terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Visita ao Forum Montijo!

Sábado, 5 de Março de 2005

Como tinha ficado combinado no dia anterior, já não nos comunicámos. O serão decorreu sem embaraços para ir ao computador e sem mensagens no telemóvel. Era um descanso. Nem o meu marido me fazia perguntas que eu tinha que engendrar respostas que eu achava que não eram plausíveis nem eu estava numa pilha de nervos a escolher o momento para me retirar e ir ao computador. Foi um Santo serão na companhia do meu marido. Senti-me liberta e com uma ânsia de continuar assim. Era libertador e sentia-me muito feliz. 
Deitei-me com uma Paz de espírito que não conseguia há muito tempo. Adormeci tranquila e sem pesos na consciência. 
Porém, a manhã trouxe-me à realidade. Quando o meu marido se levantou eu acordei para uma realidade inexplicável. Tinha vontade de saber onde me levaria, desta vez, o Fernando Pedro, mas não me apetecia ir ter com ele. Tornara-se uma rotina e eu abomino isso. Gosto de coisas novas e de ser diferente cada dia sem repetir as mesmas coisas vez após vez.
Depois do meu marido sair, levantei-me sem nenhuma razão. O Fernando Pedro já não era "razão" para eu ir a correr atrás dele.
Estive algum tempo para me habituar à ideia que tinha que ir ter com ele. Mas lá me aperaltei e fui para o Centro Vasco da Gama, conforme o combinado.
Cheguei primeiro. Apanhei o comboio das 9 horas, mais coisa menos coisa. Era Sábado e, ao fim de semana, havia comboios de hora a hora. Tínhamos combinado às dez horas e eu não gostava, assim como ainda não gosto, que esperem por mim.
Lá estava eu plantada à porta do Centro. Estava muito frio embora estivéssemos em Março. Eu levava, ainda, o meu casaco comprido. O vento era cortante e eu regelava ali. Neste interim, vislumbrei o Fernando Pedro a descer as escadas que dão para a cave do Centro, local dos nossos encontros.
Vinha muito risonho e começou logo a enviar beijos com a mão. Eu ria e pensava que ele era patusco. Mas já não sabia o que sentia por ele. Era um misto de paixão, amor e ódio.
Quando chegou, abraçou-me nos seus braços fortes e disse-me que ali eu estava protegida de tudo. De facto. Até estava protegida de ser roubada por outras pessoas a não ser só por ele. Beijou-me e disse como era gostoso enquanto lambia a beiçada. Os meus beijos eram os melhores do mundo, como me dizia sempre.
Meteu o seu braço à volta do meu pescoço e rumámos para o local do estacionamento.
Lá estava o Mercedes à nossa espera. Abriu-me a porta e convidou-me a entrar fazendo uma vénia como se fosse mordomo. Ri a bandeiras despregadas. Ele referenciou que eu era muito importante na sua vida e que me havia de tratar como tal para toda o sempre. Ri de gozo e sarcasmo.  Eu sabia que isto não iria durar uma vida. Nem por mim nem por ele. Um dia partia-se a corda que nos unia.
Fomos, novamente, pela Vasco da Gama. Perguntei se íamos ao Freeport e ele respondeu que o dia era passado noutro local. Nem fiz a menor ideia e pensei que, fosse onde fosse, seria um dia igual a tantos outros.
