sábado, 2 de janeiro de 2016

Passeio no Campera

Quarta, 2 de Março de 2005

Uma imagem do Campera onde eu  e o Pedro íamos almoçar cada vez que ele me vinha visitar no remanso da minha casa.
Foram dias de felicidade, não o nego, mas dias em que a minha decadência se aproximava e eu dava passos largos a caminho do cadafalso como Maria Antoniette.
 Eu não conhecia nem nunca conheci o verdadeiro Fernando Pedro e, até acho, que nem a própria que o pariu, o conheceu verdadeiramente. Ele é um homem tão facetado que não consegue descobrir a sua verdadeira identidade. É o homem das mil vidas. Será que ele próprio alguma vez se descobriu? Creio que não. Fantasia até morrer.
Neste dia o encontro foi aqui na minha casa. Como sempre, eu estava na estação dos comboios à sua espera. Mais minuto menos minuto, o comboio chegava sempre. Nele vinham as mesmas pessoas de todos os dias. Já conhecia aqueles rotos de cor. Eram rostos cansados e triste depois de uma noite de trabalho. Desciam as escadas com pressa. Uma pressa de quem quer ir para a cama dormir, descansar e esquecer que mais uma noite tinha passado.
Eu esperava o Pedro no meu carro vermelho. Esperava-o com ansiedade, mas também com a esperança que um dia não aparecesse mais. Uma coisa eu conhecia do Fernando Pedro Cachaço Marques. Só sabia pedir prendas, almoços e férias em locais escolhidos por ele com bons aparthoteis e boas comodidades. Nunca viveu no luxo, mas desde que descobriu que marcar mulheres de bem financeiramente, carentes, viúvas e mal amadas, ele poderia desfrutar de esse bem essencial na sua vida. Ele julga que é "insubstituível". Mas não é. É apenas um desgraçado que se afirma à custa de outras pessoas que acreditam nas suas mentiras e fantasias.
As horas eram mais ou menos as mesmas de sempre. Vi-o descer as escadas com segurança. Os seus olhos de águia logo lubricaram o meu carro e começou a acenar com um sorriso franco nos lábios. Eu respondi ao aceno, mas o meu coração, não. Eu sabia que ia passar umas horas de prazer, mas que me sairiam bem caras. Acenei sem convicção e receosa.
Mas olhei o relógio para registar a hora da chegada. Eram 09h15m10s.
Ele chegou junto de mim com a mesma ternura de sempre e beijou-me com bravura e entusiasmo. Eram beijos que pareciam ser sinceros. Mas não eram e nunca foram. Apenas serviam para camuflar a sua estratégia. Respondi aos seus beijos e convidei-o a entrar.
Perguntou-me se estava com "fominha" e eu respondi que já tinha tomado o pequeno-almoço, se bem que soubesse a que "fominha" se referia. Perguntei se ele tinha tomado o dele ou se queria ir à pastelaria do Centro tomar um pequeno-almoço substancial. Começou a rir com aquele rir matreiro e que eu conhecia tão bem. Respondeu que já tinha tomado e que não era conveniente tomar outro. Iríamos almoçar mais tarde.
Na viagem não usou as mãos para explorar e não se mexeu do seu lugar. Estranhei, mas não fiz nenhuma referência. Afinal não era doida por ele. Apenas por umas horas de prazer. Também me servi dele e de que maneira.
Em casa tudo se repetia. O seu fetiche da beira da cama e o não aguentar a pedalada de uma mulher mais velha. Pensava ele que eu ficava satisfeita, mas muitos dias ficava, ingloriamente, triste. Por mim que estava a deitar o meu dinheiro à rua e que ele não merecia. Porém, ele pensava que eu tinha ido ao sétimo céu. Muitas vezes era no banho que ele colmatava essa falha. Nunca lho mencionei directamente, mas através do telemóvel, um dia, quando as coisas azedaram.
Eu sabia fingir bem para ele não se sentir frustrado, mas a minha desilusão era enorme.
Neste dia foi tudo igual e eu, só no banho, consegui atingir o meu orgasmo. Enfim, tudo escrevi no meu diário para não me esquecer de nada.
Quando fomos almoçar, fizemo-lo no Campera. Foi ele que escolheu. A escolha recaiu no "Pão com chouriço" no primeiro andar. Não foi uma boa opção, mas foi ele que escolheu.
Os pratos estavam com falhas, os copos rachados e os guardanapos todos amarrotados.
Ele chamou um empregado e fez referencia a isso. Os pratos foram trocados e os copos também, mas tudo foi parar à mesa do lado. O Fernando Pedro ficou muito chateado e disse que não gostava de ser ignorado. Queria pedir o livro de reclamações e eu não deixei. Já o tinha avisado que este restaurante não era grande coisa depois de ter mudado de direcção. Contudo, ele não gostava de ser uma mulher a decidir.
Depois de eu ter pago a conta, um prato de peixe e outro de carne, deambulámos pelas ruas das lojas. Aqui gostava disto, ali queria aquilo e eu perguntei se ele queria de prenda de anos roupa ou o que tinha escolhido no dia anterior. Respondeu que queria o que já tinha escolhido. Mas que não fazia mal eu comprar-lhe um mimozinho. Nem dei ouvidos e prendi-me numa montra de roupa de senhora e disse que não fazia mal se ele me comprasse uma lembrança.
Olhou-me com um olhar que nunca tinha visto nele e disse que eu só poderia estar a brincar. Respondi que não e que tinha o mesmo direito de escolher como ele.
Continuámos o nosso passeio e eu meti-lhe a mão no bolso. Com um arremesso, tirou-me a mão de lá e disse que alguém poderia conhecer-nos. Também frisou que a filha mais velha tinha feito uma casa dali. Não referenciou qual. Disse que não a queriam deixar ir embora, mas que ela fora para outro Centro fazer outra casa. Via-se que estava orgulhoso disso.
Com esta passeata toda chegou a hora de ir levá-lo ao comboio. Já não viemos à minha casa. Dali fomos directos à estação. Deixámos partir um comboio para estarmos mais tempo juntos. Depois despedimo-nos com abraços e beijinhos prometendo estarmos juntos muito em breve.
Neste dia não houve msn nem mensagem via telemóvel.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Pedir prenda de anos!

