segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Deusa Shakti

Quinta, 27 de Janeiro de 2005
 
Não sei como classificar o Pedro numa escala de 1 a 10. Talvez o classifique de zero. Hoje não vale nada. É um verme que se serviu da minha pessoa para atingir os seus fins. Este homem foi o diabo que entrou na minha vida.
E, pelo que vejo, continua a sua atividade enganando uma e outra e após outra. Também mente a sua mulher quando lhe diz que vai trabalhar para um determinado lugar. Era o que fazia comigo e continua a fazer.
Eu estava tão embevecida com ele que não via o quanto  ele era um canalha. Sabia cativar tão bem que eu nem dava pelo novelo que me estava a embrenhar. Era um novelo sem possibilidade de desenrolar.
Neste dia, e como todos os dias, foi atencioso comigo. Mimava-me e dizia coisas que me prendiam cada vez mais a ele.
O telefone tocou. Eu ia tomar banho nesse momento. Olhei o relógio digital e vi que eram 08h54m38s. Pensei em não atender e ir fazer a minha vida. Mas eu estava de cabeça perdida e gostava de o ouvir falar. Tinha uma voz nasalada, mas doce e meiga.
Como sempre, não pude adiar para mais tarde. Ele fascinava-me e punha-me ao rubro.
 
- Estou sim, por favor?
- Bom dia minha Deusa Shakti. Recordastes da história que te contei sobre ela?
- Sim, recordo.
- Pois tu iluminas os meus dias com um poder tal que sinto que não te quero perder NUNCA. Conduzes-me a um êxtase e a uma iluminação que não sei descrever. Contigo, o sol brilha através das nuvens...
- Hoje estás muito inspirado, não?
- Não é só hoje. Tu és a minha Shakti e inspiras-me sempre.
-  Tão melado que me fazes sentir mal por não saber retribuir com palavras tão lindas!
- Não precisas. Só a tua figura e a tua voz fazem o resto.
- Amor, que declaração logo pela manhã!?
- Assim começa o meu dia contigo e só contigo sempre. Até tu quereres. E sei que tu queres. A maneira como me olhas e acaricias, dizem o resto que te vai na alma.
- Tens razão, mas não estava à espera disto.
- Comigo são só surpresas. Acreditas?
- Não tenho como duvidar. Também brilhas para mim e fazes os meus dias mais alegres.
- Ontem foste uma fera...
- Vá lá, não me envergonhes...
- Não, não te quero envergonhar. Só quero que saibas que eu reparo que adoras estar comigo. Eu sei o quanto te excito. Ficas doida comigo. É assim que eu gosto de fazer para tu te sentires feliz.
- ........
- Então, ficastes muda?
- Pela primeira vez na vida, não sei o que dizer.
- Diz que me amas e desejas e eu fico feliz.
- Até parece que adivinhas os meus pensamentos.
- E adivinho. Sei o que te faz feliz e eu sei como fazer-te feliz.
- Ontem foste espetacular. Aliás, como sempre.
- Minha Shakti linda! Serás sempre a minha Deusa Shakti. Eu também sou muito feliz contigo.
- A sério?
- Bem basta o celibato que tive tanto tempo. Agora tenho que ganhar o meu tempo, o nosso tempo.
- Sim, " o nosso tempo ".
- Sabes, agora vou trabalhar. Vai lá tomar banho e olha a mosquinha no teto a espreitar.
- Como sabes que vou tomar banho?
- Estou a ver-te a caminho da casa de banho. Já está quentinha?
- Já. Enquanto arejei o quarto, pus o aquecimento a funcionar. Depois vou arrumar o quarto. Hoje vem a Glorinha.
- Então não posso telefonar à tarde?
- Não.
- Envio mensagem, pode ser? E vais ao MSN?
- Hoje vou. Quero falar contigo. Sinto-me mais segura.
Então até logo, minha Deusa Shakti. Beijokinhas como e onde quiseres.
- Beijinhos doces para ti, também.
 
 
12h09m23s
 
< Vou almoçar. Bjs doces para tua sobremesa. Amo-te minha Deusa. >
 
17h10m45s
 
< Meu amor de ontem de hoje e de amanhã sinto muito a tua falta. Hoje e sempre quero estar contigo. Foste a melhor coisa que, aconteceu na minha vida desencantada. És o rastilho que faz funcionar a minha vida. Sem ti andava por, aqui perdido e sem rumo. Encontrei-te. o beijo virtual e a rosa uniram os nossos corações para, sempre.
Amo-te e não te quero perder. Beijokinhas molhadas deste teu Pedro. >
 
22h08m57s
 
< Dorme bem, minha amada. Breve estaremos juntos outra, vez. Bjs molhados. >

domingo, 8 de novembro de 2015

O nosso dia


Quarta, 26 de Janeiro de 2005
 
Esta foto foi tirada do Castelo em Sintra.
Não posso deixar de referenciar esta cidade. É neste conselho que vive o Pedro.
Vou entrar em mais um capítulo que marcou uma época da minha vida. A época em que andei, tontinha, com ele. Fiz coisas que nem lembra ao diabo, mas fi-las e hoje não posso voltar atrás, como muitas vezes, tenho narrado.
As minhas narrativas são verídicas. Tenho um diário onde escrevia todas as coisas  que dissessem respeito ao Pedro ou a nós dois. Inclusivamente, até escrevia as mensagens, via telemóvel, que ele me enviava.
 
Mais um dia passado na minha casa. Era " o nosso dia " como ele mencionava muitas vezes. e eu comecei a mencioná-lo também.
O comboio aparecia, mais ou menos, à mesma hora. E, neste dia, não foi exceção.
Eram 09h12m25s quando ouvi o apito do comboio a entrar na estação. Eu estava, no meu carro vermelho, à sua espera. Tinha um misto de sentimentos no meu coração. Uns que me diziam que o dia ia ser bom. Outros que, pelo contrário, me alertavam para a maneira conspurcada que geria a minha vida. Outros, ainda, que me acusavam de falta de senso e bom comportamento. Nunca tinha saído do caminho reto a que me dedicara desde muito nova.
Fui uma menina exemplar. Era muito religiosa. Até tive tudo marcado para entrar no convento de Santa Clara, em Coimbra. Porém, na véspera da minha partida, o meu tio padre disse à minha mãe que estava prestes a perder-me. Até já tinha a minha mala em casa de outra freira para partir no dia seguinte rumo a Coimbra onde ingressaria como noviça.
 A minha mãe, embora muito religiosa, mas desfez tudo e proibiu-me de fazer essa loucura.
Não tive namorados de jeito senão um arranjado pelos meus pais. Já tinham marcado o casamento e eu pensei que não amava essa pessoa. Fui pelo caminho mais curto: o suicídio. Não deu certo. Claro, senão não estava aqui a contar a história da minha vida.
Depois de conhecer o Fernando Pedro tentei o suicídio mais duas vezes. Ele provocou-me problemas que, provavelmente, chegará o dia para os contar.
 
