domingo, 11 de dezembro de 2016

Ameaça e amor!

 
Mais uma foto dos Açores. Lindas ilhas, lindas paisagens! Recomendo a visita.




Terça, 28 de Junho de 2005

Uma terça-feira cheia de mensagens.
Mas há um telefonema pela manhã. Estou ainda sonolenta quando o telefone começa a tocar estridentemente. Fico assustada e começo a tremer, com receio, sem saber o que se passa para lá deste. Quem será? Perguntei aos meus botões... Não me recordo do Pedro. Tenho momentos escassos, que fico amnésica em relação a ele. Mas acordo, repentinamente, para a realidade. O Pedro, penso desesperadamente. É ele. Sim. Só pode...
Apanho o auscultador e pergunto:

- Sim, se faz favor?
- Bom dia, amor meu. Dormiu bem? Eu não. Pensei muito em ti. Nunca mais ficamos juntos...
- E nunca iremos ficar. Mete isto na tua cabeça. Nem tu queres nem eu. Nunca irá acontecer. Eu, por mim, não quero e tu, por ti, não pensas nisso. São palavras ditas da boca para fora.
- Já estivestes a falar melhor! Queres vir ter comigo pra almoçar?
- Já te disse ontem que hoje não posso e até ficou combinado que virias tu amanhã ter comigo... Recordas-te?
- Ah! Já me lembro. Então amanhã estou por aí. Que bom. Vamos estar juntos... Fico aguado só de pensar. Até já estou a sentir o...
- ( Cortei imediatamente.  Já sabia o que iria sair ) Calma e não digas asneiras.
- Se calhar não gostas de ouvir, né? Se não gostasses não tinhas pulado a cerca. Até os bichinhos gostam...
- Vamos mudar de assunto. Falamos isso pessoalmente.
- Hum! Que pudica que estás hoje.
- Estás a falar muito bem. " Pudica " é palavra cara. De vez em quando dizes umas coisas boas...
- Eu  sei falar. Quando vim para a refer embrulhei a psicóloga. Olha mandou-me logo embora. E fiquei apurado e aqui estou eu. Estudei de noite, mas aproveitei. Ela não. A vida boa é só pra alguns.
- A vida é feita de etapas e pequenas vitórias. Já conquistaste algumas.
- E vou conquistar. Não se metam comigo que ficam mal na fotografia.
- Eu fiquei mal? Mas não fui eu que me meti contigo.
- Mas aceitastes. É a mesma coisa.
- Isso é uma ameaça?
- Não. Eu nuca te faço mal. Amo-te muito, lembras-te?
- Sim. Tem-lo dito muitas vezes, mas até ser verdade, ponho as minhas dúvidas.
- Que mau feitio. És sempre assim?
- Nem sempre. Só quando me pisam os calos.
- Tens alguém aí contigo?
- Porquê? ( pergunto intrigada. )
- Estás a dizer que te pisam os calos!
- Tu sabes o que eu quero dizer. Lá esperto, e muito, és tu. Embrulhas  qualquer pessoa com a tua palheta.
- Não é bem assim. Só quem se mete comigo. A nossa converseta já vai longa. Tenho que ir fazer qualquer coisa ao homenzinho.
- Quantas despedidas destas fazes? Eu já lhe perdi a conta. Mas pronto, vai lá trabalhar. Eu vou-me levantar e tomar banho.
- Ainda estás deitada? Olha que levantar cedo, dá saúde. Eu já estou levantado desde as seis da manhã.
- Isso és tu que tens que trabalhar. Eu já trabalhei muitos anos e agora tenho que gozar a minha reforma.
- Velha! Já a gozar a reforma! Não tens vergonha?
- Que vergonha? Eu já trabalhei o tempo que me foi estipulado.  Paguei a minha reforma e trabalhei honestamente.
- Eu, se contar com o tempo da segurança social, já tenho 40 anos de trabalho daqui a pouco. Se puder, vou para a reforma. Mas agora ainda não posso sonhar com isso. Vou trabalhar. Beijokinhas doces, saborosas e meigas. Inté..
- Até logo. Não podes telefonar porque tenho cá a Glorinha. Beijinhos doces.
- Ainda mais essa. Dá-lhe um rebuçado e manda-a dar uma volta, como se faz com os gaiatos.
- Que engraçadinho! Beijinhos
- Beijokinhas meu amor.


O telefone foi desligado e eu fico a pensar, com o auscultador na mão.
Será que me ameaçou? Ele é mesmo um canalha. Porém, desvio o pensamento. Ele é amoroso, digo em voz alta para me ludibriar a mim mesma.
Ainda me retenho, mais uns minutos na cama, para apanhar as esquírolas da conversa. São tantas espalhadas pelo quarto que me é difícil juntá-las.
Levanto-me com suavidade. Fecho os olhos para afastar os pensamentos negativos. Quero acreditar que ele fala verdade...
Tomo banho sem pressa. Nada me impede de me reter ali por tempo indeterminado. Deixo a água cair para me lavar a alma. Penso que nada me consegue limpá-la. Está manchada e sempre será assim. Eu que tinha sido um exemplo na vida, agora era uma Maria Madalena.

Tomo o pequeno-almoço pausadamente. Sem pressa. Estou só e tenho todo o tempo do mundo.
Nisto dá sinal de mensagem. Olho e vejo que é do Pedro.

09h45m56s

< Estou com saudades tuas. Já comestes? Aí vai muitos beijinhos doces para a sobremesa. Amo-te muito. >

Deixo-me rir. E eu a pensar mal dele. Não posso fazer isso. Ele é tão amoroso e carinhoso que eu fico rendida.
Até à hora do almoço ando feliz. Canto canções românticas e dedicadas a ele.
Envio mensagem a desejar um bom almoço. Logo vem a resposta:

12h16m23s

< Estou a almoçar sozinho. Fazes tanta falta. Obrigado. És o meu grande AMOR. Bjs doces para a sobremesa. >

Fico embevecida e choro de alegria. Tenho sorte por tê-lo a meu lado. Penso: Ele é a minha alma gémea.


Vou almoçar para me sintonizar com ele. Quero que fiquemos juntos. Não para casar, mas para ter alguém que me ame. Mal pensava eu que, um dia, todos os meus sonhos  desmoronar-se-iam. Mas neste momento nada me faz pensar isso. Vejo tudo cor-de-rosa.
Chega a Glorinha. Falamos as coisas da casa e o que há hoje para fazer. Ela é muito perfeita e assaz rápida. Muito honesta e assídua. Estou muito contente com ela.

15h09m011s

< Amor mio estou a trabalhar na ponte. Lembro que estivemos lá em baixo. Olho para lá e vejo-te
na minha ignorância. Bjs amorosos doces suaves. >

16h24m19s

< Amor vai essa foto vejo tudo, é lindo. Bjs kentes. Amo-te. >

17h45m18s

< Posso telefonar? Estou no Vasco. Bjs. >

Respondo que não é boa ideia. Ainda tenho a Glorinha e o meu marido está a chegar.

< vais ao MSN? >

Digo que não. Meu marido precisa do computador.

2159m23s

<Dorme bem meu amor grande, sonha comigo. Beijokinhas kentinhas. >

 


 






Sem comentários: