quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Véspera dos anos!

Sábado, 19 de Março de 2005

Foi um dia longo. Quando cheguei a A******, tive uma surpresa. Ia muito compenetrada nos meus pensamentos quando alguém se sentou ao meu lado. Não olhei. Não queria saber quem era e estava longe de adivinhar quem fosse. Como não reagi, alguém disse " Bom dia, minha flor de verde pinho". Voltei-me incrédula. Não esperava mesmo, mas ele queria impressionar-me e fazer-me crer que ele estava ali porque me amava. Fiquei estupefacta a olhar ainda sem acreditar no que os meus olhos viam. Pensei para os meus botões " ou é louco ou quer fazer de mim parva ou, ainda, fazer ver que me ama". Saudei-o com dois beijinhos na face e disse que não esperava aquela surpresa. Ele respondeu-me que me amava muito e que as saudades fizeram com que ele me viesse esperar para estar mais tempo comigo. Se acreditei, não sei. Porém, ele estava a fazer um enorme filme. Apanhou as minhas mãos e fizemos a viagem de mãos dadas.
Já no Oriente fomos tomar o pequeno-almoço. Ele disse que só tinha tomado café, pois sem café, logo de manhã, não funcionava. Mas isso já eu sabia. Eu tomei uma meia de leite e comi um crepe. Ainda hoje, adoro crepes. Mas não foi por ter começado a andar com ele. Eu já os fazia na minha casa com uma receita de uma vizinha minha que tinha vindo de Angola aquando da independência.
A conversa ainda não tinha pés nem cabeça. Eram coisas banais e sem sentido. Ele falava de outro casal que estava noutra mesa e que era seu colega. Também tinha arranjado outra pessoa e ambos tinham vindo trabalhar. Ainda havia outro que tinha ido para o Colombo. Se acreditei, não sei. O facto é que o outro senhor nem reparou em nós e continuou a sua conversa com a senhora que parecia estar mais à vontade que eu.
Eu sentia-me bem ali sentada e não me apetecia mexer. Ali estava mais tranquila e não tinha que fingir o que não sentia. Mas ele estava impaciente e queria ir embora. Queria ir à Worten para expiar e escolher o seu auto-rádio. 
Relembrei-lhe que era cedo e que tinha que andar com ele na mão. Respondeu que íamos vê-lo e ficava guardado até à hora de nos irmos embora.
Como tinha que ser e eu não tinha voto na matéria, lá nos dirigimos para a Worten. Andou a rondar este e aquele. Mas ele já tinha escolhido. Notei no seu semblante. Escolheu o mais caro. Passou dos 500€. Eu tinha pedido um empréstimo na Credial, como já mencionei. Também tinha aberto uma conta no BES que não era o meu banco, mas passou a ser para ter lá dinheiro para o que desse e viesse. Sempre pensei que não ficaria por aí, mas nunca pensei que fosse tanto dinheiro que me pedisse nem que fosse só uma vez.
Perguntei-lhe o que iria dizer em casa quando aparecesse com ele. Respondeu que já tinha estudado uma maneira. Tinha passado pela feira da ladra e que o tinha comprado por uma pechincha. Ri-me e mencionei que afinal não era a única mentirosa. Ele ganhava-me aos pontos. Ele riu-se e disse que a partir de me ter conhecido que a vida dele lá em casa passou a ser uma mentira. Mas na minha não, disse eu sem reservas. Ele questionou-me sobre isso. Respondi que não mentia. Dizia sempre onde ia, apenas não dizia com quem e também não me era perguntado. Logo, eu não mentia. Riu-se mais uma vez e disse que já me tinha arranjado algumas saídas airosas para eu me desenrascar.
Enfim, ele tinha que ficar sempre a ganhar. Não retorqui e perguntei o que tencionava fazer. Pagar e ficar lá ou pedir para reservar.  -Peço para reservar e que vimos buscá-lo pelas 4  e meia. Parece-te bem?
Encolhi os ombros e não respondi. Então chamou um assistente e reservou. Tive que dar um sinal. Paguei 220€ e ficou o resto para pagar na altura do levantamento. Foi a quantia que me foi pedida para reservar.
Dali fomos para o jardim. Ainda era cedo para o almoço.
Falei que a minha mãe viria, novamente, para minha casa. Talvez na semana seguinte, mas não sabia o dia porque eu tinha uma consulta na segunda-feira em Lisboa. Ofereceu-se para me acompanhar. Eu disse que não era preciso, mas ele fez questão e até se melindrou por eu dizer que queria ir sozinha.
Também me disse que metesse a minha mãe num lar sem dizer nada a minhas irmãs. Respondi que não iria fazer isso e que iria tratar da minha mãe até poder. Se bem que já fosse muito complicado para mim, mas tinha a Glorinha que me ajudava. Ficou carrancudo e redarguiu que eu iria ter menos tempo para ele. "Tinha ciúmes", mencionou. E eu mencionei que não havia razão para isso. Era natural as filhas cuidarem das mães. Relembrou que a minha filha nunca me iria fazer isso a mim. Que me meteria no lar dos P***ess**es onde eu já me havia associado. Fingi não ouvir e olhei para o relógio. Já eram horas de almoçar.
Fomos almoçar ao terceiro andar no restaurante de comida a peso. Eu levei muita salada. Andava na clínica de emagrecimento e tinha um certo regime. Ele escolheu picanha e várias saladas. Não comi sobremesa. Paguei, como sempre pagava. Nem neste dia, sua excelência, se dignou pagar. Enfim, mais um nó na garganta.
Dali fomos logo buscar o auto-rádio. Ele queria ir para casa. Paguei o restante e ele apanhou o pacote com tanta alegria que parecia uma criança. Disse-me obrigado, mas mais nada. Nem um beijo nem uma carícia nem um sinal de amor. Nada. Como se tivesse sido uma obrigação.
Já na rua perguntei como era a mulher dele. Disse-me que era muito bonita, mas não sentia amor por ela. Só me disse que eu tinha confundido amor com atracção física e que ele tinha confundido caridade com amor. Eu disse que gostava de a conhecer para ver a sua beleza e a poder estudar como psicóloga. Ele mostrou-me uma foto e, realmente, a senhora era linda. Até me questionei por que ele andava comigo tendo uma mulher tão linda, elegante, magra, com gosto no vestir e um olhar doce. Mas ele voltou a dizer o mesmo. Depois disse-me que não ficasse a  pensar nisso por que o meu interior era mais bonito que o dela. Isso, às vezes, não chega. Tive comiseração de mim própria. Ele andava comigo pelo dinheiro e para poder fazer as passeatas aonde ele nunca tinha ido.
Despedimo-nos na gare do Oriente. Fui para me sentar junto a uma janela e ele colocou a mão como era hábito. Primeiro fiquei aturdida. Já não me recordava o que aquilo queria dizer, mas depois fez-se luz e coloquei a minha. O comboio arrancou e eu vinha mais pobre em todos os sentidos.
Naquele dia não apareceu no msn nem enviou mensagem. Fiquei triste e chorei por ter sido enganada.

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