domingo, 13 de dezembro de 2015

Freeport!

Sábado, 19 de Fevereiro de 2005

Hoje brindo-vos com uma foto muito bonita do Freeport. Foi aqui que o Fernando Pedro me levou neste dia, há dez anos.

Era Sábado como menciono acima. Eu levantei-me cedo. Claro, depois do meu marido sair para ir para casa da minha sogra. Pensava eu que seria um dia igual a tantos outros passado ali pelo Oriente. Mas não. Foi um dia bem diferente e com muita história.
Como sempre acontecia, encontrámo-nos na porta que dá acesso ao Continente. Eu esperei que ele chegasse. Não demorou muito. Ele já tinha ido beber o seu café. Dizia-me que não funcionava sem o beber logo pela manhã.
Assim que me viu, começou a rir-se e beijou-me efusivamente, como sempre. Saboreou o meu beijo e disse que era gostoso. Disse-me que só eu lhe dava os beijos que ele gostava. Até lambia os lábios e parecia que estava mesmo extasiado com eles. Na altura, eu pensava que ele falava verdade. Que eu era muito importante para ele, mas já aqui deixava ver os seus pés de barro que eu ignorava por completo e fingia não ver para não me desiludir cedo de mais.
Apanhou a minha mão e conduziu-me para fora do Centro. Levou-me para o parque de estacionamento perto dos autocarros. De facto que eu ia muito intrigada e perguntava ao meu eu interior o que ele tinha preparado. Senti receio. Estava com um mau pressentimento e agoniava-me o facto de me levar para um sítio daqueles. Era novo para mim. Pensei que me levasse de autocarro para um sítio solitário. Realmente, tive mesmo receio. Porém, o meu receio desvaneceu-se quando parei junto do carro dele. O Mercedes Benz cinzento metalizado estava ali à minha frente. Ele abriu a porta, gentilmente, e convidou-me a entrar.
Sentei-me e ele deu a volta ao carro e foi para o sítio do condutor. Eu continuava sem saber qual o meu destino.
Pôs a chave na ignição e colocou-o a trabalhar. Olhava para mim com um ar de satisfação e ria por ver a minha desorientação. Perguntei várias vezes onde me levava, mas não me disse. Apenas dizia que era surpresa. Mas que surpresa.
Foi com um místico de curiosidade que vi que estávamos na Ponte Vasco da Gama. Voltei a perguntar para onde me levava, mas manteve o seu secretismo. Só se ria e não dizia nada de nada.
Ele conduzia com pouca velocidade. Não sei se para aumentar o suspense ou se era realmente assim. Chamei-o à atenção e respondeu-me que quando vai só, gosta de pisar no acelerador, mas quando leva alguém ao seu lado, tão precioso como eu, tinha que ser cauteloso. Mas um dia, e lá chegarei, isso não aconteceu e não tivemos um acidente por que não calhou.
Porém, neste dia, ia muito devagar e compenetrado na condução. De vez em quando, beijava a minha mão esquerda e metíamos as mudanças ambos de mãos dadas.
A minha admiração foi enorme quando verifiquei que íamos rumo ao Freeport.
Estacionou o carro e andámos pelas ruas do comércio. Lá ia dizendo que gostava disto ou daquilo, mas eu não lhe comprei nada. Não percebia a sua intenção. Era ingénua. Não pensava que andava comigo por puro interesse.
As horas passaram e a hora do almoço chegou. Pusemo-nos a escolher o restaurante. Este não porque ele não gostava da ementa, o outro porque não era recomendável e a sorte caiu no restaurante chinês. Aí abriram-se-me os horizontes. Ele gostava de comida chinesa. O restaurante era muito chique. Os empregados de uniforme a condizer e eu senti-me menos à vontade. Gostava de coisas simples e não tão complicadas.
A carta foi-nos entregue. Uma para cada um. Eu adoro Shop shoe de galinha ( acho que é assim que se escreve ) e ele pediu pato à Pequim. Pediu, ainda arroz xau xau e lá vieram os pauzinhos para comermos o arroz. Eu nem experimentei, mas ele comeu como se estivesse habituado a isso. Ainda me tentou ensinar, mas foi infrutífero. Não consegui. Também pediu crepes e outras iguarias que eu não comi porque não gostei. Houve um prato que ele pediu que eu nem sabia como se comia e ele ensinou-me com tanta perícia que eu estranhei.
Ria-se tanto da minha falta de jeito que eu não achei graça nenhuma e até disse que ninguém nasce "Chinês". Eu adorava coisas com soja e ainda hoje gosto.
Quando chegou a conta, claro que fui eu que paguei. Ali não achei estranho. Ele tinha levado o carro.
O dia estava ensolarado, mas muito frio. Estávamos em Fevereiro.
Então sentámo-nos num banco escondido dos olhares indiscretos.
Foi aí, que mais uma vez, começaram as conversas das descobertas.
Eu perguntei-lhe como ele reagiria se eu terminasse tudo. Respondeu que montava uma tenda à minha porta e cantaria serenatas até eu o receber de volta. Não lhe importava o meu marido, os vizinhos ou a sua família. Ele estava disposto a abdicar de tudo para ficar comigo. Fiquei calada. Não sabia o que dizer. Ele estava a pôr-me num patamar que eu não merecia. Então contei-lhe que já tinha pensado várias vezes em terminar a nossa relação. Não estávamos a ser justos com os nossos cônjuges. Nem com as nossas filhas, as dele e a minha. Se bem que a minha já o conhecia, mas não tinha gostado dele. Não lhe frisei esta parte, não é? Ele pensava que a minha filha tinha ficado a morrer de amores por ele. Era muito convencido.
Puxou a minha cara para me olhar de frente. Eu olhei e ele estava lívido de indignação. Não aceitaria NUNCA um não da minha parte. Disse que eu era o sol dele, o seu caminho, a sua vida, o seu respirar, o seu mundo, a sua alma e muitas outras coisas que não valem a pena serem mencionadas por as achar foleiras.
Disse-me que punha uma tenda à minha porta como já me tinha dito uma vez.  Disse-me que NUNCA nos haveríamos de separar. Eu fiquei  séptica, mas não ripostei.
Perto das 16h, viémo-nos embora.
 O caminho foi feito com a mesma cautela e, de vez em quando, o Pedro cantarolava uma canção de amor. Dizia que era dedicada a mim e para não ter mais pensamentos em o deixar.
Foi levar-me ao comboio e a despedida foi igual a tantas outras. Parecia que o Pedro me amava de verdade. Porém, era um amor interesseiro. Como macho, que se julgava ser, não queria que fosse eu a deixá-lo. 

