sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Estou na linha de Sintra!

Quarta, 13 de Abril de 2005

Já não sabia o que queria. A minha vida tinha dado um volta de 180 graus. Quando acordava e via a madrugada a entrar pelas frinchas da janela, já não conciliava o sono. Era um sonho que eu não queria ter. O homem com quem saíra e tinha uma relação, tornou-se num sapo e não naquele príncipe que eu idealizara.
O dia vinha de mansinho beijar a minha cama. Mas eu não queria os seus beijos. Abominava-os. Pois eles traziam de volta o que eu não queria viver.
Voltava tudo de novo. Mais um dia, mais uma desventura, mais uma desilusão.
As horas voavam e com elas chegava aquele telefonema que eu não queria atender. Mas com receio de algo pior, acabava por me embrenhar em mais uma aventura.

08h25m10s

- Estou sim, faz favor?
- Agora ficas às escuras. 
- Porquê? Vai faltar a luz?
- Não. Mas é porque não conheces o número.
- Pois, este não conheço. Telefonas de um número qualquer...
- Estou na linha de Sintra. Perto de casa. Estás bem? Sempre vais para Porto Covo no fim de semana?
- Vou. O meu marido já marcou o apartamento.
- Vê se não ficas no nosso apartamento. Eu não quero que partilhes as nossas recordações com ele.
- Não sei. O meu marido é que marcou.
- Amanhã queres vir ter comigo? Estou em Entrecampos e podíamos ir ao L******. Quero-te ter nos meus braços antes que te vás embora.
- Hum ! Tão romântico!?
- Eu sou sempre assim para a mulher que amo. E eu amo-te. Tu sabes.
- Será que sei?
- Sabes. E faço-te feliz. Quero-me casar contigo.
- Vais ficar por aí?
- Mudas de converseta. Vou passar aqui o dia todo.
- E eu vou fazer análises.
- Já tinhas dito. Por isso é que telefonei cedo. Beijokinhas dadas com paixão, amor, ternura e muito carinho.
- Beijinhos e bom dia de trabalho. 

17h11m12s

< Amor já não dá para falar contigo. Vai ao msn. Beijokinhas doces. >

Fui ao msn e falámos. Marcámos encontro para o dia seguinte, já que eu, na sexta, iria passar o fim de semana a Porto Covo. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Estás bem disposta?

Terça, 12 de Abril de 2005

Não consegui dormir de noite. Na minha cabeça martelavam as palavras perniciosas do Pedro. Volteava na cama à espera que o sono chegasse de mansinho e me fizesse esquecer o dia anterior. Mas não aconteceu e levantei-me com os olhos do dia que clareavam o quarto pelas frinchas da janela.
Meu marido revelou que eu tinha que voltar ao médico. Nem dormia nem deixava que ele dormisse. Não respondi. Ele tinha razão, mas eu estava num dilema tão grande que não conseguia refazer uma boa noite de sono.
Tomei banho enquanto ele se vestia. Perguntou-me se eu ia a algum lado. Era estranho estar-me a levantar tão cedo sem ter a minha mãe em casa. Redargui que não ia a lado nenhum, mas que não fazia sentido continuar na cama uma vez que não dormia. Tinha coisas a fazer que me ocupariam o dia.
Deixei a água cair no meu corpo para me sentir viva. Precisava de sentir que eu era eu e que o que tinha acontecido, não passara de um mero pesadelo.
Quando já estava na sala a escrever no meu diário, o telefone tocou. Foi com lentidão que me levantei. Não tinha pressa. Já sabia quem estava do outro lado da linha.

