quarta-feira, 4 de abril de 2018

Mau Pressentimento!

Quinta, 01 de Setembro de 2005
 
Nada me dá mais irritação do que estar a dormir e ouvir o trim, trim do telefone.
Acordo meio aturdida com o tocar, incómodo, do telefone mesmo ao lado do meu ouvido.
Abro os olhos e, ainda, está escuro. Ao meu lado, a cama está vazia. O meu marido já se foi embora. Olho o relógio digital e é cedo para alguém me telefonar. Mas o telefone continua a tocar acordando tudo o que está à minha volta.
Apanho o auscultador, muito ensonada, e pergunto:
 
 
08h 10m 01s
 
- Estou? ( sem mais preâmbulos )
- Vê-se mesmo que estavas a dormir.
- Claro. Para mim é cedo e para ti também. Não costumas telefonar a esta hora... O que se passa? Caiu o Carmo ou a Trindade?
- Nem uma coisa nem outra. É só para dizer que vou trabalhar para a Casa Branca.
- Ah! Sim, está bem. É todo o dia?
- Não sei. Depende do trabalho.
- Casa Branca? Vais trabalhar para os Estados Unidos?
- Pronto, ainda a dormir... Acorda, porra. És mesmo preguiçosa! Casa Branca, Alentejo.
- Ok! Estava só a brincar...O que é que me chamaste?
" Preguiçosa "! Disse alguma mentira?
- Estás-me a insultar logo pela manhã... Não sou preguiçosa. Faço o que me apetece.
- Hoje não é um bom dia para ti nem para mim. O dia está fosco. Parece que vai chover.
- É por isso que vejo pouca claridade no quarto...
- Às vezes és um bocadinho " Lerda ".
- Desculpa!? Pára de me insultar, senão...
- Senão o quê? Desligas o telefone? Experimenta fazer isso e vê o que acontece.
- Estás a ameaçar-me? Mas hoje tiraste o dia para me atormentares logo de manhã? Tem dó...
- Acordei com um mau pressentimento.
- E eu que pague as consequências disso...
- Vá, não te chateies. Se puder, ligo de lá. Agora tenho de ir. Beijokinhas que não demos ontem.
- Pois! Mas magoaste-me, sabias?
- Até logo e dorme mais um pouco.
- Agora já não... Vou-me levantar.
- Ok! Até logo...
- Até logo. Beijinhos...
 
 
Fico tão melindrada que choro copiosamente. " Às vezes é tão amoroso e outras tão mau. Parece que não tem meios termos " . Penso eu para os meus botões.
Levanto-me e faço o habitual. Já se tornara uma rutina e eu não gosto de rutinas. Mas faço tudo  como uma autómata.
 
11h 45m 54s
 
< Eu disse k tinha um mau pressentimento... Telefonaram-me agora para ir amanhã às finanças de  Sintra. Bjs doces.>
 
Pergunto o que quer isso dizer...
 
12h 00m59s
 
< É, deve ser daquilo que tenho falado contigo por causa da minha irmã e do meu cunhado. Depois falamos. Bjs. >
 
Não augúrio nada de bom. Deve sobrar p´ra mim.
 
A Glorinha chega mais cedo e estou um pouco triste. Falamos e ela quer animar-me. Conta-me uma anedota e eu riu. Apanha nas coisas e vai para cima. Eu vou almoçar, mas sem apetite nenhum.
 
Durante a tarde não tenho mais nada do Fernando Pedro. Fico em desespero
 
19h 38m 09s
 
<  Estou a chegar. Vou jantar tomar, banho e vai ao MSN para falarmos. Bjs >
 
21h 12m 18s
 
< Estou no MSN. >
 
Vou ao MSN e falamos do dinheiro e de todas ou nenhumas hipóteses que tem em pagar a dívida. Fico sem saber o que pensar...
 
 
 

terça-feira, 3 de abril de 2018

Não sei o que ele quer de mim!


