quinta-feira, 25 de maio de 2017

Um dia de mentiras!





Hoje, ao ler o meu diário, fico biursa. Como me pude envolver tanto com uma pessoa sem carácter?

Quinta, 18 de Agosto de 2005

Como na noite tudo se faz recordar, eu recordo uma série de coisas. Ouço-o dizer que vai para as Mónicas... " Mónicas ". Este nome não me é desconhecido. E escavo no mais longínquo do meu ser de onde conheço este nome. Até que se faz luz. As Mónicas já não são prisão. Foi até 1989. A última mulher que lá esteve, foi a Banqueira do Povo, Dona Branca. Eu estudei o Convento. Foi lá que fiz o meu estágio de psicologia.
Foi fundado em 1586 e era um recato de freiras e monges. Por ali passaram jesuítas. Depois foi destruído pelo terramoto de 1755. Mais tarde foi reconstruido, 1834, e passou a ser um Convento de freiras. Em 1916 passou a ser uma casa de correção primeiro para rapazes e mais tarde para raparigas. Em 1917 fez-se a prisão para mulheres e só mulheres. Tudo o que lá entrava eram mulheres, incluindo as carcereiras.
Eu fui para lá estagiar, mas antes tive que estudar a história da então prisão das Mónicas. Como é que o Fernando Pedro poderia ir para lá se não pagasse ao fisco? A prisão já não existia, pelo menos, há uma década.
Fiquei a magicar naquilo e adormeci com este pensamento.

Acordo com os primeiros raios do alvor. Meu marido já não está na cama. Passa para se despedir e dizer que é cedo. Pergunta-me se dormi bem de noite e eu digo que sim:- Lá se foi a magia do pequeno-almoço- diz o meu marido seguido de uma gargalhada.
Também me rio, mas não com a mesma vontade que o meu marido.

08h45m51s

- Estou sim, por favor?
- Que lindo começo de dia. Adoro ouvir a tua voz.
- Dizes isso tanta vez que eu, um dia, acredito.
- É verdade e tu sabes que sim. Quando é que tu começas a acreditar naquilo que digo!?
- Como estão as coisas? Já falaram mais alguma coisa sobre o assunto?
- Já não há mais nada para falar. É ter que pagar senão vou fazer uma visitinha às Mónicas.
- E não sabes o modo de pagar?
- Não tive tempo.
- Quem te disse que vais para as Mónicas?
- O meu amigo da Judite.
- A sério? Ele sabe? - Pergunto eu perplexa. Eu sei da história das Mónicas, mas nada digo. Estico a corda....
- Tem que saber. Ele é que me tem dito muita coisa..
- Mas isso já está assim?
- Assim como?
- Na " Judite " como tu dizes...
- Só sabe ele, mas tem que me ajudar para não me apanharem de surpresa.
- Mas quem?
- Mas quem, o quê?
- Quem te vai apanhar de surpresa? Não entendo. Isso não é com as finanças?
- É. Mas quando chegar a conta e eu não pagar, levam-me.
- Para as Mónicas?
- Certo!
- Por que não ficas na de Sintra? Moras no concelho...
- Não, porque tem a ver com as finanças.
- Não percebo. Ultrapassa os meus conhecimentos. Sou leiga.
- Não és nada. Até deste a ideia de se pagar por parcelas.
- Penso eu, de que... Nunca me vi nessas andanças.
- Não viste? Então quando foi do teu marido, não foi assim?
- Não. Não teve nada a ver com as finanças...
- Pois! Era com os bancos, não era?
- Claro que sim... ( Sinceramente que já nem me recordava do episódio. )
- Hoje tenho trabalho na ponte 25 de Abril.
- E quando vais perguntar?
- À tarde vou tirar umas horas e vou às finanças de Sintra.
- Mau! Então as finanças de Sintra, não são do teu concelho?
- São. Mas são só intermediárias.
- Ok! Sou leiga...
- Vá, acalma-te. Amanhã já te sei dizer qualquer coisa.
- E vê se vais para as Mónicas ou Sintra. Beijinho e não te debruces da ponte. Tens contas com o fisco.
- Olha, era da maneira que não pagava. Vou pensar nisso.
- Não sejas maluco.
- Sempre fui e sou. Sou maluco por ti. Amo-te e tu sabes disso...
- Talvez!!!
- Beijinhos. Inté!
- Já não telefonas hoje?
- Não sei. Talvez não.


Quando desliguei o telefone, fiquei a pensar, ainda, mais naquilo. Então o amigo que está na Judiciária não sabe que as Mónicas já não são prisão?
Hum! Cheira-me a esturro. Está a aldrabar-me. Só pode. Mas desta não me engana.

Durante a manhã já não penso mais no assunto. É pura mentira e quer o meu dinheiro. Mas eu vou descobrir...

15h22m19s

< Estou aqui em Sintra. Vamos ver como corre a coisa. Beijokinhas e AMO-TE MUITO. >

Quem me dera poder saber. Mas ocorre-me uma coisa. Telefonar para as finanças de Sintra e saber se ele lá está. Telefono. Atende-me uma Senhora. Eu peço que veja se Fernando Pedro Cachaço Marques, morador em Abrunheira, na rua tal, nº qualquer coisa se está ou esteve. É o meu marido e preciso falar com ele sobre o problema que lá o levou.
A Senhora vê no computador e diz que esse senhor não tem qualquer problema com as finanças, mas diz-me para esperar. Então ouço a Senhora a chamar por ele  e a perguntar aos colegas se está com algum deles para tratar de um assunto. Não está com ninguém. Peço desculpa à Senhora e digo que, se calhar, ele ainda não chegou.

Envio mensagem a perguntar se já falou...

15h32m54s

< Estou a falar. já te digo...>

Mas que aldrabão me saiu. É aqui que eu penso no acidente que nunca houve. No dinheiro que me pediu e nas pantominas que me contou...
Fico triste comigo própria por acreditar, piamente, nele.

17h23m56s

< Saí agora. Vão ver como se pode fazer, mas tem que vir a resposta de Lisboa. Beijokinhas doces, loucas, gulosas. AMO-TE. >

Nem ligo. É como se não fosse ele. Já estou desiludida.

Janto e nem sequer tenho a tal preocupação. O meu marido repara que estou bem disposta e faladora. Alvitro que foi impressão dele.

21h09m13s

< Estou no MSN. Inté... Bjs. >

A mensagem que envio é fria e digo que não posso.

21h15m19s

< Dorme bem e o teu marido que te deixe o computador para nós falarmos. Um dia vai ser assim. AMO-TE ETERNAMENTE. Bjs loucos. >

Desligo o telemóvel e esqueço tudo...

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