter comigo. Então marcámos para quinta.  Quando o Pedro telefonou, já eu tinha a "boa nova" como ele a apelidou.
Eram 09h01m43s quando o telefone silvou. Desta vez não me enganei. Sabia que era o Pedro e tinha que lhe dizer que as minhas colegas não vinham.
Atendi o telefone, mas não sabia o que me esperava.

- Estou sim, por favor?
- Amor mio, sou eu para mais uma converseta. Não nos podemos demorar. As tuas colegas podem chegar.
- Não. Podes estar à vontade. Elas enviaram uma mensagem a dizer que só vêm amanhã.
- Mas isso é óptimo. Eu vou agora para Entrecampos e tu podes lá ir ter comigo. Afinal é o "nosso dia".
- Sim. Mas não será apertado?
- Não estás pronta?
- Estou. Como as esperava, levantei-me mais cedo e despachei-me.
- Então corre para a estação e vai ter a Entrecampos.
- Está bem. Beijinho e até já.
- Beijinhos que vou dar daqui a pouco.

Desligámos o telefone e eu fui apanhar o comboio. 
Cheguei a Entrecampos pouco passava das 11h da manhã. Desci e fiquei sentada num banco, frente para a Feira Popular. Estava muito frio. Eu bem me enrolava no meu casaco vermelho, mas o frio entrava-me pelos ossos.
Já passava do meio dia quando o Pedro apareceu, esbaforido e sem fôlego. Perguntou se eu já estava ali há muito tempo e eu respondi que sim. Ele disse que tinha estado a terminar um trabalho para poder ficar comigo.
Saímos e fomos na direção  norte para a p****.
Na esquina da 5 de Outubro estava uma caixa de multibanco. Ele parou para levantar dinheiro. Quando o dinheiro saiu, olhou para o papel e, muito sério, disse-me: - É o último. Fico com a conta a zero até receber.
Fiquei aflita e sem saber o que dizer. Mas pensei pagar eu, como acontecia sempre. Ele já fez aquilo de propósito. Sabia que eu iria dar-lhe o dinheiro para pagar na recepção. e assim foi. Tirei dinheiro da minha carteira e quando me deu a mão, eu passei o dinheiro para a dele.
Vi que tinha ficado aliviado e pensei que fosse verdade. Eu não sabia o sabujo que ele era. Vim a descobrir mais tarde.
Ficámos no mesmo quarto, junto à cozinha e no segundo andar. Já descrevi o mobiliário e a disposição das camas.
Desta vez escolhemos a melhor. Ele deitou toda a roupa para trás e disse que estava tudo muito asseado. Foi dar uma espreitadela na casa de banho e disse o mesmo. Eu mantinha-me em pé sem saber o que fazer. Ainda me sentia muito mal com estas situações. Mas ele depressa me pôs à vontade. Foi tudo maravilhoso. Sabe como fazer para agradar a uma mulher.
Depois, depois ficámos na converseta, como ele dizia muitas vezes. Voltou-se a falar no dinheiro das finanças. Não sabia como arranjá-lo e eu também não. Sempre lhe mencionei que, se fosse uma quantia mais pequena, eu iria ajudá-lo. Ele disse sempre que me pagaria até ao último cêntimo.
Falou, também, na outra casa. Disse que uma senhora tinha ido vê-la na véspera e que tinha dito que se a sala tivesse x metros quadrados que ficava com ela. Chamou-lhe louca. Disse que a sala era muito boa e que as casas estavam remodeladas. Eu não a conhecia e não podia falar sobre ela. Não o poderia ajudar. 
Perguntei-lhe à queima roupa se ele me amava. A resposta foi curta, concisa e sem valor sentimental. Respondeu-me com outra pergunta: - Amor, diz-me tu.
- Não sei- respondi eu com toda a franqueza. 
Ficou muito sério a olhar para mim, olhos nos olhos, e entrou em mim até ao fundo da minha alma. 
Senti-me pequenina e sem valor sentimental para ele. Tive vontade de lhe dar tabefes na cara até me saciar, mas fiquei muda e calada a olhar aqueles olhos cor de mel frios e distantes. Ele não tinha sentimentos, pensei eu. Mas não disse nada e desvalorizei o sucedido. Na altura não sei o que me passou pela cabeça. Apenas sei  que lhe lancei os meus braços à volta do pescoço e beijei-o apaixonadamente e com eloquência.
Com jeitinho, separou-se de mim e disse que estava na hora de sairmos. Fomos tomar banho e eu trauteei uma canção brasileira para ele. Começa assim:- Tu és a criatura mais linda
Que os meus olhos já viram.
Tu tens a boca mais bela 
Que a minha boca beijou.....
Ele ria a bandeiras despregadas e perguntou se que o que eu dizia, era verdade.
Só podia, dizia eu e continuava enquanto ele me lavava numa carícia sem fim.
Já na rua, fomos ao mesmo café. Ele pediu um pão por Deus com fiambre e eu um chá de camomila e uma sandes de queijo.
  Fomos para a estação do comboio. Fizemos as despedidas e eu voltei para casa.
À noite falámos no msn.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A Flor mais bela!