À noite não consigo dormir. Mexo-me e remexo-me na cama. O cansaço domina, mas a inquietação não é mais pequena. Não sei o que ele quer ou, por outra, sei o que ele quer, mas não tenho meios para lho dar. De facto que tenho dinheiro, mas está em conjunto com o meu marido. Não posso levantar sem que ele se aperceba. É muita " grana ".
O sono acaba por vencer a batalha que travo dentro de mim. Adormeço, finalmente, mas não um sono tranquilo.
 
 
Quarta, 31 de Agosto de 2005
 
 
Já o sol entra pelas frinchas da janela quando abro os olhos e saúdo o dia com uma espreguiçadela. Estendo-me e deslizo pela cama abaixo como seda e a pura nitidez de ter um dia daqueles, muito complicado pela frente. Desvio o meu pensamento e vejo o meu marido, já vestido, a observar-me. Sorrio sem saber porquê e estendo os braços que o envolvem numa carícia. Quero que assim permaneçamos durante muito tempo. Porém, não pode ser como eu quero, mas como a vida já o proporcionou.
Beijamo-nos com muito carinho e deduzo que ele está meio perdido sem saber se deve ficar ou ir embora.
Rimos a bandeiras despregadas. Afinal não é assim tão mau acordar para um dia que não sei como se vai passar, mas que naquele momento é tão prazeroso que não o quero perder.
Enfim, só.
Levanto-me e venho tomar o pequeno-almoço. Ouço o carro afastar-se e fico deprimida.
 
 
08h 45m 29s
 
 
< Meu AMOR bom dia afinal vem a ter a Entrecampos estou aqui, a trabalhar. Pelas 11h estou no, sítio do costume. Beijokinhas de sonho que darei a seguir. >
 
 
Já na estação recebo outra mensagem:
 
 
10h 08m 18s
 
 
< Estás na estação. Estou a  ver-te. Até posso dizer a roupa que trazes. Beijokinhas. >
 
 
Fico apreensiva e  olho em todas as direções. Não era a primeira vez que me vinha esperar. Tantas outras vezes que me fizera essa surpresa que eu já não consigo dizer se é real.
 
Mas nada. Ele não está por ali. Apanho o comboio e não reparo nos homens que trabalham do outro lado da linha.
 
Chego à estação bem pertinho das 11h.
 
Desço e fico à porta que dá para a Feira Popular. Não espero muito. Nem sei de onde vem por que é tão rápido que me dá um susto enorme. Abraçamo-nos, beijamo-nos e começamos a andar em direção da Feira. Ele fala da mensagem e diz que foram os colegas que estavam a trabalhar na estação que o avisaram.
Fico a saber que ando a ser controlada, mas não dou importância. Riu e não retruco.
 
O caminho é o da pensão. Nem sei que diga. Não, não digo nada e deixo-me levar.
 
Por volta das 14h, vamos almoçar à Feira Popular. Eu como pescada de escabeche com salada e ele come um bife com tudo.
 
Não se fala do dinheiro e trata-me como se eu fosse a sua única esperança de vida. Pago e encaminhamo-nos para a estação.
Já na estação diz-me que foi chamado para fazer a operação ao nariz, no Hospital Amadora-Sintra. Fico aflita e pergunto se posso fazer alguma coisa. A rir diz que será mais tarde que o posso ajudar. Eu penso que seja sobre a operação, mas não se trata disso.
 
Despedimo-nos. O comboio arranca e ele põe a mão no vidro. Coloco a minha sobreposta à sua e vejo-o a sumir-se.
 
21h56m30s
 
< Depois de um dia tão bom vou, dormir com a certeza de te AMAR cada dia mais. AMO-TE sabia. Bjs loucos. Dorme bem. >
 
Também lhe dou as boas noites e fico sem saber o que ele quer de mim...
 
 


quinta-feira, 29 de março de 2018

Outra Vez o Fisco!



Lamego é uma cidade muito bonita. Já subi estas escadas todas para a Senhora dos Remédios. Na Semana Santa tem um historial muito emotivo, com valor religioso e um bem estar que sentimos no Santuário.
 
 
Terça, 30 de Agosto de 2005
 
 
A sério que não sei qual o problema do Pedro. Acredito, acerrimamente, que seja a dívida ao fisco. Porém, pontos de interrogação...
 
