domingo, 13 de dezembro de 2015

Freeport!

Sábado, 19 de Fevereiro de 2005

Hoje brindo-vos com uma foto muito bonita do Freeport. Foi aqui que o Fernando Pedro me levou neste dia, há dez anos.

Era Sábado como menciono acima. Eu levantei-me cedo. Claro, depois do meu marido sair para ir para casa da minha sogra. Pensava eu que seria um dia igual a tantos outros passado ali pelo Oriente. Mas não. Foi um dia bem diferente e com muita história.
Como sempre acontecia, encontrámo-nos na porta que dá acesso ao Continente. Eu esperei que ele chegasse. Não demorou muito. Ele já tinha ido beber o seu café. Dizia-me que não funcionava sem o beber logo pela manhã.
Assim que me viu, começou a rir-se e beijou-me efusivamente, como sempre. Saboreou o meu beijo e disse que era gostoso. Disse-me que só eu lhe dava os beijos que ele gostava. Até lambia os lábios e parecia que estava mesmo extasiado com eles. Na altura, eu pensava que ele falava verdade. Que eu era muito importante para ele, mas já aqui deixava ver os seus pés de barro que eu ignorava por completo e fingia não ver para não me desiludir cedo de mais.
Apanhou a minha mão e conduziu-me para fora do Centro. Levou-me para o parque de estacionamento perto dos autocarros. De facto que eu ia muito intrigada e perguntava ao meu eu interior o que ele tinha preparado. Senti receio. Estava com um mau pressentimento e agoniava-me o facto de me levar para um sítio daqueles. Era novo para mim. Pensei que me levasse de autocarro para um sítio solitário. Realmente, tive mesmo receio. Porém, o meu receio desvaneceu-se quando parei junto do carro dele. O Mercedes Benz cinzento metalizado estava ali à minha frente. Ele abriu a porta, gentilmente, e convidou-me a entrar.
Sentei-me e ele deu a volta ao carro e foi para o sítio do condutor. Eu continuava sem saber qual o meu destino.
Pôs a chave na ignição e colocou-o a trabalhar. Olhava para mim com um ar de satisfação e ria por ver a minha desorientação. Perguntei várias vezes onde me levava, mas não me disse. Apenas dizia que era surpresa. Mas que surpresa.
Foi com um místico de curiosidade que vi que estávamos na Ponte Vasco da Gama. Voltei a perguntar para onde me levava, mas manteve o seu secretismo. Só se ria e não dizia nada de nada.
Ele conduzia com pouca velocidade. Não sei se para aumentar o suspense ou se era realmente assim. Chamei-o à atenção e respondeu-me que quando vai só, gosta de pisar no acelerador, mas quando leva alguém ao seu lado, tão precioso como eu, tinha que ser cauteloso. Mas um dia, e lá chegarei, isso não aconteceu e não tivemos um acidente por que não calhou.
Porém, neste dia, ia muito devagar e compenetrado na condução. De vez em quando, beijava a minha mão esquerda e metíamos as mudanças ambos de mãos dadas.
A minha admiração foi enorme quando verifiquei que íamos rumo ao Freeport.
Estacionou o carro e andámos pelas ruas do comércio. Lá ia dizendo que gostava disto ou daquilo, mas eu não lhe comprei nada. Não percebia a sua intenção. Era ingénua. Não pensava que andava comigo por puro interesse.
As horas passaram e a hora do almoço chegou. Pusemo-nos a escolher o restaurante. Este não porque ele não gostava da ementa, o outro porque não era recomendável e a sorte caiu no restaurante chinês. Aí abriram-se-me os horizontes. Ele gostava de comida chinesa. O restaurante era muito chique. Os empregados de uniforme a condizer e eu senti-me menos à vontade. Gostava de coisas simples e não tão complicadas.
A carta foi-nos entregue. Uma para cada um. Eu adoro Shop shoe de galinha ( acho que é assim que se escreve ) e ele pediu pato à Pequim. Pediu, ainda arroz xau xau e lá vieram os pauzinhos para comermos o arroz. Eu nem experimentei, mas ele comeu como se estivesse habituado a isso. Ainda me tentou ensinar, mas foi infrutífero. Não consegui. Também pediu crepes e outras iguarias que eu não comi porque não gostei. Houve um prato que ele pediu que eu nem sabia como se comia e ele ensinou-me com tanta perícia que eu estranhei.
Ria-se tanto da minha falta de jeito que eu não achei graça nenhuma e até disse que ninguém nasce "Chinês". Eu adorava coisas com soja e ainda hoje gosto.
Quando chegou a conta, claro que fui eu que paguei. Ali não achei estranho. Ele tinha levado o carro.
O dia estava ensolarado, mas muito frio. Estávamos em Fevereiro.
Então sentámo-nos num banco escondido dos olhares indiscretos.
Foi aí, que mais uma vez, começaram as conversas das descobertas.
Eu perguntei-lhe como ele reagiria se eu terminasse tudo. Respondeu que montava uma tenda à minha porta e cantaria serenatas até eu o receber de volta. Não lhe importava o meu marido, os vizinhos ou a sua família. Ele estava disposto a abdicar de tudo para ficar comigo. Fiquei calada. Não sabia o que dizer. Ele estava a pôr-me num patamar que eu não merecia. Então contei-lhe que já tinha pensado várias vezes em terminar a nossa relação. Não estávamos a ser justos com os nossos cônjuges. Nem com as nossas filhas, as dele e a minha. Se bem que a minha já o conhecia, mas não tinha gostado dele. Não lhe frisei esta parte, não é? Ele pensava que a minha filha tinha ficado a morrer de amores por ele. Era muito convencido.
Puxou a minha cara para me olhar de frente. Eu olhei e ele estava lívido de indignação. Não aceitaria NUNCA um não da minha parte. Disse que eu era o sol dele, o seu caminho, a sua vida, o seu respirar, o seu mundo, a sua alma e muitas outras coisas que não valem a pena serem mencionadas por as achar foleiras.
Disse-me que punha uma tenda à minha porta como já me tinha dito uma vez.  Disse-me que NUNCA nos haveríamos de separar. Eu fiquei  séptica, mas não ripostei.
Perto das 16h, viémo-nos embora.
 O caminho foi feito com a mesma cautela e, de vez em quando, o Pedro cantarolava uma canção de amor. Dizia que era dedicada a mim e para não ter mais pensamentos em o deixar.
Foi levar-me ao comboio e a despedida foi igual a tantas outras. Parecia que o Pedro me amava de verdade. Porém, era um amor interesseiro. Como macho, que se julgava ser, não queria que fosse eu a deixá-lo. 

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