quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Pergunta sem resposta!

Terça , 22 de Fevereiro de 2005

Sempre que me disponho a ir buscar o meu diário e reescrever o que ele contém, sinto que a minha vida se quedou num abismo sem fim. Num labirinto de celas perdidas e que, por muito que eu queira, não consigo sair delas. São celas obscurecidas pelo tempo que me prenderam num passado tão distante que nem consigo enxergar a parede que as separa. Mas dando largas ao meu coração, sinto que estou livre e posso respirar o ar puro que circula à minha volta. Ar redescoberto depois de um passado tão devastador que me prendeu a um ser que não tem alma, coração e sensibilidade. Hoje sinto que sou eu e não a mulher amedrontada, despojada da sua dignidade, do seu coração imaculado e da sua vida com sentido. Mais umas quantas frases ditas sem sentido, sensibilidade e sem nada que nos prendesse um ao outro.
Parece que tinha um programador. Mais cinco, menos cinco, a hora era sempre a mesma e a lamuria do costume.

08h34m48s

- Estou sim. Quem fala, por favor?
- Estou farto de dizer que a esta hora, sou eu, ´mor.
- Nem sempre. E não posso arriscar sem saber a certeza. Achas  que deva arriscar a dizer "olá Pedro, como estás?"
- Seria o dia mais feliz da minha vida. Era porque já estávamos juntos e sem preconceitos e tabus.
- Nem sei como te hei de responder.
- Da maneira mais simples. " Quero ficar contigo para todo o sempre ".
- Calma. Parece que já estás a bater na mesma tecla outra vez.
- Não querias? Não me amas? Esta pergunta ficou sem responder ontem. Queres dar a reposta hoje?
- Pedro, isto é muito bonito por que estamos a viver longe e só nos encontramos de quando em vez. Se vivêssemos juntos, isto não durava nem uma semana. Olha o que aconteceu contigo? Comigo? Porquê? Por que estamos a viver com a mesma pessoa há muitos anos. É natural que sature. Mas também temos dias bons. Eu, pelo menos, tenho. E não os esqueço. São poucos mas servem para alimentar a relação.
- Eu nem sei o que isso é. 
- A sério? Não acredito. Olha a linda prenda que lhe deste no dia que ela fez anos! Até te enganaste e enviaste a foto para mim. Ou era para eu saber como a mimas? Para me fazeres ciúmes? Não, nada disso. Foi por que ela desejou isso e tu mataste-lhe o desejo. Fizeste-a feliz. E tu também ficaste feliz por que lhe deste uma coisa que ela gostava.
- Chi! Do que te foste lembrar.
- É só para veres que sei pesar os prós e os contras.
- Mas a pergunta, fica sem resposta. Vá responde...
- Já dei a minha resposta. Se não a entendes, é porque não queres. E ontem saíste-te muito bem. Deves estar habituado a situações dessas, não?
- Nem por isso. Já te disse que tenho que saber lidar com estas situações. O que ia dizer? Tinha que inventar, né?
- Pois. Se fosse comigo, ficava engasgada e não sabia que fazer. Ainda me chamas " mentirosa. "
- Porra! Isso nunca mais passa?
- Quando há oportunidade, é que é bom relembrar.
- Bem. Vou para Setúbal. Hoje vamos para lá trabalhar.
- E não vais engatar uma gata qualquer?
- Nem vou responder. Trabalho, é trabalho. Beijinhos onde e como quiseres.
- Bom trabalho e até logo.
- Ouve! Não me dás beijinhos?
- Está bem. Beijinhos, beijinhos, beijinhos.


17h10m43s

Estava a Glorinha a fechar a porta quando o telefone se começou a ouvir tocar. Dei graças a Deus. Despedi-me dela e fui atender.

- Por favor, quem fala?
- ´Mor sabes onde estou?
- Não. O telefone ainda não tem televisão...
- Estou ainda em Setúbal em cima de um placard aqui na estação. Nem sei quando nos vamos embora. Isto está demorado.
- Não posso saber. Como disse, o telefone ainda não tem televisão.
- Não acreditas? Queres ouvir um colega meu?
- Ouve! Quem pensas que sou? Não o quero ouvir a ele nem a ti. Beijinhos e até logo.
- Não fiques zangada. beijinhos só nossos. Vais ao msn?
- Não. Com licença. ( e desliguei o telefone. )

Não fui ao msn e o telemóvel esteve desligado.





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