quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Será que levaste outras mulheres ao nosso sítio?

 


Eis a manta de retalho, como lhe chamou o nosso guia, que bordam as terras da ilha Terceira.
Foram dias maravilhosos. Inesquecíveis até. No próximo verão vamos lá passar um mês. Ainda não decidimos onde alugamos a casa. Numa das ilhas centrais para podermos ir a todas as nove ilhas que compõem os Açores.

Mas não vim aqui para falar do meu passeio em Setembro passado ou para falar dos nossos projetos futuros
O meu propósito é outro. Venho relatar o meu triste envolvimento com o Fernando Pedro Cachaço Marques.
Digo "triste" porque foi isso mesmo. Andei sempre numa pressão muito grande. Se me perguntarem se fui feliz, eu não o sei decifrar. Era um misto de muitas emoções. Era receio, frustração, tristeza profunda, medo do seu pensamento perverso e da maneira como me tratava muitas vezes. Ora era doce ora era agreste. Por vezes dizia que eu não era sincera nem honesta comigo mesma. Dizia que eu era mentirosa e de coração vazio. Sentia-me muito triste nestas ocasiões e regressava a casa com o objetivo de não mais lhe falar. Deixá-lo simplesmente. Mas ele insistia e eu ficava hipnotizada.


Neste dia, Quarta, 22 de Junho de  2005, vou ter com ele a Entrecampos. Ultimamente é aqui que nos encontramos.
Chego à estação por volta das 11h da manhã. Dele, nem sinal. Sento-me no banco que está virado para a antiga Feira Popular. Espero pacientemente. Estou ali plantada até cerca do  meio-dia e meio. Já cansada, e pensando que ele me tinha ludibriado, olho ao meu redor. Estou há muito à espera e levanto-me para fazer o regresso. Porém, vejo-o a sair de uma porta que fica debaixo da estação. Vem a mostrar muito cansaço. Todo a transpirar. Nem sequer me quer beijar. -Tenho que tomar banho primeiro, diz ele com a cara muito franzida. Cheira a transpiração. Tenho compaixão e agarro-me ao seu braço e caminhamos em direção ao nosso sítio. Hoje pergunto:- Será que levas para lá as tuas conquistas? Que levaste antes de mim? São perguntas que ficam sem resposta. Talvez as leves para hotéis. Hoje estás muito fino. Claro, extorques dinheiro às tuas vítimas. Recordo que na nossa primeira vez, fiquei muito surpreendida quando te conheceram e disseram o teu nome. Preguntei se ela te conhecia. A resposta foi tão rápida e tão sincera que fiquei convencida com a tua explicação. Contudo, mais tarde, venho a descobrir, pela Rosário, que era o vosso ninho, assim como na casa de Benfica.
Chegamos ao prédio. Subimos as escadas e vamos para aquele quarto que já nos é familiar. Vais direto ao poliban. Tomas um banho rápido e vens para junto de mim. Cheiras a transpiração, mas nada digo para não te constranger.
O tempo passa e ficamos a conversar lado a lado. A conversa é sempre a mesma. Hoje dizes que já não tens dinheiro do ordenado e que só recebes no final do mês. É para me impressionares e eu ir a correr meter-te algum dinheiro na tua conta. Mas não olhas para mim e, como tu dizes do meu marido, eu vejo mentira quando não me olham olhos nos olhos. Nem respondo e mudo de assunto relembrando que são horas do almoço. Vamos tomar banho juntos. Certamente fazes isso com todas as outras mulheres antes e depois de mim. A menina Florbela deve dizer de sua justiça... Dê o ar da sua graça e juntas deitamos este homem  pela pia abaixo.  Contacte-me. Eu tenho o processo. Sozinha não, consigo tenho a solução.
Saímos daquele antro de devassidão. Dirigimo-nos para a Feira Popular onde almoçamos nos Lobos do Mar. Escolhes a tua ementa e ficas a olhar para mim. Já sei. Tenho que pedir a minha. Estou no regime de emagrecimento.
Comemos calados. Para quebrar o gelo, eu falo bobagens. Tu estás muito circunspecto. Eu sei porquê, mas finjo não perceber. O teu mutismo é por eu não te dizer que te dou dinheiro. Tu não reages. Ficas a olhar o vazio. E eu faço de bobo da corte. Quando vem a conta, envias a bandeja para o meu lado. Nem digo nada. Vou ao balcão e pago. Saímos dali. Eu dou-te o braço. Seguimos até à estação mudos e calados. Já não espero nada de ti. Subimos as escadas até à plataforma. Nem uma palavra. Sorrio para ti mas recebo um olhar vazio. Vem o comboio. Despedimo-nos com frieza. Nem sequer pões as mãos no vidro como é costume. Viajo com a sensação que foi o nosso adeus. Mas fico aliviada. Será melhor para nós, penso eu com os meus botões.
Chego a casa com a certeza de termos terminado a nossa caminhada.
O tempo passa. Chega a noite e vou ao MSN. Não apareces e nem envias mensagem.
Deito-me aliviada e durmo toda a noite. Consciência tranquila. O pesadelo terminou.


2 comentários:

Princesa disse...

° ♡ ° Tudo dentro da gente se renova quando surge o novo dia,...
O coração pulsa naquela esperança de que coisas boas virão e a gente deixa a vida fluir, e crê, porque uma hora tudo muda,... Uma hora a vida nos surpreende com o melhor presente,... ° ♡ ° ° ♡ °

Unknown disse...

Obrigada! Tudo mudou em minha vida...