09h10m11s

- Estou sim, faz favor?
- Sabes onde estou? 
- O telefone ainda não tem TV.
- Estou em Entrecampos. O meu colega está de férias e eu vim fazer o trabalho dele.
- Pois. Ontem tinhas dito que ele estava de férias.
- O trabalho é a dobrar. Estás mais bem disposta?
- Porquê? Pareço que quero vomitar? 
- Não é isso, mas ontem foste-te embora assim de repente...
- Eram horas do comboio e como te tinha dito, tinha que vir cedo para casa.
- Já tenho o carro na oficina. Ainda não sei o orçamento.
- Tu é que sabes...
- Não. Sabemos os dois. Eu conto-te tudo. Tu não?
- Também te conto tudo e ando com um problema muito grande, como sabes.
- Ele foi cedo para casa?
- Não. Já chegou bem tarde. Eu estava a dormir. ( Era mentira, mas tinha que fazer com que parecesse credível. )
- Mas não sabes que tipo de jogo?
- Não faço ideia e nem percebo de jogo.
- Já contei ao meu amigo. Ele vai tomar medidas.
- Ok! Talvez o apanhem.
- Era bom para nós passar um tempo no chelindró ( tema que ele utilizou para prisão. ) Assim ficavas senhora da conta e ele não lhe podia tocar... Riu-se com gargalhadas.
- Sabes? Amanhã vai trabalhar para MonT****. Não podes vir.
- Então tinha pedido ao chefe que ia a uma consulta!?
- Terás que dizer que te mudaram a consulta.
- E na quinta podes vir ter comigo?
- Talvez. 
- Eu continuo aqui em Entrecampos. Vamos ao L****. Queres? Eu adorava.
- Sim, eu também.
- Agora vou trabalhar. Tenho os homens à espera. Beijinhos com paixão, amor, doçura, ternura...
- Ena! Tanta coisa.
- É para veres que te amo muito.
. Beijinhos doces.
- Não sei se posso telefonar hoje!
- Envia mensagem.
- Até logo.

Quando desliguei, senti um alívio nunca antes experimentado. Isso dizia que estava sem falar com ele todo o dia. Agora era preciso desligar. Fui ao Centro e à escola para estar com as minhas colegas.
Perto das 17h recebi a seguinte mensagem:

< Amor meu coração voa para junto do teu. AMO-TE e recordo nossos momentos lindos. Bjs Kentes. >

Terminou assim mais um dia de expectativa. 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O gravador!

Segunda, 11 de Abril de 2005

Não foi um dia fácil. Foi num lugar igual à foto que eu e o Pedro nos sentámos naquele dia para experimentar o gravador que tinha comprado. Ideia do Pedro para apanhar o meu marido em flagrante. Mas até chegar a esse momento, eu tenho que relatar o que se passou anteriormente.

Como já vinha sendo hábito, os nossos encontros eram à porta do Centro que dá acesso ao Continente. Foi aí que eu esperei por ele com o coração a transbordar de uma ansiedade nunca antes experienciada por mim.
Por volta das 12h ele desceu as escadas e lá vinha todo gingão e com uma confiança que me deu volta ao estômago. Senti vontade de correr e desaparecer por entre as pessoas que se iam aglomerando na entrada para um almoço merecido. Mas fiquei petrificada qual asno que não quer andar por que está a comer a sua cenoura preferida.
Ele, sem sombra de dúvida, vinha alegre e com uma vivacidade que eu não lhe conhecia.
Cumprimentámo-nos com um beijo que não foi sentido por mim. Também não o foi por ele, mas eu achava que o sentiria pelo prazer  de ser homem, indubitavelmente, sabujo.
Pegou na minha mão e arrastou-me, literalmente, para dentro do Centro. Eu era um espectro que seguia a sua sombra sem haver sol. Subimos as escadas rolantes. Ele falava, mas eu não o ouvia. Pensava na maneira de me livrar da pedincha do dinheiro. Era primordial para mim que ele acreditasse e me deixasse em paz.
Já na área dos restaurantes, fomos pôr-nos na fila para levar uma malga de sopa. Ele disse que não queria um almoço prolongado porque tinha imenso para falar comigo. Eu levei sopa e ele uma taça de salada de fruta. Pouco comi ou nada. Ele dava-me papaia porque sabia que eu gostava imenso.
Depois seguimos para o nosso refúgio " o jardim ", lugar onde pouca gente andava àquela hora. 
Então pediu para que eu falasse primeiro. Senti um rubor no rosto e pensei que a minha máscara iria cair a qualquer momento. 
Falei que o meu marido andava num esquema de jogo. O papel que eu assinara, quando estive doente, fora para levantar dinheiro para pagar a dívida do jogo. Também descobrira que o meu marido tinha negócios ilícitos com a minha cunhada, mas que me tinham faltado pormenores por que eles falavam em código. Era a minha mentira planeada há vários dias. Não ousava olhar para ele com receio que não acreditasse. Porém, disse-me que ambos estávamos com problemas, mas que se nos uníssemos, seria possível sair deste pesadelo. Foi um alívio para mim pensar que ele tinha acreditado na minha mentira tão credível e bem moldada para a altura. Então, começou a falar que tinha um amigo que era da judite ( Nome vulgarizado para Polícia Judiciária ). Eu arregalei os olhos e perguntei, na minha santa ignorância, o que era a "judite". Explicou-me e disse que iria alertar o amigo para averiguar se havia jogo ilegal em A*********. Depois falou, com muita segurança, que era melhor eu comprar um gravador pequeno para ter no bolso e gravar as conversas entre a minha cunhada e o meu marido. Ambos iríamos descodificar logo que eu tivesse apanhado algo. Aqui fiquei um pouco amedrontada. Não se passava nada entre o meu marido e a minha cunhada. Também nunca iriam pegar o meu marido porque ele não jogava. 
Pegou na minha mão e levou-me à Worten. Vimos vários e a escolha caiu num muito pequeno e que cabia num bolso sem ser descoberto e passar despercebido. Comprei-o e fomos para fora do Centro. Sentámo-nos num local igual à foto que postei. Não deitava água e estava um sol convidativo para a converseta, como ele lhe chamou. 
Foi ele que ligou o gravador e o pôs a funcionar. Depois deu-me um beijo muito repenicado que ficou gravado. Ainda tenho essa gravação. Fui dar com ela quando fui para ouvir outra gravação que fiz de uma conversa que tive com ele e que me disse que tinha entrado na minha conta bancária para ver os movimentos registados pelo meu marido. É crime, mas não usei quando fiz queixa. Talvez ainda me sirva para alguma coisa.
Aqui começou a falar da situação em que se encontrava. Estava decidido em mandar arranjar o carro e depois logo se via. Disse-me que eu tinha dinheiro no BES. Fiquei suspensa no ar com esta revelação. Como é que ele sabia disto? Como sabia que eu, ainda, tinha dinheiro? Falou que perguntou e que um amigo o tinha ajudado. " Tens dinheiro e não me venhas com tangas. " Foi o que me respondeu. 
Não havia saída para mim. Mas redargui que nada me levava a crer que lho pudesse emprestar. "Isso é o que vamos ver", respondeu com um ar de vencedor.
Perdi as minhas forças e pensei que ia desmaiar, mas lá me recompus. Levantei-me, abruptamente,  e disse que estava na hora de ir apanhar o comboio.
No regresso chorei todo o caminho.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Desesperado!

Domingo, 10 de Abril de 2005

Hoje postei uma foto diferente. Talvez a menina Florbela a conheça. Bom, mas hoje não venho falar dela. Que dê o ar da sua graça quando lhe apetecer. Mesmo que seja com outro nome... Estou aberta para novas conversações e novos horizontes e, até, a novas mulheres que tenham uma mescla de dor que o Fernando Pedro causou.

Neste dia, fui com o meu marido, almoçar a casa da minha sogra. Lá não tínhamos rede. Por essa razão só obtive as mensagens do Pedro quando regressei a casa. De facto estava zangado. Não pela conversa do dia anterior, mas por eu não responder.

11h20m15s

< Acabei de me levantar. Penso e não sei que fazer. Ajuda-me. Bjs só nossos. >

15h09m10s

< Mas que se passa? Liga a merda do telemóvel. >

16h23m19s

< já não à paxorra ( pachorra, mas ele dava erros  que se fartava ). Estou farto. Qd quiseres aviza. >

20h03m29s

< Podias ter dito. Desculpa. Estou na merda e não sei o q faço. Vai ao msn. Bjs >

Não fui ao msn. Avisei porquê e ele entendeu. Disse-lhe que se acalmasse que na Segunda falávamos. Eu também tinha uma coisa para lhe contar que tinha descoberto. (Mais uma maneira que eu achei para não lhe dar dinheiro. Porém, infrutífera. )

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Falou na ajuda!

Sábado, 9 de Abril de 2005

Uma foto do Ex-Feira Nova, agora Pingo Doce. Era aqui que o Fernando Pedro fazia as compras no Sábado, não esquecendo o Lidl. Parece que a filha mais velha do Pedro trabalha aqui, segundo me disse a tal Florbela Pereira. A tal que me disse que pertencia ao movimento de defesa das mulheres maltratadas e ultrajadas pelos homens como o Pedro. Que é feito de si, menina Florbela? Teve medo do quê? O Fernando Pedro soube quem era? Ou assim que eu lhe disse que se fosse com o caso para a frente que tinha essas mulheres todas que me contou a apoiarem-na? Bem qualquer coisa foi. Pois por último até já enviava mails com protecção. Eu não sou o Pedro e não sei como se vê o IP de um computador.
Assim como o Fernando CM também desapareceu. Tinhas receio do quê, Fernando Pedro? Eu não te faço mal como tu me fizeste. Eu só escrevo o que, realmente, se passou. Tu, pelo contrário, só dizias e escrevias mentiras.

Neste dia recordou-me que fazia 14 dias que tinha tido o acidente e que andava muito baralhado. Tinha sido no dia de Páscoa, mas isso passou-me ao lado. Há outra coisa que me tem feito mal. Não percebo como foi trabalhar na Sexta-Feira Santa. Telefonou-me e tudo, mas ele era um autêntico mentiroso. Agora que falo nisso, na altura, fiquei intrigada. Porém, dei graças a Deus por meu marido ter ido trabalhar para casa da minha sogra, mas não lhe fiz nenhum reparo. Ele apenas apareceu e eu atendi.Eu já sabia com quem estava a lidar, mas o certo é que tenho registado no meu diário isso. Com este biltre, todo o cuidado é pouco. Bem me disse a menina Florbela " Talvez não o conheça tão bem como eu o conheço" . Ela é que tem razão. Há coisas que vou redescobrindo agora que faço uma retrospectiva do que se passou e daquilo que tenho registado desde essa altura. Entretanto, eu descobrira o que ele me queria e tinha engendrado uma maneira de me safar. Só que cai e cai de vez.

10h43m21s

< Meu Amor ando no Feira Nova. É aqui que fica o meu dinheiro. Amanhã faz 15 dias que tive o acidente. Ando baralhado. Só tu me podes safar. Bjs só nossos. >

14h45m12s

< Meu Amor vai ao msn para falarmos um cadinho. Bjs >

Não fui. Não queria falar com ele. Não queria saber como eu é que o safava. Eu já imaginava o que ele me queria, mas eu também já tinha uma desculpa e pareceu-me credível.

18h21m18s

< Tenho estado há tua espera. Aparece sff. >

Eram quase horas do meu marido chegar, mas fui num pulinho e disse que não podia ficar muito tempo. Então falou-me que ia mandar arranjar o carro na oficina onde trabalhava o  namorado da filha mais velha. Perguntou se eu achava bem. Eu respondi que não tinha nada a ver com o caso e ele é que sabia se tinha dinheiro para o mandar arranjar. Disse-me que logo se via e se eu o ajudava, caso precisasse. Respondi que tinha dado dinheiro à minha filha e não sabia o que tinha no BES. Depois disse que andava desconfiada que o meu marido andava metido num esquema de jogo com oficiais conhecidos dele. ( Foi a maneira que arranjei para não lhe dar dinheiro. ) Neste dia já não me enviou mais nada. Pensei que tinha ficado zangado.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Contas bancárias!

Sexta, 8 de Abril de 2005

E afinal estava pronta para outra. Já me encontrava bem. A maleita tinha passado e estava com uma vontade louca de estar com o Pedro. Tinha muito receio. Não sabia o que ele me iria dizer a respeito de eu ser " a sua estabilidade". Já calculava, mas não queria aceitar. Porém, pensei em algo que bem poderia ser verídico e muito constrangedor para mim. A minha defesa estava lançada, mas não resultou, de todo. Neste dia voltou à carga, mas não disse o que queria.
Como sempre, o telefone começou a tocar quando eu me encaminhava para a salle de bain. Ia tomar o meu duche matinal. Recuei e atendi. Eram 09h12m01s.

- Estou sim, por favor?
- Bom dia minha amada.
- Bom dia. Mas que grande entrada...
- Amo-te. Tu sabes disso. E tu também me amas?
- Sim, muito. Porquê?
- A pontos de fazeres o que te pedisse?
- Como assim? O que me queres pedir? Já andas há uns dias nisto. Desembucha..
- Ainda não sei, mas farias qualquer coisa para me ajudares?
- Qualquer coisa, não sei, mas ajudava se me fosse possível. 
- Só queria saber.
- Andas muito enigmático nestes últimos dias. Não gosto disso. Já pareces o meu marido. Ontem pediu-me que assinasse um papel para enviar para a minha filha. ( Lancei o isco. Mordeu, mas não resultou. ) Parece que enquanto estive doente, ela precisou de dinheiro e eu não estava em condições. Foi ele a tratar disso.
- Mas têm contas conjuntas?
- Temos. Qualquer casal tem. Tu não?
- Tenho, mas quem trata de tudo, sou eu. E não tens outra conta? Sozinha?
- Tenho uma no BES, mas tenho pouco dinheiro. É um mealheiro que faço. Porquê? ( Logo no segundo a seguir, senti-me estúpida. Por um lado estava a dizer que o meu marido me tinha pedido que assinasse um papel e no outro estava a dizer que tinha uma conta só minha. Foi mesmo estupidez, mas já estava. )
- Nada... Era só para saber...Como me compraste a prenda de anos...
- Hum! Isso não me soa bem. Que queres, ao certo? A prenda foi da conta do BES.
- Nada. Olha, se já estás melhor, queres vir almoçar comigo hoje?
- Hoje, não, mas Segunda pode ser?
- Então vamos estar juntos. Vens ter ao Centro, como de costume?
- Pode  ser. 
- O dia até me vai correr melhor. Estás bem e vamos estar juntos. Já tenho saudades tuas. Tantas que nem fazes ideia!
- Se forem como as minhas, faço ideia, sim senhor.
- Logo posso telefonar? A tua empregada está aí?
- Sai às cinco da tarde.
- Então, até logo. Beijinhos nesses lábios vermelhinhos. Hum! Tão bom... Até me estou a...
- Vá não digas asneiras. Ainda sou pequenina.
- Vê-se. Tão pequena que anda a sair com um gajo qualquer...
- Não sejas ordinário. Não gosto quando tu tocas na ferida que tenho por fazer isso.
- Pronto, minha linda, já cá não está quem falou.
- Porquê? Foi-se embora?
- Vai agora. Beijokinhas doces.
- Beijinhos

Passei o dia a pensar no que tinha dito. Se calhar não resultaria, mas a tentativa tinha sido boa.
Pelas 17h21m13s o telefone começou a tocar. Só poderia ser ele. Fui atender.

