quarta-feira, 8 de julho de 2015

Segundo Dia

Quinta, 11 de Novembro de 2004
 
 
Mais uma vez me servi do meu diário, embora ainda recorde muita coisa que se passou entre nós. Mas, assim, é mais fiável.
 
 
< Acordámos à mesma hora. Era o hábito. Aqui já acordei mais tranquila e sem perplexidade. Já tinha dormido com ele duas noites e isso já dera para haver mais confiança. Tomámos banho do mesmo jeito e eu, como sempre, demorei-me mais na casa de banho a secar o cabelo. Quando cheguei à cozinha, encontrava-se a mesa do mesmo modo que no dia anterior. Era novidade para mim, mas já não me senti de boca aberta e surpresa. Comemos pausadamente. Ninguém corria atrás de nós. Arrumámos tudo e, quando eu fui mexer na gaveta, os sacos de plástico desdobraram-se e foi uma confusão. Pedro tirou os sacos e ensinou-me a dobrá-los de um jeito que ocupavam pouco espaço e se mantinham bem arrumados. Ainda hoje os dobro assim e ficam bem arrumados. O meu marido perguntou-me um dia onde tinha eu aprendido a dobrar os sacos assim. Fiquei tão atrapalhada e corada que o meu marido notou o meu embaraço. Quis saber e eu, como sabia que ele não gostava do Goucha, respondi que tinha sido num programa dele. Não ripostou, apenas disse que lá tinha saído uma boa coisa dele da mente dele.
 Neste dia não saímos de Porto Covo. Ficámos na Vila a descobrir as praias e o muito que tinha para ver. Fomos até à marina piscatória. e descemos umas escadas. As rochas brilhavam muito e Pedro ia explicando o que eram aqueles pontos luminosos e brilhantes que se viam. Estava seguro de si, mas não me convenceu. Eu estudara mineralogia e sabia o que cada ponto daqueles representava na Mãe Natureza, mas não quis tirar-lhe o mérito. Assim se passou a manhã até que chegou a hora do almoço. Almoçámos no Restaurante " A Falésia ". O Pedro comeu bacalhau à Zé do Pipo e eu comi Peixe espada grelhado. Estava tudo muito saboroso e o Restaurante tinha muito bom aspeto. Falámos muito. Desta feita a conversa recaiu na descoberta do corpo humano e nas sensações maravilhosas que dele emanavam. Foi construtiva e quando demos por isso, só nós os dois estávamos no Restaurante. O tempo junto de Pedro não tinha barreiras e passava-se tão bem que nem dávamos por ele. Hoje vejo que caí numa ratoeira muito bem montada, mas não posso voltar atrás. Mais uma vez, paguei a conta. e nem ripostei ou pestanejei. Já se tinha tornado um hábito e, a pouco e pouco, já o fazia maquinalmente.
Fomos para casa, mas antes passámos pela Vendinha com coisas lindas. Eu comprei mais um postal e enviei-o à minha filha. O Pedro comprou pulseiras em tons de azul para levar de recordação para as filhas. Estas não paguei porque me fiz de parva escrevendo o postal para a minha filha. O Pedro foi muito amável. Colou-me os selos no envelope. Eram estas pequenas coisa que faziam a diferença e me faziam apaixonar por ele. Era só paixão. Amor é uma coisa diferente. Dura uma vida. Hoje sinto-me enojada pelo passo que dei. Já não sinto nada por ele, senão desprezo e ódio. Só não sabia que mais tarde, pagaria bem caro estes momentos de prazer. Falámos que era dia de São Martinho e que o dia estava esplendoroso.
A tarde foi maravilhosa. Pedro já me tinha habituado às tardes magníficas e de volúpia.
Depois de cometer os disparates é que queremos remediar, mas já é tarde e nunca as coisas voltam a ser o que eram.
Depois fomos tomar banho e já não saímos neste dia. Vestimos os pijamas e ficámos por casa. Um serão como os outros. Telefonemas e mentiras pejadas de cumplicidade.
Fomos para a cama por volta da meia noite e dormimos muito aconchegados um ao outro. Estava frio e o calor dos nossos corpos, acariciava a alma desnudada de preconceitos. Já não os havia entre nós. Éramos um casal. Passámos por isso em muitas situações e  eu não sentia prazer nisso. >

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