sábado, 12 de dezembro de 2015

Convite!

Sexta, 18 de Fevereiro de 2005

É bom voltar a escrever. Umas vezes, penso que vou partir para uma vida mais saudável e sem Fernando Pedro a machucar o meu coração. Outras vezes penso que tenho que expor ao mundo o quanto sofri nas mãos dele. Não como vingança, mas como um alerta para alguma mulher que possa ler e não cair no conto do vigário que o Fernando Pedro conta a todas. Sinto-me dividida entre ajudar quem quiser a minha ajuda ou, simplesmente, encerrar um assunto que, apesar de tudo, ainda me magoa bastante. Não porque sinta alguma coisa por ele. Hoje e vendo bem as coisas, não senti nada senão o fascínio de uma aventura extra-conjugal. Era simpático, amoroso, adivinhava os meus pensamentos e, por fim, já era só uma aberração da natureza. E ainda continua a ser.

08h45m10s
O telefone tocou e eu levantei o auscultador com imensa preguiça. Apetecia-me dormir mais e a Glorinha só vinha às treze horas.

- Estou sim, quem fala?
- Falo eu, se me quiseres ouvir.
- Bom dia. Então estás mais calmo?
- Porquê? Não tenho andado?
- Ultimamente tens andado com ideias esquisitas e sem fundamento.
- Ai chamas isso a ideias geniais que tenho tido para vivermos juntos?
- Não vamos começar, pois não, Pedro?
- Hoje não. Mas não vou esquecer. Tenho um convite para te fazer...
- Ir almoçar contigo? Esse convite já tem barbas.
- Por acaso não é, mas se quiseres vir almoçar comigo, seria muito bom.
- Não. Hoje não vou. Desculpa e não digas que se evitam por que hoje não quero evitar nada.
- Até me tiras a vontade de te fazer o convite!
- Então diz lá!
- Amanhã queres vir ter comigo ao Oriente? Tenho uma surpresa para ti.
- De verdade? Até tenho receio. Não é para ir ver apartamento nenhum, pois não?
- Não. Mas também não te posso dizer o que é a surpresa. Alinhas?
- Hum! Deixa-me pensar bem para não me arrepender.
- Acredita que não te vais arrepender.
- Posso pensar e dar-te a resposta logo?
- Mas tem que ser antes de eu sair.
- Está bem. Logo quando telefonares, eu digo.
- Pois! É que tenho que dizer em casa que venho trabalhar.
- Está bem. Eu logo digo-te e combinamos.
- Agora fica o meu coração aos pulos sem saber o que vais dizer. Eu gostava tanto.
- Depois logo falamos.
- Já me estás a despachar?
- Não. Só vais quando eu te mandar embora. Ficas grudado no telefone. Eu coloco o auscultador de lado e tu ficas aí à espera.
- Engraçadinha. Vê lá não te caia um dente.
- Não me vou repetir.
- Também já sei o que ias dizer, né?
- O costume quando me dizes isso.
- Olha vou sair.
- De verdade? Que pena!
-Tens mesmo pena? Ou estás a gozar-me?
- Não sei, diz-me tu.
- Bem, vou trabalhar. Logo dá-me a boa nova.
- Que "boa nova?" ( já me tinha esquecido do convite)
- De vires ter comigo amanhã.
- Ah! Sim. Logo dou a resposta. Não te aflijas por isso. Se é assim tão importante para ti?
- É para mim e para ti. Então vou fazer qualquer coisa. Senão, não me pagam...
- Até logo. Beijinhos.
- Beijinhos também para ti onde e como quiseres.
- Até logo.

12h30m12s

< Estou a almoçar como um cão. Sozinho. Fazias falta. Bjs só nossos. >

Eu sei
 que ele me estava a passar uma mensagem. Era para lhe pagar o almoço.

17h25m45s

- Estou sim, por favor?
- Já estás melhor? Mais bem disposta?
- Sim. Nunca estive mal disposta.
- Hoje de manhã, deste-me para o azar. Já pensastes?
- Já. 
- E...
-Está bem. Vou contigo. Não sei que será a surpresa, mas não me deves levar para um sítio mau, não?
- Não. Eu sei que vais gostar.
- A ver vamos, como dizem os cegos. E eu vou cegueta. Não sei para onde me levas. É ao Oceanário?
- Frio, frio. Não te posso dizer. É surpresa.
- Pronto. Não faço mais perguntas.
- Logo vais ao msn?
- Vou. Mas é só um bocadinho.
- Um cadinho, está bem. Já chega para dormir a pensar em ti. Agora ainda vou a Santa Apolónia. Até logo. Beijokas doces.
- Até logo. Beijinhos.

Falámos no msn, mas foi pouco tempo. Ele estava acompanhado.







quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Um apartamento!

Quinta, 17 de Fevereiro de 2005

Logo pela manhã fui acordada pelo estridente som do telefone. Ainda dormia. Tinha passado mal a noite a pensar como me haveria de livrar do Pedro. O amor que julgava sentir por ele não era mais que uma paixão no vazio de um coração que não tinha nada para me ofertar. O coração dele era vazio e sem vida. Apenas via o lado da luxúria e do seu bem estar.
Eu sonhava por um amor de verdade e que pensava que tinha encontrado a seu lado. Era tão gentil no princípio que me fez amá-lo e querê-lo para umas horas de prazer. Sabia que ele tinha mulher. Sabia que eles se davam mal ou pensava isso pelo que ele contava. Mas não queria passar o resto da minha vida a seu lado. Nunca pensei nisso. Era mais divertido assim. Dava mais ênfase à relação. Porém ele não pensava assim. Ou fazia-me querer que não era assim.
Atendi o telefone, mas desta vez muito diferente. Estava fria e distante.

- Estou!
- Ena, que grande recepção. Ou ainda estavas a dormir?
- Sim e não.
- Estavas. Eu já dormi contigo e sei como acordas.
- Ai sabes? Então diz-me lá como acordo?
- Com voz rouca e muito ensonada. Mas muito amorosa e isso não aconteceu hoje.
- Tem dias. Hoje é um dia diferente.
- Pena! Vinha com uma ideia para nós.
- Então xuta lá essa ideia genial.
- Estive a pensar que o dinheiro gasto na p****** do L*****, arranjávamos um apartamento. Poderíamos encontrarmo-nos mais vezes e mais à vontade. Era só nosso.
- E onde?
- Aqui no Parque das Nações.
- E logo num sítio baratinho.( Satirizei)  
- Então tens uma reforma tão boa que nem davas por pagar...
- E dizia o quê ao meu marido? Que o dinheiro era para beneficência? A não ser que tu alinhes também.
- Nã, nã. Não tenho dinheiro para isso. Tenho a C******* R***** na escola e ela dá muita despesa.
- Pois, já me tinha esquecido que tu não tens dinheiro para nada.
- Se unirmos forças, conseguimos arranjar um apartamento. Já tive a ver uns aqui na net.
- Pois, mas devem ser caros. E eu não posso disponibilizar esse dinheiro mensalmente.
- Vá lá. Há um aqui perto que custa só 450€. Mesmo perto do meu trabalho. Até podíamos dormir aqui. E quando fossemos viver juntos, já tínhamos um.
- Viver juntos? Mas quem te disse que eu quero isso? Nem tu queres. Não vais deixar a tua família.
- Para viver melhor, até deixo. Tu tens uma boa reforma...
- Espera lá! Estás a pensar no meu dinheiro?
- Nãaaaaaaaaaao. Apenas na tua felicidade e na minha.
- Pois. Eu acredito.
- Que devo fazer para tu acreditares? Olha já não volto hoje para casa e monto uma serenata à tua porta. Queres?
-...............
- Então ficastes calada?
- Isso nem tem pés nem cabeça.
- Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.
- E isso é para dizer o quê?
- Que vou trabalhar.
- Pois. Foge à pergunta.
- Logo falamos?
- Sim, se a conversa for interessante.
Até logo. Beijinhos onde e como quiseres. Fica bem!
- Até logo. Beijinhos.

Quanto desliguei pensei que ele estava doido. Só podia. Talvez fosse para me experimentar.  Desvalorizei e voltei a mergulhar no sono. Durante o dia nunca mais pensei no que me tinha proposto. Pelas 17h03m12s o telefone voltou a tocar.

- Estou sim, por favor?
- Hum! Assim já gosto mais de te ouvir.
- Sou a mesma pessoa.
- Mas agora estás bem disposta.
- Não voltes a estragar.
- Não. Só penso no melhor para nós. Fui ver o apartamento.
- O Quê? Só deves estar doido.
- Não. Estou perfeitamente bem. É ideal. Lindo. Tem vista para o Tejo.
- Não me interessa para onde tem vista. Não quero e pronto.
- Mesmo que isso nos separe?
- Sim.
- Ena ! Tão seca... Não fui nada, mas era um bom investimento. Queres vir vê-lo amanhã?
- Não. Não me interessa. Mete na tua cabeça que nem tu deixas a tua mulher nem eu quero deixar o meu marido.
- Ela está impossível. Agora com esta coisa das finanças nem posso abrir a boca lá em casa. Até saía de boa vontade.
- Mas não vais sair. E se saíres, depressa voltas.Isto é muito bonito, mas por que estamos a encontrarmo-nos de vez em quando.
- Bem, contigo, um homem não pode sonhar com uma vida melhor...(interrompi-o abruptamente)
- Queres uma vida melhor comigo por que tenho uma boa reforma ou por que te sentes bem comigo?
- Pelas duas coisas. Tu és tudo para mim e um dia vamos viver e casar. Eu nem sou casado com ela!!!
- Já é tarde. Amanhã é outro dia.
- Ena! estás com mau feitio.
- Não. Apenas realista.
- Até amanhã. Até logo. Não vais ao msn?
- Talvez. Beijinhos.
- Beijinhos só nossos.

