terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Visita ao Forum Montijo!

Sábado, 5 de Março de 2005

Como tinha ficado combinado no dia anterior, já não nos comunicámos. O serão decorreu sem embaraços para ir ao computador e sem mensagens no telemóvel. Era um descanso. Nem o meu marido me fazia perguntas que eu tinha que engendrar respostas que eu achava que não eram plausíveis nem eu estava numa pilha de nervos a escolher o momento para me retirar e ir ao computador. Foi um Santo serão na companhia do meu marido. Senti-me liberta e com uma ânsia de continuar assim. Era libertador e sentia-me muito feliz. 
Deitei-me com uma Paz de espírito que não conseguia há muito tempo. Adormeci tranquila e sem pesos na consciência. 
Porém, a manhã trouxe-me à realidade. Quando o meu marido se levantou eu acordei para uma realidade inexplicável. Tinha vontade de saber onde me levaria, desta vez, o Fernando Pedro, mas não me apetecia ir ter com ele. Tornara-se uma rotina e eu abomino isso. Gosto de coisas novas e de ser diferente cada dia sem repetir as mesmas coisas vez após vez.
Depois do meu marido sair, levantei-me sem nenhuma razão. O Fernando Pedro já não era "razão" para eu ir a correr atrás dele.
Estive algum tempo para me habituar à ideia que tinha que ir ter com ele. Mas lá me aperaltei e fui para o Centro Vasco da Gama, conforme o combinado.
Cheguei primeiro. Apanhei o comboio das 9 horas, mais coisa menos coisa. Era Sábado e, ao fim de semana, havia comboios de hora a hora. Tínhamos combinado às dez horas e eu não gostava, assim como ainda não gosto, que esperem por mim.
Lá estava eu plantada à porta do Centro. Estava muito frio embora estivéssemos em Março. Eu levava, ainda, o meu casaco comprido. O vento era cortante e eu regelava ali. Neste interim, vislumbrei o Fernando Pedro a descer as escadas que dão para a cave do Centro, local dos nossos encontros.
Vinha muito risonho e começou logo a enviar beijos com a mão. Eu ria e pensava que ele era patusco. Mas já não sabia o que sentia por ele. Era um misto de paixão, amor e ódio.
Quando chegou, abraçou-me nos seus braços fortes e disse-me que ali eu estava protegida de tudo. De facto. Até estava protegida de ser roubada por outras pessoas a não ser só por ele. Beijou-me e disse como era gostoso enquanto lambia a beiçada. Os meus beijos eram os melhores do mundo, como me dizia sempre.
Meteu o seu braço à volta do meu pescoço e rumámos para o local do estacionamento.
Lá estava o Mercedes à nossa espera. Abriu-me a porta e convidou-me a entrar fazendo uma vénia como se fosse mordomo. Ri a bandeiras despregadas. Ele referenciou que eu era muito importante na sua vida e que me havia de tratar como tal para toda o sempre. Ri de gozo e sarcasmo.  Eu sabia que isto não iria durar uma vida. Nem por mim nem por ele. Um dia partia-se a corda que nos unia.
Fomos, novamente, pela Vasco da Gama. Perguntei se íamos ao Freeport e ele respondeu que o dia era passado noutro local. Nem fiz a menor ideia e pensei que, fosse onde fosse, seria um dia igual a tantos outros.
Para minha surpresa estava no Forum do Montijo. Já lá tinha ido com o meu marido, mas não referi isso. Seria um dia estragado e eu já o tinha para mim. Sabia que só me estava a fazer isto para me sacar o auto-rádio. Eu sabia-o, mas continuava ali como se não o soubesse. Era como se estivesse enfeitiçada.
Quando estacionámos o carro, fomos dar uma volta pelo Forum do lado de fora. Nas traseiras o vento abria o meu casaco e fazia sentir-me muito fria. Também não sabia qual o tema da conversa e essa era sempre uma surpresa.
Voltou a falar das nossas personalidades. Mencionou que era mentiroso, mas tinha arranjado uma mulher que não lhe ficava atrás. Em princípio, pensei que se estava a referir à mulher dele, mas a mulher, o alvo, era eu.
Discordei, mas hoje vejo que menti para o meu marido durante tempo. Nunca tinha acontecido e, nos meus diários anteriores, posso comprovar isso. 
Senti-me triste por me apelidar, de novo, de mentirosa. Para ele eu não mentia e, por vezes, sentia-me embaraçada, quando tinha que dizer ao meu marido qualquer coisa ou omitia factos de onde estivera e o que fizera. Mas não mentia. Apenas "omitia" que é uma coisa diferente.
Quando ele viu que eu estava a ficar calada já sabia que a "converseta", como ele dizia, não me estava a cair bem. Mudou de assunto e começou a falar na filha mais nova. A dizer como tinha sido feliz por saber que ia ser pai de verdade, já que da mais velha, era pai de papel. Enfim, nessa  altura senti pena dele. Devia ser triste estar com uma mulher que já vinha com a filha de outro e ajudá-la a criar. Mas ele tinha feito a escolha. Eu não sei se seria tão altruísta a esse ponto. Mas ele sempre me disse que se apaixonou pela bebé antes de se apaixonar pela mãe. Se foi assim ou não, não sei. Apanhei-o em tantas mentiras que deixei de acreditar nele e comecei a ter medo do que aquela cabeça pensava quando queria deitar abaixo.
Entretanto, chegou a hora do almoço. Fomos almoçar ao "Serra da Estrela". Comemos bem. Eles serviram entradas fartas e os pratos eram bem servidos. Só apontei que comemos arroz de feijão com pataniscas de bacalhau. Não sei se foi uma entrada ou o prato principal.
Depois do almoço o tempo começou a ficar quente e, então, fomos dar uma volta pelas lojas. Entrámos em várias e ele gostava de tudo e precisava, mas eu disse que só lhe dava o auto-rádio. Foi aqui que ele decidiu ir ao Rádio Popular para ver preços e comparar com os da Worten.  Pelo que me deu a entender já tinha andado a ver na Worten do Vasco. Contudo disse que na Worten havia mais por onde escolher e melhores, daqueles que tinham tudo como ele queria.
Depressa o tempo passou e a hora do regresso não se fez esperar. Voltámos pela Vasco da Gama.  
O Fernando Pedro foi-me levar à estação. A despedida estava marcada. Beijos e abraços sem nos importarem  os outros passageiros que esperavam na gare. Depois da porta fechada, a mão no vidro como d´habitude. ( Expressão francesa).
Já de regresso a casa fiz um resumo do dia e chorei por não conseguir pôr um ponto final naquela relação que não tinha pernas para andar.

Sem comentários: