quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Recordo a minha infância!

Na cidade da Horta, Faial, existe este muro onde as pessoas, que visitam este lugar, deixam uma mensagem na parede fronteiriça à doca. Um dia esperam voltar. Eu também espero voltar a esta ilha tão acolhedora e linda.


A nova aquisição do Pedro sorri feliz. Ela não sabe, com certeza, que um dia esse sorriso ir-se-á apagar por um tempo muito longo e que olhará em volta e os estragos serão enormes. Ele continua aí partindo corações e esvaziando os bolsos das suas vítimas.

Domingo, 26 de Junho de 2005

Como disse anteriormente, estou na minha terra natal. Acordo lentamente. Espreguiço-me  na cama e olho à volta. Tudo me é tão querido que gostaria de viver aqui desde a Primavera até meados de Outono. Porém, não posso. A minha vida não se desenrola aqui. O meu marido ainda trabalha e tem que regressar. Sento-me na cama. O sol entra pelas precianas. Lá fora faz muito calor, mas aqui está fresco.
Vou tomar banho. Na cozinha oiço o matraquear da loiça e chega um cheirinho a café de cafeteira. Sinto fome. Não é  bem fome, mas um apetite  de devorar aquele café que me faz recordar a minha infância. É o meu marido que já chegou da sua caminhada e se encontra a preparar o pequeno almoço. A vida aqui é serena, tranquila e feliz. Nada me faz recordar o Fernando Pedro. Quero esquecer que dei um mau passo. Em silêncio, peço perdão ao meu marido. Ele não merece o que lhe estou a fazer.
Entro na banheira e a água começa a correr pelo meu corpo como uma carícia. Encho-me de espuma e permaneço ali como se não houvesse amanhã. Há passos nas escadas e apuro o ouvido. Recuo à minha infância e oiço a minha mãe chamar-me. Estou tão embrenhada nestes momentos longínquos que nem dou pelo meu marido que me olha através do vidro e vendo-me muito concentrada diz:- Dava um milhão por esse momento. Queres partilhar comigo?
 Não sei o que dizer e começo a rir a bandeiras despregadas. "Estava a pensar na minha infância, digo entre lágrimas e risos.
O meu marido estende-me o toalhão e diz que me despache porque o café está quentinho.
Deixo o telemóvel no quarto e não dou por uma mensagem do Pedro. A minha vida é ali. Naquele momento o meu agrado está a escassos passos de mim.
Desço as escadas com o braço do meu marido por cima do meu ombro desnudado. Sinto-me tão feliz que me encosto a ele e sinto aquela carícia que gosto tanto.
Como com satisfação e falo com o meu marido as banalidades da vida. Ele gosta muito deste cantinho e eu nem se fala.
Arrumamos a cozinha os dois. Meto a loiça na máquina. A campainha da porta toca a sua melodia da manhã. Vou abrir e vejo a minha irmã com um ar triste. Pergunto se está tudo bem. Ela nem responde e abraça-me com força. Diz em surdina:- Não aguento o meu marido. É uma besta quadrada.
Devolvo o abraço e ali ficamos em silêncio.
Vou com ela até sua casa. Vejo a minha mãe sentada no cadeirão com um olhar frio e distante. Beijo-a com carinho e faço-lhe uma festinha na cara onde já não há aquela cor de outros tempos.
O meu cunhado chega ainda a cheirar a vinho. Não me cumprimenta e sai disparado pela porta que bate ruidosamente. Encolho os ombros e digo para a minha irmã não ligar. Mas ela não consegue  disfarçar a dor que está latente no seu coração. Convido-a para almoçarem connosco, mas ela não sabe se o marido aceita. O álcool ainda flui pelas suas veias e ele é pessoa não grata.
Ajudo a minha irmã e levamos a minha mãe para o jardim. Ali ela está feliz. Olha as flores e  quer apanhar uma. Eu colho-a e dou-lha na mão que treme desalmadamente.
O meu marido vem dizer-me que o meu telemóvel toca sem cessar. Corro e recordo que deve ser o Pedro. Mas ele sabe que não deve telefonar sem saber se pode ou não. Quando chego, vejo que é a minha filha. Falamos e dirijo-me a casa da minha irmã para ela falar com a avó e a Bi.
Quando desligo vejo que está uma mensagem do Pedro. Leio-a e fico a pensar o que ele quer dizer com aquilo.

< Será que me amas como eu te amo? Não deves amar. Sou eu que mendigo teu amor sou eu que sofro com este silêncio sou eu que me lembro de ti  de manhã. Ele está contigo? Estou em aflito. Bjs doces.>

A mensagem tinha chegado há duas horas.
Respondo naturalmente e serena. Nada de alarmismo. Digo que estou com o meu marido.

Chega a hora do almoço. Vamos almoçar ao restaurante que fica no Bairro Novo. O meu cunhado não aceitou o nosso convite.  Encontro colegas e juntamos as mesas. Ficamos na conversa e combinamos um encontro, na próxima vez, na minha casa. Despedimo-nos deles com a certeza de voltarmos breve. Chegamos a casa e começamos a arrumar tudo. Despedimo-nos para virmos embora. Envio mensagem ao Pedro para dizer que está tudo bem e que não posso ir ao MSN.
Responde de seguida:

18h23m49s

< Amanhã já falamos combinamos de manhã. Bjs de mel. AMO-TE muito. >

Fazemos a viagem a ouvir música e, de vez em quando, falamos no que se passou. Digo que tenho pena da minha irmã. Venho cheia de remorsos por não trazer a minha mãe.

21h09m46s

< Dorme bem meu Amor vou sonhar contigo. Beijokas doces. >

Deixo-me rir da mensagem. Para ele não há pontuação e escreve com erros. Fico a ver um filme. O meu marido vai-se deitar. Amanhã tem que se levantar cedo.

Hoje deves estar triste, Pedro. O Sporting perdeu. Soube agora ao terminar a postagem. Ainda há esperança de sonhar com o título. Se ganhar ao Benfica, ficamos muito contentes.

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