- Estou sim, faz favor?
- A tua voz enlouquece-me. És tão meiga que fico todo arrepiado.
- E lá vens tu com os teus arrepios. Não sei se me convences.
- Claro que convenço. É verdade. Olha, é  pena não poderes passar com a tua mão para veres.
- Ver ou sentir? É uma grande diferença...
- Lá vem a Senhora Professora a fazer-me sentir mal.
- Não digas isso. Não me faças sentir mal a mim, também.
- Então não és Professora!? Serás sempre. Isso ninguém to tira.
- Sim. Estás bem disposto. Deve-se a alguma coisa?
- Não. Ou talvez sim. Tu estás melhor e isso tem muito que se lhe diga.
- Pois, tem. Estou melhor. Estou outra.
- Podes ir ao msn?
- Não. O meu marido vai achar estranho.
- Bem, vou embora. Vais pensar em mim?
- Claro que sim.
- Nem tenho vontade de chegar a casa.
- Mas ela não está a trabalhar?
- Está, mas vem pra casa, né?
- Pois. E ainda bem. Ficavas viúvo. 
- Quem me dera!!!
- Não digas isso. Ela é a mãe das tuas filhas.
- Da Raq****. Já trazia a outra.
- Mas és pai. Não lhe deste o teu nome?
- Dei e gosto muito dela. Foi por ela que eu fiquei com a Z****.
- Tudo tem um princípio.
- Mas agora vamos ter o fim da nossa converseta. Vou embora fazer o jantar.
- Beijinhos e até amanhã. 
- Beijinhos minha doce Cet******. Fica bem...

Neste dia já não nos comunicámos. Mas eu fiquei a pensar na conversa das contas bancárias.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

És a minha estabilidade!

Quinta, 7 de Abril de 2005

Uma foto do coreto de Alvito. Esta foto foi muito bem concebida. Ao fundo vê-se a pousada que fica inserida no Castelo da vila. Tem esmerado serviço. Adorei quando lá estive. Foi na ocasião da feira de Agosto. Não fui lá por ser a terra do Pedro, mas porque quis uma estadia para repousar de um período nefasto da minha vida. Enfim, o mau tempo no canal já passou e hoje respiro de alívio por me ter visto longe deste sociopata e bipolar.
Escrevo, de facto, para muitas mulheres terem acesso e verem quem é quem para não se deixarem manipular por ele.

Seguindo a minha linha e sequência dos factos, aqui me encontro para relatar mais um dia de sobressalto. Um dia em que tive que repensar a minha vida e saber como sair de uma situação que apenas ficou adiada até Maio.
Já me encontrava melhor. A Glorinha só vinha da parte da tarde e eu já me levantava e fazia pouco mais que nada, mas dava para me sentir  útil e positiva.
Ainda estava deitada quando o telefone começou a tocar. Senti um aperto no coração e saltei de susto sem saber o que o Pedro ia dizer neste dia. Era como se do outro lado do fio estivesse o papão. Senti-me qual criança sem amparo e conforto. Atendi com a angústia estampada no meu rosto. Era o cadafalso que eu não queria percorrer. Foram dias de desespero e reflexão. Porém, tinha que cair no conto do vigário.
Olhei o relógio e marcava 08h19m43s. Já estava no meu melhor. Já me preocupava com estes pormenores. 

- Estou sim, faz favor?
- Bem, hoje já gosto de te ouvir...
- Porquê? Não gostavas?
- Da forma como estavas, não. Estava muitooo preocupado contigo. Nem conseguia dormir.
- A sério? Estiveste mesmo preocupado? É que no princípio, não.
- As desculpas não se pedem, evitam-se, mas tenho que te pedir desculpas. Eu estava desesperado e depois faltaste-me tu.
- Temos que falar a sério sobre esse "desespero". Anda-me a atrofiar o não saber o que queres ao certo.
- Quando é que podes vir almoçar comigo?
- Assim que tiver forças suficientes. Acredita que vou ter contigo e quero saber tudo tim-tim por tim-tim".
- E eu vou falar " tim-tim por tim-tim " para esclarecer as coisas. Preciso de ti.
- Isso já eu entendi, mas não sei para quê.
- O importante é que melhores. Isso é bom.
- De facto. Ninguém fica doente porque quer, não?
- Pois! A tua carga é muito grande. A tua mãe onde está?
- Na minha irmã, em Sintra. E vai ficar lá por alguns meses. Entre ela e a da terra, vão ter que ficar com ela até o médico dizer que eu posso.
- Sabes, ando estafado. Ontem fiz o jantar. Ela está a trabalhar de noite e as miúdas não fazem nada.
- Não? Porquê?
- Não sabem. Ela nunca as ensinou. Olha uma via desenhos animados e a mais velha estava no mensager.
- Mas isso é um absurdo! Uma tem quase 16 anos e a outra fez 25. Isso não cabe na cabeça de ninguém. Eu ensinei a minha filha a cozinhar e a limpar a casa. Hoje já não fico preocupada com isso. Ela sabe e quando vou à Alemanha, já faz pratos típicos alemães.
- Isso faz quem tem juízo. a Z**** não tem e não faz uso dele. Fiz carne com migas.
- Um prato alentejano.
- Um dia cozinho só para nós quando nos casarmos.
- Vá, não descambes. Isso é uma utopia. Nunca vai acontecer.
- Não digas " NUNCA ". Um dia estamos a casar. Agora quero mais que nunca casar contigo.
- Mais que nunca? Mas porquê?
- Preciso de ti e só tu me podes dar estabilidade.
- Não, Pedro. Eu não quero casar contigo e não vamos falar mais sobre isso.
- Fico triste, mas não desisto. Não sou homem que desiste sem ter alcançado o que quer.
- Hoje não trabalhas?
- Estás a despachar-me?
- Não. Só quero descansar mais um bocadinho. Pode ser?
- Ok! Eu vou para a linha de Sintra. Já não volto aqui. Se puder, ainda te telefono.
- Bom trabalho. Beijinhos doces de mel.
- Beijinhos onde e como quiseres. Ficava bem deitado contigo. Hum! Que bom...Fica bem.


 A minha cabeça começou a imaginar e a pensar uma forma de não cair nas malhas do Pedro. Era primordial arranjar um plano que fosse viável para a situação. E arranjei. Só que cai e sem pensar, depois, no mês de Maio.
Como já não pôde entrar em contacto comigo, enviou-me a seguinte mensagem no PC. 

18h32m19s

< Meu amor de ontem de hoje e de amanhã já não pode ( deveria escrever-se "pude" e não pode ) falar contigo. O trabalho durou até agora. Tenho saudades de estar contigo. Amo-te muito e nem sei viver sem ti. És para mim a minha Shakti a princesa que faz, parte dos meus sonhos e da minha vida. Sempre serás minha porque eu não te quero perder. Estaremos sempre juntos, e nada nos separará. És a minha estabilidade em todos os aspectos. Contigo sei o que é ser feliz. Até te conhecer eu não sabia o que era viver. Amo-te meu Amorzinho. Hoje vai ao msn para falarmos um cadinho. Beijo-te com loucura amor e ternura. Adoro-te sabias? Se tu quizeres ( deveria escrever-se " quiseres" ) seremos sempre felizes. Eu quero... >

Não fui ao msn. Enviei uma  mensagem, via telemóvel, a dizer que não podia ir e recebi uma de volta.

21h11m10s

< Espero que estejas acordada. Dorme bem. Boa noite. Amo-te mais que tudo. Sinto a tua falta. Beijokas doces. >