Terça, 1 de Março de 2005

Este mês foi marcado pelos anos do Fernando Pedro e da tragédia que ele disse ter-se abatido sobre ele quando ia festejar os anos dele e da filha mais velha. Mas lá chegaremos, a seu tempo.
Hoje era a entrada do seu mês astral. Mês que muitos designam por mês "Infernal".  Eu só sei que para mim, começou o mês Infernal. A partir daqui, começou a minha queda financeira. Foi a primeira vez que pedi dinheiro a uma financeira. Foi a Credial. Hoje não existe. Mas naquela altura foi a minha salvação.

Normalmente, os meus dias começavam com um telefonema do Pedro logo pela manhã. Hoje não foi excepção. O telefone tocou estridentemente até eu levantar o auscultador e atender ainda ensonada. Eram 08h35m23s. A hora pouco variava e eu estava ainda, quentinha, entre os lençóis. Estendo o braço e atendo laconicamente.

- Estou sim, por favor?
- Bom dia  Amor mio. Como dormiu o meu bem?
- Bom dia Sr. Pedro. Eu dormi muito bem. E tu?
-Ena! Esse " Sr. Pedro" donde veio?
- Sei lá... Estou inspirada.
- Não. Acordastes inspirada, por que fui eu que te acordei, não foi? Ora diz lá a verdade!
- De facto, foi. Ainda estava a dormir.
- Quentinha? Dava tudo para estar aí contigo. Como seria bom. Levava-te... (Interrompi-o abruptamente )
- Não digas nada para não te arrependeres logo a seguir.
- Achas? Era o que eu mais queria. Apesar de não me pagares o para-pente, não deixo de te amar.
- E não esqueces isso, não?
- Não. Era uma prenda de anos que eu adorava muito.
- Pensa noutra coisa porque isso eu não vou dar.
- Então um auto-rádio daqueles com tudo?
- Isso já pode ser. Vamos à Worten. Tenho cartão.
- De financiamento?
- Não. Não compro nada a prestações. Pago a pronto. O dinheiro das prestações, fica para outra coisa.
- Para mim?
- Apre! Só pensas em ti. E por que não para mim?
- Tu é que sabes. Não te zangues. Ainda faltam 19 dias para eu fazer anos. Até lá ainda posso morrer.
- E não pensas uma coisa mais positiva?
- Queres vir almoçar comigo?
- Então amanhã não é o nosso dia aqui?
- É, mas podias querer vir almoçar comigo.
- Para estar só uma hora contigo? 
- Não posso mais. Amanhã estou contigo o dia todo.
- Então fica combinado, certo?
- Sim, mas não vais ao msn?
- Não sei. Depende do trabalho do meu marido.
- " Do meu marido". Não podes dizer isso de outra maneira?
- Não. Ele é meu marido e será até que a morte nos separe.
- Que coisa mais foleira. Já pareces o padre.
- Sim e tu tens muita experiência disso.
- Não tenho, mas já assisti a casamentos, né?
- Pois.
- Bem vou para a linha de Cascais. E vem aí o chefe. Beijos.
- Beijos e até logo depois das cinco. ( Mas ele já tinha desligado).

17h19m23s

- Estou sim, faz favor?
- Então já casastes?
- Desculpa?
- De manhã estavas a casar com ele.
- Já me casei em 1977. Estava só a dizer que seria casada até que a morte leve um de nós.
- Olha mudamos de conversa. Já fizestes o programa para amanhã?
- Já. Está tudo programado. Assim tu venhas.
- Pois dúvidas nisso?
- Não.
- Vais buscar-me à estação?
- Claro. Não vou sempre?!
- Sim. Nunca te atrasas. Tal é a fominha.
- Não comeces. Estás sozinho?
- Sim. Com quem querias que estivesse?
- Sei lá. Um colega...
- Não. Na intimidade, gosto de ser só eu.
- Que gracinha!
- E a prenda de anos é a que falámos?
- O auto-rádio, certo?
- Pois. Já que não me pagas o para-pente, pode ser o auto-rádio, mas sou eu que o escolho...
- Pois. Ele é para ti.
- Tens dinheiro para isso?
- Que pergunta. Claro que tenho. ( Não tinha, mas já tinha pedido o empréstimo à Credial.)
- Estou cansado. Vou pa casa. Vais ao msn?
- Não sei. Depende.
- Eu espero. Beijocas grandes, gordas e onde e como quiseres.
- Beijinhos e até logo, se eu puder.

Não pude. O meu marido esteve todo o serão no computador.



quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Para-Pente

Segunda, 28 de Fevereiro de 2005

Mais uma conversa tida com o Pedro. Sempre me preocupei em escrever fielmente o que se passava entre nós dois. Recorria ao meu diário a escrever as conversas que tínhamos. Era para a posteridade, como costumávamos dizer.
Também escrevi um livro, mas as personagens são diferentes. Eu não sou psicóloga e ele não trabalha na REFER. 
Mais uma vez estou aqui para relatar o que se passou neste dia.
Já me habituara ao toque do telefone logo pela manhã. Também me habituara a ver as horas para ser fidedigna ao meu diário que me acompanhava sempre.
08h49m37s