Para minha surpresa estava no Forum do Montijo. Já lá tinha ido com o meu marido, mas não referi isso. Seria um dia estragado e eu já o tinha para mim. Sabia que só me estava a fazer isto para me sacar o auto-rádio. Eu sabia-o, mas continuava ali como se não o soubesse. Era como se estivesse enfeitiçada.
Quando estacionámos o carro, fomos dar uma volta pelo Forum do lado de fora. Nas traseiras o vento abria o meu casaco e fazia sentir-me muito fria. Também não sabia qual o tema da conversa e essa era sempre uma surpresa.
Voltou a falar das nossas personalidades. Mencionou que era mentiroso, mas tinha arranjado uma mulher que não lhe ficava atrás. Em princípio, pensei que se estava a referir à mulher dele, mas a mulher, o alvo, era eu.
Discordei, mas hoje vejo que menti para o meu marido durante tempo. Nunca tinha acontecido e, nos meus diários anteriores, posso comprovar isso. 
Senti-me triste por me apelidar, de novo, de mentirosa. Para ele eu não mentia e, por vezes, sentia-me embaraçada, quando tinha que dizer ao meu marido qualquer coisa ou omitia factos de onde estivera e o que fizera. Mas não mentia. Apenas "omitia" que é uma coisa diferente.
Quando ele viu que eu estava a ficar calada já sabia que a "converseta", como ele dizia, não me estava a cair bem. Mudou de assunto e começou a falar na filha mais nova. A dizer como tinha sido feliz por saber que ia ser pai de verdade, já que da mais velha, era pai de papel. Enfim, nessa  altura senti pena dele. Devia ser triste estar com uma mulher que já vinha com a filha de outro e ajudá-la a criar. Mas ele tinha feito a escolha. Eu não sei se seria tão altruísta a esse ponto. Mas ele sempre me disse que se apaixonou pela bebé antes de se apaixonar pela mãe. Se foi assim ou não, não sei. Apanhei-o em tantas mentiras que deixei de acreditar nele e comecei a ter medo do que aquela cabeça pensava quando queria deitar abaixo.
Entretanto, chegou a hora do almoço. Fomos almoçar ao "Serra da Estrela". Comemos bem. Eles serviram entradas fartas e os pratos eram bem servidos. Só apontei que comemos arroz de feijão com pataniscas de bacalhau. Não sei se foi uma entrada ou o prato principal.
Depois do almoço o tempo começou a ficar quente e, então, fomos dar uma volta pelas lojas. Entrámos em várias e ele gostava de tudo e precisava, mas eu disse que só lhe dava o auto-rádio. Foi aqui que ele decidiu ir ao Rádio Popular para ver preços e comparar com os da Worten.  Pelo que me deu a entender já tinha andado a ver na Worten do Vasco. Contudo disse que na Worten havia mais por onde escolher e melhores, daqueles que tinham tudo como ele queria.
Depressa o tempo passou e a hora do regresso não se fez esperar. Voltámos pela Vasco da Gama.  
O Fernando Pedro foi-me levar à estação. A despedida estava marcada. Beijos e abraços sem nos importarem  os outros passageiros que esperavam na gare. Depois da porta fechada, a mão no vidro como d´habitude. ( Expressão francesa).
Já de regresso a casa fiz um resumo do dia e chorei por não conseguir pôr um ponto final naquela relação que não tinha pernas para andar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Desculpas pelo dia anterior!