Quarta, 23 de Fevereiro de 2005

Por lapso, escrevi mal a data.

Sempre me orientei na minha vida. Mas, infelizmente, chegou o Pedro para me desviar do caminho correto e digno que sempre percorri. Sinto-me envergonhada e indigna de mim mesmo. Sou um sol envergonhado num dia de Inverno. Mas, agora, já não vivo com medo dele. Posso dizer com toda a segurança: - Cuidado, Pedro, que um dia posso voltar a desvendar todas as mentiras que inventaste para te safares. Tenho tudo arrumado e catalogado. Sabes onde estão? É o Sargento a quem mentiste que tem tudo. E verificou com as operadoras as mensagens que tu e a Dulcineia trocaram comigo. Também tem a mensagem que te deixei no Skype.  Basta uma palavra minha para tudo andar para a frente. Não o convenceste e ele não parou com a investigação. Tem-te seguido e sabe com quem te envolves. Cuidado, não me faças  sair do sério. Não basta teres o teu perfil fechado. Isso não chega. Um dia pagarás tudo a dobrar e com juros.
Vim só para escrever mais umas palermices  que me disseste.

Estava no remanso do meu quarto, quando o telefone começou a tocar. Não atendi. Mas tu, também, não desististe. Passado pouco tempo, voltaste a ligar e o telefone voltou a tocar ainda com mais estridência.
Peguei no auscultador com muita vagarosidade. Não tinha pressa de ouvir a tua voz esganiçada e a sair pelo nariz por tu terem partido aquando da luta que travaste com o teu rival.
Olhei o relógio e marcava 08h31m59s.

- Estou sim, faz favor?
- Ora, bom dia para a flor mais bela do meu jardim.
- Sim, e deves ter muitas agora no Inverno. Devem estar engelhadas com a geada, queimadas e sem brilho.
- Até tenho lá algumas e são lindas. Envio uma foto.
- Não precisa. Até poderia ser de um jardim público que eu não ia notar.
- Já me estás a dar para o azar?
- Não. Mas estamos no Inverno e há poucas flores. Quem é que tu queres enganar?
- Estás deitada? Acordei-te?
- Porquê? Não me digas que me estás a ver?
- Mas não atendestes quando eu te telefonei a primeira vez.
- Ah! Eras tu? Pensei que não fosses...
- Até parece que não ligo logo de manhã. Não atendestes por isso ou por outra coisa?
- Não sei. Diz-me tu.
- Tu é que tens que responder. Fostes tu que não atendestes. 
- Pois. Nem sempre estou ao lado do telefone à espera que sejas tu. Também tenho vida própria. E pode ser outra pessoa.
- Tens muitos telefonemas iguais aos meus?
- Porquê? Deveria ter? Estava impedido?
- Não. Mas não me atendestes.
- Já te disse. Nunca sei quando podes telefonar. E até pode ser o meu marido a pedir-me alguma coisa. Tenho que ter muito cuidado. Não posso estragar tudo. Certo?
- Certo. Queres vir almoçar comigo?
- Não posso.
- Nem se eu te dissesse  que preciso do teu apoio?
- Para quê? Para te mudar a fralda?
- Não. Ando outra vez com o pensamento no meu irmão. Já me ajudastes uma vez.
- Pois, mas hoje não posso. 
- Porquê?
- O meu marido está na serra de Mon******** e vem almoçar a casa com outro colega.
- Está bem. E amanhã? É o nosso dia...
- Mas não vai ser. Amanhã vêm cá as minhas colegas de V***********. Vêm passar o dia comigo.
- Está bem. Agora vou ter uma reunião. Tenho que sair já. Beijoquinhas onde e como quiseres. Amo-te muito.
- Até logo. Beijinhos.
- Ouve... Posso ligar logo?
- Não. Não sei a que horas vem o meu marido. Envia mensagem.
- Se puder. 
- Vais à reunião, eu sei... ( Desliguei )


