terça-feira, 12 de maio de 2015

Segundo Encontro

Sábado, 9 de Outubro de 2004
 
10h20m50s
 
Segundo encontro
Valha-me o meu diário para me recordar ao pormenor de tudo.
 
< Encontrámo-nos à porta do Centro Comercial Vasco da Gama. Ele deu-me dois beijinhos e eu retribui. Disse-me que era muito bom eu ter ido. Estava muito contente na sua camisa aos quadrados azuis, encarnados e brancos. Levava uma maleta à tiracolo e umas calças claras. Assim que saímos do Centro para o lado do Tejo eu perguntei-lhe se não estava a fazer nenhum "frete" ao andar comigo. Muito atrapalhado com a pergunta, disse que não e que estava muito contente por estar comigo. Afirmou que me amava muito e pegou-me na mão. Levou-me para o jardim e começou a beijar-me com uma avidez que parecia que não via mulher há muito tempo. Passado um tempo começou a chover aquela chuva primeira de Outono. Molhámo-nos e quando parou de chover agarrou-se novamente a mim. Eu também lhe passei o braço em redor do seu corpo e a camisa molhada e fria fê-lo dar um gritinho. Assustei-me, mas ele disse que a camisa estava fria. Larguei-o logo a seguir. Não queria magoá-lo. O tempo voou e quando demos pelas horas já tinha passado da hora de almoço. Hoje volvidos tantos anos, sei que não fomos almoçar porque ele não queria pagar o almoço e, também, não queria que fosse eu a pagar para não o deixar mal visto. Sei disto de outras vezes que nos encontrámos. Era sempre eu que pagava a conta porque ele não a pagava. Fomos lanchar. Eu pedi um crepe na casa dos crepes que havia no Centro e ele não pediu nada. O meu crepe vinha cheio de canela e ele sacudiu-o com um guardanapo. Foi um dia maravilhoso para mim. Pensava que estava a viver o melhor dia da minha vida, mas não era. Seria o meu segundo passo para o calvário. A hora da despedida foi cruel para mim. Ele também se mostrava triste. Fomos até ao carro dele. Estava orgulhoso do seu mercedes. Era um carro já velho, mas bem conservado.
Quando chegámos, tinham-lhe partido o vidro do lado do pendura e levado o autorrádio. Também fiquei triste por ele e prontifiquei-me a pagar os estragos porque era por mim que ele ali estava. Não aceitou. Já dentro do carro discutimos, no bom sentido, onde nos haveríamos de encontrar para haver mais intimidade entre nós. Não se achava um lugar. Então eu, burra como sempre, ofereci a minha casa para tão vil ato. Ficou combinado que na próxima quarta-feira ele vinha no comboio e eu iria busca-lo à estação às nove horas. Agora era eu que não o queria perder. Não sei o que ele me fez para eu ter caído de amor por ele. Era um amor que não tinha sentido por ninguém. A despedida foi triste para mim e deixei-o com lágrimas nos olhos. Foi assim, cheio de amor, o nosso segundo encontro. >


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