- Estou sim, por favor? ( Eu já sabia que era o Pedro, mas nunca tinha certeza. Tinha que ter a máxima cautela. Poderia ser o meu marido ou a minha irmã. )
- Sou eu, Amor mio. A esta hora já sabes que sou eu.
- Nem sempre. Pode ser o meu marido ou a minha irmã para me falar da minha mãe.
- Mas o teu marido telefona  assim tanta vez? Nunca me tinhas dito isso. 
- Nunca veio à conversa. Tenho que ter muito cuidado.
- Então dormiste bem? Eu dormi a pensar em ti. A pensar no nosso passeio de Sábado? Gostastes?
- Gostei muito.
- Tenho pena de não ter andado de para-pente. Um dia hei de experimentar.
- Acho isso um absurdo. Pode acontecer uma desgraça e eu não te quero perder. 
- A sério? Mas nunca me perderás. Juro. Um dia ainda deixo a minha Maria para vivermos só nos dois.
- Outra vez essa conversa? Sabes que nunca vai acontecer.
- Porquê? Eu quero estar sempre contigo e vamos ser felizes para sempre.
- Assim também somos, não achas?
- Não. Não gosto de te repartir com outro. Isso deixa-me louco.
- Mas tu não me repartes com ninguém. Sabes disso.
- Mas dormem na mesma cama.
- Eu deveria ter mais ciúmes. Tu fazes vida com a tua mulher. Eu não faço vida com o meu marido.
- Um dia acordas e ele está-te a fazer carícias.
- Não penses nisso. Somos muito amigos. Só isso.
- Ainda falando no para-pente. Gostava de experimentar. Deve ser uma sensação fora do normal. Pagas-me uma viagem de batismo?
- Já te disse que não te quero perder. Não contes com isso.
- Gostava mesmo. Tu pagas e eu só digo depois de ter ido e envio-te uma fotos.
- Se queres, vais com o teu dinheiro. Não quero contribuir para uma desgraça.
- És mesmo mazinha!
- Não sou nada. Apenas quero o teu bem-estar.
- Bem, já que não me pagas a viagem, vou trabalhar.
- Acho bem. É para isso que te pagam.
- Sabes para onde vou hoje?
- Não. Ainda não disseste.
- Vou para Casa Branca.
- Isso fica no Alentejo.
- Sim, fica. Posso telefonar se tiver possibilidades?
- Só depois das cinco.
_ Beijinhos só nossos onde e como quiseres. Hum! Tão bom.
- Beijinhos e até logo.


18h23m12s

< Amor mio cheguei agora ao Oriente e ainda tenho que preencher uns papéis. Já não deu para falarmos. Estava um frio de arrepiar. Tu sabes como é. Logo vais ao msn? Espero por ti pelas, 9h45m. Pode ser? Se não poder, envia mensagem para o telemóvel. Bjs onde e como quiseres. Adoro-te sabia? >

Nesse dia não pude ir ao msn. Enviei mensagem. Também já não me enviou nada de volta.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A vinda para Lisboa!

Domingo, 27 de Fevereiro de 2005

Nesta época Natalícia, estive ausente. Hoje, porém, voltei à ribalta.
Mais umas mensagens deixadas pelo Fernando Pedro. Sei que ele tem partido muitos corações depois de ter deixado de andar comigo. Continua o mesmo biltre de sempre. Há mulheres que esquecem e continuam a sua vida, mas outras continuam agarradas ao passado e às malandrices que ele lhes fez. Eu, contudo, segui a minha vida. Apenas escrevo para alertar outras mulheres que tenham acesso ao meu blog. Não estou obcecada com isso. A raiva que senti noutros tempos, já não a sinto. Sou uma mulher liberta do fantasma do passado. Enfim, sou livre.

Neste Domingo as mensagens foram poucas. Passámos mais tempo no msn. 

10h23m14s

< Bom dia amor mio. Tenho saudades tuas. Aparece no msn às 15h. Bjs só nossos. >

Eu fui fiel. Às quinze horas estava na saleta ao computador à espera dele. Logo me chamou e falámos imenso. Falou-me que tinha vindo para Lisboa para servir de paquete numa fábrica onde estava uma prima dele. Tinha, na altura, doze anos. Disse-me que cedo começou a abrir os olhos e que o mulherio lhe ensinou muita coisa. Também me falou que a prima era a sua tutora, mas ele não gostava de ser um bibelot. Queria vida própria e depressa se embrenhou em algumas casas de fado para saber se poderia cantar. Não lhe foram abertas portas nesse sentido. Mas que, agora, cantava karaoke e se sentia muito feliz por isso. Eu já o tinha ouvido cantar o "Porto Sentido" e tinha gostado muito. Também me falou que era fã do João Pedro Pais. Um artista que não faz o meu género.
Falou-me, ainda, na conta para pagar nas finanças. E disse-me que qualquer dia ia visitá-lo às Mónicas. Falou do irmão que morreu num acidente de moto. Hoje sei que foi assassinado. Pelo menos é o que dizem na terra. Falou de muita coisa, mas não registei tudo.
A conversa terminou por que o meu marido me chamou.