 
Estou eu nestas conjeturas quando o telefone toca estridentemente. Assusto-me   e dou um pulo na cama como se fosse uma boneca de molas. Refaço-me e respiro tranquilamente. Atendo...
 
 
08h36m51s
 
 
< - Por favor?
- Como foi a noite do meu AMOR? ( bem acentuado ).
- Nem boa nem má. Não dei por ela passar!!!
- Então dormiste bem, certo? Eu não. Ando aqui com problemas e nem sei como resolvê-los.
- São assim tão difíceis? És tão inteligente e não sabes resolver esses problemas? Podem ser contas de multiplicar, dividir, somar ou diminuir...
- Gracinha! Estes têm contas mais complicadas. Podem ser de polícia, prisão e descrédito.
- Faz uma equação.
- Estou a falar a sério.
- Certo! Não me digas que ainda é a dívida ao fisco? Não resolveste já isso?
- E como? Sabes que não tenho dinheiro...Vou parar às Mónicas.
- Para aí não vais com certeza. Vais para a de Sintra. Ficas mais perto de casa.
- És capaz de falar a sério? Estou numa enrascada feita pela minha irmã e o meu cunhado. Não tenho saída.
- E não querias falar nisso pelo telefone... Porquê hoje?
- O cerco aperta e eu estou sem tempo. Podes vir ter comigo e almoçar? Tiro a tarde para ficar contigo.
- Pedro já te disse que estou nas limpezas grandes...
- Mas eu preciso desabafar. Não tenho ninguém. Com ela não posso e diz que não me pode ajudar.
- E eu posso?
- Tu é que sabes. Gastas tanto dinheiro nisto e naquilo...
- Ei, Pedro. Gasto onde faz falta, mas com o conhecimento do meu marido.
- Não podes vir ? E quando podes?
- Amanhã posso.
- Então eu tiro a tarde para passarmos juntos. Estou melhor. Desabafei e pronto.
- Às vezes faz falta.
- Bem, vou trabalhar. Sabes que te amo?
- Penso que sim...
- É verdade e tenho mostrado isso.
- Olha, ainda ontem estavas muito zangado...
- Muito, não. Estava aborrecido.
- Está bem, eu acredito. Vai lá trabalhar porque a Glorinha está a chegar.
- Beijinhos. Hum, nessa boquinha de sonho. Só de pensar nisso...
- Cuidado que alguém pode ouvir-te.
- Vá, beijinhos grandes.
- Beijinhos doces.
 
O telefone é desligado e eu fico a pensar que ele deve estar mesmo doido. 12.500€ é muito dinheiro. Eu não posso arranjar tanto dinheiro...
 
12h10m20s
 
< Estou a almoçar sozinho não, tenho fome e estou mesmo infeliz a pensar em, ti longe e a trabalhar. Bjs loucos. >
 
Eu estava a almoçar com a Glorinha e não pude responder.
 
Depois respondo quando ela vai para a sala.
 
Acabamos o trabalho pelas 17h. A Glorinha arruma as coisas e eu vou fazer o lanche.
 
18h20m57s
 
< Estou a chegar a casa. Ela trabalha até tarde. Vai ao MSN mais logo. Bjs de mel. >
 
21h09m11s
 
< Estou no MSN. Bjs grandes. >
 
 
Fui ao MSN e falamos em tudo menos no dinheiro e no fisco.
 
Vou-me deitar e estou muito cansada...


quarta-feira, 28 de março de 2018

Boa Páscoa!

Aproxima-se a Semana Santa. Venho, por este meio, desejar uma feliz Páscoa a todos os meus leitores e leitoras. Há quatro anos estava em Braga com o meu marido. Adoro assistir à Semana Santa na Cidade dos Arcebispos. Mas,também venho escrever algumas coisas sobre o problema que eu criei por me ter apaixonado pelo Fernando Pedro.
 
