quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Um apartamento!

Quinta, 17 de Fevereiro de 2005

Logo pela manhã fui acordada pelo estridente som do telefone. Ainda dormia. Tinha passado mal a noite a pensar como me haveria de livrar do Pedro. O amor que julgava sentir por ele não era mais que uma paixão no vazio de um coração que não tinha nada para me ofertar. O coração dele era vazio e sem vida. Apenas via o lado da luxúria e do seu bem estar.
Eu sonhava por um amor de verdade e que pensava que tinha encontrado a seu lado. Era tão gentil no princípio que me fez amá-lo e querê-lo para umas horas de prazer. Sabia que ele tinha mulher. Sabia que eles se davam mal ou pensava isso pelo que ele contava. Mas não queria passar o resto da minha vida a seu lado. Nunca pensei nisso. Era mais divertido assim. Dava mais ênfase à relação. Porém ele não pensava assim. Ou fazia-me querer que não era assim.
Atendi o telefone, mas desta vez muito diferente. Estava fria e distante.

- Estou!
- Ena, que grande recepção. Ou ainda estavas a dormir?
- Sim e não.
- Estavas. Eu já dormi contigo e sei como acordas.
- Ai sabes? Então diz-me lá como acordo?
- Com voz rouca e muito ensonada. Mas muito amorosa e isso não aconteceu hoje.
- Tem dias. Hoje é um dia diferente.
- Pena! Vinha com uma ideia para nós.
- Então xuta lá essa ideia genial.
- Estive a pensar que o dinheiro gasto na p****** do L*****, arranjávamos um apartamento. Poderíamos encontrarmo-nos mais vezes e mais à vontade. Era só nosso.
- E onde?
- Aqui no Parque das Nações.
- E logo num sítio baratinho.( Satirizei)  
- Então tens uma reforma tão boa que nem davas por pagar...
- E dizia o quê ao meu marido? Que o dinheiro era para beneficência? A não ser que tu alinhes também.
- Nã, nã. Não tenho dinheiro para isso. Tenho a C******* R***** na escola e ela dá muita despesa.
- Pois, já me tinha esquecido que tu não tens dinheiro para nada.
- Se unirmos forças, conseguimos arranjar um apartamento. Já tive a ver uns aqui na net.
- Pois, mas devem ser caros. E eu não posso disponibilizar esse dinheiro mensalmente.
- Vá lá. Há um aqui perto que custa só 450€. Mesmo perto do meu trabalho. Até podíamos dormir aqui. E quando fossemos viver juntos, já tínhamos um.
- Viver juntos? Mas quem te disse que eu quero isso? Nem tu queres. Não vais deixar a tua família.
- Para viver melhor, até deixo. Tu tens uma boa reforma...
- Espera lá! Estás a pensar no meu dinheiro?
- Nãaaaaaaaaaao. Apenas na tua felicidade e na minha.
- Pois. Eu acredito.
- Que devo fazer para tu acreditares? Olha já não volto hoje para casa e monto uma serenata à tua porta. Queres?
-...............
- Então ficastes calada?
- Isso nem tem pés nem cabeça.
- Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.
- E isso é para dizer o quê?
- Que vou trabalhar.
- Pois. Foge à pergunta.
- Logo falamos?
- Sim, se a conversa for interessante.
Até logo. Beijinhos onde e como quiseres. Fica bem!
- Até logo. Beijinhos.

Quanto desliguei pensei que ele estava doido. Só podia. Talvez fosse para me experimentar.  Desvalorizei e voltei a mergulhar no sono. Durante o dia nunca mais pensei no que me tinha proposto. Pelas 17h03m12s o telefone voltou a tocar.

- Estou sim, por favor?
- Hum! Assim já gosto mais de te ouvir.
- Sou a mesma pessoa.
- Mas agora estás bem disposta.
- Não voltes a estragar.
- Não. Só penso no melhor para nós. Fui ver o apartamento.
- O Quê? Só deves estar doido.
- Não. Estou perfeitamente bem. É ideal. Lindo. Tem vista para o Tejo.
- Não me interessa para onde tem vista. Não quero e pronto.
- Mesmo que isso nos separe?
- Sim.
- Ena ! Tão seca... Não fui nada, mas era um bom investimento. Queres vir vê-lo amanhã?
- Não. Não me interessa. Mete na tua cabeça que nem tu deixas a tua mulher nem eu quero deixar o meu marido.
- Ela está impossível. Agora com esta coisa das finanças nem posso abrir a boca lá em casa. Até saía de boa vontade.
- Mas não vais sair. E se saíres, depressa voltas.Isto é muito bonito, mas por que estamos a encontrarmo-nos de vez em quando.
- Bem, contigo, um homem não pode sonhar com uma vida melhor...(interrompi-o abruptamente)
- Queres uma vida melhor comigo por que tenho uma boa reforma ou por que te sentes bem comigo?
- Pelas duas coisas. Tu és tudo para mim e um dia vamos viver e casar. Eu nem sou casado com ela!!!
- Já é tarde. Amanhã é outro dia.
- Ena! estás com mau feitio.
- Não. Apenas realista.
- Até amanhã. Até logo. Não vais ao msn?
- Talvez. Beijinhos.
- Beijinhos só nossos.

Não fui ao msn. Nem recebi mensagem. Desliguei o telemóvel.

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