quarta-feira, 29 de julho de 2015

Devaneio

Segunda, 29 de Novembro de 2004
 
 
09h55m23s
 
 
O Fernando Pedro estava louco. Só podia. Não estava nos meus horizontes, deixar o meu marido e ir viver com um fulano que mal conhecia. Era absurdo, no mínimo.  Falava por falar, dizia eu. Não abdicava da casa que tinha comprado ao irmão e a deixava para a companheira. De facto que ambos a estavam a pagar à Caixa Geral de D********. A filha mais nova andava, ainda, no nono ano e precisava muito do pai. Ele só me estava a ludibriar e à espera que eu fizesse uma loucura.
 
- Estou sim, por favor?
- Bom dia amor. Já posso falar?
- Já. Acabei agora de me despachar.
- Como foi o teu fim de semana?
- Não muito bom. A minha mãe esteve, outra vez, com delírios. Não queria comer. Cerrava os dentes e nem a medicação era capaz de lhe dar.
- O meu também não foi nada bom. Não falei contigo e nem destes resposta ao meu pedido.
- Que pedido? ( Era tão absurdo que até me esquecera).
- Queres casar comigo?
- Que devaneio é esse? Quer dizer a minha mãe tem a doença e tu tiras-lhe o proveito. Não penses nisso...
- Porquê? Não queres? É assim o teu Amor por mim?
- Não se trata disso. Mas é prematuro falar numa coisa tão séria. Eu estou com problemas graves e não quero mais um.
- Mas eu estou decidido. Aqui em casa não se vive. Já não a posso ver.
- Faz como eu. Não olhes e vais ver que depois de uns dias já gostas de olhar para ela porque tens saudades.
- Isso não vai acontecer.
- Por agora, não quero falar no assunto.
- E depois falas?
- Dá tempo ao tempo e ele tudo esclarecerá.
- Está bem, mas não penses que me vou esquecer...
- És de ideias fixas? Não gosto. Gosto de inovar.
- Eu também. Para rotina, já chega a que agora vivo.
- Agora é um devaneio e não iria dar certo. Arrependíamo-nos logo no próximo momento.
- Eu não. E não me vou esquecer disso.
- Olha, estão a tocar à porta. Tenho que ir ver. Pedi medicamentos e o Senhor V***** disse que os vinham cá trazer. Beijos
- Beijos quentes, doces, molhados e com loucura.
 
 
14h22m02s
 
< Amor vou agora para a linha de Cascais. Não sei qd me despacho. Bjs com amor. >
 
 
18h28m05s
 
< Meu amor de ontem de hoje e de amanhã. Só fiquei livre agora. Logo vê se vais ao MSN. Faz como sempre. Quando vais deitar a tua mãe. Ele desce e tu ficas, para falares comigo. Se visses o meu coração vias, como ele bate pelo teu e sempre que penso, em ti. Vou agora pa casa sem, vontade nenhuma. Estou cansado, mas feliz por nós. Bjs doces de mel. >
 
21h57m43s
 
< Foi pouco tempo mas, foi bom falar contigo. Bjs de boa noite. >
 
 


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