segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A Toma dos comprimidos!

Quinta, 3 de Fevereiro de 2005
 
Eu estava a ficar com uma pressão muito grande. Nem eu nem a Glorinha tínhamos prática com doentes como a minha mãe. Dormi com ela no quarto e consegui descansar. Acho que a minha mãe precisava de companhia, mas não se sabia expressar. Ela dormiu toda a noite muito tranquilamente.
 
Acordei com o meu marido a tomar banho. Ele ficou contente com o resultado. Mas não me queria longe dele. Disse-me que dormisse com ele. Sentiu a minha falta. Mas fiz-lhe ver que todos conseguíamos dormir e descansar, se esta técnica resultasse. Tinha que experimentar mais uma noite.
Já fiquei acordada à espera que a minha mãe, também, acordasse. Tomei banho ainda com o meu marido em casa para me ajudar se  a minha mãe acordasse entretanto.
Só acordou pelas 8h e 30m.
Consegui levantá-la e levá-la para a casa de banho, mas não consegui dar-lhe banho sozinha. Tive que esperar pela Glorinha. Dei-lhe o pequeno almoço. O maior problema era dar-lhe os medicamentos. Eram dez pela manhã. Eu pensava que dando tudo ao mesmo tempo, ela os engolisse e o trabalho ficava facilitado. Mas não. Ela não tinha capacidade de os engolir e deitava tudo fora. O problema persistia. Neste momento tocou o telefone e eu fui atender na esperança que fosse o Pedro para me ajudar com a toma dos comprimidos, como me tinha prometido.
 
- Estou sim, por favor?
- Amor, bom dia. Como foi essa noite?
- Muito tranquila. Ela descansou e eu, também, descansei bastante. O problema é dar-lhe os medicamentos. Estava neste momento a querer que ela os engolisse, mas nada.
- São muitos?
- Pela manhã, são dez.
- E como lhos dás?
- Todos ao mesmo tempo. Como devem ser tomados, acho eu.
- Não, Amor. Ontem estive a ver na net e descobri, que em doentes que têm a doença da tua mãe, há uma técnica para lhos dar.
- Então diz-ma por que estou desesperada para lhos dar.
- O que come ela pela manhã?
- Nestum receitado pelo médico por ser mais fácil engolir.
- Ora aí tens. Por ser mais fácil de engolir. Não lhe deves dar os medicamentos todos de uma só vez.
- Então como faço?
- Pões um em cada colher de Nestum e ela, assim, engole-os todos.
- Ai Amor, o que faria eu sem ti? Obrigada por me ajudares.
- Amor tenho que zelar para que te mantenhas saudável e sem stress.
- Bem, agora vai lá dar-lhe o pequeno-almoço. Eu volto mais tarde. Beijokinhas doces.
- Beijos, Amor, e obrigada pela ajuda.
- Não agradeças. Um dia vais tu ajudar-me. ( Aqui já ele estava a maquinar como me cobrar tudo, mas eu nem sonhava. )
 
Fui para junto da minha mãe  e dei-lhe os medicamentos assim como ele me disse. Fiquei de boca aberta. Ela engoliu tudo sem problemas. Quando a Glorinha chegou, ficou pasmada ao ver que assim não havia mais confusões com a toma dos comprimidos. Demos banho à minha mãe, mas combinei com ela que lho iríamos dar na cama, virando-a. Seria mais fácil. Mas eu continuava a querer a minha mãe levantada e dava pequenos passeios com ela em casa e no jardim, quando o tempo o permitia.
 
O dia decorreu normal. Tínhamos descoberto a maneira fácil de lhe dar os comprimidos sem stress para ambas as partes. Eu estava agradecida ao Pedro e nem sabia como lhe pagar a sua ajuda.
 
17h20m45s
 
O telefone tocou e eu fui atender. Já tinha dado o lanche à minha mãe e sem confusões de ela engolir ou não os comprimidos.
 
- Estou sim, faz favor?
- Então resultou a toma dos comprimidos? ( Ele sussurrava para não se fazer ouvir ).
- Ah! Sim, obrigada. Foste de uma grande ajuda, Lucina. Assim não se torna numa frustração para nós e complicado.
- Ora diz lá quem é amigo? Estou aqui para te ajudar, percebes?
- Sim, percebo e agradeço muito. Nem tenho palavras para te agradecer.
- Estamos aqui para nos ajudar mutuamente, não achas?
- Sim... Mas eu sei que tu não vais passar por este problema.
- Nunca se sabe. A minha mãe já não é nova.
- Pois...
- Essa da " Lucina " dá resultado. O que interessa é que falo contigo, Amor. Chama-me o que quiseres, mas ama-me.
- Muitíssimo. Acreditas?
- Sim, acredito. Eu, também, te amo muito. Nem sei viver sem ti.
- Eu também não. Amanhã falamos mais. És uma grande colega e amiga. Obrigada.
- Então fica bem. Logo vais ao MSN?
-Não. Deito-me cedo para aproveitar o sono da minha mãe.
- Ok! Beijokinhas só nossas. Adoro-te, sabias?
- Eu sei. Beijos e, mais uma vez, obrigada. Até amanhã.
 
Neste dia não houve mais mensagens. Eu deitei-me cedo e adormeci, depois da minha mãe estar a dormir.

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