quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Encontro No Centro Vasco da Gama!

Sábado, 29 de Janeiro de 2004
 
 
Esta linda fonte está inserida perto da casa do Fernando Pedro. É linda! A pia faz lembrar uma pia batismal.
 
 
Mais um encontro que tivemos no Centro Vasco da Gama. Disse ao meu marido que ia desanuviar. Não queria passar um dia tão bonito, em casa. Estava muito frio e eu levava o meu casaco comprido vermelho. Ele levava as calças claras e uma parka bege. Andava sempre com ela. Sempre lha conheci. Hoje é que anda todo galã. Mas não com o dinheiro dele.
 
Eram onze horas e 10 minutos, mais ou menos, quando o comboio chegou. Eu entrei nele e sentei-me junto da janela, na primeira carruagem. Ia ansiosa e cheia de comiseração. Não tinha escolhido aquela vida de ânimo leve. Mas agora era tarde para voltar para trás. Muitas vezes sentia-me impelida a acabar com tudo, mas o seu charme, a sua acuidade para comigo, o seu carinho, a sua meiguice e os atributos que eu achava que eram sinceros, fizeram-me andar com ele tempo de mais.
 
 
Para minha surpresa, ele estava na gare à minha espera. Foi mais um peso que se juntou aos outros todos em que eu o classificava, na altura.
Fiquei extasiada e tão contente que me lancei nos seus braços como se ele fosse, realmente, só meu. Não me importei com os passageiros que passavam ao nosso redor. Beijámo-nos e esquecemos onde nos encontrávamos.
Descemos os degraus de mãos dadas e, de vez em quando, o Pedro passava o braço em redor dos meus ombros.
Percorremos o Centro e fomos para o jardim, perto do rio, que já conhecia os nossos segredos.
Relembrei que eram 12h e que, se calhar, íamos almoçar primeiro e, depois, para o nosso jardim. Mas o Pedro mostrou estar sedento da minha companhia e quis ir para logo me começar a beijar. Quase não respirava com tantos beijos e carícias. Eu sentia que a minha vida tinha parado naquele momento. Para mim só contava ele e eu. Esqueci todo o resto.
 
Depois de nos saciarmos, começámos a andar à beira do rio, na direção de Lisboa. Parámos no lago rodeado de canas de bambu e que tem a roda da nora. Sentámo-nos aí de mãos dadas. E começámos a conversar descontraidamente. De repente, voltou a perguntar-me o que eu achava quanto à sua personalidade.
Fiquei um bocado calada e respondi: - Amor, já falámos sobre isso, uma vez.
- Mas eu quero saber o que achas de mim. Depois deste tempo em que andamos juntos muita coisa mudou.
- Acho que o que mudou foi o estarmos mais tempo juntos e unirmos esforços nesse sentido.
- Mas diz lá de tua justiça. Quero ouvir.
Puxei da minha inteligência de galinha, sim porque nessa altura, era essa a minha inteligência. Eu quase falava pela boca dele e agarrava, de bom grado, todas as coisas que vinham da parte dele sem questionar se seriam boas ou más.
- És uma pessoa incrível. Tens um coração de ouro, bom amante, bom ouvinte, muito introvertido na tua vida privada, pois pouco falas dela. Vou apanhando uma ponta aqui e outra ali, se quero saber alguma coisa. Bom pai. Não és bom marido. Mentes para te protegeres. És bom naquilo que fazes. Eu até arriscava a dizer  que és perfeccionista. Estou enganada? ( Queria falar mais dos pontos negativos que lhe tinha encontrado, mas tive receio que ele não acatasse bem. )
- Então agora começo eu. És muito mentirosa, desonesta, enganadora, vaidosa, avalias os outros por aquilo que têm e não por aquilo que são, não sabes cozinhar, enganas o teu marido, enganas-me a mim, és boa mãe e, segundo tenho apurado, foste uma excelente profissional.
- Ena! Só pontos negativos. Achas que te engano? Então aponta aí uma falha minha como te tivesse enganado.
- Deves ter outros homens. Não sou único.
- Espera lá! Onde foste buscar essa ideia maluca? Apenas te tenho a ti e ao meu marido...
-Ah! Também és uma valente mentirosa. Só falas mentiras. E és um bom garfo...
- Bem, se temos uma relação na base da desconfiança, então, é melhor acabar tudo. Se sou agora mentirosa, aprendi contigo. Depressa arranjas uma mentira para te protegeres. Mas eu não as tenho na ponta da língua como tu. Tenho que pensá-las e, às vezes, parecem tão descabidas que tenho receio de ser descoberta. Não sei arranjar mentiras assim do pé para a mão como tu.
- Não faças uma tempestade num copo de água.
- Ai faço, faço. Não és tu que vens avaliar as minhas capacidades. Sou mais honesta que tu. Olha, e para terminar esta conversa absurda, vou dizer-te que só comecei a mentir depois de te conhecer.
- Eu também.
- Não acredito. Quem tem uma facilidade de mentir tão apurada, é porque mente há muito tempo. Algumas mentiras que tenho dito, foste tu que mas arranjaste. Lembraste? Dizes que é para minha defesa, para eu ser cautelosa, para eu me proteger. E agora vens com essa? Por acaso já me apanhaste nalguma mentira?
- Não. Amor não quero estragar o nosso dia.
- Então não fales do que não sabes. Conto-te tudo com os detalhes todos. Ás vezes sou sincera de mais e digo coisas que são só minhas e do meu marido.
 
Posto isto, fiquei amuada e tirei as minhas mãos da dele. Desviei-me e comecei a levantar-me.
Ele veio ao meu encontro e fechou a minha boca com um beijo dado com sabedoria. Fez-me amolecer e esquecer o que tinha sido dito ali.
Depois desta discussão acesa, fomos almoçar à Portugália. O Fernando Pedro tinha gostos requintados.
Eu comi uma salada de espargos ( Para lhe recordar que sabia cuidar da minha linha ) e ele um bife à Portugália com um ovo. Relembrei que tinha sido o que tinha comido quando lá fomos com a minha filha. Ele disse que gostava, particularmente, daquele bife.
A conta, quando veio, empurrou-a para o meu lado. Já me habituara a isso. Não seria de estranhar tal atitude da parte dele.
Mais uma vez, estivemos ali até perto das 16h e 30m.
Era hora de regressar a casa. Tinha acabado mais um dia juntos. Não tinha corrido tão bem quanto ele me tinha prometido.
Foi comigo para a estação. Comprei o bilhete de volta e ele continuou a acariciar-me com beijinhos doces  de mel. E foi assim que esqueci o incidente do dia.
 
 
 

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