Não fui ao msn. Nem recebi mensagem. Desliguei o telemóvel.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

As minhas mágoas!

Quarta, 16 de Fevereiro de 2005

Mais um dia que fui ter com o Pedro ao Oriente. Foi um dia igual a tantos outros que por ali passámos. Já não sei se será melhor continuar a escrever e a expor a minha vida ou, se por outro lado, terminar  aquilo que comecei para que outras mulheres saibam do que é capaz este fulano. 
Porém, não sei se alguma das mulheres que andam com o Pedro S**, Pedro Sintra, Pedro Lisboa, etc, seguem o meu blog e se as posso ajudar dando a conhecer ao mundo como ele trabalha.

Cheguei ao Oriente perto das 12h. Fiquei à espera dele na porta que dá acesso ao Continente. Foi aí que esperei por ele a primeira vez e muitas outras.
Ele chegou e vinha com um sorriso de orelha a orelha. Abraçou-me e beijou-me com ganância. Senti-me protegida. Pensei que ele era o meu baluarte. Porém, um baluarte tão fraco que ruiu ao menor abanão. Só que eu andava cega e não enxergava direito o que ele andava a tramar. Quando o fiz já era tarde e ele tinha levado tudo de mim.

De mãos dadas percorremos o Centro até às escadas rolantes. Subimos até à área dos restaurantes. Uma vez aí, fomos almoçar ao só peso. Ele colocou-se à minha frente como o fazia sempre. De tabuleiro na mão lá ia colocando o que mais lhe agradava. Eu atrás qual cordeirinho que segue para o matadouro. Já sabia como aquilo funcionava. Ele agia assim para ser eu a pagar a conta. Estúpida de mim. Ele vive à custa de mulheres carentes, divorciadas, viúvas e mal amadas.  Por um punhado de sexo, vende-se. Além dos atributos psicológicos que já lhe atribui ainda vão mais estes. É um chulo, um proxeneta .
Quando dei por ele, já se encontrava numa mesa sentado, ao canto, perto do balcão. A moça pesou o meu prato e disse-me que o senhor da mesa do canto lhe disse que eu pagava. Claro que tinha que pagar, não? 
Senti-me vazia e incapaz de o olhar nos olhos. Perguntou-me se estava tudo bem. "Está" respondi laconicamente. Já não tinha apetite e nem me apetecia estar ali. Apetecia-me fugir dele e da mentira em que se estava a tornar a nossa relação. Mas fiquei e fiquei muitas vezes.
Disse-me que o problema das contas nas finanças não estava resolvido. Pela primeira vez mencionou que, um dia, iria visitá-lo às Mónicas. Eu conheço bem. Foi lá que fiz o meu estágio, uma parte dele.
Eu não respondi e esperei, pacientemente que ele acabasse de comer. O meu ficou lá quase todo. Pouco comi. Tinha perdido o apetite.
Levantou-se e nem perguntou por que eu não tinha tocado no comer. Talvez adivinhasse.
Dali fomos para a rua. Estava um frio enorme. E ainda sentia mais frio por ver a cara de pau que ele era.
Sinceramente não sei do que falámos. Não registei nada. Na minha cabeça apenas estava uma coisa. " Acabar de vez com ele". Tinha que o fazer. Ele não me amava como dizia. Ele estava a fazer o jogo dele. Mas eu não sabia bem que jogo jogar com ele. Era uma espécie de jogo da cabra-cega. Eu tinha os meus olhos vendados.
Foi um dia para esquecer.
Quando cheguei a casa, não sabia o que escrever. Tinha passado tudo em branco na minha mente. Escrevi apenas o que menciono.
No caminho de regresso a casa, chorei copiosamente num banco, numa carruagem de um comboio verde, as minhas mágoas.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Falar sobre a loja!

Terça, 15 de Fevereiro de 2005

Sempre me preocupei em seguir o meu diário. Não faltar a nada que esteja escrito nele para que saibam aquilo por que passei com o Fernando Pedro.
Nesta altura as coisas ainda eram um "mar de rosas" se bem que houvesse algumas outras em que ele se revelava tal qual o que é hoje. Um sociopata, um bipolar e um biltre da maior espécie. Tenho sabido coisas, que ele continua a fazer, que me deixam de coração aos pulos. Nem com a idade, ganha juízo. 

Neste dia, foi mais um dia de telefonemas e desabafos da parte dele. Continuou a falar do problema da loja. Tanto assim que eu tive pena dele, mas não sabia como ajudá-lo. Ainda mencionei que se fosse uma quantia mais pequena, eu o ajudaria.

08h46m23s

- Estou sim, por favor?
- Ao menos hoje podemos falar à vontade.
- Pois! Bom dia para ti também.
- Bom dia ´Mor. Dormiste bem? Estás bem?
- Sim. Deveria estar mal? Diz-me tu...
- Ainda bem que um de nós está bem.
- Porquê? Tu não estás? Que se passa? Posso saber?
- Hum! Se calhar já não te lembras da nossa conversa de ontem.
- Qual delas? Tivemos tantas...
- Quando cheguei a casa tinha lá outra carta das finanças.
- Ah! Sobre a tua loja?
- Sim. Dizem-me que tenho que pagar o dinheiro, senão vão aos meus bens. A casa ainda está no nome do meu irmão. A outra não. Tenho que vendê-la o mais depressa que puder. 
- É muito dinheiro. Não te posso ajudar.
- Eu não te tou a pedir nada. Olha, sabes de alguém que me queira comprar a outra casa? Dava-me mesmo jeito.
- Não, não sei. Já a puseste numa imobiliária?
- Esses querem quase metade só para eles. Já tentei.
- Vais ver que vais sair dessa. Se não fosse tanto dinheiro, eu ajudava-te. Mas não tenho essa quantia no meu nome só.
- Obrigado. És uma querida. Tenho que fazer e nem sei o quê.
- É constrangedor, mas eu não te posso ajudar com uma quantia tão grande.
- Deixa lá. Um dia vais ajudar-me.
- Como? 
- Sei lá. A vida dá cada volta... Nunca se sabe. É por isso que eu gosto de ti.  Estás sempre quando eu preciso.
- Nem que seja para falares...
- E já é bom. Poder falar assim dos meus problemas contigo. Lá em casa nem pensar. Ontem quando vi a carta, quis falar mas ela não me quis ouvir. Disse que o problema era meu. E é.
- Bem, não é bem assim. Cá em casa quando um tem um problema, ele é dos dois. E tentamos resolvê-lo. Contigo será a mesma coisa.
- Não é. Mas vamos falar de nós. Queres vir almoçar comigo?
- Não posso. Tenho coisas a arrumar. Agora que a minha mãe foi embora, tenho muito que fazer.
- Mas não tens a tua empregada?
- Tenho. Ela vem hoje da 1h até às 5 para me ajudar. 
- Então posso telefonar?
- Podes. Depois dessa hora.
- Ok! Agora vou trabalhar. Vou para Cascais.
- Bom trabalho.
- Até logo. Beijokinhas doces, molhadas, do jeito que tu sabes dar.
- Beijinhos também para ti. Bom trabalho e não penses muito. Tudo se há de resolver.


12h10m45s

< Vamos agora almoçar. Se tivesses vindo mostrava-te Cascais. Bjs doces. >

17h15m21s

- Estou sim, faz favor?
- A esta hora posso falar?
- Podes. Por que não? Já estás no Oriente?
- Não. Estou em Entrecampos. Não viste pelo número?
- Não reparei e além disso são tão parecidos que nem vejo onde está a diferença.
- Nalguns zeros, só. Então já arrumastes tudo?
- Mais ou menos, está quase.
- Amanhã era o nosso dia. Queres vir ter comigo?
- Pode  ser. Estás com saudades?
- E tu não estás?
- Claro que estou. Parece que não te vejo há meses.
- Ena! Tanto exagero. Ainda nos vimos ontem. E foi bom.
- Pois foi. Já estás mais bem disposto?
- Nunca estive mal disposto. O almoço até foi bom...
- És mesmo engraçado! Gosto de ti assim.
- Só Deus sabe como ando, mas tudo há de passar. Logo vou deitar o barro à parede. Pode ser que a mãe dela alinhe.
- Tudo pode acontecer. Eu ajudava-te se fosse menos dinheiro.
- Eu sei. Obrigado. És um Amor. Já te disseram isso?
- Já. O meu marido quando lhe faço um favor.
- Tinha que ser esse gajo. Porra!
- Fala bem. Ele é o meu marido. Tenho que falar nele. Fizeste uma pergunta e eu respondi.
- Já estivestes a falar melhor.
- Tu também falas da Z**** e eu não digo nada. Só compreendo.
- Então, amanhã vens almoçar comigo?
- Vou.
- Nesse caso, não almoço sozinho e tenho com quem falar. Agora vou-me embora.
- Até amanhã. Beijinhos dos nossos.
- Não vais ao msn? Já me estás a despachar.
- Tu é que disseste que te ias embora.
- E vou. Até logo no msn. Beijokinhas, hum, daquelas que só tu sabes dar.
- Até logo, meu Amor.

Neste dia falámos no msn e já não houve mais mensagens.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Encontro em Entrecampos!

Segunda, 14 de Fevereiro de 2005

Se não fosse o meu diário, não podia ser tão fiel à minha descrição dos factos como o sou. É ele que me serve de guia para escrever o que tinha apagado da minha memória devido a ser tão cruel para mim. De facto que me sinto acabrunhada com esta situação. Vivê-la de novo é como um punhal que se espeta no meu coração.
Tinha ficado acordado que me ia encontrar com o Pedro na estação de Entrecampos. Eu estava triste com ele e não me apetecia estar ali sentada à espera dele.
Estava virada para a antiga feira popular. Nessa altura ainda funcionava com alguns restaurantes que abriam para a hora do almoço.
Fiquei longo tempo à espera que ele aparecesse. Já tinha pensado em me vir embora. Estava a levantar-me do banco quando ouvi a voz dele atrás de mim. Aquela voz era irresistível. Não pude conter-me. Corri para ele e abracei-o com as lágrimas a correrem cara abaixo.
" Mas que é isto? Saudades ou alguma coisa que eu não saiba!?" disse ele apertando-me com força e respondendo ao meu abraço ao mesmo tempo que limpava as lágrimas da minha cara que corriam qual cavalo à solta.
" Saudades" respondi eu.
Enlaçou-me e dirigimo-nos para a saída. Já na rua disse-me que íamos ao L******.
Já nos tornáramos clientes conhecidos. A moça já sabia o nome dele. Eu pensava que era por irmos lá, mas vim a saber, depois, que ele levava lá outras mulheres e era conhecido por ir lá tanta vez. Para minha surpresa, foi ele que pagou. "Aleluia" pensei eu.
