terça-feira, 3 de abril de 2018

Não sei o que ele quer de mim!


À noite não consigo dormir. Mexo-me e remexo-me na cama. O cansaço domina, mas a inquietação não é mais pequena. Não sei o que ele quer ou, por outra, sei o que ele quer, mas não tenho meios para lho dar. De facto que tenho dinheiro, mas está em conjunto com o meu marido. Não posso levantar sem que ele se aperceba. É muita " grana ".
O sono acaba por vencer a batalha que travo dentro de mim. Adormeço, finalmente, mas não um sono tranquilo.
 
 
Quarta, 31 de Agosto de 2005
 
 
Já o sol entra pelas frinchas da janela quando abro os olhos e saúdo o dia com uma espreguiçadela. Estendo-me e deslizo pela cama abaixo como seda e a pura nitidez de ter um dia daqueles, muito complicado pela frente. Desvio o meu pensamento e vejo o meu marido, já vestido, a observar-me. Sorrio sem saber porquê e estendo os braços que o envolvem numa carícia. Quero que assim permaneçamos durante muito tempo. Porém, não pode ser como eu quero, mas como a vida já o proporcionou.
Beijamo-nos com muito carinho e deduzo que ele está meio perdido sem saber se deve ficar ou ir embora.
Rimos a bandeiras despregadas. Afinal não é assim tão mau acordar para um dia que não sei como se vai passar, mas que naquele momento é tão prazeroso que não o quero perder.
Enfim, só.
Levanto-me e venho tomar o pequeno-almoço. Ouço o carro afastar-se e fico deprimida.
 
 
08h 45m 29s
 
 
< Meu AMOR bom dia afinal vem a ter a Entrecampos estou aqui, a trabalhar. Pelas 11h estou no, sítio do costume. Beijokinhas de sonho que darei a seguir. >
 
 
Já na estação recebo outra mensagem:
 
 
10h 08m 18s
 
 
< Estás na estação. Estou a  ver-te. Até posso dizer a roupa que trazes. Beijokinhas. >
 
 
Fico apreensiva e  olho em todas as direções. Não era a primeira vez que me vinha esperar. Tantas outras vezes que me fizera essa surpresa que eu já não consigo dizer se é real.
 
Mas nada. Ele não está por ali. Apanho o comboio e não reparo nos homens que trabalham do outro lado da linha.
 
Chego à estação bem pertinho das 11h.
 
Desço e fico à porta que dá para a Feira Popular. Não espero muito. Nem sei de onde vem por que é tão rápido que me dá um susto enorme. Abraçamo-nos, beijamo-nos e começamos a andar em direção da Feira. Ele fala da mensagem e diz que foram os colegas que estavam a trabalhar na estação que o avisaram.
Fico a saber que ando a ser controlada, mas não dou importância. Riu e não retruco.
 
O caminho é o da pensão. Nem sei que diga. Não, não digo nada e deixo-me levar.
 
Por volta das 14h, vamos almoçar à Feira Popular. Eu como pescada de escabeche com salada e ele come um bife com tudo.
 
Não se fala do dinheiro e trata-me como se eu fosse a sua única esperança de vida. Pago e encaminhamo-nos para a estação.
Já na estação diz-me que foi chamado para fazer a operação ao nariz, no Hospital Amadora-Sintra. Fico aflita e pergunto se posso fazer alguma coisa. A rir diz que será mais tarde que o posso ajudar. Eu penso que seja sobre a operação, mas não se trata disso.
 
Despedimo-nos. O comboio arranca e ele põe a mão no vidro. Coloco a minha sobreposta à sua e vejo-o a sumir-se.
 
21h56m30s
 
< Depois de um dia tão bom vou, dormir com a certeza de te AMAR cada dia mais. AMO-TE sabia. Bjs loucos. Dorme bem. >
 
Também lhe dou as boas noites e fico sem saber o que ele quer de mim...
 
 


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