domingo, 24 de janeiro de 2016

As cuecas da Ponte!

Terça, 22 de Março de 2005

Sempre quis escrever. Gosto de me embrenhar na aventura das letras e com elas formar frases com sentido e que retratassem a veracidade da minha vida. Faço-o desde muito nova. Recordo que a primeira vez que escrevi, num caderninho de duas linhas, tinha sete anos. Relatei a minha viagem a Lisboa. Meu pai quando viu, ficou boquiaberto e disse que estava muito giro. Ainda guardo esse caderno como o pilar de muita dança com letras que me havia de servir para me aperfeiçoar na aventura da escrita.
Assim sendo, continuei e hoje não me impressiona o modo como conto o meu dia a dia.
Por essa razão, aqui estou a escrever aquilo que eu nunca pensei relatar num Blog. 
Como sempre, os telefonemas do Pedro deixavam-me deprimida. Tinha uma certa aversão ao incómodo que isso me causava. Mas nada fazia para parar esse fenómeno!
Eram 08h23m11s quando o telefone começou a tocar com aquele som estridente.
Lá fora chovia e as bátegas de água que caiam do meu algeróz, faziam jus ao meu estado de espírito. Era uma cantata triste que se juntava ao meu estado lobregue de um ser que já não apresentava vontade própria.
Ainda ensonada, estendi a minha mão trémula e apanhei o auscultador sem a menor das intenções de ouvir quem estava do outro lado da linha.

- Estou sim?
- Ena! Cada dia tens sua maneira de atender. Hoje é dia sim ou dia não?
- Bom dia. Nem sim nem não. Apenas estava a dormir e assustei-me com o telefone.
- Ainda a dormir? Eu já estou acordado desde as seis da manhã.
- Pois! Quando eu trabalhava, também me levantava a essa hora. Mas hoje tenho que aproveitar porque a minha irmã disse-me ontem que vinha já hoje trazer a minha mãe.
- Mas não era amanhã?
- Pelos vistos, já não é.
- Bem, isso deixa-me em franjas. Sabes para onde vou hoje?
- Não sou bruxa. E ainda não disseste.
- Vou para a Ponte 25 de Abril. Vou ver as cuecas da ponte.
- O quê?
- Ai nunca vistes?
- Nem sei o que a expressão quer dizer.
- Um dia levo-te lá. Queres ir?
- Sim. Já agora gostava de saber e ver, claro.
- Estou à espera dos homens que estão a arrumar a ferramenta.
- Então vai ser um dia grande, não?
- Vamos ver se acabamos antes do almoço.
- Bom trabalho...
- Já me estás a despachar?
- Não. 
- Mas eu vou-te deixar dormir mais um cadinho. Beijinhos doces.
- Beijinhos.

Durante o dia não tive notícias dele. Ainda enviei uma mensagem, mas não obtive resposta.
Pelas 17h12m23s o telefone voltou a tocar. Estava eu a combinar com a Glorinha os pormenores para os dias em que a minha mãe estivesse comigo. Não podia atender e levantei o auscultador e voltei a pousá-lo sem saber quem era. No meu íntimo, sabia que só podia ser o Pedro.
O telefone voltou a tocar cinco minutos depois. Voltei a não atender.
Pensei que ele se tivesse zangado e que já não me voltasse a telefonar. Mas às 17h32m24s ele voltou a telefonar. Atendi de imediato.

- Estou sim?
- Estava a ver que me tinha que ir embora sem falar contigo. Por que não atendestes?
- Porque não pude. Estava a falar com a Glorinha sobre os dias em que a minha mãe estará aqui.
- A tua mãe e sempre a tua mãe. E eu?
- Que eu saiba, estás de boa saúde e resmungão.
- Bem, já sei que não vais ao msn..
- Hoje não posso. Agora vêm aí dias difíceis. Não para ti, mas para mim.
- E para mim também. Mas vou-me embora. Só não te quero perder. Foste a coisa mais maravilhosa que me aconteceu na vida.
- Eu sou grande, não me perco.
- Hum! Não é desse perder que estou a falar. Estou estafado. Vou-me embora. Beijokas doces, molhadas, daquelas que só tu sabes dar.
- Beijinhos e dorme bem.
- Não me parece...

21h45m23s

< Meu Amor dorme bem e não penses que eu não me preocupo contigo. Bjs doces. >

2 comentários:

Rui Pires - Olhar d'Ouro disse...

Foto maravilhosa de uma ponte muito fotogénica!

Unknown disse...

Também tem fotos lindérrimas que eu admiro muito