Segunda,29 de Agosto de 2005
 
Eu sei que a manhã começa cedo. Acordo com os primeiros raios da aurora. Olho em redor e o meu marido ainda se encontra deitado. Dorme tranquilamente e eu penso no Pedro.
O tempo passa e o meu marido abre os olhos e vê-me acordada com grandes olheiras. A sua preocupação é visível. Sabe,à partida, que eu não dormi bem. Não faço grande alarido à volta disso. Respiro fundo e digo que vou dormir. Beija-me e diz que já não  me  vai dizer nada, quando sair, para eu descansar um pouco mais. Mas, pelo cansaço acumulado,fecho os olhos e apago.
Ouço, ao longe, um trim trim vindo de muito longe. Não sei onde estou e fico zonza. Sinto-me mal e com uma vontade louca de vomitar. Engulo em seco e atendo o telefone.
 
< - Estou, por favor? - Olho o relógio e marca 08h34m56s
Logo a voz do Pedro ribomba nos meus ouvidos como um trovão.
- Quando é que  te acostumas a saber que, a esta hora, só posso ser eu?
Fico atónita e respondo:- Nem sempre. Recorda que tenho filha e marido e  que podem ser eles!
- Eles o tanas. O teu marido não se preocupa contigo e a tua filha só telefona à noite.
- Nem sempre. E eu sou casada, tenho filha e tenho família. Até pode ser alguma coisa da minha mãe. Tens  que parar para pensar e não seres tão cáustico logo pela manhã.
- Desculpa, vai. Às vezes também tenho problemas.
- E que género de problemas, posso saber?
- Ontem não fostes ao MSN. Porquê? Estive à tua espera.
- Sabes que nem sempre estou disponível, né?
- Pois. Hoje vens ter comigo?
-  Hoje não dá. A Glorinha anda a fazer uma limpeza grande e tenho que segurar o escadote.
- Ela não está no seguro?
- Está e já te tinha dito, mas eu tenho que prevenir.
- Já sei que vou almoçar sozinho e tenho uma coisa para te pedir.
- E não podes pedir por telefone?
- Não. É complicado.
- Essa coisa pode  esperar?
- Depende do ponto de vista...
- Mas é urgente?
- Vá, deixa pra lá. Depois falamos. Agora vou trabalhar. Beijinhos e inté.( Era assim o seu despedir. Agora utiliza o " Fica bem ".
- Beijinho grande e até logo.
 
Fico de pulga atrás da orelha. Será que ainda são os 12.500€?
 
Levanto-me dum salto. A Glorinha abre a porta e eu visto-me à pressa.
O dia passa com muito trabalho. Almoçamos as duas e também lanchamos. Do Pedro nem sinal. Ficaria zangado? " Penso eu ".
 
18h09m21s
 
< Amor foi um dia complicado. Beijinho e vê se vais ao MSN. >
 
A mensagem é breve, mas a minha também é. Digo que estou muito cansada e que me deito cedo.
 
21h34m53s
 
< Dorme bem meu AMOR e sonha comigo. AMO-TE sabias? Beijokinhas de mel.>
 
E assim termina  o meu dia...
 
 
 

terça-feira, 27 de março de 2018

A minha Pergunta




 
 
À noite, vou-me deitar, com uma pergunta por responder. Eu sabia que a Sogra do Pedro só ia a casa dele nos Domingos, segundo me confidenciou um dia. Por que razão,desta vez, haveria de ir Sábado? Voltei, outra vez a ler as mensagens que me havia enviado e lá estava, a sogra XPTO estava lá em casa e ele ia fazer o almoço. Fiquei intrigada e muito aborrecida, cheia de tristeza porque ele me estava a enganar como tantas outras vezes.
 
Fico a magicar naquilo e em não me ter dado as boas noites como era hábito!
 
Mas acabo por adormecer de cansaço.
 
Domingo, 2 de Agosto de 2005
 
No Domingo acordo cedo. Está muito calor e uma neblina que nos deixa sem respiração. Fico na marquise, na cadeira de baloiço, a remoer toda aquela confusão.
Meu marido chega e pergunta se dormi alguma coisa. Respondo que sim, mas que acordei cedo.
Ele faz o pequeno-almoço para ambos e sentamo-nos a saborear a iguaria. Não me importo com as horas. Até deixei o telemóvel, lá em cima, para não me chatear.
Estamos numa de Domingo de paz.
Falamos na nossa visita, em Setembro, a nossa filha. Fazemos projetos e delineamos algumas coisas que gostaríamos de fazer na Alemanha. O meu marido vai buscar o mapa e vemos as cidades que iremos visitar. Fico  empolgada com a viagem e vejo que já nem falta um mês.
Levanto-me, desengonçadamente, e digo que vou tomar banho.
No quarto procuro o telemóvel. Tem duas mensagens do Pedro.
 