17h20m35s

< Posso ligar? <

Disse que o meu marido já estava em casa. Não falei com ele no msn e nem enviou mensagem.


-

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Pergunta sem resposta!

Terça , 22 de Fevereiro de 2005

Sempre que me disponho a ir buscar o meu diário e reescrever o que ele contém, sinto que a minha vida se quedou num abismo sem fim. Num labirinto de celas perdidas e que, por muito que eu queira, não consigo sair delas. São celas obscurecidas pelo tempo que me prenderam num passado tão distante que nem consigo enxergar a parede que as separa. Mas dando largas ao meu coração, sinto que estou livre e posso respirar o ar puro que circula à minha volta. Ar redescoberto depois de um passado tão devastador que me prendeu a um ser que não tem alma, coração e sensibilidade. Hoje sinto que sou eu e não a mulher amedrontada, despojada da sua dignidade, do seu coração imaculado e da sua vida com sentido. Mais umas quantas frases ditas sem sentido, sensibilidade e sem nada que nos prendesse um ao outro.
Parece que tinha um programador. Mais cinco, menos cinco, a hora era sempre a mesma e a lamuria do costume.

08h34m48s

- Estou sim. Quem fala, por favor?
- Estou farto de dizer que a esta hora, sou eu, ´mor.
- Nem sempre. E não posso arriscar sem saber a certeza. Achas  que deva arriscar a dizer "olá Pedro, como estás?"
- Seria o dia mais feliz da minha vida. Era porque já estávamos juntos e sem preconceitos e tabus.
- Nem sei como te hei de responder.
- Da maneira mais simples. " Quero ficar contigo para todo o sempre ".
- Calma. Parece que já estás a bater na mesma tecla outra vez.
- Não querias? Não me amas? Esta pergunta ficou sem responder ontem. Queres dar a reposta hoje?
- Pedro, isto é muito bonito por que estamos a viver longe e só nos encontramos de quando em vez. Se vivêssemos juntos, isto não durava nem uma semana. Olha o que aconteceu contigo? Comigo? Porquê? Por que estamos a viver com a mesma pessoa há muitos anos. É natural que sature. Mas também temos dias bons. Eu, pelo menos, tenho. E não os esqueço. São poucos mas servem para alimentar a relação.
- Eu nem sei o que isso é. 
- A sério? Não acredito. Olha a linda prenda que lhe deste no dia que ela fez anos! Até te enganaste e enviaste a foto para mim. Ou era para eu saber como a mimas? Para me fazeres ciúmes? Não, nada disso. Foi por que ela desejou isso e tu mataste-lhe o desejo. Fizeste-a feliz. E tu também ficaste feliz por que lhe deste uma coisa que ela gostava.
- Chi! Do que te foste lembrar.
- É só para veres que sei pesar os prós e os contras.
- Mas a pergunta, fica sem resposta. Vá responde...
- Já dei a minha resposta. Se não a entendes, é porque não queres. E ontem saíste-te muito bem. Deves estar habituado a situações dessas, não?
- Nem por isso. Já te disse que tenho que saber lidar com estas situações. O que ia dizer? Tinha que inventar, né?
- Pois. Se fosse comigo, ficava engasgada e não sabia que fazer. Ainda me chamas " mentirosa. "
- Porra! Isso nunca mais passa?
- Quando há oportunidade, é que é bom relembrar.
- Bem. Vou para Setúbal. Hoje vamos para lá trabalhar.
- E não vais engatar uma gata qualquer?
- Nem vou responder. Trabalho, é trabalho. Beijinhos onde e como quiseres.
- Bom trabalho e até logo.
- Ouve! Não me dás beijinhos?
- Está bem. Beijinhos, beijinhos, beijinhos.


17h10m43s

Estava a Glorinha a fechar a porta quando o telefone se começou a ouvir tocar. Dei graças a Deus. Despedi-me dela e fui atender.

- Por favor, quem fala?
- ´Mor sabes onde estou?
- Não. O telefone ainda não tem televisão...
- Estou ainda em Setúbal em cima de um placard aqui na estação. Nem sei quando nos vamos embora. Isto está demorado.
- Não posso saber. Como disse, o telefone ainda não tem televisão.
- Não acreditas? Queres ouvir um colega meu?
- Ouve! Quem pensas que sou? Não o quero ouvir a ele nem a ti. Beijinhos e até logo.
- Não fiques zangada. beijinhos só nossos. Vais ao msn?
- Não. Com licença. ( e desliguei o telefone. )

Não fui ao msn e o telemóvel esteve desligado.





terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Serás capaz de me deixar?

Segunda, 21 de Fevereiro de 2005

Mais uma foto do Freeport, local que visitei no Sábado, dia 19 / 2 com o Fernando Pedro C****** Marques.
Nesta Segunda as coisas não mudaram muito de sentido. O Pedro estava obcecado com o que eu lhe tinha dito. A pergunta era sempre a mesma " Seria eu capaz de o deixar"?
Já tinha pensado nisso tantas vezes, que não me custava nada deixá-lo, embora eu pensasse que o amava. Mas não era amor verdadeiro. Esse dura uma vida e o que eu tive com o Pedro durou pouco mais que nada.
Já estava acordada quando o telefone começou a tocar. Estava a pensar que seria brevemente tirada do meu sossego para me embrenhar numa conversa com ele que não levaria a lado nenhum. E assim aconteceu.
Antes de apanhar o auscultador, olhei para o relógio. Gostava de frisar as horas no meu diário. Hoje, ainda, faço isso. É para saber a hora de determinado acontecimento e deleitar-me ou não com ela. Entrar numa simbiose e percepção que me levem a um determinado momento. Se esse momento foi bom, alheio-me de tudo e entro de mansinho para me aconchegar e reviver o que me deixou tão feliz, mas se o assunto me eriçou os cabelos, reajo de maneira diferente e desligo absolutamente do assunto em questão.