21h54m38s

< Dorme bem. Gostei de desabar contigo. Bjs onde e como quiseres. > 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Ida a Setúbal!

Sábado, 26 de Fevereiro de 2005

Mais um lapso. É Dois mil e cinco. No Google mais já não dá para remediar.

Foi neste restaurante que eu e o Pedro almoçámos neste dia. Mas vou começar do princípio. Mais uma vez me sirvo do meu diário. Sem ele, sentir-me-ia perdida.

Pelas 10h da manhã já me encontrava à porta do Centro Vasco da Gama. Andavam, ainda, a preparar tudo para o abrir. O chão estava molhado e pessoas passavam apressadas para as suas lojas. Eu encostei-me à porta, do lado de dentro pois fazia muito frio, embora o sol brilhasse. Levava o meu casaco vermelho. De repente senti uma mão nas costas e dei um salto de susto.
Era o Pedro que vinha de dentro do Centro. Levou-me, novamente, para o sítio dos autocarros. Lá tinha deixado o seu Mercedes Benz estacionado.
Abriu-me a porta e convidou-me a entrar. Dali seguimos pela Ponte Vasco da Gama em direcção a Setúbal.
Conduziu devagar e sempre com muita atenção à estrada e aos outros condutores. Lá ia cantarolando os cantares de Alvito. Gostava particularmente da " Laurindinha ".  E batia com a mão a fazer de compasso no volante. Eu ouvia-o. De facto que eu gostava muito de o ouvir cantar. Mesmo com a voz de cana rachada, mas cantava bem.
Na Ponte passámos sem via verde. Disse que não queria que soubessem onde levava o carro.
A viagem correu bem. Em Setúbal, deixou o carro estacionado do lado contrário dos restaurantes. Atravessámos e fomos à procura de um. Ele escolheu o "Rei do Choco Frito", cuja foto eu escolhi para hoje.
Levámos algum tempo na fila, mas valeu a pena.
A mesa era só para dois e foi mais fácil arranjar. Comemos os chocos, salada e batata frita. Tudo estava muito bom, mas antes perguntou-me se eu já lá tinha estado com o meu marido. Menti. Eu já conhecia o restaurante e o serviço que era óptimo.
Não comi sobremesa nem café. Estava numa dieta. Andava em tratamento numa clínica para emagrecimento e tinha que seguir a dieta à risca.
Dali fomos para a Serra da Arrábida. Num dos miradouros desta Serra vimos que estavam a fazer para-pente. O Pedro disse que devia ser um desporto muito bom e que gostava de experimentar. Se eu alinhava. Hoje sei que ele queria que eu lhe pagasse, mas na altura pensei que me queria levar com ele naquela coisa e disse que não. Disse que deveria ser uma adrenalina tão intensa que deveria ser o máximo. Eu mostrei medo. Não sabia onde aquela coisa iria aterrar e se ficaríamos bem.
O Pedro ficou triste com a minha decisão e notou-se no seu semblante, mas eu referenciei alguns aspectos negativos.
Daqui fomos para o Portinho da Arrábida. Lanchámos num café ali mesmo à beira da estrada. Claro que quem pagava tudo, era eu. Ele ainda comprou trouxas de Azeitão e eu paguei. Disse que tinha dito em casa que vinha para Setúbal trabalhar e que tinha que levar qualquer coisa para calar a boca.
Fizemos o regresso para Lisboa. De vez em quando beijava a minha mão e metíamos as mudanças juntos.
No comboio foi a despedida de sempre. Beijinhos e abraços sem fim e quando a porta do comboio fechou, ele colocou a mão dele no vidro e eu a minha colada à dele. Eram sempre assim as nossas despedidas, até certo ponto. Depois começaram a ser diferentes por que ele já tinha o que queria.
E foi assim que terminou mais um dia com ele.
Regressei a casa e já não houve nem mensagens nem msn nesse dia. Tinha sido mais um dia cumprido na sua companhia.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Regar o Amor!