Sexta, 4 de Março de 2005

O telefone tocou estridentemente. Eu estava aturdida com o som descabido e que me tinha quebrado o sono. Lá fora ouvi-a o vento assobiar nas portadas da varanda. Estremeci ao olhar para o relógio. Àquela hora era o Pedro que vinha aí a zangar-se comigo por causa do dia anterior. Refiz-me e olhei o relógio. Eram 09h12m09s. Não se adivinhava nada de bom, mas tinha que inventar fosse o que fosse para tornar a coisa mais agilizada.

- Estou sim, quem fala?
- Outra maneira de atenderes ou é código?
- Não venhas já dar-me cabo da cabeça.
- Não. Estava só a perguntar.
- É bom inovar. Até no casamento temos que inovar para não cair na rotina.
- É isso que fazes no teu?
- E tu não fazes?
- Não. Até nem sou casado.
- Vives com ela. É a mesma coisa
- As desculpas não se pedem, evitam-se. Mas hoje tenho que te pedir desculpas pelo dia de ontem. Nem tempo para comer, tínhamos.
 Ontem as coisas complicaram-se em Entrecampos e estava lá o chefe. Não te pude avisar. 
- Pois...
- Já cheguei a casa tarde e não tinha cabeça para nada. Desculpa.
- E avisaste que ias chegar tarde?
- Claro. E por cima ela esta semana não trabalha até às 11..
- Pois...
- Queres vir almoçar comigo hoje?
- Não, não posso. 
- Porquê?
- Tenho que fazer e tenho cá a Glorinha.
- Eu sei. E amanhã queres vir ter comigo?
- Não sei se posso.
- Ele não vai para a tua sogra?
- Não sei.
- E quando sabes? Tenho que dizer em casa que venho trabalhar. Com a confusão de ontem, é fácil engolir.
- À hora do almoço.
- Ele vai aí almoçar?
- Vem.
- Foi outra vez para a serra?
- Sim. Foi com o Romão. Depois pergunto.
- É que eu tenho que saber para dizer em casa que venho trabalhar. 
- Tens que avisar, não é?
- Sabes que sim. É melhor...Tu não dizes nada?
- Não.
- Bem, tenho que preencher uma série de papéis e têm que estar prontos à hora do almoço para entregar ao chefe.
- Então até logo. Beijinhos.
- Não precisas de me despachar.
- Não te estou a despachar. Tens que fazer e eu não te quero impedir.
- Beijinhos como e onde quiseres.

