quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Telefonema

Igreja Matriz de Alvito e Igreja de São Sebastião.

Este foi o primeiro telefonema para o meu telefone fixo que o Pedro Marques fez para mim.
Talvez por ser o primeiro tivesse ficado marcado na minha memória como se tivesse sido hoje.
Este telefonema despertou em mim o desejo de o conhecer pessoalmente.
Queria saber quem estava por detrás de um acontecimento desta envergadura.
Não era só o homem a falar, mas algo mais do que isso.
O à vontade que tinha denotava que deveria ser um grande homem.
Este telefonema fez despertar em mim a curiosidade de o conhecer.
Contudo isso só viria a acontecer quinze dias mais tarde.

Não sei que horas eram ao certo, mas segundo  combinado por mim, deveriam ser umas nove horas e pouco da manhã.

< O telefone da mesa de cabeceira começou a tocar num frenesim tal que me fez sobressaltar no meu leito onde ainda me encontrava.
Peguei nele com lentidão. Não sabia quem telefonava tão cedo para mim. Eu estava aposentada e não tinha horas para nada.

Eu: Estou, sim, faz favor?
Ele: Essa linda maneira de atender o telefone, dá-me vontade de me pirar daqui para fora e ir ter contigo.
Espera um cadinho..... Era um colega a entregar-me uns papéis.
Hoje estou à vontade para falarmos até tu quereres.
Falar-te de mim e uma coisa que tenho que fazer. As mensagens são mais frias e falar contigo dá outro pica.
Eu: Sim. E queres falar do quê?
Ele: Vou dar-te a conhecer um pouco da minha vida que nunca foi feliz.
Eu: Sim? E?
Ele: Sou uma pessoa que me entrego de alma e coração a quem me quiser de igual modo. Sei que tu estás nessa disposição e sinto que vamos ser felizes os dois. És a mulher que sempre procurei e agora não quero te perder.
Eu: E vais fazer  o quê para não me perderes?
Ele: Vou abrir o meu coração e dizer-te que mesmo sem te conhecer, conseguiste-me conquistar.
Eu sou doce, meigo e carinhoso. Tu és igual por aquilo que tenho visto.
Eu: Hummmmmmmmmmmmm!
Ele:Esse hummm já me faz sentir nas nuvens.
Eu: Já? Ainda falei tão pouco!
Ele: O suficiente para sentir a tua voz a percorrer o meu corpo como uma carícia. Eu peço-te que me digas o que te faz sentir a minha voz.
Eu: (Não me recordo de tudo). Sinto que tens uma voz maviosa e me faz sentir bem.
Ele: Vês? já temos uma coisa em comum. Aliás temos muitas... Também pelo que me contaste, também não foste feliz...
Eu: Sim, é verdade. Mas podemos ser antagónicos noutras coisas.
Ele: Antagónico sou eu com ela. Quando estou numa sintonia, ela parte para outra e deixa-me de pernas partidas.
Eu: Credo! Isso é o fim do mundo.
Ele: É verdade. Nunca estamos de acordo. Quando ela trabalha de noite e começa logo a mandar vir porque o tapete está fora do sítio, eu só digo: Ouve o silêncio que é tão bonito e estávamos em silêncio. Reparaste?
Eu: Isso é assim?
Ele. Sem tirar nem pôr.
Eu: Não me recordo o que disse.
Ele: Até tu me dás razão. Agora vê o que são os meus fins de semana.... São o inferno, isso é que são.... ( Não me recordo do que foi dito por ele a seguir).
Eu. Gostava muito de continuar a conversar contigo, mas estão a tocar à campainha.
Ele: Vai lá. Não quero atrapalhar a tua vida. Logo falamos mais um cadinho. Beijocas de amor. Até logo, meu amor.
Eu: Beijinhos e até logo.

Desliguei o telefone e deixei-me ficar na cama a pensar no que falámos. Ninguém tinha tocado à campainha.>

O telefonema que deu mais um passo para a minha desgraça. Mas eu não sabia que tudo isto me iria custar a minha dignidade e veracidade.

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