Sexta, 25 de Fevereiro de 2005

Por aqui passei muitas vezes com o Pedro. Hoje não quero recordar esses dias e esses momentos nefastos na minha vida tão pacata que tinha antes do conhecer. Mas era eu e depois passei a ser outra pessoa que me fazia ser diferente, sensível, apaixonada e acreditar em cada palavra que vinha da sua boca nojenta e  sem qualquer brio que o levasse a ser diferente para comigo. Ele era o demónio. Eram chifres que ele carregava na cabeça em vez daqueles cabelos pintados de preto e com aquele corte à rapazola. 
Mais uma vez, estou diante do meu diário e mais uma vez, eu vejo o quanto ele era hipócrita e desonesto.

08h56m37s

- Estou sim, por favor?
- E eu também estou aqui para falar um cadinho contigo. Pode ser?
- Claro que pode. Por que não?
- Sei lá. Diz-me tu. Estás sozinha?
- Sim. Porquê? Deveria estar mais alguém aqui? Que eu saiba, não. O meu marido já está a trabalhar, a minha filha está na A****** e a Glorinha só vem à 1h da tarde.
- As tuas colegas podiam ter dormido aí.
- Vá lá, não sejas infantil. Elas foram embora.
- É que ontem tinhas o telemóvel desligado e não aparecestes no msn.
- Ah! É só isso?
- E achas pouco? Ou só elas é que contam para ti?
- Não. Tu contas mais. Mas eu não posso arriscar. Queres estragar tudo? Temos que ter cautela.
- Pois, isso. Ontem era bom falarmos. Ela estava a trabalhar.
- Mas eu tenho o meu marido todos os serões comigo. Ele já só me pergunta quem envia mensagens tão tarde. Temos que ser mais comedidos. 
- E eu a sofrer o teu silêncio. A sofrer à espera que apareças e a ficar destroçado quando não apareces. Nem durmo de noite.
- A sério? Coitadinho. E eu é que durmo mal.
- Bem. Amanhã como é que é! Vens ter comigo?
-  Estava a pensar nisso. O meu marido já disse que vai à minha sogra e que janta lá.
- É bom. Vamos até Setúbal comer peixinho fresco.
- A sério? Mas isso é bom. Há uns restaurantes à beira rio muito bons.
- Ei, pera lá... Quem vais escolher, sou eu. Não quero ir onde já fostes com o teu marido. Isso dá-me voltas ao estômago.
- Está bem. Nem vou dizer nada. Tu é que orientas tudo. Para quê eu. Para que sirvo? Eu sei para que sirvo.
- Bem, fica combinado. Amanhã vem cedo. Vens ter comigo. Está aqui às 10 horas. 
- Até nas horas mandas. Mas está bem. Eu estou aí.
- Assim, digo em casa que venho trabalhar e digo que vou para Setúbal.
- Eu nem digo nada. Ele escusa de saber que saí.
- É melhor. Eu trago-te sã e salva. Agora deixamos de tanta converseta. Tenho que ir trabalhar.
- Até logo, depois das 5.
- Só depois das 5?
- Sim. É quando a Glorinha sai.
- Vá, beijokinhas onde e como quiseres. Onde? Diz lá...
- Onde é hábito. Nos lábios.
- Pois... Já tenho beijado outras coisas.
- Não sejas ordinário. Esquece.
- Hum! Aqueles beijinhos naquele sítio tão quentinho e delicioso?
- Beijinhos e até logo.
- Beijinhos e fica bem.