Como ia narrando, o comboio silvou e eu dei conta disso. Pulei de susto pois estava embrenhada  noutros pensamentos, como atrás descrevo.
Ele desceu as escadas majestosamente com aquele porte de gente fina e bem ciente do que queria. Eu olhei para ele com receio dos meus pensamentos. Mas abri-me em sorrisos, de orelha a orelha, e abri a porta do carro para lhe dar as boas vindas. Abraçámo-nos e beijámo-nos efusivamente. Ele entrou para o carro e eu comecei a conduzir rumo à minha casa. Pelo caminho, ele mexia e remexia aqui e ali. Eu tinha medo de me desconcentrar. Mas ele fazia-o com o intuito de me fazer querer que ele estava sedento.
Em casa, assim que abria a porta, ele era um abusador e fazia-me esquecer de todos os pensamentos que povoavam o meu cérebro. Eu esquecia tudo e entregava-me a ele com uma volúpia que nunca tinha sentido com mais ninguém, apesar de esse " ninguém " ser o meu marido.
Neste dia foi, também, assim. Ele tem um fetiche para fazer amor que eu não sabia que dava resultado. Era colocar-me na beira da cama e fazermos amor assim. De facto que dava resultado. Mas quando ele já tinha o que queria de mim, este fetiche deixou de ter resultado. Já não me trabalhava e a relação não resultava.
Ele era muito assedo. Depois do coito, íamos sempre tomar banho. Tomávamos banho juntos e ele lavava-me com a minha luva de algodão e com o gel de banho. Muitas vezes fazia-me tantas carícias que eu acabava por ter um orgasmo. Ele adorava e dizia que era muito bom a excitar as mulheres. Eu desconfiava quando ele dizia isto e perguntava, sempre, se ele andava com alguém. Perentoriamente respondia que era assim que tratava a mulher. Um dia até me contou que a sogra era toda XPTO e que apanhou uma conversa dela com a filha sobre os homens não serem bons na cama. Contou-me que, nessa noite, após a conversa, fez a mulher dele ir às nuvens para lhe mostrar que ainda era um jovem e sabia confortar as mulheres.
Depois do banho, vestimo-nos e fomos almoçar ao C*******. Fomos ao restaurante "Central ", no primeiro piso.
Entretanto viemos para casa e chegou a hora da despedida. Contudo, e se ainda houvesse tempo, ficávamos na minha casa, sentados no sofá, a fazer horas para o comboio das 17h. Neste período em que estávamos em casa a fazer horas para o levar à estação, dizia-me para lhe fazer o que eu achasse que me dava prazer para não ficar a pensar que não tinha aproveitado, ao máximo, a sua estadia.
Depois era o " adeus " e aguardar mais um dia em que ele pudesse vir ou eu ir ter com ele ao Oriente.

sábado, 7 de novembro de 2015

Estou muito feliz...

Terça, 25 de Janeiro de 2005
 
Mais uma foto da estação do Oriente.
O Fernando Pedro trabalha muito aqui, no P****** do B******.
 
E, também, mais um dia que me liguei, via telefone, com ele.
 
08h46m12s
 
 
- Sim, por favor?
- Meu Amor sou eu. Estás bem? Eu estou muito feliz..
- Pode-se saber de onde vem essa felicidade? Bom dia para ti também...
- Então, o meu "bom dia" é a maneira como começo logo a falar contigo.
- Pois! Já me tinha esquecido que tens uma maneira muito peculiar de te apresentares. E essa felicidade?
- Ah! É que só já falta hoje para estarmos juntos novamente. Amanhã é o nosso dia.
- Sim, tens razão. Mas não é motivo para tanto alarido.
- Não é? Então não estás feliz por eu ir aí amanhã?
- Claro que estou feliz. E muito, mas...
- Não há mas nem meio mas. Como logo não falamos, podemos já combinar para amanhã.
- Então é sempre à mesma hora que chega o comboio, não é?
- É e eu vou lá estar.
- Eu também, para te trazer.
- Mais um dia juntinhos. Não é bom?
- Sim...
- É só o que tens para dizer?
- Então cortaste o meu pensamento e fiquei a meio.
- Estou ansioso. Tu não?
- Não. Já sei que vai ser bom.
- Quando acordei e vi que era terça, fiquei feliz.
- Fica combinado. Mesmo que falemos no MSN, já fica combinado...
- Pois. Temos é que mudar o quarto.
- Porquê?
- Porque é nesse quarto que dormes com ele.
- E é nesse quarto que tenho ar condicionado. Nesse e no da minha filha. Lá em cima é muito frio agora no Inverno.
- Um dia vamos ter um só nosso.
- Lá vens tu com a mesma conversa. Ainda o outro dia dizias que não querias problemas com a tua mulher...
- E de momento, não quero. Mas ando cansado dela.
- Vá lá, não sejas mauzinho.
- Não sou. Olha eu contigo até me caso. Como já viste, sou solteiro.
- Eu sei.
- Posso casar e tu divorcias-te.
- Depois falamos nisso.
- Também agora já me estão a chamar. Vamos para a linha de Cascais.
- Ok! beijos doces.
- Beijokinhas molhadas e logo envio mensagem. Vou ao MSN.
- Eu vou ver  se posso ir.
 
 
11h45m30s
 
 
- Estou sim, por favor? ( Não esperava nada que fosse o Fernando Pedro. )
- Sabes onde estou?
- Não. O telefone ainda não tem televisão!
- Estou em cima de um poste.
- Olha, tem cuidado não caias.
- Gosto desse teu ar de preocupada.
- Sim, de facto que estou preocupada. Já quando me enviaste aquela foto em cima da ponte fiquei com vertigens.
- Tens medo das alturas?
- Tenho. Não te tinha dito?
- Não. És uma caixinha de surpresas.
- Nem por isso. Para ti sou um livro aberto. E tu és para mim?
- Claro que sou. Adoro-te muito e conto-te tudo.
- A sério?
- A sério mesmo. Mas agora tenho que desligar. Vamos almoçar.
- Bom almoço. Beijinhos.
- Beijokinhas só nossas.
 
Quando desliguei, fiquei a pensar que ele me tinha telefonado só para se afirmar com os colegas que andava comigo. " Sacana ". Pensei eu para com os meus botões. E era mesmo isso.
 
 
22h01m34s
 
 
< Dorme bem, amor mio. Amanhã estamos juntos. Bjs só nossos. >

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Adoro-te, sabias?

Segunda, 24 de Janeiro de 2005
 
Paisagem alentejana. Ao fundo vê-se Alvito. Foto tirada da Pousada.
 
Mais uma vez me surpreendi com o que escrevi no meu diário, neste dia. São tantas as coisas que escrevi que, realmente, faziam um livro.
De facto que gosto de escrever e fi-lo durante o período em que andei com o Fernando Pedro. Gosto de escrever para mais tarde recordar. Também escrevo aquelas coisas que me incomodam. Mas não lhe dou aquele ênfase que dou a uma alegria, a um momento fabuloso, a uma pessoa específica...
Todavia, ainda continuo a escrever o meu dia a dia. As emoções, as fantasias, as veracidades da minha vida.
 
Mais um dia em que o Fernando Pedro era o rei da minha vida. Aquele que me fazia sentir uma mulher diferente. Que fazia com que eu o desejasse mais a ele que qualquer outro fator da minha vida. Aquele em que eu coloquei toda a minha espectativa. Até lhe dei a minha vida.
Porém, hoje, e olhando para trás, vejo que não valia a pena tê-lo colocado numa fasquia tão alta. Teve pés de barro e, como tal, veio o momento em que sucumbiu. Os pés derreteram e ele caiu do pedestal em que o tinha colocado. Hoje vale mais que nada.
 
08h4m21s
 
- Estou sim, por favor?
- Ai amor mio, como eu adoro esse teu jeito de atenderes..
- E só adoras isso?
- Adoro tudo o que tens. Adoro-te, sabias?
- Hum... Não sei se acredito.
- Já te dei provas disso, né?
- Sim, de facto.
- É que adoro mesmo. És a mulher que eu escolhi só para mim. Por que és só minha, não és?
- Olha que pergunta! Claro que sou só tua.
- Pois! Não te quero dividir com mais ninguém. Nem mesmo com o teu marido.
- Já falámos a esse respeito. Ele não tem nada comigo. Um dia ainda o ponho da cama para fora.
-Hi!Hi!Hi! Fazias isso?
- Não sei. Sempre serve para me aquecer. E tu punhas a tua mulher?
- Já te contei o que aconteceu não há muito tempo. Mas agora não lhe posso fazer isso. Não quero problemas, percebes?
- Sim, percebo. Então percebe também o meu lado. Agora só ia agudizar as coisas e eu não quero. Andamos ambos calminhos. É assim que deve continuar.
- Mas não por muito tempo. Um dia ainda vamos viver juntos.
- Achas? Eu não. Nem tu deixas a tua mulher nem eu deixo o meu marido.
- Amor, ouve. Eu Adoro-te e estar nesta situação, não me agrada nada.
- Pois, mas, por enquanto, tem que continuar assim.
- Até um dia. Bem, hoje vou para Santa Apolónia. Vou ter uma reunião às 9 e meia.
- Feliz dia. Até logo.
- Ah! Não esqueças: Adoro-te, sabias?
- Já sei. Bom dia.
- Até logo. Beijokinhas doces.
- Beijos.
 
13h20m09s
 
< Comi por aqui. O teu almoço foi bom? Adoro-te sabia?. Bjs molhados. >
 
17h15m59s
 
- Sim, por favor?
- Já tens que calcular que sou eu a esta hora.
- Olha que gracinha! Pode ser outra pessoa. Nem sempre telefonas à mesma hora, não!?
- É verdade. É conforme o serviço. Mas mais ou menos, sou eu, né?
-Nem sempre. Também já tens telefonado a horas que tenho cá a Glorinha.
- Pois. É sempre a mesma frase: - É engano. Não há ninguém com esse nome... Já sei que tens a tua empregada.
- Olha, amanhã é dia de ela cá estar. Já sabes que não podes telefonar à tarde.
- Falamos de manhã. Só para ouvir a tua voz.
- É assim tão importante?
- O quê?
- Às vezes, tenho a sensação que não estás cá.
- Para ti tou sempre, meu Amor. Adoro-te muito e isso faz a diferença, né?
- Tu assim o dizes. Espero nunca me arrepender.
- Não te vou desiludir. Nem te vais arrepender de nada. És tudo na minha vida.
- Hum...
- É verdade. Sem ti, eu não vivia.
- Pois, engana-me que eu gosto.
- Não é engano nenhum. Se não tiveres outros homens, serei SEMPRE teu.
- Até parece! Estás sempre com a mesma conversa... Muda o disco.
- E vou mudar. Vou cavar daqui para fora. Por hoje já chega.
- Linda despedida, sim senhor..
- Amor não leves a mal, mas foi um dia de loucos.
- Vá, vai lá embora. Até logo, se eu puder ir ao MSN.
-Até logo doçura. Beijokinhas molhadas.
- Beijos também para ti.
 
21h56m46s
 
< Dorme bem. Foi pouco tempo, mas soube a pouco. Bjs só nossos. >
 
 
 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Domingo, 23 de Janeiro de 2005
 
É uma vista linda da Estação do Oriente. Serviu de palco para as minhas despedidas com o Fernando Pedro. O encontro, esse, dava-se à porta do Centro Comercial frente à Ensitel, hoje PhoneHouse.
Neste dia, Domingo, eu levantei-me mais tarde.
Sentia-me cansada e um pouco triste. O meu marido foi fazer o seu habitual treino.
Acordei ao som de uma mensagem a chegar. Eram 09h37m49s
 
< Bom dia amorzinho. Tenho saudades tuas. estás levantada? Eu levantei-me agora, ela foi trabalhar, estou no céu. Bjs molhados. >
 
Não respondi. Fiquei na cama mais algum tempo a pensar na minha situação. Não era uma situação normal e sentia-me culpada. Grossas lágrimas caíram, copiosamente, dos meus olhos.
Levantei-me com lentidão e com uma vontade intrínseca de acabar com esta farsa que me estava a levar à loucura. Mas não o fiz. Ao invés, enviei uma mensagem de volta cheia de amor, aquele amor que vem da paixão, do desejo de ter alguém com quem estar naqueles momentos menos bons.
 
Tomei banho demorado. Deixei cair a água do chuveiro sobre mim para apagar a minha insolência. Mas nada apagou nada. Quando o meu marido chegou disse-me que estava com um ar cansado. Aconselhou-me a deitar mais algum tempo.
 
 
Estava eu a acabar o almoço quando caiu outra mensagem.
 
12h45m20s
 
< Amor mio vou almoçar com a C******. Estás bem? Bjs para tua sobremesa. >
 
 
15h19m15s
 
 
< Amor estou no msn. Estou há tua espera. Bjs doces. >
 
 
22h03m4s
 
< Não tejas triste. Amanhã vamos falar. Bjs de mel. Dorme bem. >

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O dia de ontem !

Sábado, 22 de Janeiro de 2005
 
Era num comboio igual a este que eu ia ter com o Fernando Pedro ao Oriente.
Hoje vou de carro. Não quero entrar neste comboio novamente. Quero distância de tudo o que me faça relembrar este sociopata que arruinou a minha vida.
Não quero dizer que esteja infeliz. Não, não estou. Sinto-me a pessoa mais agraciada pela sorte. Por um lado, por ter deixado o Fernando Pedro, por outro, por ter conseguido ser avó de duas netas lindas que Deus me deu.
Também sou muito feliz com o meu marido. Ele regressou para mim e hoje é um pilar basilar que não rui ao maior turbilhão.
Este problema que nos afastava, noutros tempos, veio a tornar-se um bem essencial para uma vida a dois e com mais confiança que anteriormente. Sou FELIZ podem ter a certeza.
Sinto-me eu e isso não se paga com qualquer dinheiro do mundo.
A minha primeira e única aventura acabou quando terminei com o Fernando Pedro. Foi um passado extraconjugal que quero apagar para sempre. Isto que estou fazendo é apenas um aviso às mulheres que lerem a minha história verídica. Um dia pode ser a delas. Quão agradecida ficava se, todas as que andam com ele, tivessem acesso ao meu blog.
 
Neste dia houve pouca agitação. Apenas alguns e-mails para nos afirmar que continuava tudo bem.
 
 
10h12m09s
 
< Meu único Amor estou feliz pelo dia de ontem. Vamos repetir um destes dias. queres? Afinal como estás? Gostastes? Eu gostei. era aceado e confortável. Não tem aquecimento mas, o nosso amor aquece-nos muito. Um dia vamos ter o nosso espaço e viver juntos para sempre. de acordo?
Não sei se vens ao MSN mas, eu vou estar há tua espera. bom almoço e pensa em mim. amo-te de verdade. Bjs docinhos como tu gostas. >
 
Transcrito tal qual o original. Com erros que me fazem doer o coração, mas ele, ainda, escreve assim. E como ele, muita gente. Tenho receio de tudo o que vejo escrito no mesmo estilo. Reconheço-o e não me tentem enganar.
 
17h34m28s
 
< Meu Amor de ontem de hoje e de amanhã não, viestes ao MSN. Teu marido anda por perto? hoje não era o dia de ir para a mãe? não te quero criar problemas por, isso vou ficar por aqui. mas amo-te muito e fico triste qd não podemos falar.
Bjs no teu coração lindo. >
 
 
21h45m49s
 
< Um bj molhado para dormires bem. adoro-te sabia? >

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Encontro preverso!

Sexta, 21 de Janeiro de 2005
 
 
Uma linda vista da Pousada de Alvito. Como se vê, está situada nas muralhas do Castelo. É linda! Podem comprovar.
 
