segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Vou, outra vez para Alcácer!

Quarta, 9 de  Fevereiro de 2005
 
 
Esta é a Capela de S. Sebastião, em Alvito.
 
 
E, como sempre acontece, busco do meu diário para escrever o que se passou comigo e o Fernando Pedro. São factos reais. Tão reais que parece que os vivo no momento em que os escrevo para, depois, os voltar a esquecer com a mesma celeridade com que os recordei.
 
 
Outro dia longe do Pedro. Mais um dia de agonia e desconforto para ambos. Porém, eu estava a agir, pela primeira vez, com o coração e com o discernimento certo que a ocasião pediam.
Fiz  as mesmíssimas coisas de todos os dias.
Quando o telefone tocou estava a massajar as mãos da minha mãe que estavam frias e dormentes. Levantei-me e fui atender. Imaginava, mas nunca esperava que fosse ele. Estava a ficar cansada de tanta lamúria e eu sem poder fazer nada para a parar. Ou talvez pudesse, mas não o fazia.
Eram 08h45m10s.
 
 
- Estou sim, por favor?
- Amor posso falar?
- Podes, se não te doer a língua.
- Que gracinha! Vê lá não te caia um dente...
- Não cai e já caíram os que tinham que cair.
- É verdade! Quando é que vais pôr a esquelética?
- Quando tudo estiver resolvido.
- Ok! Hoje vou, outra vez, para Alcácer.
- Tem cuidado com a viagem e não caias das alturas em que te colocas.
- Como é que sabes?
- Já me enviaste fotografias e já me disseste.
- Pois! Já não me lembrava. Tens boa memória.
- Por enquanto. Se isto da minha mãe for hereditário, pode ser que me afete.
- Mas sabes que não é. O médico não te disse?
- Disse, mas eles também se enganam.
- Hoje estás com a autoestima em baixo, mor. Não penses assim.
- Não queria pensar. Mas hoje não é o meu dia.
- Ela não te deixou dormir?
- Deixou e até dormiu muito bem. Desde que durmo com ela que me deixa dormir a noite toda.
- Então ´mor porque estás assim?
. Já falta pouco tempo para estarmos juntos.
- Uns dias... Mas depressa passam.
- Bem ´mor tenho que ir. Logo posso telefonar?
- Podes, se quiseres.
- Então, até logo ´mor e fica bem.
- Até logo. Beijinhos.
- Beijokinhas onde e como quiseres.
 
 
Não me enviou a mensagem do almoço. Fiquei aliviada e parece que o dia até correu melhor. Eram 16h35m34s quando comecei a ouvir o telefone. Pensei que era o meu marido. Telefonava sempre à mesma hora para saber se estava tudo bem.
 
 
- Estou sim, faz favor?
- Sabes onde estou?
- Sei. Já disseste de manhã. Ou já voltaste?
- Estás sozinha?
- Não. Estou com a minha mãe.
- A tua empregada?
- Foi à rua levar o lixo. Mas onde estás, afinal?
- Em cima de um poste. Tem uma vista linda. Até vejo o que têm os ninhos das cegonhas.
- Que exagero. Nem tanto, não!
- A sério. Elas fazem o ninho aqui. Hoje sou morador com elas.
- Só tu para me fazeres rir. Ela vem aí. Muda o disco.
- Ela a mim não me ouve. Tu é que mudas, né?
- Pois! Eu é que tenho a batata quente na mão.
- Bem, também vou desligar. Beijokinhas só nossas. Não vais ao MSN?
- Não. Vou dormir cedo. Beijos e obrigada pela atenção. A minha mãe já não tem melhoras.
- Adeus ´mor. Adoro-te, sabias?
- Eu sei. Obrigada. Eu também...
 
 
21h10m45s
 
´Mor dorme bem. Bjs só nossos. Amo-te muito. >
 
´Mor era a abreviatura de Amor. Mas sem acento. Eu é que faço apostrofe.


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