segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Encontro em minha casa!

Não sabem as belezas que há  nas ilhas dos Açores!!! Só, realmente, quem percorre aqueles trilhos, sabe apreciar a beleza que a mãe natureza pincelou por aqui e por ali num contraste de sonho e realidade.




Quarta, 29 de Junho de 2005

Fico acordada depois do meu marido sair. Ouço o carro a sair da garagem. Desliza pela rua com pressa. Meu marido já vai atrasado. Eu ponho um pé fora da cama e corro a abrir a janela. Deixo o ar entrar e fico em silêncio a apreciar a quietude da rua.
Tiro a roupa da cama. Levo os lençóis para o cesto para serem lavados. Deixo ficar a apanhar o ar que chega da rua. Vou tomar banho e sorrio feliz. O Pedro vem passar o dia comigo. Como será bom...
Visto o roupão cor-de-rosa e venho colocar lençóis lavados a cheirar a alfazema. Ponho sempre um saquinho com flores, já secas, quando ponho a máquina a lavar. Dá-me a sensação que estou no campo, no meu monte, quando era pequena.
Olho a cama e fico extasiada. Está linda! Os  amantes agradecem.
Visto-me com calma. Falta algum tempo para o comboio chegar.
Saio para a rua e sou beijada pelos raios do sol que já caem a pique.
Dirijo-me para a estação. Faço o caminho em silêncio. Não falo, não penso para não estragar o reencontro entre mim e o Pedro.
Estaciono no sítio do costume e fico a olhar a escadaria que me vai trazer o Pedro até junto de mim. Vejo-o na, minha retina, a descer majestosamente como é seu apanágio.
Mas não. O comboio ainda se ouve ao longe. Fico à espera na espectativa.
É sempre bom um reencontro. Amo-o, penso eu. Mas baralho-me com esta certeza. Será amor? Será uma paixão passageira? Amor, amor não deve ser. Eu não quero ficar com ele nem deixar o meu marido. É um dilema! Não sei arranjar uma solução plausível. Nisto ouço o comboio a entrar na estação. Fico alegre e o meu coração bate rápido. Espero um pouco. Ele caminha com a mesma elegância e segurança de sempre. Vem a fumar o seu cigarro. Apaga-o quando chega ao pé de mim. Mete na boca uma pastilha com sabor a morango. Beija-me enternecidamente. Eu entrego-me naquele beijo.
Regressamos a minha casa. Ele vem com apetite. Mexe e remexe nas minhas pernas. Eu peço que me deixe porque venho a conduzir. Mas ele não ouve o meu apelo e continua na sua descoberta.
Chegamos e encosto o carro. Abro o protão e entramos os dois abraçados. Pelas escadas vamos deixando as peças de roupa que nos cobre. Entramos no quarto entrelaçados e ele atira-me na cama. Depois, depois é o delírio. Aqueles momentos são indescritíveis.
Depois ficamos lado a lado, em silêncio, de mãos dadas.
Estes momentos de introspeção são quebrados pelo Pedro. Ele fala sobre nós. Quer casar e ficarmos juntos para todo o sempre. Diz que apenas tem receio das filhas, mas estão crescidas para compreenderem o inevitável. Ele e a mulher estão de costas voltadas. Fala na sogra que é uma mulher frívola. No companheiro da mesma que fez marinha ou coisa no género. Não se recorda porque não dá bola para eles. Eu escuto com atenção e nada comento. Se não sabe o que o senhor foi, certamente que está a mentir. Tem que saber, penso eu. Se os senhores frequentam a sua casa, deve saber o mínimo. Nem que seja conversa da mulher dele. Mas fico em silêncio.
De repente pergunta se eu o estou a ouvir. Claro que ouço. Mas sem opiniões. Nada tenho a acrescentar de coisas que desconheço.
" Quero que cases comigo. Aceitas? "
" Isso é um pedido ou uma pergunta? " respondo eu.
Aqui temos as nossas controversas. Não aceito o pedido e digo que tenho que pensar. É muito sério e não pode ser feito de ânimo leve.
Então levanta-se e vai direito ao duche. Eu segundo-o.
Tomamos banho juntos. Ele acaricia a minha pele, beija-me e jura amor eterno.
Não acredito em nenhuma das suas juras. Isto passa rápido.
Volta a falar no "regar o amor". Eu não entendo o que ele quer dizer. Afirmo, categoricamente, que eu rego pois tenho muito amor para lhe dar. Ele sorri. Vê que eu não sei o que é " regar o amor, o caminho".
Vamos almoçar. Desta vez vamos ao pão com chouriço. É um restaurante de requinte. Mas acontece que vem um prato com uma fenda na borda. Chama o empregado e quer um prato em condições. Olha para mim e diz que é assim que se reproduzem os micróbios. Acredito, mas fico envergonhada. Ainda bem que foi ele que escolheu o respetivo restaurante. Ele come bifinhos grelhados com arroz e vegetais e eu uma salada com camarões grelhados. Claro que pago eu.
Terminamos e saímos para a rua. Um pouco ao lado fica a loja ensitel. Entramos e começa a olhar os telemóveis. Diz, com a  maior safadeza, que gosta de todos os que estão mais a cima. Olho e vejo os preços. São os mais caros. Diz que se eu lhe der um, que pode ser um daqueles. Eu respondo que um dia lho darei e ele irá escolhê-lo.
Damos mais uma volta pelo centro. Diz-me que naquela loja trabalhou a filha mais velha. Foi ela que fez a casa.
Dá-me a mão e quer voltar para casa. Está muito calor.
Em casa quer ver o presente que o meu marido me deu pelos anos. Vou buscá-lo e apresento-lhe a placa onde se lê: Amei-te no passado, amo-te no presente e, se o futuro deixar, amar-te-ei eternamente.
Larga-o e pede que o esconda quando ele aqui vier. Não quer mais pensar nisso. Diz ter ciúmes do meu marido. Eu repito que não vale a pena ter ciúmes. Mas sei, de antemão, que o meu marido fala verdade.
Dançamos um pouco e eu sinto-me leve entre os seus braços. Fecho os olhos e saboreio o momento maravilhoso e único que estou a viver. Parece que adivinho. Nunca mais haverá outro momento igual a este.
O tempo segue o seu destino sem pedir licença para o fazer.
Chega a hora da partida. Despedimo-nos em casa com fervor. Levo-o à estação. Ele parte e eu fico triste.
Mais um dia de sonho que pago bem caro.

Falamos no MSN. Só dizemos palermices. Nada de sério. Despedimo-nos e assim acaba este dia de alegria e prazer.
Deito-me a repassar cada segundo com ele como se fosse um filme...

  

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