Desta vez, ficámos no segundo andar, perto da cozinha, ao fundo do corredor do lado esquerdo.
O quarto tinha três camas. Todas elas eram iguais. As colchas eram com ramos amarelos e o fundo azul. Tinha uma minúscula casa de banho com um poliban de porta de fole. A TV estava lá à espera que o Pedro a colocasse no canal de música francesa. Já era hábito. Eu já me acostumara. Ainda havia um guarda fato, uma cómoda, uma cadeira e um banco.
Estava frio. Aquecemo-nos mutuamente com carícias, meiguices e muitas outras coisas.
Já saciados de um longo período longe um do outro, ficámos metidos entre os lençóis cor de rosa, unidos como se fosse um só corpo. Pele com pele, pernas entrelaçadas e abraçados com uma ternura que me fez esquecer o quanto ele tinha duvidado de mim no dia anterior.
Era nestes momentos que o Pedro se abria e falava nas suas coisas da vida. 
Hoje penso que não eram coisas que o magoassem. Eram coisas que ele contava com a intenção que eu lhe dissesse " eu ajudo-te", mas, nessa altura, estava longe de mim pensar nisso.
Então neste dia falou-me que teve uma casa de artigos de electricidade em parceria com uma irmã e um cunhado ou era o contrário? não tenho bem especificado. Mas  irmã e cunhado ou irmão e cunhada era tudo em família. Mas penso que era a primeira opção porque ele tinha dois irmãos e uma irmã. Um deles morreu num acidente de moto e o outro era o dono da casa onde mora hoje o Pedro. Este também tem uma casa em Alvito. Era para onde o Pedro ia passar férias, no verão. Levava a filha mais nova e o filho do irmão.
Mas voltando à minha narrativa, o Pedro contou-me  que a casa foi à falência e que não tinha dinheiro para pagar ao fisco. Eram 12.500€. Achei muito dinheiro. Talvez por isso, não me ofereci para o ajudar. Disse-me que ficou com relações cortadas com eles, mas como a loja estava no seu nome, ele, Pedro, é que estava com a dívida no fisco.
Não soube o que dizer. Estava perplexa e sem saber como poderia ele pagar tamanha quantia. Porém, falei que pagasse faseado e aí era mais fácil. Ficou calado e, depois, disse que seria o que tinha que pedir nas finanças...
Fiquei a pensar naquilo, mas não sabia como arranjar aquela quantia para o tirar do sufoco em que estava. 
A minha mãe tinha muito dinheiro, mas ainda não o tínhamos repartido. 
Depois de tomarmos banho e nos vestirmos, deixámos a P***** e saímos rumo à estação.
Parámos na mesma pastelaria. Eu comi um folhado com chouriço e um chá de camomila. O Pedro só pediu um café. Disse que não comia mais nada porque estava nervoso com a situação da loja. Eu acreditei. 
Já na estação, fizemos as nossas despedidas. Beijos e mais beijos com sabor a café.
Entrei para o comboio e depois da porta fechada, coloquei a minha mão no vidro e ele colocou a dele, como o fazíamos sempre. Para mim tudo contava e isso era um motivo mais que suficiente que ele me amava. Mas não. Era o típico de um Don Juan em plenas funções.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Telemóvel desligado!