Nesta Sexta levantei-me muito cedo. O meu marido sabia da consulta. Fui com ele até à  estação, perto do emprego dele. Aqui apanhei o comboio para Entrecampos.
Tinha combinado com o Fernando Pedro encontrarmo-nos lá. Dali, íamos para o médico. Ele levou o carro dele.
Fui consultada enquanto ele esperava na sala. Eu ia pedir um atestado para que me  facultasse um tempo sem a minha mãe em casa.
Foi errado, mas eu queria sair ou ter o Pedro na minha casa.  Queria ter liberdade. E, com a minha mãe, isso era impensável.
Mau grado o meu. A minha mãe, sempre seria a minha mãe, e este biltre seria, apenas, uma passagem na minha vida. Só que eu andava enfeitiçada por ele. Ele era tão gentil, meigo, atencioso, carinhoso, compreensivo que me deu a volta à cabeça.
Mas o mal foi feito. E, por muito que eu queira, não posso apagar esse passado longínquo, mas tão próximo na minha vida.
Magoa-me muito ter feito o que fiz em prol de um homem que não vale nada, absolutamente nada, na vida em termos gerais..
 
Da consulta fomos para Entrecampos. Era aí, perto da estação, que ficava o quarto que iríamos partilhar nas próximas duas horas.
Eu ia muito apreensiva e macambúzia. Tinha tanto receio que alguém me visse para lá entrar que tremia como uma vara num vendaval.
O Pedro agarrou a minha mão e deu-me segurança. Disse palavras de conforto e carinho. Mas eu ia metida no meu casulo.
Foi aí, no segundo andar, que estava uma moça muito jovem que nos recebeu com simpatia e algum brilho no olhar. Perguntou se era o Senhor Fernando Pedro Marques. Também perguntou se era com banho. Ele assentiu e fez-se o check in. Eu colocava-me por detrás dele para que a moça não me olhasse. Parecia que ela adivinhava o que nós íamos fazer.
Para minha surpresa, ele puxou do dinheiro e pagou.
Fomos conduzidos ao terceiro andar. O quarto era o número *** do lado direito de um corredor muito comprido. Tinha uma passadeira vermelha e eu caminhava como se fosse direita ao cadafalso.
Entrámos e o Pedro foi logo abrir a cama. Eu fiquei em transe. Não sabia o que fazer. Ele movia-se com um à vontade invulgar.
Os lençóis eram de fantasia cor-de-rosa. A colcha era de um vermelho carregado e os cortinados a condizer.
Tinha televisão por cabo. O Pedro apanhou o comando e foi direito a um canal com música francesa. Ele conhecia. Eu não.
Um bocado encabulada, perguntei se era a sua primeira vez que estava naquelas circunstâncias. Dava que pensar. Mas ele jurou e disse que o canal já era seu conhecido em casa. Logo saber procurá-lo. Ninguém pode saber quão mesquinha me senti...
Mas o Pedro soube dar a volta à situação. Começou com as suas carícias e eu consegui relaxar um pouco.
Se foi bom, não sei. Ainda hoje me pergunto como dei um passo desses que se tornou rotineiro.
Ficámos na cama durante algum tempo a falar sobre a minha decisão de ter ido pedir um atestado. Na altura, pareceu-me uma ideia excelente, mas, depois, veio o amargo de boca.
Ele tomou banho. Eu, apenas me lavei superficialmente.
Saímos dali e fomos ao primeiro café que encontrámos na direção da estação dos comboios.
O Fernando Pedro pediu um pão por Deus com fiambre e eu, apenas, um chá de camomila para me acalmar.
Já na estação, fizemos as despedidas. " Foi muito bom " disse ele. Mas para mim, tinha sido um pesadelo.
Combinámos que nesse dia não haveria mensagens nem MSN.
Para mal dos meus pecados, voltei muitas vezes a esse lugar.
Quando cheguei a casa, fui direita à banheira.  Tomei um banho demorado para tirar a sujeira que sentia em cima. Queria apagar aquele cheiro do quarto, que me impregnava, como um perfume barato.