08h34m29s

- Estou sim, por favor? ( Não iria arriscar e falar " olá Pedro, como estás"?para não ter um dissabor. E eu sabia que não poderia ser mais ninguém ).
- Bom dia, amor mio. Como dormistes? Eu tive  que repor as minhas energias. A outra noite nem preguei olho.
- Por que não quiseste. Ninguém te mandou ficar acordado, se acaso ficaste.
- E não fiquei? Nem imaginas como a passei. Até ela me perguntou o que eu tinha para não dormir e não a deixar dormir a ela...
- Hum! Vinhas dormir para o sofá.
- Não gozes, está bem? Fizestes-me passar um mau bocado. Nem penses deixar-me... E serias capaz de me deixar? Pergunto mais uma vez e todas as que forem preciso.
- Talvez sim e talvez não.
- Mau! Ainda não te decidiste? Ainda pensas nisso? Não estou a gostar nada disto.
- Sinceramente, não sei. As coisas aconteceram depressa de mais. Eu não estava preparada. E nem sei se estou.
- Mas eras capaz de me deixar assim sem mais quê nem p´ra quê? Não me faças isto...
- Isto o quê?
- Deixares-me. Abandonares-me, não te lembrares de mim, não teres pena de mim?
- Quem tem pena é a galinha.
- Não tem graça nenhuma. Estou a falar a sério...
- E eu também.
- De seres capaz de me deixares?
- Não. Isso são águas passadas. Não se fala mais sobre esse assunto. Ficou esclarecido.
- E não me vais deixar?
- Olha vamos mudar de assunto. Hoje ficas por aí?
- Nem sei. Estou à espera do chefe.
- Bem... Vê lá não venha ele e estejas a falar comigo...
- Se ele vier, faz de conta que estava a falar com um colega.
- Tu lá sabes. Já conheces muito bem como te deves safar. Já estás  habituado?
- Mas que raio de pergunta. Desconfias de mim agora?
- Não. Era para desconfiar?
- Tu amas-me?
- O quê? Que pergunta...
- Tem reposta... E já sabes se isso continuar avariado, telefona para aqui. Até logo. ( O chefe tinha entrado)
- Beijinhos e até logo. ( Desliguei e safei-me de responder. )

12h09m12s

< Vou almoçar. Bom almoço. Estou só e triste. Beijinhos para tua sobremesa. >

17h09m10s

< Tenho o chefe no meu gabinete. Estou triste porque não posso ouvir a tua voz. Logo vai ao msn para falarmos um cadinho. Ainda quero ter a certeza que não me vais deixar. Tu não podes fazer isso. És tudo para mim. Lembras da princesa Shakti? Tu és a minha princesa Shakti. Não me deixes e diz que me amas como eu te amo a ti. Sem ti morria. Deixa-me ser o teu princepe e serei tudo o que tu quiseres mas, não voltes a falar em me deixares. Bjs onde e como quiseres. Fica bem. Até logo amor. >

22h08m56s

< Sonha  comigo. Dorme bem. Foi bom falar contigo. Adoro-te sabia. Bjs só nossos. >







segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Domingo, 20 de Fevereiro de 2005

Uma foto muito original. É uma escola. Quem conhece, saberá que fica muito perto da casa do Fernando Pedro.

Neste Domingo o Pedro enviou-me um e-mail logo de manhã. Era um e-mail cheio de amor e de promessas que ele não conseguiria pagar. Promessas falsas e com um acre a sabor a mentira. Ele escrevia com muitos erros e eu sou fiel a escrever tal qual o que ele me dizia e o que se passava entre nós. Para isso, tenho o meu diário que me guia nesta regressão ao passado.Rezava assim:

10h10m23s

< Meu Amor de ontem de hoje e de amanhã. Ontem foi um dia maravilhoso mas, tenho que falar numa coisa que me deixou muito triste e nem sei como aceitá-la. Foi o teres dito que já me tinhas  pensado em deixar. Como podes pensar uma coisa dessas. Nem dormi. Pensei nisso a noite toda. Serás mesmo capas de me deixares assim do nada? Eu não acredito que tu penses nisso. Eu amo-te e és tudo para mim. Quero-te muito. És a minha princesa, a minha rainha, a minha flor do meu jardim, o sol que brilha para mim mesmo num dia de chuva, o meu respirar, a minha vida e ficava aqui, a dizer tudo o que tu representas para mim que não acabava nunca. Não penses em deixar-me eu, não aceito nunca. Vou atrás de ti sempre. Diz que não voltas a pensar o mesmo. Dá-me essa certesa e eu acredito. Não tenhas tais pensamentos pq eu não quero. Fazem mal ao nosso amor. Responde mas, não me deixes nunca. Sou teu para sempre. Bjs que só tu sabes dar e são tão gostozos que eu nem sei explicar. Teu Para sempre Pedro. >

Respondi muito evasiva e disse que não podia escrever muito por que o meu marido precisava do computador. Depois enviou mensagem, via telemóvel a dizer o seguinte.