09h20m19s
 
< Bom dia meu AMOR fiquei triste pq ontem, não me destes as boas noites. Aconteceu alguma coisa que eu deva saber? AMO-TE e tu sabes disso preciso, saber se está tudo bem contigo. Beijokinhas doces para o teu pequeno-almoço. >
 
10h00m45s
 
< Meu querido AMOR afinal o que se passa? ainda não me respondestes e, eu estou, a ficar nervoso. Diz-me ok? Beijos só nossos.>
 
Eu respondo e pergunto se a sogra vai lá almoçar ...
 
 
10h15m20s
 
< Meu AMOR tu sabes que sim é dia deles virem vou, fazer o almoço e quero falar com ela para ver se vêm menos vezes. Tb quero ir à praia com a Clá****. Bjos Grandes. >
 
Fico possessa. Ele, ontem, mentiu-me. Porquê?
Vou tomar banho e fica a água a correr, em catadupa, por cima de mim para me acalmar.
 
Vou para a mesa e não tenho vontade de comer. Fico tensa e nervosa. Meu marido, que já me conhece tão bem, pergunta o que tenho. Respondo que são saudades da minha filha. Também é, mas há outra coisa a preocupar-me.
Tudo corre na normalidade. Nada de mensagens e muito silêncio. Meu marido vai a casa da minha sogra e eu fico só.
Choro e penso que ele me mente descaradamente. Vejo um filme e embrenho-me no enredo. Não dou pelas horas passarem.
 
19h56m09s
 
 
< Meu Amor muito querido vais ao MSN ? Eu vou agora e despacha-te. Bjs. >
 
" Não sou nenhum pau mandado ", penso eu. E não me mexo. Continuo a ver o filme.
 
21h13m02s
 
< Estou no MSN vens se, não vieres vou-me, deitar. Bjs e dorme bem.
 
Não vou. envio uma mensagem a desejar boa noite e desligo o telemóvel...
 
 


segunda-feira, 26 de março de 2018

O meu dia na Figueirinha

 
 
Peço desculpa pela semana inteira que fiquei sem dar notícias. Estive sem net e, na minha rua, ninguém teve  durante a semana. Voltou hoje pelas 13h completamente.
Hoje vou falar de mais um dia em que a minha vida estava ligada ao Fernando Pedro. Não pela parte dele, mas pela minha. Tudo rodava à sua volta e a minha vida ficava para trás, eu inclusive. Apenas pensava nele e só nele, se bem que já estivesse com um pé atrás por causa do dinheiro ao fisco. Porém, ele fazia-me pensar o contrário. E quem não pensaria? A maneira como ele  me travava, o carinho, o olhar, os beijos, as suas mãos pequenas e sapudas, mas que eu achava as mãos mais lindas que já tinha visto. Elas sabiam acariciar...
 
Sábado, 27 de Agosto de 2005
 
Neste Sábado, um pouco nublado, vou, com o meu marido, para a praia da Figueirinha. Está abafado. Vamos logo de manhã por causa da bicha na Ponte 25 de Abril.
Não digo nada em todo o caminho. Finjo dormitar, mas não durmo coisa nenhuma. O meu pensamento está com  aquele biltre que me está a estragar a minha vida. Eu sei isso, mas afasto essa possibilidade. Revejo os melhores momentos da nossa vida, dos seus carinhos, carícias, beijos e um amontoado de coisas lindas que ele me fazia.
Quando chegámos, o meu marido, chama-me, com muita doçura, a pensar que eu estou a dormir.
Abro os olhos que ficam ofuscados pela luz do sol. Digo muito rápido: - Olha o tempo lindo que faz aqui! Mesmo muito admirada.
O meu marido ajuda-me a sair do carro. Eu saio ainda inebriada com os meus pensamentos, mas depressa disfarço.
Pego no saco da praia e retiro o meu telemóvel para ver as horas. Tenho uma mensagem e logo referencio o Pedro nela. Abro a toda a brisa para a ler com os olhos a lacrimejar. O meu marido vai à frente e eu leio com sofreguidão.
 