12h09m12s

< Vou almoçar. Estou sozinho. Não tenho fome, mas comia-te toda. Bjs só nossos. >

17h10m21s

- Estou sim, quem fala?
- Amor mio, sou eu.
- Espere só um bocadinho... Até terça, Glorinha, e bom fim de semana...
Pausa
- Já posso falar? Ouvi a porta bater...
- Já. Ela já saiu.
- Então amanhã podes vir ter comigo?
- Posso. Está um vento frio. Até podemos ficar por aí.
- Não sei. Ainda não pensei.
- Mas podemos passar aí o dia.
- Vou pensar. Vem assim que possas. !10h?
- Pode ser.
- Vais ao msn?
- Hoje, não. Fica já tudo combinado. Ele precisa do computador.
- Ok! Às 10h aqui no Centro no sítio do costume. Agora vou-me embora.
- Beijinhos e dorme bem.
- Beijokinhas só nossas onde e como quiseres.

Estava tudo planeado. Não houve nada mais neste dia.


domingo, 3 de janeiro de 2016

Estou em Entrecampos!

Quinta, 3 de Março de 2005

Mais uma foto da estação de Entrecampos. Era lá que o Fernando Pedro se encontrava a trabalhar neste dia.
Depois de um dia juntos vieram uns dias de separação que tão bem me souberam. Sem ele, sentia-me liberta. Era eu outra vez. Escrevia as palavras que trocávamos regularmente ou não. Fazia o que me apetecia. Ía ter com as minhas colegas e fazia compras. O telemóvel andava sempre comigo. Um dia andava eu a fazer compras em V***** F****** quando ele me interceptou. Queria saber onde me encontrava. Muito embuida  na minha vida privada e que nunca lhe contava, respondi que estava com o meu marido a almoçar. Desligou e ficou furioso, como me contou, depois à tarde no telefonema que já faziam parte da minha vida.
Estava a fazer dieta. Já tinha emagrecido uns kilos, mas não o suficiente. Ele dizia que já era melhor para ele fazer amor comigo. 
Voltando ao dia de 3 de Março, o telefone voltou a tocar e eu, que estava estremunhada, acordei sem saber o que se estava a passar. Assustei-me e dei um pulo na cama, pensando que quem seria o cabrão que me telefonava tão cedo.
No relógio marcava 08h15m21s. Em todo o tempo foi o dia que mais cedo me telefonou. O número não era o mesmo e fiquei intrigada.

- Estou sim, quem fala?
- Hoje a cantiga é outra.
- Como assim?
- Não esperavas, ainda, por mim?
- A esta hora, não. É mais cedo que o costume, não é?
- É. Estou em Entrecampos e vou passar aqui o dia todo. Temos muito trabalho. O sol está quentinho. Vem aí a Primavera.
- Já não falta muito.
- Queres vir ter comigo? Almoçamos por aqui.
- Não. Tens muito trabalho e eu vou ficar à espera de ti, muito tempo e só vamos ficar uma hora.
- É melhor que nada. Sabes? Vou fazer queixa do restaurante dontem.
- Porquê? Que sejam apanhados mas não por nós. Não por ti.
- Comigo ninguém brinca e eles pagam por aquilo que me fizeram.
- Mas os pratos foram trocados.
- Já não vai acontecer aquilo a outras pessoas.
- O que podemos fazer é não voltar lá.
- Quando lá voltar, já não existe.
- Não sejas mau. Gostavas que te fizessem isso?
- Olha, não tenho uma conta para pagar nas finanças? Também me foderam.
- Fala bem que já tens dentes.
- Bem, não vens almoçar? Como vais passar o teu dia? Em casa a escrever?
- Mais ou menos. A Glorinha vem hoje.
- Eu sei e vou ver se telefono depois das cinco.
- Era bom. Senão, não te atendo.
- Bem, vou trabalhar. Tenho os homens à minha espera, mas eles sabem que tenho que falar com a minha princesa primeiro.
- Também contas tudo. Não os conheço, mas tenho vergonha deles...
- Tu vergonha? Se tivesses vergonha não te tinhas metido comigo. Saltastes a cerca.
- ....................
- Perdestes a fala?
- Olha nem mereces resposta. Um dia, por causa disso, deixo-te. Não me fazes falta nenhuma.
- Calma, amor mio. Estava só a brincar.
- E que brincadeira mais estúpida. Continua assim que nem chegamos aos teus anos.
- Não digas isso. Agora que me vais dar uma prenda estás a fugir?
- Experimenta estares com estas palavras e vais ver a volta que levas.
- Bem, não fiques zangada. Vou trabalhar. Beijinhos só nossos onde e como quiseres. Fica bem.
- Beijos e até logo.

Quando desliguei, fiquei furiosa com ele. Apetecia-me ver-me livre dele. Estava sempre a deitar-me abaixo. Era um sacana.
O resto do dia não tive notícias dele. Não fui ver as mensagens e desliguei o telemóvel. Foi um dia de descanso. 

sábado, 2 de janeiro de 2016

Passeio no Campera

Quarta, 2 de Março de 2005

Uma imagem do Campera onde eu  e o Pedro íamos almoçar cada vez que ele me vinha visitar no remanso da minha casa.
Foram dias de felicidade, não o nego, mas dias em que a minha decadência se aproximava e eu dava passos largos a caminho do cadafalso como Maria Antoniette.
 Eu não conhecia nem nunca conheci o verdadeiro Fernando Pedro e, até acho, que nem a própria que o pariu, o conheceu verdadeiramente. Ele é um homem tão facetado que não consegue descobrir a sua verdadeira identidade. É o homem das mil vidas. Será que ele próprio alguma vez se descobriu? Creio que não. Fantasia até morrer.
Neste dia o encontro foi aqui na minha casa. Como sempre, eu estava na estação dos comboios à sua espera. Mais minuto menos minuto, o comboio chegava sempre. Nele vinham as mesmas pessoas de todos os dias. Já conhecia aqueles rotos de cor. Eram rostos cansados e triste depois de uma noite de trabalho. Desciam as escadas com pressa. Uma pressa de quem quer ir para a cama dormir, descansar e esquecer que mais uma noite tinha passado.
Eu esperava o Pedro no meu carro vermelho. Esperava-o com ansiedade, mas também com a esperança que um dia não aparecesse mais. Uma coisa eu conhecia do Fernando Pedro Cachaço Marques. Só sabia pedir prendas, almoços e férias em locais escolhidos por ele com bons aparthoteis e boas comodidades. Nunca viveu no luxo, mas desde que descobriu que marcar mulheres de bem financeiramente, carentes, viúvas e mal amadas, ele poderia desfrutar de esse bem essencial na sua vida. Ele julga que é "insubstituível". Mas não é. É apenas um desgraçado que se afirma à custa de outras pessoas que acreditam nas suas mentiras e fantasias.
As horas eram mais ou menos as mesmas de sempre. Vi-o descer as escadas com segurança. Os seus olhos de águia logo lubricaram o meu carro e começou a acenar com um sorriso franco nos lábios. Eu respondi ao aceno, mas o meu coração, não. Eu sabia que ia passar umas horas de prazer, mas que me sairiam bem caras. Acenei sem convicção e receosa.
Mas olhei o relógio para registar a hora da chegada. Eram 09h15m10s.
Ele chegou junto de mim com a mesma ternura de sempre e beijou-me com bravura e entusiasmo. Eram beijos que pareciam ser sinceros. Mas não eram e nunca foram. Apenas serviam para camuflar a sua estratégia. Respondi aos seus beijos e convidei-o a entrar.
Perguntou-me se estava com "fominha" e eu respondi que já tinha tomado o pequeno-almoço, se bem que soubesse a que "fominha" se referia. Perguntei se ele tinha tomado o dele ou se queria ir à pastelaria do Centro tomar um pequeno-almoço substancial. Começou a rir com aquele rir matreiro e que eu conhecia tão bem. Respondeu que já tinha tomado e que não era conveniente tomar outro. Iríamos almoçar mais tarde.
Na viagem não usou as mãos para explorar e não se mexeu do seu lugar. Estranhei, mas não fiz nenhuma referência. Afinal não era doida por ele. Apenas por umas horas de prazer. Também me servi dele e de que maneira.
Em casa tudo se repetia. O seu fetiche da beira da cama e o não aguentar a pedalada de uma mulher mais velha. Pensava ele que eu ficava satisfeita, mas muitos dias ficava, ingloriamente, triste. Por mim que estava a deitar o meu dinheiro à rua e que ele não merecia. Porém, ele pensava que eu tinha ido ao sétimo céu. Muitas vezes era no banho que ele colmatava essa falha. Nunca lho mencionei directamente, mas através do telemóvel, um dia, quando as coisas azedaram.
Eu sabia fingir bem para ele não se sentir frustrado, mas a minha desilusão era enorme.
Neste dia foi tudo igual e eu, só no banho, consegui atingir o meu orgasmo. Enfim, tudo escrevi no meu diário para não me esquecer de nada.
Quando fomos almoçar, fizemo-lo no Campera. Foi ele que escolheu. A escolha recaiu no "Pão com chouriço" no primeiro andar. Não foi uma boa opção, mas foi ele que escolheu.
Os pratos estavam com falhas, os copos rachados e os guardanapos todos amarrotados.
Ele chamou um empregado e fez referencia a isso. Os pratos foram trocados e os copos também, mas tudo foi parar à mesa do lado. O Fernando Pedro ficou muito chateado e disse que não gostava de ser ignorado. Queria pedir o livro de reclamações e eu não deixei. Já o tinha avisado que este restaurante não era grande coisa depois de ter mudado de direcção. Contudo, ele não gostava de ser uma mulher a decidir.
Depois de eu ter pago a conta, um prato de peixe e outro de carne, deambulámos pelas ruas das lojas. Aqui gostava disto, ali queria aquilo e eu perguntei se ele queria de prenda de anos roupa ou o que tinha escolhido no dia anterior. Respondeu que queria o que já tinha escolhido. Mas que não fazia mal eu comprar-lhe um mimozinho. Nem dei ouvidos e prendi-me numa montra de roupa de senhora e disse que não fazia mal se ele me comprasse uma lembrança.
Olhou-me com um olhar que nunca tinha visto nele e disse que eu só poderia estar a brincar. Respondi que não e que tinha o mesmo direito de escolher como ele.
Continuámos o nosso passeio e eu meti-lhe a mão no bolso. Com um arremesso, tirou-me a mão de lá e disse que alguém poderia conhecer-nos. Também frisou que a filha mais velha tinha feito uma casa dali. Não referenciou qual. Disse que não a queriam deixar ir embora, mas que ela fora para outro Centro fazer outra casa. Via-se que estava orgulhoso disso.
Com esta passeata toda chegou a hora de ir levá-lo ao comboio. Já não viemos à minha casa. Dali fomos directos à estação. Deixámos partir um comboio para estarmos mais tempo juntos. Depois despedimo-nos com abraços e beijinhos prometendo estarmos juntos muito em breve.
Neste dia não houve msn nem mensagem via telemóvel.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Pedir prenda de anos!

Terça, 1 de Março de 2005

Este mês foi marcado pelos anos do Fernando Pedro e da tragédia que ele disse ter-se abatido sobre ele quando ia festejar os anos dele e da filha mais velha. Mas lá chegaremos, a seu tempo.
Hoje era a entrada do seu mês astral. Mês que muitos designam por mês "Infernal".  Eu só sei que para mim, começou o mês Infernal. A partir daqui, começou a minha queda financeira. Foi a primeira vez que pedi dinheiro a uma financeira. Foi a Credial. Hoje não existe. Mas naquela altura foi a minha salvação.

Normalmente, os meus dias começavam com um telefonema do Pedro logo pela manhã. Hoje não foi excepção. O telefone tocou estridentemente até eu levantar o auscultador e atender ainda ensonada. Eram 08h35m23s. A hora pouco variava e eu estava ainda, quentinha, entre os lençóis. Estendo o braço e atendo laconicamente.

- Estou sim, por favor?
- Bom dia  Amor mio. Como dormiu o meu bem?
- Bom dia Sr. Pedro. Eu dormi muito bem. E tu?
-Ena! Esse " Sr. Pedro" donde veio?
- Sei lá... Estou inspirada.
- Não. Acordastes inspirada, por que fui eu que te acordei, não foi? Ora diz lá a verdade!
- De facto, foi. Ainda estava a dormir.
- Quentinha? Dava tudo para estar aí contigo. Como seria bom. Levava-te... (Interrompi-o abruptamente )
- Não digas nada para não te arrependeres logo a seguir.
- Achas? Era o que eu mais queria. Apesar de não me pagares o para-pente, não deixo de te amar.
- E não esqueces isso, não?
- Não. Era uma prenda de anos que eu adorava muito.
- Pensa noutra coisa porque isso eu não vou dar.
- Então um auto-rádio daqueles com tudo?
- Isso já pode ser. Vamos à Worten. Tenho cartão.
- De financiamento?
- Não. Não compro nada a prestações. Pago a pronto. O dinheiro das prestações, fica para outra coisa.
- Para mim?
- Apre! Só pensas em ti. E por que não para mim?
- Tu é que sabes. Não te zangues. Ainda faltam 19 dias para eu fazer anos. Até lá ainda posso morrer.
- E não pensas uma coisa mais positiva?
- Queres vir almoçar comigo?
- Então amanhã não é o nosso dia aqui?
- É, mas podias querer vir almoçar comigo.
- Para estar só uma hora contigo? 
- Não posso mais. Amanhã estou contigo o dia todo.
- Então fica combinado, certo?
- Sim, mas não vais ao msn?
- Não sei. Depende do trabalho do meu marido.
- " Do meu marido". Não podes dizer isso de outra maneira?
- Não. Ele é meu marido e será até que a morte nos separe.
- Que coisa mais foleira. Já pareces o padre.
- Sim e tu tens muita experiência disso.
- Não tenho, mas já assisti a casamentos, né?
- Pois.
- Bem vou para a linha de Cascais. E vem aí o chefe. Beijos.
- Beijos e até logo depois das cinco. ( Mas ele já tinha desligado).

17h19m23s

- Estou sim, faz favor?
- Então já casastes?
- Desculpa?
- De manhã estavas a casar com ele.
- Já me casei em 1977. Estava só a dizer que seria casada até que a morte leve um de nós.
- Olha mudamos de conversa. Já fizestes o programa para amanhã?
- Já. Está tudo programado. Assim tu venhas.
- Pois dúvidas nisso?
- Não.
- Vais buscar-me à estação?
- Claro. Não vou sempre?!
- Sim. Nunca te atrasas. Tal é a fominha.
- Não comeces. Estás sozinho?
- Sim. Com quem querias que estivesse?
- Sei lá. Um colega...
- Não. Na intimidade, gosto de ser só eu.
- Que gracinha!
- E a prenda de anos é a que falámos?
- O auto-rádio, certo?
- Pois. Já que não me pagas o para-pente, pode ser o auto-rádio, mas sou eu que o escolho...
- Pois. Ele é para ti.
- Tens dinheiro para isso?
- Que pergunta. Claro que tenho. ( Não tinha, mas já tinha pedido o empréstimo à Credial.)
- Estou cansado. Vou pa casa. Vais ao msn?
- Não sei. Depende.
- Eu espero. Beijocas grandes, gordas e onde e como quiseres.
- Beijinhos e até logo, se eu puder.

Não pude. O meu marido esteve todo o serão no computador.



quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Para-Pente

Segunda, 28 de Fevereiro de 2005

Mais uma conversa tida com o Pedro. Sempre me preocupei em escrever fielmente o que se passava entre nós dois. Recorria ao meu diário a escrever as conversas que tínhamos. Era para a posteridade, como costumávamos dizer.
Também escrevi um livro, mas as personagens são diferentes. Eu não sou psicóloga e ele não trabalha na REFER. 
Mais uma vez estou aqui para relatar o que se passou neste dia.
Já me habituara ao toque do telefone logo pela manhã. Também me habituara a ver as horas para ser fidedigna ao meu diário que me acompanhava sempre.
08h49m37s

