quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Encontro em Entrecampos!

Segunda, 14 de Fevereiro de 2005

Se não fosse o meu diário, não podia ser tão fiel à minha descrição dos factos como o sou. É ele que me serve de guia para escrever o que tinha apagado da minha memória devido a ser tão cruel para mim. De facto que me sinto acabrunhada com esta situação. Vivê-la de novo é como um punhal que se espeta no meu coração.
Tinha ficado acordado que me ia encontrar com o Pedro na estação de Entrecampos. Eu estava triste com ele e não me apetecia estar ali sentada à espera dele.
Estava virada para a antiga feira popular. Nessa altura ainda funcionava com alguns restaurantes que abriam para a hora do almoço.
Fiquei longo tempo à espera que ele aparecesse. Já tinha pensado em me vir embora. Estava a levantar-me do banco quando ouvi a voz dele atrás de mim. Aquela voz era irresistível. Não pude conter-me. Corri para ele e abracei-o com as lágrimas a correrem cara abaixo.
" Mas que é isto? Saudades ou alguma coisa que eu não saiba!?" disse ele apertando-me com força e respondendo ao meu abraço ao mesmo tempo que limpava as lágrimas da minha cara que corriam qual cavalo à solta.
" Saudades" respondi eu.
Enlaçou-me e dirigimo-nos para a saída. Já na rua disse-me que íamos ao L******.
Já nos tornáramos clientes conhecidos. A moça já sabia o nome dele. Eu pensava que era por irmos lá, mas vim a saber, depois, que ele levava lá outras mulheres e era conhecido por ir lá tanta vez. Para minha surpresa, foi ele que pagou. "Aleluia" pensei eu.
Desta vez, ficámos no segundo andar, perto da cozinha, ao fundo do corredor do lado esquerdo.
O quarto tinha três camas. Todas elas eram iguais. As colchas eram com ramos amarelos e o fundo azul. Tinha uma minúscula casa de banho com um poliban de porta de fole. A TV estava lá à espera que o Pedro a colocasse no canal de música francesa. Já era hábito. Eu já me acostumara. Ainda havia um guarda fato, uma cómoda, uma cadeira e um banco.
Estava frio. Aquecemo-nos mutuamente com carícias, meiguices e muitas outras coisas.
Já saciados de um longo período longe um do outro, ficámos metidos entre os lençóis cor de rosa, unidos como se fosse um só corpo. Pele com pele, pernas entrelaçadas e abraçados com uma ternura que me fez esquecer o quanto ele tinha duvidado de mim no dia anterior.
Era nestes momentos que o Pedro se abria e falava nas suas coisas da vida. 
Hoje penso que não eram coisas que o magoassem. Eram coisas que ele contava com a intenção que eu lhe dissesse " eu ajudo-te", mas, nessa altura, estava longe de mim pensar nisso.
Então neste dia falou-me que teve uma casa de artigos de electricidade em parceria com uma irmã e um cunhado ou era o contrário? não tenho bem especificado. Mas  irmã e cunhado ou irmão e cunhada era tudo em família. Mas penso que era a primeira opção porque ele tinha dois irmãos e uma irmã. Um deles morreu num acidente de moto e o outro era o dono da casa onde mora hoje o Pedro. Este também tem uma casa em Alvito. Era para onde o Pedro ia passar férias, no verão. Levava a filha mais nova e o filho do irmão.
Mas voltando à minha narrativa, o Pedro contou-me  que a casa foi à falência e que não tinha dinheiro para pagar ao fisco. Eram 12.500€. Achei muito dinheiro. Talvez por isso, não me ofereci para o ajudar. Disse-me que ficou com relações cortadas com eles, mas como a loja estava no seu nome, ele, Pedro, é que estava com a dívida no fisco.
Não soube o que dizer. Estava perplexa e sem saber como poderia ele pagar tamanha quantia. Porém, falei que pagasse faseado e aí era mais fácil. Ficou calado e, depois, disse que seria o que tinha que pedir nas finanças...
Fiquei a pensar naquilo, mas não sabia como arranjar aquela quantia para o tirar do sufoco em que estava. 
A minha mãe tinha muito dinheiro, mas ainda não o tínhamos repartido. 
Depois de tomarmos banho e nos vestirmos, deixámos a P***** e saímos rumo à estação.
Parámos na mesma pastelaria. Eu comi um folhado com chouriço e um chá de camomila. O Pedro só pediu um café. Disse que não comia mais nada porque estava nervoso com a situação da loja. Eu acreditei. 
Já na estação, fizemos as nossas despedidas. Beijos e mais beijos com sabor a café.
Entrei para o comboio e depois da porta fechada, coloquei a minha mão no vidro e ele colocou a dele, como o fazíamos sempre. Para mim tudo contava e isso era um motivo mais que suficiente que ele me amava. Mas não. Era o típico de um Don Juan em plenas funções.

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