09h34m21s
 
< - Meu Amor adorado ainda ontem estivemos juntos e já tenho saudades tuas, são as saudades que me matam e a ti o que é?
Onde estás? Ainda na cama? ou já a tomar o pequeno almoço? diz-me tudo eu estou ancioso. Beijinhos loucos doces de mel. AMO-TE, sabias? >
 
Começo a rir. Ele não sabe onde eu estou. É bom que ele não saiba muita coisa da minha vida e nem lhe vou dizer.
 
Respondo evasivamente e digo que estou ensonada, que vou tomar banho e depois o pequeno-almoço.
 
E vou mesmo. Vamos a um restaurante pequeno ali ao lado.
Falamos algumas banalidades, pagamos e vamos para a praia.
O sol queima-me a pele e a areia faz-me confusão. Apanho um livro e leio. O meu marido vai correr pela praia fazer o seu cross, como habitual.
O tempo passa rápido, pois quando estou a ler, abstraio-me completamente.
Olho para o telemóvel e são 12h45m10s. Em redor há muita gente, ainda, e do meu marido nem sei onde está. Fico apavorada e os meus olhos percorrem a praia para ver se o vejo. Realmente os meus olhos vislumbram a sua silhueta. Está dentro de água a olhar o infinito. Chamo-o e ele olha para trás e faz-me sinal que já vem.
Chega cansado e estende-se ao sol para se secar. Eu reclamo por que são horas do almoço. Ele responde que ainda é cedo e fica-se estendido na toalha.
Sento-me e oiço o chegar de uma mensagem. Não vou logo ver para não dar nas vistas, mas fico alerta. Disfarçadamente, vejo a mensagem. Era do Pedro.
 
13h01m45s
 
< Meu AMOR minha vida hoje tenho cá a mãe dela e o padrasto, eu fiz o almoço, ela anda a pôr a mesa, a mãe é toda XPTO e eu não gosto deles.
Onde estás? Já fizestes o teu? ADORO-TE sabias? Beijokinhas só nossas. >
 
Respondo que ainda não almocei, mas que tenho o almoço à minha espera. Digo-lhe para não ser assim  com a mãe da mulher. Ele tem que a respeitar como a mulher respeita a mãe dele. Despeço-me com beijinhos e um até logo. Mas esse " até logo " não chega. Ele já não fala comigo neste dia.
Penso que ficou zangado por eu ter dito aquilo.
Depois de um dia tão bom, fico triste quando chega a noite...

segunda-feira, 19 de março de 2018

 
Na vida tudo muda num enésimo de segundo.
Isso é uma prova de que estamos no cosmos.
Em Julho de 2017 tive que mudar a minha vida radicalmente.
A minha irmã mais velha teve um AVS e ficou incapacitada não podendo fazer uma vida normal.
Aqui entro eu para a auxiliar a ter uma vida o mais possível dentro dos padrões da habitabilidade.
 
Depois destes meses todos, volto com a certeza de dever cumprido. Não está bem, mas muito recuperada.
 
Foi com alegria que vi que sentiram a minha falta, mas descansem, tudo vai normalizar. Volto a escrever o que o Pedro pensa que acabou ali por me cansar ou por já não ter mais nada que dizer.
Há muito para escrever. Tantos anos não se podem apagar de um momento para o outro.
 
Hoje só faço a minha nova apresentação. Quem me conhece, sabe que não ficarei calada perante tanto sofrimento que me foi imputado.
Vou continuar o relato daquilo que se passou entre mim e o biltre e psicopata do Fernando Pedro Cachaço Marques.
 
Ele continua por aí fazendo as mesmíssimas coisas que fez comigo e com tantas outras mulheres...