- Estou sim, por favor? ( Eu já sabia que era o Pedro, mas nunca tinha certeza. Tinha que ter a máxima cautela. Poderia ser o meu marido ou a minha irmã. )
- Sou eu, Amor mio. A esta hora já sabes que sou eu.
- Nem sempre. Pode ser o meu marido ou a minha irmã para me falar da minha mãe.
- Mas o teu marido telefona  assim tanta vez? Nunca me tinhas dito isso. 
- Nunca veio à conversa. Tenho que ter muito cuidado.
- Então dormiste bem? Eu dormi a pensar em ti. A pensar no nosso passeio de Sábado? Gostastes?
- Gostei muito.
- Tenho pena de não ter andado de para-pente. Um dia hei de experimentar.
- Acho isso um absurdo. Pode acontecer uma desgraça e eu não te quero perder. 
- A sério? Mas nunca me perderás. Juro. Um dia ainda deixo a minha Maria para vivermos só nos dois.
- Outra vez essa conversa? Sabes que nunca vai acontecer.
- Porquê? Eu quero estar sempre contigo e vamos ser felizes para sempre.
- Assim também somos, não achas?
- Não. Não gosto de te repartir com outro. Isso deixa-me louco.
- Mas tu não me repartes com ninguém. Sabes disso.
- Mas dormem na mesma cama.
- Eu deveria ter mais ciúmes. Tu fazes vida com a tua mulher. Eu não faço vida com o meu marido.
- Um dia acordas e ele está-te a fazer carícias.
- Não penses nisso. Somos muito amigos. Só isso.
- Ainda falando no para-pente. Gostava de experimentar. Deve ser uma sensação fora do normal. Pagas-me uma viagem de batismo?
- Já te disse que não te quero perder. Não contes com isso.
- Gostava mesmo. Tu pagas e eu só digo depois de ter ido e envio-te uma fotos.
- Se queres, vais com o teu dinheiro. Não quero contribuir para uma desgraça.
- És mesmo mazinha!
- Não sou nada. Apenas quero o teu bem-estar.
- Bem, já que não me pagas a viagem, vou trabalhar.
- Acho bem. É para isso que te pagam.
- Sabes para onde vou hoje?
- Não. Ainda não disseste.
- Vou para Casa Branca.
- Isso fica no Alentejo.
- Sim, fica. Posso telefonar se tiver possibilidades?
- Só depois das cinco.
_ Beijinhos só nossos onde e como quiseres. Hum! Tão bom.
- Beijinhos e até logo.


18h23m12s

< Amor mio cheguei agora ao Oriente e ainda tenho que preencher uns papéis. Já não deu para falarmos. Estava um frio de arrepiar. Tu sabes como é. Logo vais ao msn? Espero por ti pelas, 9h45m. Pode ser? Se não poder, envia mensagem para o telemóvel. Bjs onde e como quiseres. Adoro-te sabia? >

Nesse dia não pude ir ao msn. Enviei mensagem. Também já não me enviou nada de volta.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A vinda para Lisboa!

Domingo, 27 de Fevereiro de 2005

Nesta época Natalícia, estive ausente. Hoje, porém, voltei à ribalta.
Mais umas mensagens deixadas pelo Fernando Pedro. Sei que ele tem partido muitos corações depois de ter deixado de andar comigo. Continua o mesmo biltre de sempre. Há mulheres que esquecem e continuam a sua vida, mas outras continuam agarradas ao passado e às malandrices que ele lhes fez. Eu, contudo, segui a minha vida. Apenas escrevo para alertar outras mulheres que tenham acesso ao meu blog. Não estou obcecada com isso. A raiva que senti noutros tempos, já não a sinto. Sou uma mulher liberta do fantasma do passado. Enfim, sou livre.

Neste Domingo as mensagens foram poucas. Passámos mais tempo no msn. 

10h23m14s

< Bom dia amor mio. Tenho saudades tuas. Aparece no msn às 15h. Bjs só nossos. >

Eu fui fiel. Às quinze horas estava na saleta ao computador à espera dele. Logo me chamou e falámos imenso. Falou-me que tinha vindo para Lisboa para servir de paquete numa fábrica onde estava uma prima dele. Tinha, na altura, doze anos. Disse-me que cedo começou a abrir os olhos e que o mulherio lhe ensinou muita coisa. Também me falou que a prima era a sua tutora, mas ele não gostava de ser um bibelot. Queria vida própria e depressa se embrenhou em algumas casas de fado para saber se poderia cantar. Não lhe foram abertas portas nesse sentido. Mas que, agora, cantava karaoke e se sentia muito feliz por isso. Eu já o tinha ouvido cantar o "Porto Sentido" e tinha gostado muito. Também me falou que era fã do João Pedro Pais. Um artista que não faz o meu género.
Falou-me, ainda, na conta para pagar nas finanças. E disse-me que qualquer dia ia visitá-lo às Mónicas. Falou do irmão que morreu num acidente de moto. Hoje sei que foi assassinado. Pelo menos é o que dizem na terra. Falou de muita coisa, mas não registei tudo.
A conversa terminou por que o meu marido me chamou.

21h54m38s

< Dorme bem. Gostei de desabar contigo. Bjs onde e como quiseres. >