quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Para-Pente

Segunda, 28 de Fevereiro de 2005

Mais uma conversa tida com o Pedro. Sempre me preocupei em escrever fielmente o que se passava entre nós dois. Recorria ao meu diário a escrever as conversas que tínhamos. Era para a posteridade, como costumávamos dizer.
Também escrevi um livro, mas as personagens são diferentes. Eu não sou psicóloga e ele não trabalha na REFER. 
Mais uma vez estou aqui para relatar o que se passou neste dia.
Já me habituara ao toque do telefone logo pela manhã. Também me habituara a ver as horas para ser fidedigna ao meu diário que me acompanhava sempre.
08h49m37s

- Estou sim, por favor? ( Eu já sabia que era o Pedro, mas nunca tinha certeza. Tinha que ter a máxima cautela. Poderia ser o meu marido ou a minha irmã. )
- Sou eu, Amor mio. A esta hora já sabes que sou eu.
- Nem sempre. Pode ser o meu marido ou a minha irmã para me falar da minha mãe.
- Mas o teu marido telefona  assim tanta vez? Nunca me tinhas dito isso. 
- Nunca veio à conversa. Tenho que ter muito cuidado.
- Então dormiste bem? Eu dormi a pensar em ti. A pensar no nosso passeio de Sábado? Gostastes?
- Gostei muito.
- Tenho pena de não ter andado de para-pente. Um dia hei de experimentar.
- Acho isso um absurdo. Pode acontecer uma desgraça e eu não te quero perder. 
- A sério? Mas nunca me perderás. Juro. Um dia ainda deixo a minha Maria para vivermos só nos dois.
- Outra vez essa conversa? Sabes que nunca vai acontecer.
- Porquê? Eu quero estar sempre contigo e vamos ser felizes para sempre.
- Assim também somos, não achas?
- Não. Não gosto de te repartir com outro. Isso deixa-me louco.
- Mas tu não me repartes com ninguém. Sabes disso.
- Mas dormem na mesma cama.
- Eu deveria ter mais ciúmes. Tu fazes vida com a tua mulher. Eu não faço vida com o meu marido.
- Um dia acordas e ele está-te a fazer carícias.
- Não penses nisso. Somos muito amigos. Só isso.
- Ainda falando no para-pente. Gostava de experimentar. Deve ser uma sensação fora do normal. Pagas-me uma viagem de batismo?
- Já te disse que não te quero perder. Não contes com isso.
- Gostava mesmo. Tu pagas e eu só digo depois de ter ido e envio-te uma fotos.
- Se queres, vais com o teu dinheiro. Não quero contribuir para uma desgraça.
- És mesmo mazinha!
- Não sou nada. Apenas quero o teu bem-estar.
- Bem, já que não me pagas a viagem, vou trabalhar.
- Acho bem. É para isso que te pagam.
- Sabes para onde vou hoje?
- Não. Ainda não disseste.
- Vou para Casa Branca.
- Isso fica no Alentejo.
- Sim, fica. Posso telefonar se tiver possibilidades?
- Só depois das cinco.
_ Beijinhos só nossos onde e como quiseres. Hum! Tão bom.
- Beijinhos e até logo.


18h23m12s

< Amor mio cheguei agora ao Oriente e ainda tenho que preencher uns papéis. Já não deu para falarmos. Estava um frio de arrepiar. Tu sabes como é. Logo vais ao msn? Espero por ti pelas, 9h45m. Pode ser? Se não poder, envia mensagem para o telemóvel. Bjs onde e como quiseres. Adoro-te sabia? >

Nesse dia não pude ir ao msn. Enviei mensagem. Também já não me enviou nada de volta.



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