17h12m31s

- Quem fala, por favor?
- Daqui planeta Vénus, chama terra. 
- Que espiritualista! Sabes o que é Vénus para os apaixonados?
- Sei. É a Deusa do Amor. E o nosso Amor precisa de ser abençoado por ela. De vez em quando precisamos de apimentar e regar o nosso amor.
- Eu rego com carinho, afecto, amor, ternura...
- Pois, mas isso não chega.
- Então que tenho que fazer para ser mais regado?
- Puxa pela cabeça.
- Não sei. Não sei onde queres chegar.
- Um dia vais perceber, mas pode ser tarde.
- Lá para a noitinha? Já é tarde da noite.
- Não me refiro a "essa tarde".
- Terás que me explicar melhor. Eu não entendo e depois fico em baixo por que não sei onde queres chegar. Não sei o que fazer com "esse regar o Amor"
- Bem, amanhã aqui às 10 horas. Logo vais ao msn?
- Não posso arriscar, mas vou ver o que posso fazer.
- Vá, fica bem. Beijikonhas só nossas, do jeito que tu dás. Hum! Tão gostoso. Amanhã vamos dar muitas.
Beijinhos de mel.
- Inté amanhã.

21h42m43s

< Estou no msn. Bjs, >

Fui ao msn e falámos pouco. O meu marido vinha cansado e foi deitar-se ao mesmo tempo que eu. Como tinha o computador na saleta, ele via que eu estava a falar com alguém. Mas combinámos o nosso encontro.



sábado, 19 de dezembro de 2015

Comparar!

Quinta, 24 de Fevereiro de 2005

É uma foto do grupo de cantares de Alvito. Terra que viu nascer o sociopata de que falo agora.

Estive a ler o meu diário e vi quanta coisa desagradável e repugnante me fez o Pedro. Nada fica impune. Um dia irá pagar por tudo o que já fez a tanta mulher e continua a fazer. O Juiz Supremo dá de volta o que fazemos quer ser bom ou mau.
Nesta Quinta eu tinha as minhas colegas a passarem o dia comigo. Nada me deu mais gozo na vida. Foi um dia em que esqueci que andava com o Pedro e um dia para recordar de tanta coisa boa. Porém, logo cedo, tive-o a chatear-me. Mas a partir daí, o dia foi para mim e para dedicar àquelas que me ajudaram em tempos difíceis.
Como sempre, o telefone tocou. Eu vinha a sair da casa de banho já pronta e alegre. Mas aquele toque fez-me arrepiar e descer à terra.
Eram 08h32m20s

- Estou sim, por favor?
- Amor mio, sou eu. Ainda estás sozinha?
- Vê-se, não. É que hoje já não voltamos a falar. Elas devem estar a chegar.
- Então vai ser um dia em grande, né?
- Vai ser um dia maravilhoso. Não vou esquecer.
- Com essa converseta estás a querer dizer que comigo não é maravilhoso?
- Nada disso. Tu é que pões palavras na minha boca que eu não disse.
- Então os nossos dias são mais maravilhosos?
- Cada um tem a sua beleza e sentidos diferentes. Nada de comparar.
- Ok! Eu não comparo, prontos.
- É melhor. Estás sempre a desdizer o que eu digo. Sempre contrapões. Não é bonito.
- Não te zangues ´mor. E não posso enviar mensagens?
- É melhor não. 
- Prontos, já sei que não te vais lembrar de mim.
- Nada te leva a pensar assim. És tão desconfiado que me deixa triste. Bolas!
- Vá. Diverte-te. Fica bem. Beijinhos onde e como quiseres, minha Shakti.
- Beijinhos para ti também.
- Ouve, posso esperar por ti no msn? ( Eu ouvi-o, mas fingi que já estava a desligar ).
- Já não me ouviu. A pressa de desligar. Porra...

Neste dia ficámos por aqui, eu e o Pedro. Quando o meu marido chegou, elas ainda estavam cá. Cumprimentaram-no e disseram que tinha sido um dia muito agradável. O meu marido foi para a cozinha e nós ainda ficámos nas despedidas e nas promessas de mais dias assim. À noite contei ao meu marido como o dia tinha sido divertido. Deitei-me muito feliz e satisfeita. O dia não poderia ter corrido melhor.