16h45m43s

< Estou no msn. Podes vir? bjs. >

21h34m46s

< Que se passa? Vens falar um cadinho? bjs. >

22h10m57s

< Obrigado. Hoje durmo bem. Bjs só nossos. >




domingo, 13 de dezembro de 2015

Freeport!

Sábado, 19 de Fevereiro de 2005

Hoje brindo-vos com uma foto muito bonita do Freeport. Foi aqui que o Fernando Pedro me levou neste dia, há dez anos.

Era Sábado como menciono acima. Eu levantei-me cedo. Claro, depois do meu marido sair para ir para casa da minha sogra. Pensava eu que seria um dia igual a tantos outros passado ali pelo Oriente. Mas não. Foi um dia bem diferente e com muita história.
Como sempre acontecia, encontrámo-nos na porta que dá acesso ao Continente. Eu esperei que ele chegasse. Não demorou muito. Ele já tinha ido beber o seu café. Dizia-me que não funcionava sem o beber logo pela manhã.
Assim que me viu, começou a rir-se e beijou-me efusivamente, como sempre. Saboreou o meu beijo e disse que era gostoso. Disse-me que só eu lhe dava os beijos que ele gostava. Até lambia os lábios e parecia que estava mesmo extasiado com eles. Na altura, eu pensava que ele falava verdade. Que eu era muito importante para ele, mas já aqui deixava ver os seus pés de barro que eu ignorava por completo e fingia não ver para não me desiludir cedo de mais.
Apanhou a minha mão e conduziu-me para fora do Centro. Levou-me para o parque de estacionamento perto dos autocarros. De facto que eu ia muito intrigada e perguntava ao meu eu interior o que ele tinha preparado. Senti receio. Estava com um mau pressentimento e agoniava-me o facto de me levar para um sítio daqueles. Era novo para mim. Pensei que me levasse de autocarro para um sítio solitário. Realmente, tive mesmo receio. Porém, o meu receio desvaneceu-se quando parei junto do carro dele. O Mercedes Benz cinzento metalizado estava ali à minha frente. Ele abriu a porta, gentilmente, e convidou-me a entrar.
Sentei-me e ele deu a volta ao carro e foi para o sítio do condutor. Eu continuava sem saber qual o meu destino.
Pôs a chave na ignição e colocou-o a trabalhar. Olhava para mim com um ar de satisfação e ria por ver a minha desorientação. Perguntei várias vezes onde me levava, mas não me disse. Apenas dizia que era surpresa. Mas que surpresa.
Foi com um místico de curiosidade que vi que estávamos na Ponte Vasco da Gama. Voltei a perguntar para onde me levava, mas manteve o seu secretismo. Só se ria e não dizia nada de nada.
Ele conduzia com pouca velocidade. Não sei se para aumentar o suspense ou se era realmente assim. Chamei-o à atenção e respondeu-me que quando vai só, gosta de pisar no acelerador, mas quando leva alguém ao seu lado, tão precioso como eu, tinha que ser cauteloso. Mas um dia, e lá chegarei, isso não aconteceu e não tivemos um acidente por que não calhou.
Porém, neste dia, ia muito devagar e compenetrado na condução. De vez em quando, beijava a minha mão esquerda e metíamos as mudanças ambos de mãos dadas.
A minha admiração foi enorme quando verifiquei que íamos rumo ao Freeport.
Estacionou o carro e andámos pelas ruas do comércio. Lá ia dizendo que gostava disto ou daquilo, mas eu não lhe comprei nada. Não percebia a sua intenção. Era ingénua. Não pensava que andava comigo por puro interesse.
As horas passaram e a hora do almoço chegou. Pusemo-nos a escolher o restaurante. Este não porque ele não gostava da ementa, o outro porque não era recomendável e a sorte caiu no restaurante chinês. Aí abriram-se-me os horizontes. Ele gostava de comida chinesa. O restaurante era muito chique. Os empregados de uniforme a condizer e eu senti-me menos à vontade. Gostava de coisas simples e não tão complicadas.
A carta foi-nos entregue. Uma para cada um. Eu adoro Shop shoe de galinha ( acho que é assim que se escreve ) e ele pediu pato à Pequim. Pediu, ainda arroz xau xau e lá vieram os pauzinhos para comermos o arroz. Eu nem experimentei, mas ele comeu como se estivesse habituado a isso. Ainda me tentou ensinar, mas foi infrutífero. Não consegui. Também pediu crepes e outras iguarias que eu não comi porque não gostei. Houve um prato que ele pediu que eu nem sabia como se comia e ele ensinou-me com tanta perícia que eu estranhei.
Ria-se tanto da minha falta de jeito que eu não achei graça nenhuma e até disse que ninguém nasce "Chinês". Eu adorava coisas com soja e ainda hoje gosto.
Quando chegou a conta, claro que fui eu que paguei. Ali não achei estranho. Ele tinha levado o carro.
O dia estava ensolarado, mas muito frio. Estávamos em Fevereiro.
Então sentámo-nos num banco escondido dos olhares indiscretos.
Foi aí, que mais uma vez, começaram as conversas das descobertas.
Eu perguntei-lhe como ele reagiria se eu terminasse tudo. Respondeu que montava uma tenda à minha porta e cantaria serenatas até eu o receber de volta. Não lhe importava o meu marido, os vizinhos ou a sua família. Ele estava disposto a abdicar de tudo para ficar comigo. Fiquei calada. Não sabia o que dizer. Ele estava a pôr-me num patamar que eu não merecia. Então contei-lhe que já tinha pensado várias vezes em terminar a nossa relação. Não estávamos a ser justos com os nossos cônjuges. Nem com as nossas filhas, as dele e a minha. Se bem que a minha já o conhecia, mas não tinha gostado dele. Não lhe frisei esta parte, não é? Ele pensava que a minha filha tinha ficado a morrer de amores por ele. Era muito convencido.
Puxou a minha cara para me olhar de frente. Eu olhei e ele estava lívido de indignação. Não aceitaria NUNCA um não da minha parte. Disse que eu era o sol dele, o seu caminho, a sua vida, o seu respirar, o seu mundo, a sua alma e muitas outras coisas que não valem a pena serem mencionadas por as achar foleiras.
Disse-me que punha uma tenda à minha porta como já me tinha dito uma vez.  Disse-me que NUNCA nos haveríamos de separar. Eu fiquei  séptica, mas não ripostei.
Perto das 16h, viémo-nos embora.
 O caminho foi feito com a mesma cautela e, de vez em quando, o Pedro cantarolava uma canção de amor. Dizia que era dedicada a mim e para não ter mais pensamentos em o deixar.
Foi levar-me ao comboio e a despedida foi igual a tantas outras. Parecia que o Pedro me amava de verdade. Porém, era um amor interesseiro. Como macho, que se julgava ser, não queria que fosse eu a deixá-lo. 

