quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Pedir prenda de anos!

Terça, 1 de Março de 2005

Este mês foi marcado pelos anos do Fernando Pedro e da tragédia que ele disse ter-se abatido sobre ele quando ia festejar os anos dele e da filha mais velha. Mas lá chegaremos, a seu tempo.
Hoje era a entrada do seu mês astral. Mês que muitos designam por mês "Infernal".  Eu só sei que para mim, começou o mês Infernal. A partir daqui, começou a minha queda financeira. Foi a primeira vez que pedi dinheiro a uma financeira. Foi a Credial. Hoje não existe. Mas naquela altura foi a minha salvação.

Normalmente, os meus dias começavam com um telefonema do Pedro logo pela manhã. Hoje não foi excepção. O telefone tocou estridentemente até eu levantar o auscultador e atender ainda ensonada. Eram 08h35m23s. A hora pouco variava e eu estava ainda, quentinha, entre os lençóis. Estendo o braço e atendo laconicamente.

- Estou sim, por favor?
- Bom dia  Amor mio. Como dormiu o meu bem?
- Bom dia Sr. Pedro. Eu dormi muito bem. E tu?
-Ena! Esse " Sr. Pedro" donde veio?
- Sei lá... Estou inspirada.
- Não. Acordastes inspirada, por que fui eu que te acordei, não foi? Ora diz lá a verdade!
- De facto, foi. Ainda estava a dormir.
- Quentinha? Dava tudo para estar aí contigo. Como seria bom. Levava-te... (Interrompi-o abruptamente )
- Não digas nada para não te arrependeres logo a seguir.
- Achas? Era o que eu mais queria. Apesar de não me pagares o para-pente, não deixo de te amar.
- E não esqueces isso, não?
- Não. Era uma prenda de anos que eu adorava muito.
- Pensa noutra coisa porque isso eu não vou dar.
- Então um auto-rádio daqueles com tudo?
- Isso já pode ser. Vamos à Worten. Tenho cartão.
- De financiamento?
- Não. Não compro nada a prestações. Pago a pronto. O dinheiro das prestações, fica para outra coisa.
- Para mim?
- Apre! Só pensas em ti. E por que não para mim?
- Tu é que sabes. Não te zangues. Ainda faltam 19 dias para eu fazer anos. Até lá ainda posso morrer.
- E não pensas uma coisa mais positiva?
- Queres vir almoçar comigo?
- Então amanhã não é o nosso dia aqui?
- É, mas podias querer vir almoçar comigo.
- Para estar só uma hora contigo? 
- Não posso mais. Amanhã estou contigo o dia todo.
- Então fica combinado, certo?
- Sim, mas não vais ao msn?
- Não sei. Depende do trabalho do meu marido.
- " Do meu marido". Não podes dizer isso de outra maneira?
- Não. Ele é meu marido e será até que a morte nos separe.
- Que coisa mais foleira. Já pareces o padre.
- Sim e tu tens muita experiência disso.
- Não tenho, mas já assisti a casamentos, né?
- Pois.
- Bem vou para a linha de Cascais. E vem aí o chefe. Beijos.
- Beijos e até logo depois das cinco. ( Mas ele já tinha desligado).

17h19m23s

- Estou sim, faz favor?
- Então já casastes?
- Desculpa?
- De manhã estavas a casar com ele.
- Já me casei em 1977. Estava só a dizer que seria casada até que a morte leve um de nós.
- Olha mudamos de conversa. Já fizestes o programa para amanhã?
- Já. Está tudo programado. Assim tu venhas.
- Pois dúvidas nisso?
- Não.
- Vais buscar-me à estação?
- Claro. Não vou sempre?!
- Sim. Nunca te atrasas. Tal é a fominha.
- Não comeces. Estás sozinho?
- Sim. Com quem querias que estivesse?
- Sei lá. Um colega...
- Não. Na intimidade, gosto de ser só eu.
- Que gracinha!
- E a prenda de anos é a que falámos?
- O auto-rádio, certo?
- Pois. Já que não me pagas o para-pente, pode ser o auto-rádio, mas sou eu que o escolho...
- Pois. Ele é para ti.
- Tens dinheiro para isso?
- Que pergunta. Claro que tenho. ( Não tinha, mas já tinha pedido o empréstimo à Credial.)
- Estou cansado. Vou pa casa. Vais ao msn?
- Não sei. Depende.
- Eu espero. Beijocas grandes, gordas e onde e como quiseres.
- Beijinhos e até logo, se eu puder.

Não pude. O meu marido esteve todo o serão no computador.



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