Domingo, 13 de Fevereiro de 2005

Já não escrevia aqui há alguns dias. O meu computador esteve doente. Hoje volto com a certeza de que continuarei a ser fiel ao meu diário. 
Era o último dia com a minha mãe. A minha irmã vinha almoçar e eu tinha que ter tudo pronto. Pedi à Glorinha para vir para estar com a minha mãe enquanto eu fazia o almoço. Tive um dia apertado. O meu marido tinha saído cedo para a sua voltinha habitual. Neste dia foi andar de bicicleta.
Por volta das 10h01m09s recebi uma mensagem do Pedro.

< Amor mio como estás? Eu estou contigo. Diz qq coisa. Bjs só nossos. >

Não sabia o que dizer, mas respondi que não me enviasse mais mensagens. Era um dia complicado. Ele tinha que compreender. Mas não compreendeu.

10h20m34s

< Nem podes dizer olá? Que xatice né? Bjs. >

Estava zangado, mas eu não podia fazer nada. Logo lhe passava, pensei eu.

12h12m12s

< Já estás a almoçar? não me desejas um bom almoço? Fico em último. >

Não respondi e desliguei o telemóvel embora me custasse muito. Mas não tinha outra alternativa. Encheu-me a caixa de mensagens.

14h34m10s

< estou no msn. aparece. queres falar? >

14h36m43s

< Então desligastes o telem. ?  pq não atendes? Sou indesejado? >

15h29m10s

< Não aparecestes. Tens assim tanto que fazer? És desumana. >

17h24m45s

< Hoje podiamos falar à vontade. ela está a trabalhar. Tens a merda desligada. >

18h34m53s

< Vou ver se já tens esta merda ligada. >

18h45m23s

< Hoje estás à vontade. Será que estás mesmo em casa? >

21h33m28s

< Estou no msn. Vens? Já ligaste essa merda. >

Quando a minha irmã se foi embora, eu liguei o telemóvel e fiquei horrorizada com tanto disparate. Vi do que ele era capaz, mas mesmo assim, continuei com ele. Fui ao msn e falei com ele. Foi mesmo uma conversa  de zangados. Como poderia ele duvidar de mim? Mas ele desculpou-se e fundamentou que estava com ciúmes. Não deu o braço a torcer. Foi injusto. Combinámos um encontro para o dia seguinte em Entrecampos.