sábado, 12 de dezembro de 2015

Convite!

Sexta, 18 de Fevereiro de 2005

É bom voltar a escrever. Umas vezes, penso que vou partir para uma vida mais saudável e sem Fernando Pedro a machucar o meu coração. Outras vezes penso que tenho que expor ao mundo o quanto sofri nas mãos dele. Não como vingança, mas como um alerta para alguma mulher que possa ler e não cair no conto do vigário que o Fernando Pedro conta a todas. Sinto-me dividida entre ajudar quem quiser a minha ajuda ou, simplesmente, encerrar um assunto que, apesar de tudo, ainda me magoa bastante. Não porque sinta alguma coisa por ele. Hoje e vendo bem as coisas, não senti nada senão o fascínio de uma aventura extra-conjugal. Era simpático, amoroso, adivinhava os meus pensamentos e, por fim, já era só uma aberração da natureza. E ainda continua a ser.

08h45m10s
O telefone tocou e eu levantei o auscultador com imensa preguiça. Apetecia-me dormir mais e a Glorinha só vinha às treze horas.

- Estou sim, quem fala?
- Falo eu, se me quiseres ouvir.
- Bom dia. Então estás mais calmo?
- Porquê? Não tenho andado?
- Ultimamente tens andado com ideias esquisitas e sem fundamento.
- Ai chamas isso a ideias geniais que tenho tido para vivermos juntos?
- Não vamos começar, pois não, Pedro?
- Hoje não. Mas não vou esquecer. Tenho um convite para te fazer...
- Ir almoçar contigo? Esse convite já tem barbas.
- Por acaso não é, mas se quiseres vir almoçar comigo, seria muito bom.
- Não. Hoje não vou. Desculpa e não digas que se evitam por que hoje não quero evitar nada.
- Até me tiras a vontade de te fazer o convite!
- Então diz lá!
- Amanhã queres vir ter comigo ao Oriente? Tenho uma surpresa para ti.
- De verdade? Até tenho receio. Não é para ir ver apartamento nenhum, pois não?
- Não. Mas também não te posso dizer o que é a surpresa. Alinhas?
- Hum! Deixa-me pensar bem para não me arrepender.
- Acredita que não te vais arrepender.
- Posso pensar e dar-te a resposta logo?
- Mas tem que ser antes de eu sair.
- Está bem. Logo quando telefonares, eu digo.
- Pois! É que tenho que dizer em casa que venho trabalhar.
- Está bem. Eu logo digo-te e combinamos.
- Agora fica o meu coração aos pulos sem saber o que vais dizer. Eu gostava tanto.
- Depois logo falamos.
- Já me estás a despachar?
- Não. Só vais quando eu te mandar embora. Ficas grudado no telefone. Eu coloco o auscultador de lado e tu ficas aí à espera.
- Engraçadinha. Vê lá não te caia um dente.
- Não me vou repetir.
- Também já sei o que ias dizer, né?
- O costume quando me dizes isso.
- Olha vou sair.
- De verdade? Que pena!
-Tens mesmo pena? Ou estás a gozar-me?
- Não sei, diz-me tu.
- Bem, vou trabalhar. Logo dá-me a boa nova.
- Que "boa nova?" ( já me tinha esquecido do convite)
- De vires ter comigo amanhã.
- Ah! Sim. Logo dou a resposta. Não te aflijas por isso. Se é assim tão importante para ti?
- É para mim e para ti. Então vou fazer qualquer coisa. Senão, não me pagam...
- Até logo. Beijinhos.
- Beijinhos também para ti onde e como quiseres.
- Até logo.

12h30m12s

< Estou a almoçar como um cão. Sozinho. Fazias falta. Bjs só nossos. >

Eu sei
 que ele me estava a passar uma mensagem. Era para lhe pagar o almoço.

17h25m45s

- Estou sim, por favor?
- Já estás melhor? Mais bem disposta?
- Sim. Nunca estive mal disposta.
- Hoje de manhã, deste-me para o azar. Já pensastes?
- Já. 
- E...
-Está bem. Vou contigo. Não sei que será a surpresa, mas não me deves levar para um sítio mau, não?
- Não. Eu sei que vais gostar.
- A ver vamos, como dizem os cegos. E eu vou cegueta. Não sei para onde me levas. É ao Oceanário?
- Frio, frio. Não te posso dizer. É surpresa.
- Pronto. Não faço mais perguntas.
- Logo vais ao msn?
- Vou. Mas é só um bocadinho.
- Um cadinho, está bem. Já chega para dormir a pensar em ti. Agora ainda vou a Santa Apolónia. Até logo. Beijokas doces.
- Até logo. Beijinhos.

Falámos no msn, mas foi pouco tempo. Ele estava acompanhado.