sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Terceiro dia na Nazaré!

Quarta, 12 de Janeiro de 2005
 
Mais um dia passado no remanso da Nazaré. Pacata, nesta altura do ano. Via-se um ou outro turista, mas nada de especial. O tempo resplandecia de sol, embora o frio se fizesse sentir e até soprava uma leve brisa que fazia os meus cabelos andarem num rodopio constante.
Levantámo-nos cedo e, depois do banho a dois, vestimo-nos e fomos tomar o nosso pequeno almoço.
O Fernando Pedro arranjou um tabuleiro muito bonito e desencantou uma jarra que colocou com uma flor de plástico. Tomámos o pequeno almoço. Ele queria dar-me os flocos como se eu fosse uma criança. Mas eu não acedi a tal mariquice. Acho que era de mais. Era o romantismo dele a florescer, também. Eu fiquei estarrecida a olhar para aquilo. Só que não sabia que ele estava a preparar o caminho para outra coisa. Como o Fernando Pedro não funcionava sem café, fomos ao mesmo sítio para ele o beber. Eu sentei-me numa mesa e, enquanto ele bebia o café ao balcão, eu fui ver o dinheiro que tinha na carteira. Tinha deixado uma marca. Fiquei triste porque me faltava dinheiro. Pensei: - " Se ele quer dinheiro, que mo peça. Não mo tire ". Mas não tive coragem de lhe dizer nada. Não queria ferir a sensibilidade dele. Nem queria ouvir uma mentira. Saímos do café e eu vinha muito calada. Ele reparou e pôs o braço por cima de mim e disse que  me amava muito e não queria ver-me triste. Relevei mais uma vez e pensei que seria sempre assim.
Andámos pela Nazaré. Fomos para o lado das escolas do primeiro ciclo. Fernando Pedro relembrou-me do meu percurso profissional e se não tinha saudades.
 Claro que tinha. Ainda, nas minhas reminiscências, voltavam como pausas de uns dias que nunca iria esquecer. Mas o tempo passa e eu fui-me adaptando ao meu novo modo de vida.
Descemos pela estrada Nacional entrando em ruelas que pareciam que os telhados se tocavam uns nos outros. Era lindo e eu estava encantada.
Havia Nazarenas que nos ofereciam apartamentos como se nós andássemos à procura de um. Eu gosto de história e, naquelas ruas antigas, eu via a história da Nazaré.
O tempo voou e quando vimos as horas, eram horas de almoçar.
O Fernando Pedro alvitrou que fossemos comer ao " Borgas " novamente. Era ele sempre que escolhia os restaurantes.
Comemos peixe grelhado. Ele arranjou o meu com minúcia como se eu fosse uma criança.
Não comemos sobremesa. Qual não foi o meu espanto quando ele disse que pagava o almoço. Claro, com o dinheiro que me tinha tirado da carteira. Não fiz comentários, mas o meu eu interior, chorava baixinho. O príncipe tinha pés de barro. Recordei-me de uma vez ele me perguntar se eu não tinha medo de dormir com ele. Podia ser um ser diferente do que eu via. Nessa altura até brinquei com a situação. Mas hoje já punha as minhas dúvidas.
Como o restaurante ficava em frente ao Solar dos Carvalhos, fomos para casa descansar.
Deitámo-nos em cima da cama a conversar banalidades. De vez em quando, ele acariciava-me e daí ao resto foi um passo. As velinhas eram sempre acesas na altura certa e davam um ar de paz que nos entregávamos um ao outro como se fossemos velhos conhecidos.
Depois fomos tomar banho e lá nos dirigimos ao Super da Lena. Como sempre, paguei a conta. Já não fazia disso uma controvérsia. Passou a ser uma coisa banal.
Ainda passámos pela farmácia que ficava ao cimo da rua. Queria eu comprar um drenante. Sentia que fazia retenção de líquidos.
Mais umas voltinhas a ver as montras e o Fernando Pedro ficou preso à montra de uma sapataria. Queria aqueles sapatos. Eram lindos!
Mas não os comprou. Eu também não disse nada. Não estava nos meus planos comprar-lhos. Mas era disso que ele estava à espera.
Voltámos para o apartamento e fomos começar a preparar o jantar. Mais uma vez, ele acendeu as velas que pôs em cima do balcão da cozinha. A luz reluzia e fazia pequenas figuras que se assemelhavam a anjos. Ele relembrou que até os anjos nos estavam a proteger. A olho nu, eu não via nada, mas assenti com a cabeça. Numa ida à casa de banho, pus o sinal na minha carteira. Queria ter a certeza. Ainda falei com o meu marido e ele falou com a companheira e com as filhas. Depois desligámos os nossos telemóveis.
Ficámos a ver televisão até perto da uma da manhã. Eu já pestanejava e tinha dificuldade em abrir os olhos. Ele conduziu-me à cama e ajudou-me a deitar. Adormeci de imediato. Logo de seguida ele foi à minha carteira. Mais uma vez, ele me levara dinheiro. Era para os sapatos.
 

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